Em pouco mais de 40 minutos falei tudo que me afligia e aquela mulher que sequer me conhece, em um ou outro apontamento, jogou de volta na minha cara tudo o que julguei menos importante e, por isso, preferi não pensar. Não tocar. Só deixar alí achando que assim, alí, se resolveria sozinho. Viria a se dissolver com o tempo já que o tempo dissolve tudo. Tolinha.
Por que temos tanto receio em encarar de frente as questões importantes pra nós e preferimos, no lugar disso, ir remediando superfícies, sem alcançar a carne machucada? Enquanto não se trata a carne, a pele vai seguir frágil, sujeita a cortes rasos e profundos com qualquer coisa. É de dentro pra fora. É preciso coragem pra encarar aquilo que move, que azeda, encarar de frente, trabalhar pra resolver, não se envergonhar - e não somente remediar qualquer coisa que apareça em decorrência daquilo. O que é importante pra gente pode soar bobo para os outros e é aí que mora o perigo - pode ser bobo para os outros - nós não somos os outros - não é bobo pra gente e isso precisa ser o suficiente.
Levantei daquela poltrona cheia de almofadas um tanto tonta, aliviada, rindo e chorando de nervosa, cheia de questionamentos e também envergonhada por só ter iniciado esse processo agora. Silenciosamente me pedi desculpas e me desculpei pelo atraso comigo mesma enquanto lia no rosto de uma mulher que nunca vi antes questões que sozinha não fui capaz de avaliar sem vista turva. Foi quando tive certeza do início importante dessa relação: minha e de minha analista.