12 de abril de 1988 e de todos os anos
Não tive escolha. Se pudesse escolher eu teria ido. Você teria ficado. Mas eu era um negocinho tão miúdo e negocinhos miúdos não escolhem, fiquei. Você, com tantos outros 24 anos pela frente, se foi. E me deixou cheia de vazios. Me deixou invisível. Passei a ser o retrato e a significação de um erro, enorme. Pra sua família, que nunca ví. Que nunca me viu. Pra meu pai, que não me enxergou por muitos anos. Hoje tenho um ano a mais que você. Tão estranho. Você, que deveria ter 49 anos e me ensinar tanta coisa dessa vida, continua com 24. E eu aqui, mais velha que a minha mãe e finalmente tomando as rédeas da vida sem culpas e sem tua projeção. Livre de referências. De como serei daqui pra frente. Daqui pra frente eu serei. Apenas serei. E isso é suficiente.
domingo, agosto 11, 2013
O dia deles
Minha homenagem no dia de hoje vai para a mulher risonha da fotografia. Eu não sei o seu nome e isso me entristece. No retrato, ela amamenta seu filho enquanto me alimenta também. Minha ama de leite. Ao lado da gente é o meu irmão, entendendo pouco o que tava acontecendo.
Mesmo que eu tenha um pai lindo, vivo e presente, hoje o meu carinho vai para essas outras figuras que dão um pedacinho de sí, mesmo permanecendo no anonimato. Que não possuem dia especial no calendário, não recebem uma gravata, caneta ou uísque por terem feito o papel de outro.
Mesmo que eu tenha um pai lindo, vivo e presente, hoje o meu carinho vai para essas outras figuras que dão um pedacinho de sí, mesmo permanecendo no anonimato. Que não possuem dia especial no calendário, não recebem uma gravata, caneta ou uísque por terem feito o papel de outro.
Minha homenagem também vai para as mães que foram e continuam sendo pais. Que criaram por dois. Acordaram à noite sem revezamento. Trabalharam a mais, descansaram de menos. Que parecem mais chatas algumas vezes por terem dado esporro dobrado. Por terem errado dobrado também. Mas que sentem saudade, preocupação e amor elevados à potência.
Pai é mais que o homem responsável por uma trepadinha gostosa resultante do nosso nascimento. É mais que um registro no cartório. Mais que uma mesada curta no fim do mês. Mais que um homem. Mais que um retrato. Mais que um domingo de agosto. Mais, muito mais que três letras.
sábado, agosto 10, 2013
jogar verde
especialidade igoriana. e colam-se em minha boca sorrisos antigos e novos. dilemas antigos e novos.
álcool: especialidade do demônio
discutir relação: não é especialidade minha
minha especialidade: em aberto
na festa cult bacaninha
- léo é mestrando em ciências sociais
- e tu?
- eu? sou desempregando em jornalismo
- <3
- hehehe
sexta-feira, agosto 09, 2013
Uma das artérias da saudade
Ela me carrega no colo faz tempo, desde o dia em que nasci e sequer sabia da existência dessa ou de qualquer outra palavra, mas sei que senti. E que senti forte. Arrisco que a mais forte de todas, mas não tenho como medir. Depois disso fui percorrendo os caminhos, ora amargos, ora confiantes e pulsantes que esse sentimento traz. Não sei qual é a saudade mais difícil: a eterna por condição, a eterna por opção, aquela que daqui a pouco vai passar ou a que não tem pevisão. Mas andei observando que a saudade, que pulsa no peito quase que diariamente mas que não tem sequer previsão de ser assaltada de tanto beijo e abraço não é fácil. E não é fácil porque simplesmente não é fácil manter a esperança acesa por tempo indeterminado. Porque não é fácil andar na rua já sabendo que o encontro não vai acontecer. Não haver chances ao acaso é um pouco perturbador, é chegar no meio da noite e sentir alguma dor por isso. É brindar à distância, é fazer presente alguém que tá distante. Alguém que provavelmente não vai ficar sabendo disso. Não, não é fácil manter acesa a artéria de um futuro caso pensado, do calculado, do dia tal de não sei quando que uma hora vai chegar. Não é fácil, mas o desafio é justamente esse. Se fosse pra ser fácil a gente seria rico e moraria na praia. Todo mundo junto, com todo o amor do mundo!
quinta-feira, agosto 08, 2013
Meu quarto
Meu quarto tem
um tamanho legal. Não é enorme, mas tem espaço suficiente para as
minhas coisas e ainda sobra um pouco de piso pra transitar. Minha mãe
quer colocar uma cama de casal box com baú. Eu não quero. Prefiro
cama no chão. Sempre foi assim e a gente sempre passa por esse
dilema. “um colchão de casal e pronto, tá ótimo”. Ela reluta.
Acha feio, sei que lá. É que além de preferir um troço mais
rasteiro, eu acho mais legal gastar 2 mil e tal de uma cama dessas em
uma passagem de avião pra longe, mesmo sabendo que esse dinheiro
economizado da minha mãe não vá parar magicamente na minha conta
bancária. Ela queria mandar fazer um armário quatro portas e ainda
com maleiro “pra não ficar capenga”. Eu quero apenas uma arara e
uns gaveteiros. Ela se desespera. Diz que é pobre, sei que lá. É
que não gosto de ocupar uma parede inteira com armário, no máximo
um pequeno. Imagina, virar de lado ao acordar e dar de cara com
aquele trambolho enorme e branco? Prefiro olhar a parede com minhas
fotografias, pinturas ou somente a parede, me dando a ideia de fazer
alguma coisa com ela – mesmo que eu nem faça. Só a existência da
possibilidade já me anima. E também que prefiro gastar esses 3 mil
reais do armário embutido em equipamento fotográfico, em um curso
de edição, em um computador novo, sei lá, sinceramente, eu prefiro
torrar esses 3 mil reais em cachaça do que em um armário de parede
inteiro e com maleiro, o negócio mais inútil que se tem em uma
casa. Quatro portinhas que ficam no dobro da minha altura, como se eu
tivesse mais de uma mala pra guardar lá em cima, no “maleiro”.
E, mesmo sabendo que esse dinheiro não vá parar magicamente em
minha conta, pois agora seria eu uma mulher rica, prefiro que fique
na conta de minha mãe. Ela com mais dinheiro. Eu com mais espaço.
quarta-feira, agosto 07, 2013
Mapeando
(Texto escrito na última sexta-feira, 02)
Primeiro
contato
Hoje
é meu primeiro dia na casa nova, minha segunda casa no Rio de
Janeiro em quase três anos. E, apesar de ter trocado apenas de
bairro, sinto como se eu tivesse ido pra outro estado, tamanha é a
diferença. Aqui, sinto-me mais em Recife do que no Rio. Me vejo um
pouco em Fortaleza também, toda aquela loucura “da cidade grande”
parece existir muito distante da minha janela, mesmo ficando a quinze
ou vinte minutos a pé. Ainda não calculei.
Após
uma manhã cansativa de mudança, caminhão, carga e descarga,
finalmente pude parar um pouco e respirar. Respirar esse ar novo. A
casa em sí ainda tá toda fora do lugar, entre caixas e móveis
tateando e ainda provisórios nesse novo chão, assim como eu. Ainda
não fixamos território, levantamos bandeira e proclamamos
propriedade, apesar do apartamento ser próprio. Isso é aos poucos.
O piso vai conquistando a gente, a gente vai ocupando cada azulejo
do piso e quando a gente estiver bem distraído, já nos pertencemos.
Uma relação de parceria sólida precisa de tempo pra se firmar. Não
temos pressa.
A
casa
A
casa carrega um sentimento antigo em mim. Não consigo identificar
essa relação, nao sei de onde ela veio. Mas já senti isso antes.
Esse cheiro, apesar de novo, é antigo. A maneira como meu corpo
reage dentro desse espaço é novo, mas é antigo. Meu coração bate
no ritmo da minha mãe. Acho que é isso. Meu coração sente
parecido como sentia na casa de Aldeia, não a enorme, com piscina e
banheira no quarto do casal, mas a do km 9. Quando minha mãe
anunciou independência e foi-se embora. Pra ser ainda mais parecida
só faltava mesmo aquele conjuntinho de temperos. Não sei o que
tinha demais naqueles vidrinhos de vinagre, azeite, pimenta e sal.
Mas quando lembro daquela casa, lembro também deles.
Aqui
são três quartos. Um deles só pra mim. Antes de me mudar tinha a
certeza absoluta que ficaria no “que tem AS janelas”. Antes dessa
semana, só havia visto esse apartamento três anos atrás, quando
ele tava em reforma e eu nem morava no Rio ainda. E fui tomada por um
encantamento enorme pelas janelas do primeiro quarto. Não importa se
é o menor cômodo de todos. Eu não preciso de muito espaço. Eu
prefiro as janelas de ponta a ponta, curvadas, elegantes, lindas e
que ficam batendo com o vento. É que eu adoro janelas batendo com o
vento. Tudo bem pra mim em ir lá fechar, ou dar um jeitinho pra
mantê-las abertas, desde que antes elas enlouqueçam, batam muito
forte e repetidas vezes.
Na
última terça-feira, quando peguei as chaves e vim fazer o check out
no ap, a antiga moradora ao me ver enamorada pelo primeiro quartinho
das janelas, me disse que o problema não era o tamanho (apesar de
ter estranhado eu escolher o menor quarto), mas sim o calor que fazia
alí, sobretudo no verão. Isso veio como uma onda prestes a me
derrubar. Teria eu que abrir mão das janelas curvadas e aceitar uma
retangular “ok”? Passei o resto da semana pensado sobre e, no fim
das contas, acabei rendida. O verão carioca não é brincadeira e
apesar de morar em uma área arborizada, não tem mais a praia
pertinho pra entrar aquela brisa gostosa e com cheiro de maresia.
Talvez fosse muita teimosia acordar derretendo todos os dias só pra
ter uma janela de ponta a ponta e curvada como vista. Tudo bem, faço
assim: acordo e ainda de olhos fechados sigo para o quarto ao lado,
abro os olhos e tenho a vista em curva me dando um dia bom. Até que
eu ache graça nas minhas ventanas com pouco vento. Até que eu
suporte a ideia de sair correndo pra fechar as janelas alheias.
Primeiras
impressões do bairro
Eu
estou e sou cenário de uma novela das 6. Minha varanda tem vista pra
uma pracinha redonda preenchida por equipamentos de fazer exercício,
crianças, bolas de futebol, árvores e uns gritinhos e buxixos que
ainda não têm voz decidida. Um desafinado lindo. Aquela mistura
entre 4 e 14 anos, tudo ao mesmo tempo, dando um ar de pátio de
escola distante. A pracinha é rodeada por bares, quatro escadarias
que levam à Santa Teresa, uma escola e um santuário pra Nossa
Senhora de Fátima, santa protetora daqui.
A
rua principal que desce até a Riachuelo e leva à Lapa é quase que
uma cidade do interior: salões de beleza, botequinhos, lojinhas de
artigos inúteis, sorveteria com o cardápio feito em letreiro
antigo, talvez faltando um “r” no sabor morango. Casquinho de
três tamanhos. Lan house, farmácia, brechó e pessoas que sorriem
pra você. Não estranhe se acenarem também. Talvez eu estivesse com
muita cara de nova moradora, querendo ser aceita e bem acolhida,
sendo assim ou não, as pessoas captaram meus sinais e foram gentis.
Almocei em um bar de esquina. Já com bebida me custou R$ 13, achei
bom. No fim do dia passei no mercado popular pra comprar um kit
sobrevivência até amanhã e fui surpreendida. Uma prateleira só
com cervejas importadas e bem mais baratas que nos mercados da Zona
Sul. Promoção relampago de um vinho chileno que gosto bastante por
R$13 e o melhor, o senhor que anuncia a oferta falando no microfone
''Today friday! Friday night people!!! el mejor viño chileno del
mondo por 13 reais, minha gente!!!'” Saí com duas garrafas
embaixo do braço.
Na
volta, fiz uma cotação dos preços de cerveja nos bares da rua. E
as garrafas de 600 ml variam entre R$ 4 (Itaipava) e R$7 (Heineken).
A gente senta e pede antartica por R$5,50 a noite inteira. Tá de
boas, né?
Terei
muito tempo pra mapear essa região. É bacana saber que descendo eu
chego na Lapa, subindo eu estou em Santa. Que não moro na confusão
dos arcos e nem na contramão do Largo dos Guimarães. Que tô no
meio. Que meus pés me levam aos dois sem aperreio. Eu vou sentir
falta de morar na praia. Eu gosto demais de praia pra não sentir
essa falta. Mas antes disso, tenho muitas ruas pra descobrir, muitas
fotografias pra tirar por essas ruas. E já fiquei sabendo que tenho
40 escadarias pra fazer o reconhecimento. Cada uma que te leva para
os lugares mais improváveis. Parece que umas são até bocadas, mas
a gente faz cara de maloqueiro e anda na moral. Falta só achar o
parceiro de fé que entre nessa missão. Léo e Rafa vão se
empolgar, mas tenho certeza que a preguiça não vai fazer descobrir
mais que 3 em um ano. Mau, que foi quem veio com essa história de
40 escadas, a mesma coisa. Vai chegar na quinta escada no quinto mês
e dizer que é tudo igual. Júlia vai dizer que eu sou doida. Acho
que Bruno pode comprar essa ideia, ainda mais se eu falar que no fim
de cada escada a gente acha um boteco pra tomar uma cerva gelada em
comemoração. Imagina, 40 escadarias em 40 semanas. Será? Já tô
me empolgando aqui, querendo fazer um livro sobre.
Bom,
só sei que mesmo sozinha eu não sossego até destrinchar todos os
becos disso aqui. E a praia, que bom, vai continuar exatamente no
mesmo lugar. E eu, que sorte do caralho, continuo morando no Rio de
Janeiro. Agora, no coração dele. Batendo forte e com amor. Cheers!
terça-feira, agosto 06, 2013
Um túnel colorido, um túnel de papel
“isso é uma doença,
é uma doença consciente!” Mesmo que todas as pessoas que elevo à
mais alta classe e confiança me falassem isso, eu não acreditava.
Eu não queria acreditar. E questionava a eles e a mim que se era uma
doença e a pessoa tinha consciência disso, por que não tratava? “a
doença mora justamente aí. Na consciência do problema e no egoismo
de, no lugar de procurar ajuda pra se curar, preferir espalhar o
tumor. Escolher contaminar quem tá perto. Espalhar.”
A gente
espalha amor. A gente espalha a cura. Ter o prazer de semear a doença
por onde passa é a própria doença. No início eu não conseguia
compreender como uma pessoa bonita, interessante e inteligente podia
fazer isso, traçar dessa maneira o caminho da solidão. Só depois
compreendi que era possível justamente por essas razões. Um jogo
perigoso, uma arapuca danada que envolve quem tá perto. Que envolve
e que depois passa, como sempre é. Sempre passa. Os tentáculos são
fracos, os argumentos iguais. Mais cedo ou mais tarde as pessoas
atravessam esse caminho, aos poucos dissolvem os resquícios e passam
a observar a doença, dessa vez de fora. Passam a analisar a não
vontade de cura. Passam a ver que vontade não é dizer que tem
vontade. Vontade não é dizer. Antes eu sentia tristeza. Doenças
são tristes. Agora sinto apenas pena. Acho triste sentir pena, pena
é um negócio pior que raiva, pior que rancor, pior que mágoa. Pena
é uma indiferença que não se mantém indiferente. Pena é um
sentimento aguado. É a vontade que aquilo fosse diferente. Eu queria muito que fosse diferente. Queria muito, muito! Muito mesmo. E lamento até doer meu peito que não seja.
E vejo as pessoas observando isso de fora. Tomando
consciência, tendo choques de realidade mesmo que doa. É não
precisar mais falar com ar de experiência que eu disse. É ver as
pessoas dizendo.
É não querer que as
pessoas digam e ao mesmo tempo não ter argumentos pra defender. É
ver a vida de alguém que se ama e muito seguindo, agora, por outros
trilhos, mais leves, menos enferrujados. Ao lado de novas pessoas e
relacionamentos, mais leves. É poder depois de meses estar em uma
mesma roda de conversa e até mesmo sentada na mesma mesa em um bar e
esse ser um assunto morto. É poder olhar nos olhos e entender que o
outro entendeu o recado dado em outrora. É ver o sorriso brotar
tranquilo, real, bonito. E é ver a vida de outro alguém que dei todo meu amor ir se perdendo, cada vez mais. É ver que a vida sempre segue e que é
triste, pra não dizer burro, escolher perder tudo por tão pouco,
por nada e no fim restar apenas recalque e espaços, vazios. É
constatar o prazer por relações superficiais e frágeis construídas
por baixo de um túnel enorme, imponente, colorido e ao mesmo tempo
tão fraco, desmontável, descartável. Um vento forte não suporta.
Um vento forte destrói o que não teve base sólida suficiente pra
se manter vivo, porque nunca tem. E nunca vai ter.
tesoura do desejo
segunda-feira, agosto 05, 2013
sms da madrugada
- você tá muito braba comigo
- eu não tou braba! se eu tivesse braba eu estaria jogando uma cadeira em você neste momento. Eu estou jogando apenas fonemas...
- linda
lindo. lind. lin. li. l (mensagem apagada)
- e não tente me dobrar não! (mensagem enviada)
- eu não tou braba! se eu tivesse braba eu estaria jogando uma cadeira em você neste momento. Eu estou jogando apenas fonemas...
- linda
lindo. lind. lin. li. l (mensagem apagada)
- e não tente me dobrar não! (mensagem enviada)
domingo, agosto 04, 2013
O teu assunto preferido
a Leonardo Nóbrega
Nos conhecemos no primeiro dia de aula da faculdade de jornalismo e nos intervalos batíamos papo no corredor entre um e outro cigarro seu. Você falava do DCE e do engajamento da sua namoradinha, bem politizada. Ou simplesmente Carol Burgos, mais velha e famosa naqueles corredores, distribuindo panfletos e interrompendo os professores pra dar algum recado. Você ia na onda. O namoro acabou e então nos integramos de maneira quase que orgânica, eu, você, Thales, Vic, Camila, algumas vezes Renan e também as meninas, outras vezes não. Nessa época, 80% da sala queria te comer. 80% incluindo os homens. Os outros 20% eram destinados a quem queria comer Bailinho. E eu tava inclusa. Não demorou muito e eu e você nos reconhecemos amigos. Bem amigos. Não demorou muito e você começou a namorar novamente e sua namorada entrou no grupo. Nos dávamos bem, mas ela tinha medo das minhas amigas que queriam te comer. Ela tinha medo da sua ex politizada que você ainda gostava, ela tinha medo de você, dela. E vivia com cara de choro. E era quase enjoada. E a gente quase que só era amiga dela porque ela era sua namorada. Não demorou muito e nos tornamos amigas. Bem amigas. E eu e você seguimos amigos, amigos como nunca. Nos encontrávamos no Café com Quê às 7 da manhã de um sábado e conversávamos as maiores merdas do mundo até a hora da aula. A barriga chegava a doer de tanta risada. Algumas vezes nem pra aula íamos, porque o assunto tava tão bom e não havia acabado. Nos intervalos a gente conversava mais. No fim da aula a gente não parava de conversar, de rir. Emendávamos com o bar e o assunto continuava, terminava e tinha outro. Assunto era um negócio que não faltava. Falávamos de tudo. Eu e minhas ideias malucas e você dando a maior corda e completando. Minhas amigas continuavam querendo te comer. Eu continuava querendo comer Bailinho, que agora estava solteiro e queria me comer também. Tua namorada continuava com ciúme disso tudo. Teve um dia que, depois da aula, fomos de última hora tomar uma cerveja alí na frente e ela ficou sabendo. Fez um escândalo. Tomou as dores da amiga que era namorada de Bailinho e ficou achando que eu queria te comer também. Esqueceu que éramos amigas. Esqueceu que eu queria comer Bailinho - e não você. Me bombardeou de mensagens agressivas. Te bombardeou de mensagens agressivas. Ficamos eu e você sentados na mesa, entre um gole e outro, esperando a próxima mensagem dela e continuando com nosso assunto que era mais divertido que aquela loucura toda. Não demorou uma semana e ela me pediu perdão, disse que confundiu as histórias, que ficou achando que a gente não quis chamá-la para o bar, que esperamos ela ir embora e tanta coisa que não fazia sentido. Era muito mais simples. E então seguimos na amizade, eu e você. Eu e ela fomos nos estabelecendo aos poucos. Quando vocês acabaram o namoro, eu e ela nos tornamos melhores amigas. Ela percebeu que eu não queria te comer.E continuei seu amigo e amiga dela. E a gente, como sempre, com assuntos termináveis. Ou melhor: assuntos que terminavam e emendavam com outros. Mas dificilmente era o mesmo assunto, a mesma tecla. Um ano depois você mudou de faculdade e acabou mudando de amigos também. Eu continuei na faculdade e fiz outros amigos. Amigos bacanas, um ou outro com sintonia bacana e você lá, distante. Nos afastamos sem pedir permissão ao outro. Você ia pra lá e eu pra cá. Não brigamos. Nunca brigamos. Nunca brigamos na vida (foi lindo você falando isso com todo orgulho ontem à noite, bêbado, na Lapa). A vida que fez caminhos diferentes e a gente soube respeitar isso. O amor era o mesmo, só tava percorrendo novas moradas. Os anos passaram e nos reencontramos em abril de 2012 no Apto 702 da Rodolfo Dantas, em Copacabana. Você havia acabado de se mudar para o Rio e me enviou uma mensagem tão... tão... que se pensa bastante antes de enviar, que entendi que nosso assunto um dia podia terminar, sim. De todo modo te convidei pra meu aniversário e você foi. E quando você chegou e nos abraçamos, continuamos nosso assunto interminável. Eu ganhei um baita presente de aniversário esse ano (você de volta) e a partir de então nossos assuntos só seguiram adiante. Rio de Janeiro, mestrado, trabalhos, cervejas, mais cervejas, mais cervejas, festinhas, novos amigos, o meu namorado que você adorava, a tua namorada. Ah a tua namorada... o segundo presente que o Rio de Janeiro me deu no ano. Coisa linda da vida. Eu via vocês, eu participava vocês, vocês me participavam. Eu ouvia cada um, eu escuto os dois e vocês me veem. Vocês me acolhem. Eu choro com vocês, sempre. E só com vocês. Vá entender. Até que você, Léo, após sete anos descobriu nosso assunto preferido. A principio era nosso. Depois passou a ser seu e apenas seu assunto preferido. Não podíamos nos encontrar nem que fosse pra um café que você voltava ao assunto. Em um bar, na rua, na festa, na casa de vocês, não importa. Não importa quantos assuntos a mais nós falamos antes ou depois, você mete o assunto preferido no meio. Enfia sem piedade e sempre quando observa que o assunto corre o risco de ser esquecido, coisa que pra você seria um terror, você não admitiria, você não se perdoaria. "Eu amo Carlinha. Eu amo ele. Eu quero os dois juntos. Não tem como ser diferente, não pode, não posso imaginar diferente". É o que você fala sem nem saber o que tá falando, todas as vezes, incansavelmente. Na penultima noite que saimos juntos, achei que sairia ilesa do seu assunto preferido. Engano. Bastou eu vacilar e lá estava você querendo arrancar de meus olhos graúdos e atentos ao assunto um brilho lacrimal. Não conseguiu. Você insistiu, usou palavras fortes como "aquele galeguinho" "jeguinho" "bicicleta" e coisas do tipo. Em vão. Não se conformou com tamanha indiferença perante seu assunto preferido e jogou mais pesado. Eu, firme, disse que não adiantava. Que não nos falávamos mais e pronto. Você quase se desesperou, não suportou tanta realidade, sacou o celular do bolso e começou a discar números em busca do telefone do motivo do assunto que tava perigando em deixar de ser o preferido. Saiu perguntando feito maluco qual era o código postal de um país distante, pois iria ligar pra lá e pedir o novo número do assunto preferido do outro país mais distante ainda (??) e eu, quase jogando a firmeza pela janela daquele boteco de Santa Teresa, te falei pra deixar de ser maluco, que a gente nunca iria conseguir esse telefone naquela hora. E então você me perguntou como seria bom nós dois e o assunto preferido àquela hora da noite, juntos. Concordei e emendei uma lágrima na outra. Você, finalmente satisfeito, sorriu pra mim e de mim. Falou "ô, carlinha" e em seguida observou que foi malvado, que foi egoísta. "insisti demais, né?" "né!". Essa podia ter sido nossa primeira briga, em tantos anos. Mas ao contrário disso, saímos desse bar que já tava fechando em busca de um outro, não achamos e decidimos fazer uma corrida pelos trilhos do bondinho. Eu e você, dois loucos correndo pelas ladeiras de Santa de madrugada, ao som dos amigos mandando parar e rindo e mandando parar e rindo. Você ganhou a competição. Eu quase caio de cara e quebro a testa. Meus pés amanheceram doendo, tudo bem, isso é recuperável. Ontem à noite falamos sobre tudo e, apesar de em certo momento perceber que você queria falar sobre seu (ainda) assunto preferido, você foi breve e depois calou.
Não fica triste, teremos muito tempo pra arranjar outro assunto preferido! E, por enquanto, eu deixo esse ser nosso assunto (ainda) preferido, em segredo.
quinta-feira, agosto 01, 2013
É muito mundo!
'Eu gosto muita das suas fotos'
Valeu! Mas é muito, manni. Com "o".
Não, é muita, pois foto vem de fotografia. Fotografia = feminina.
Manni, português é difícil mesmo, mas quando você gosta demais de uma coisa, você sempre vai gostar muito. Com "o", não importa se é feminino ou masculino. Gosto muito de bola, gosto muito de comer, gosto muito de carlinha.
Eita, é difícil mesmo, e você falou verdade nessa última gostar.
Manni é teimoso, como costumam ser as pessoas inteligentes e escreve português como fala e eu escuto daqui, um sotaque berlirecifense. Manni, ao contrário dos alemães que conheci, sabe ser fofo, quando diz, por exemplo, que se não tivesse namorando na época em que nos conhecemos 'eu ia me apaixonar totalmente em você'. Manni também é curioso, mas se mantém na linha da discrição perguntando o que quer saber de uma maneira menos direta. Levando um questionamento a outro e chegando na resposta desejada. Manni tem os dentes da frente separados e usa um óculos laranja que eu nunca entendi.
Manni é alguém que conheço pouco, tem suas peculiaridades, de fácil acesso e, apesar da gente ser diferente em algumas coisas, nos damos muito bem. Gosto bastante dele. Deve ser porque coração bom atrai coração bom.
Manni é o amigo do amigo de um amigo que eu conheci muito por acaso. Amigo de um amigo que eu também conheci muito por acaso. Manni é o terceiro grau em uma relação feito teia de aranha. Se não fosse meu amigo original, eu não teria conhecido o amigo dele. Se eu não tivesse conhecido o amigo dele, além de ser o maior absurdo e erro do mundo, eu também não teria conhecido Manni.
E agora me pergunto, quantos amigos de amigos. E amigos de amigos de amigos não têm por aí pra gente ser amigo também? E me pergunto porque a gente conhece um monte de gente há anos que não é tão próximo quanto pessoas que vivemos por uma, duas semanas? E como é que pode a gente viver uma vida inteira e morrer sem ter conhecido aquela pessoa da áfrica do sul que é nosso número? Aquela galera da Croácia que é que nem a gente? Aquele menino da França que teria sido um grande amor? Ou aqui mesmo, do Rio de Janeiro? De repente vizinho de prédio ou na rua ao lado? Por que a gente não vem com um detector luminoso que faz piscar uma cor específica de cada coração, cada espírito e então os grupos se encontrariam? Por que passamos tanto tempo com alguém que não teria sido da nossa cor no radar se esse radar existisse? Por que agora mesmo estou com vontade de abandonar todas as minhas caixas da mudança e computador e jantar pra descer e bater de porta em porta em busca do restante da minha gente? Por que? Não tem radar, não tem cor, tem tato e tem uma vida enorme pela frente. É preciso estar atento e também distraído. É preciso estar disposto. É preciso ter braços longos para o abraço e o adeus. É preciso arejar a casa e a cabeça. É preciso, sobretudo, perceber que mesmo não tendo o mundo inteiro ao nosso alcance, já conquistamos um mundo nosso, com nossas cores misturadas e pelo nosso próprio radar ou ainda pelas sortes da vida, o que é ainda mais maluco. Pelos acasos brilhantes e incríveis da vida. Agradecer e manter isso já me parece um bom começo pra dominar o restante do mundo. E qualquer mundo que a gente consiga tocar, mesmo que seja o de três ou cinco pessoas, já é o nosso mundo, já valeu à pena!
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| Berlin, maio de 2013 |
quarta-feira, julho 31, 2013
O culpado
A Brecht
E eu descobri que você, do outro lado do oceano, estilhaça mais corações através desse meu blog do que eu mesma, que estou aqui, do mesmo lado do oceano.
Que malvado que você é.
E eu descobri que você, do outro lado do oceano, estilhaça mais corações através desse meu blog do que eu mesma, que estou aqui, do mesmo lado do oceano.
Que malvado que você é.
ch ch ch ch changes
Faltam duas noites e um dia pra não ter a praia como vista da janela do quarto, mas um monte de árvores e escadarias. Pra não morar dez minutos a pé do melhor bolinho de bacalhau do Rio de Janeiro e do melhor alho em conserva, se pá, do mundo, mas morar a pé dos melhores botecos do Rio. Um diazinho de nada pra Ferreira Gullar deixar de ser meu vizinho e passar a ser vizinha de amigos do peito e de Santa Teresa. Para a feira do Lido se tornar distante às quintas, mas poder ir by foot na feira da Glória aos domingos. Pra deixar de ser a menina do Lido (?) e passar a ser alguma coisa que ainda não sei. Pra receber os amigos para um esquenta fim de semana sim e outro também em minha casa, agora um pouco mais espaçosa. O leme não vai mais ser a praia do lado de casa, mas a Lapa vai ser meu caminho de acesso para qualquer lugar. Vou perder o cheiro de maresia, vou ganhar um quarto-atelier. Não vou mais caminhando pra Ipanema, vou a pé para o centro da cidade. Não vou ter um metrô na saída da minha rua, vou ter uma bike feia e velha que ninguém vai roubar. Não vai ter o Zona Sul ou o Pão de Açúcar pra comprar coisinhas especiais, terei o Mundial pra não assaltar o bolso na feira de todo mês. Trocarei os travecos de Copa pelos... Travecos da Lapa. As noites depois do trabalho não serão mais no calçadão, ciclovia ou simplesmente andando pelas areias claras e fininhas da praia, mas serão no atelier-pessoal que terei um trabalho gostoso em dar forma e também na pracinha embaixo de casa e onde mais irei descobrir. Trocarei o barulho de carros à noite pelo barulho de crianças jogando bola. Duas noites e um dia pra sair de Copacabana-meu-amor e ir diretamente pra um 'suburbio real dos intelectuais inserido dentro do Centro', como dizem. E com direito a sorveteria, lan house, pega bêbo, brechós, muitos salões de beleza e lojinhas de R$ 1,99, mesmo que essas já nem existam mais, o que vale é o clima que dá vida àquele lugar.
Bairro de Fátima, que a gente se dê bem muito bem e... que seja doce!
terça-feira, julho 30, 2013
segunda-feira, julho 29, 2013
xota m xota
Foi uma semana difícil. Copacabana foi tomada por japoneses, africanos, holandeses, franceses, italianos, brasileiros e muita gente hablando español por todas as partes. Minha rua começa na saída do metrô principal do bairro e termina na parte da praia onde estavam rolando as concentrações e, de plus, ao lado do palco principal. Pandeiros e apitos me acordando às 6h40 todos os dias. Pandeiros e apitos me levando à cama próximo às 4am todos os dias. Não tava fácil. Tive os desejos mais obscenos e obscuros no período e, exatamente nessa semana, eu tava fazendo parte da montagem de um musical sobre drag queens. Os ensaios aconteciam em um sobrado aqui em Copa. Embaixo de nossa janela as pessoas pregando Deus, esta es la juventud del papa e, da janela pra dentro, a pregação era toda purpurinada e regada a muito palavrão, música, corpos e peles sem medo de existirem. Praticamente um choque quando descia àquelas escadas de volta pra casa e pegava um engarrafamento a pé de mais de 10 minutos na calçada da minha rua. Trajeto que eu levaria 30 segundos pra fazer em um dia não abençoado. Até que a tão esperada sexta-feira chegou e, com ela, todo o meu desespero. Fiquei ilhada em casa. Ninguém entra, ninguém sai. Fui dormir na hora de acodar, entre apitos e gritos. Três milhões de pessoas disputando a minha rua, quer dizer, não é brincadeira. Um funil injusto. Se tava impossível sair de Copacabana, mais impossível ainda seria ficar. Pra minha sanidade mental eu fugi. Fugi como quem foge de casa sem chances de volta. Na bolsa a escova de dentes, blusa, própolis e calcinha extra. Sem data certa pra voltar. E comecei a peregrinar no fluxo contrário ao dos colegas. Três milhões de pessoas, cada uma com uma mochila nas costas multiplicando por dois o volume de gente. A confusão e a disputa por um lugar na pista. Atravessei o Tunel do Rio Sul me perguntando "Cadê os ladrôes essa hora???". Cheguei até um posto de bicicletas e garanti a minha. Me joguei na cicloovia, achando que estaria salva (já que as duas pistas de carro estavam liberadas para a caminhada), "lerdo engano". E, enquanto quase atropelava todo mundo, ouvia os maiores absurdos do mundo em um espaço de tempo tão curto. Primeiro uma mulher virou falando "olha lá, a menina é a maior drogadona" Só porque eu quase caí com a bicicleta de tanto rir quando vi um cartaz escrito "Papa Alma Zelosa" e, óbvio, lí Alma Sebosa. Depois um rapaz tirando foto no Aterro do Flamengo e pedindo pra amiga postar no instragão essa foto dele "aqui na praia de copacabana" (oi?). Sem contar as zilhões de vezes que ouvi gostosa, tesuda e variações de caras e bocas em todas as linguas desses jovens punheiteiros de Deus. Sem esquecer da moça que "olhaaa! achei ousado peregrinar de bike" e dos escritos nos muros de que cerveja dá aids.
Meu sábado começou animado e graças aos meus companheiros só terminou hoje, de volta à Copacabana e estranhando tanta paz.
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| hehehe |
Meu sábado começou animado e graças aos meus companheiros só terminou hoje, de volta à Copacabana e estranhando tanta paz.
E ainda tem gente que pergunta "imagina na copa!?"
Qual a parte das 3 milhões de pessoas que eles não entenderam?
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| minha rua. |
Rima
'amor, então,
também acaba?
não, que eu saiba
o que eu sei
é que se transforma
numa matéria prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva
ou em rima'
Leminski
e você vai ser rima. sempre e sempre. a certeza mais certa. uma decisão feliz que tomei na vida: a de permitir que você entrasse nela. e entrasse pra ficar.
sexta-feira, julho 26, 2013
Pra que rimar amor e dor?
tá bem frio. dormi demais. sonhei demais. escuto a rua barulhenta e me esvazio no infinito azul dessa sala. hoje eu tô vazia. tanta coisa ao mesmo tempo e nada. escrevi tantas palavras, algumas até efusivas e hoje quase não falei. poucos ouviram minha voz, minha voz pouca, hoje. se alguém me perguntasse valendo muito dinheiro o que eu sinto exatamente agora, decerto eu falharia e perderia o prêmio. se alguém me abraçasse logo em seguida desse questionamento, eu acho que choraria. choraria de soluçar. choraria que nem chorei "sem razão" na descida do Teufelsberg. só pela energia do lugar. ou agora, pela energia do momento. um momento carregado de significações tão novas e cheio de interrogações à frente. eu sou uma molécula desse tamanico inserida em um contexto grande desse jeito. ontem me falaram 'queria entender o que você sente, perceber, sei lá' e em seguida a pessoa se arrependeu do questionamento que não chegou a virar uma pergunta, pediu desculpas, concluiu que não queria se machucar, direcionamos o assunto pra uma outra vertente. mais leve. não sei o que ando fazendo com meus olhos e meus braços e minha voz pra trazer tanto mistério onde não há. mora na filosofia, pra que rimar amor e dor? eu só estou vivendo. ficar em casa também é bom. chorar é bom. chegar em casa no outro dia à tarde, algumas vezes é bom. passar uma noitada inteira bebendo apenas água mineral, é bom. usar o blusão de um amigo em uma festa porque tá frio, é bom. não ser ou ser paquerada justamente por isso, é bom. dormir no chão é bom. ficar nua é bom. passar uma noite inteira abraçada em silêncio é bom. não se importar muito com essas coisas todas é bom. viver desse jeito tem assustado as pessoas. viver tem causado dúvidas, causado medo, espanto. eu sou mais humana. eu aprendi a sofrer. antes eu sofria aleatoriamente. eu culpava alguém. eu culpava nem que fossem os astros. hoje eu sofro em hamornia. não tem como ser apenas feliz. não cabe no peito só felicidade. minhas células precisam de frio, precisam de dor, precisam de solidão.
aprendi a sofrer e sofrer tem sido um dos maiores aprendizados da minha vida.
aprendi a sofrer e sofrer tem sido um dos maiores aprendizados da minha vida.
quarta-feira, julho 24, 2013
terça-feira, julho 23, 2013
Transa
O desejo é maior do que ouvir, cheirar, degustar, tocar, olhar, ter esse disco.
Queria mesmo era transar com Transa.
Queria mesmo era transar com Transa.
The one II
A Igor
Não lembro com precisão quando decidi isso, mas eu só casaria com alguém que tocasse um instrumento de sopro. De preferência sax, mas qualquer outro já estava dando para o gasto. A verdade é que, apesar de já ter namorado e tido uns affairs com músicos, nenhum deles soprava seus instrumentos e em sendo assim estavam previamente descartados no meu subconsciente. Então comecei a namorar sério, quando digo sério me refiro àquele namoro onde as pessoas medem os dedinhos em outros anéis pra saber o tamanho certinho da aliança, e esse namorado podia ser tudo, inclusive um excelente escritor, mas não tinha nada de músico, a memória sequer permitia que decorasse mais que três frases de uma canção até então desconhecida sem que gastasse uma energia mental e esforço estrondosos. Foi bingo quando aprendeu o refrão de 'cintura fina' e passou uma semana inteira cantando pra mim como quem carregava um troféu na voz. Até que certo dia cheguei em casa e lá estava ele sentado no sofá, propondo com o olhar que tinha uma surpresa e dizendo 'senta aqui junto', enquanto sacava de uma caixinha vermelha uma gaita comprada escondida de mim há algumas semanas. Me faltou o ar e, antes que eu falasse que ele não precisava aprender gaita só porque eu acho bonito, ele me silenciou quando começou a soprar, ansioso, nervoso, contente e cheio de preciosas pausas pra pensar na próxima nota 'Felicidade foi-se embora e a saudade no meu peito ainda mora...'
Não lembro com precisão quando decidi isso, mas eu só casaria com alguém que tocasse um instrumento de sopro. De preferência sax, mas qualquer outro já estava dando para o gasto. A verdade é que, apesar de já ter namorado e tido uns affairs com músicos, nenhum deles soprava seus instrumentos e em sendo assim estavam previamente descartados no meu subconsciente. Então comecei a namorar sério, quando digo sério me refiro àquele namoro onde as pessoas medem os dedinhos em outros anéis pra saber o tamanho certinho da aliança, e esse namorado podia ser tudo, inclusive um excelente escritor, mas não tinha nada de músico, a memória sequer permitia que decorasse mais que três frases de uma canção até então desconhecida sem que gastasse uma energia mental e esforço estrondosos. Foi bingo quando aprendeu o refrão de 'cintura fina' e passou uma semana inteira cantando pra mim como quem carregava um troféu na voz. Até que certo dia cheguei em casa e lá estava ele sentado no sofá, propondo com o olhar que tinha uma surpresa e dizendo 'senta aqui junto', enquanto sacava de uma caixinha vermelha uma gaita comprada escondida de mim há algumas semanas. Me faltou o ar e, antes que eu falasse que ele não precisava aprender gaita só porque eu acho bonito, ele me silenciou quando começou a soprar, ansioso, nervoso, contente e cheio de preciosas pausas pra pensar na próxima nota 'Felicidade foi-se embora e a saudade no meu peito ainda mora...'
Nesse instante desbancou todos os músicos quase famosos com quem já me enrosquei e constatei que o The One não precisaria tocar sax ou gaita ou trompete ou flauta, doce ou não. Precisaria me emocionar.
segunda-feira, julho 22, 2013
Fragmentos do fragmento de um todo chamado 'Vamo alí?'
'(...) e no caminho eu pensava: como será que
ele é? Será igual àquela foto tão bonita? Não, não deve
ser. Havia visto várias fotos e em cada uma eu concluia algo
diferente. Eu podia já estar encantada sem nem conhecê-lo ou podia
simplesmente acabar com essa ilusão em menos de um minuto, no
primeiro contato. Se por um lado eu desejava que ele fosse a foto que
eu não gostei, uma voz esquisita e um tênis de correr, por outro eu
sonhava com ele daquele jeito que me fez dar um ou dois suspiros. Cheguei. O lugar era charmoso, entrei,
sentei no balcão e pedi uma cerveja. Dei um 360 no olhar e logo o
ví. Um alívio quase triste me bateu: ele era a pior foto de todas, um sorriso meio pevertido e um olhar que não diz nada,
piscou pra mim. Dei um riso na intenção que ele viesse ao meu encontro e se
apresentasse. Não aconteceu e persistiu no risinho do outro lado do
balcão. E antes que eu esticasse meus lábios no tom mais amarelo
que sou capaz de fazer, alguém cutucou meu ombro por trás: 'Carlinha?'. Me virei e um balãozinho
imediato surgiu na parte superior
esquerda da minha cabeça, escrito em letras garrafais: FUDEU. Ele era muito mais bonito do que a
foto mais bonita que eu havia visto. Tinha os olhinhos brilhantes, o cabelo médio oleoso, uma combinação de blusa quadriculada com um agasalho um pouco formal
que ficava no limítrofe da jeguice (a coisa mais linda), além de uma
voz gostosa de ouvir tanta história e a necessidade que eu olhasse sempre pra cima pra observá-lo existir com seus longos braços que davam forma a tudo, a cada palavra. Saímos pra comprar cerveja traficada.
Dai em diante pouco importava o tênis que ele tava usando (...)'
Dai em diante pouco importava o tênis que ele tava usando (...)'
domingo, julho 21, 2013
Tenderly
A Mauricio
-O abraço foi folgado pra você não sentir meu coração disparado. E saí apressado porque tava me sentindo sujinho e fedidinho
-Você tava lindo com blusa surradinha e cabelo oleoso. Quando você entender que eu gosto de você, vai passar a entender que fica bonito de banho tomado e roupinha legal e que fica bonito sujinho e fedidinho também
-Me permitir conhecer o que pra você são fragilidades - o cabelo oleoso, a blusinha surradinha do miles e o coração disparado, só faz eu gostar (ainda) mais de você
-Você é essa música
Pudera eu ser essa música tão bonita, foi o que pensei
Não corre mais do meu abraço por coisas tão pequenas, sentir um coração disparado nunca vai ser pra mim um problema, bastava você sentir como o meu tá agora pra saber.
-O abraço foi folgado pra você não sentir meu coração disparado. E saí apressado porque tava me sentindo sujinho e fedidinho
-Você tava lindo com blusa surradinha e cabelo oleoso. Quando você entender que eu gosto de você, vai passar a entender que fica bonito de banho tomado e roupinha legal e que fica bonito sujinho e fedidinho também
-Não consigo entender mesmo eu acho
Porque acho você tão linda, ai não bate, sabe? É como se eu não te desse o direito
Porque acho você tão linda, ai não bate, sabe? É como se eu não te desse o direito
-Me permitir conhecer o que pra você são fragilidades - o cabelo oleoso, a blusinha surradinha do miles e o coração disparado, só faz eu gostar (ainda) mais de você
-Você é essa música
Pudera eu ser essa música tão bonita, foi o que pensei
Não corre mais do meu abraço por coisas tão pequenas, sentir um coração disparado nunca vai ser pra mim um problema, bastava você sentir como o meu tá agora pra saber.
sábado, julho 20, 2013
sexta-feira, julho 19, 2013
Começou
Entro nas lojas Americanas e me deparo com uma fila gigante e atipica para o horário. Música de Deus trilhando meus pensamentos. Na fila, uma garotada alegre com salgadinhos e latinhas de refrigerante nas mãos e acessórios JMJ por todos os lados. "Puta que me pariu, essa merda começou" foi o que pensei em voz enquanto os jovens me olhavam quase metralhando. Sai da loja sem meu diamante negro e sem a chance do perdão on-line do Papa, amém.
quinta-feira, julho 18, 2013
Correos CTA Barcelona
Eu ainda tô tremendo, mas vou escrever tremendo mesmo. Porque se eu não escrever agora, vou ser orgulhosa e não vou escrever nunca mais. Vou dizer algo como obrigada, fiquei contente e passar adiante. Vou escrever porque gosto da capacidade de me surpreender e te digo que, mais do que a surpresa desse envelopinho branco com um selo da Espanha e teu nome todo importante seguido do endereço do pis Joanic mais louco da vida, foi a surpresa que tive em sentir o que eu, ainda ontem, pensei não mais sentir, cheia de um orgulho bobo. Esse rebuliço todo. Essa foto é linda, é linda! O postal é aquele quadro que tirei mil fotos tua na frente e nenhuma prestou, né? Saísse com cara de tanga de sereia em todas elas. Mas aviso logo que revelei, afinal, a gente não precisa sair feito modelo em todas, né? Ainda te digo que esse postal fui eu quem encontrou no La Escocesa e te dei. Te dei não, você, amarrando o cadarço, me pediu quase ordenando quando me viu descobrindo eles: "pega um de cada pra mim!!!". Só não sabíamos que ele voltaria às minhas mãos. A tua letrinha é feia e tremida mas o conteúdo é, pra mim, dos mais preciosos. Senti daqui, oito dias depois de tua partida, o peso que foi dar tchau pra Joanic, pra Mathieu, Laura, Axel, Laia, Marina, Sandra, a galera, os sofás e a mesa da sala, os chapéus das festas de fim de noite, a cozinha de todos, ao teu último andar na geladeira (que você também ocupava o penultimo andar na cara de pau), como deve ter sido pesado usar a manteiga de mathieu escondido pela última vez (hehe) Como foi tirar aquelas blusas penduradas na arara e do varal e guardá-las em uma mala. Guardando as coisas em uma mala como se isso fosse normal. Esvaziar tudo e deixar só aquela cortina azul que tanto gosto. Espero que tenha sido que nem no dia em que eu fiz minha bolsa aí, entre beijos, agarros e uma festa badalada na sala. Entre a mala e o licor de café. Deixar Barcelona é coisa que ainda não sei bem como lidar, por que deixar Barcelona foi te deixar também. Faz pouco tempo que consegui digerir tudo isso, que consegui colocar cada coisa em seu lugar, cada pessoa no seu país, que parei de contar cinco horas à frente pra te imaginar sorrindo e sorrir junto em algum lugar legal. Faz pouco tempo que meu coração parou de bater feito metralhadora ao ver alguma foto tua, ao ler alguma linha tua. Faz pouco tempo. Foi quando você voltou pra Alemanha e então não saber da tua nova rotina foi a maneira que meu coração encontrou de não mais calcular as horas do fuso, pois não fazia mais diferença alguma se fossem nove da noite ou nove da manhã, eu não imaginaria mais nada. Barcelona ficou e você ficou em Barcelona. E agora faz pouco tempo, menos de meia hora, que vejo que vou precisar de mais um tempo pra inventar mais alguma coisa pra enganar o pobre do meu coração. E acreditar novamente nessa nova coisa. Mas, mesmo que eu acredite nessa coisa nova, eu fico com essa tua frase final do postal:
"sei que um dia nos encontraremos"
besito muy grande, brechtinho!
Entra pra ver
Não mudei as certezas de lugar.
Acho que fui um pouco mais adiante pegando quase todas elas e dissolvendo-as em possibilidades. Entra pra ver, mas deixa as certezas na porta.
A guerra é apenas pra quem quer
É muito maluco isso que a gente tá vivendo. No dia 20 de junho lá estava eu nas redondezas da Prefeitura do Rio tomando bomba de gás lacrimogêneo por todos os lados e ontem, menos de um mês depois, ouvia toda a movimentação de dentro do meu apartamento, de banho tomado, pijama, um copo de água ao lado da cama, um livro nas mãos e a cortina cerrada. (Quase) que como se nada tivesse acontecendo. Ter a opção de escolher se quer ou não estar em uma guerra que acontece do nosso lado é um conceito que ainda não estudei.
Insônia?
Não, dessa vez são os helicopteros de Cabral sobrevoando minha casa como se bandido eu fosse. Peguei meu livro pra puxar o sono como de costume e não vou me render. O barulho das hélices a todo vapor vai ser tão e somente o efeito especial pra dar mais emoção ao Processo de Kafka.
quarta-feira, julho 17, 2013
Problema resolvido
Uma média e um pão na chapa, foi o que pedi naquela noite, na padaria de esquina com o hospital São Lucas. O clima tava tenso, uma noite com mais horas que o normal. Enquanto eu tomava meu lanche em pé e com pressa no balcão, um mocinho varria o chão da padaria freneticamente. Começou a varrer próximo aos meus pés e, como se fosse um jogo, começou a contornar meus pés. Eu tava por demais cansada, tensa e triste pra dar atenção a tamanha falta de tato do rapaz que mais tarde percebi ter sido falta de tato meu, em não reparar que ele tinha algum problema mental. E em pé continuei, engolindo aquele lanche forçado.
- Casa mais eu, casa?
- Oi??
- Apôis também num casa com mais ninguém!
O rapaz encerrou o diálogo assim enquanto varria meus dois pés sem piedade.
Ele mal sabia que tava resolvendo pra mim uma questão. Pronto, não caso mais!
- Casa mais eu, casa?
- Oi??
- Apôis também num casa com mais ninguém!
O rapaz encerrou o diálogo assim enquanto varria meus dois pés sem piedade.
Ele mal sabia que tava resolvendo pra mim uma questão. Pronto, não caso mais!
terça-feira, julho 16, 2013
Os próximos amores
A Igor
É fundo. É muito
É muito fundo
Cava até a pontinha do último dedo do pé
e depois continua a percorrer
por caminhos que não conheço
Poderão adorar minha comida, mas nunca mentir que é a melhor do mundo
Os próximos amores poderão morar em rua com nome bonito, mas que não cheire a dama da noite
Poderão acordar de mãos dadas comigo e com sede de sexo, mas nunca com fome de pão na chapa
Os próximos amores poderão ter problema nos joelhos, mas nunca dizer que 'hoje dei um tranco'. A questão não é machucar o joelho hoje, a questão é usar a palavra tranco
Poderão quebrar o dedo e ficar com a mão que escreve imobilizada por muito tempo, mas não deverão me escrever uma carta de duas páginas com a outra mão (a que não escreve) de maneira impecável como prova de amor
E, sobretudo, os próximos amores poderão e preferencialmente terão os olhos ou o sorriso infantis. Mas nunca - eu disse nunca - poderão ter os dois ao mesmo tempo. Olhos apertadinhos e brilhantes e sorriso com dentes graúdos e em estado de graça, em estado de semente. Olhos e sorrisos conversando em uma linguagem que não passa das vogais por extrapolarem na linguagem do amor. Não poderão ser assim, pois se por acaso vierem a ser, correrão um risco imenso de ser um amor feito aquele
Feito aquele, sim, só que menor
segunda-feira, julho 15, 2013
Das memórias afetivas - Cartas
Fazer uma mudança, além do novo tão óbvio, também é se encontrar com o passado. Com o que fomos e com o que somos graças àquilo tudo, à toda essa bagagem. Dentre todas as coisas que guardo, minhas cartas são as mais preciosas. Guardo-as com todo amor do mundo. Elas têm o mesmo nível de valor das minhas fotografias, na verdade elas são fotografias em forma de voz, mesmo as vozes que a gente já não ouve há tanto tempo e sequer lembra do timbre, mas ela tá alí, registrada em linhas tão íntimas, certas, reais. Agora, agorinha mesmo, enquanto escrevo esse texto, estou entre caixas de papelão, fita cor parda, livros e cartas. E, ao embalar essas coisas, acabei não resistindo e lendo-as mais uma vez na vida - não sei quantas vezes já vivenciamos esse momento, eu e elas, mas foi gostoso poder rever que o amor muda, se transforma mesmo, mas que fica eternizado alí. E como é bom mergulhar nessa nostalgia vez por outra. Pra casa nova eu quero deixar todas as quinquilharias pra trás. Qualquer coisa que pese demais na bagagem. Que não acrescente. Abro mão de tudo, mais uma vez. Apesar de nem ter mais tanta coisa, eu abro mão das roupas e sapatos que não uso faz tempo, de uns acessórios bobos e levo apenas meus livros, discos, fotografias, a coleção de areia e, claro, minhas cartas.
Abaixo, um bilhetinho bonito do meu amigo Thales. De um amor que já mudou tantas vezes mas que, de alguma maneira, continua a existir.
"Você é encontro com alguém e comigo, na busca por te encontrar completa - com o mais de seis e o escambau que gente assim funda carrega no mistério. Não sei bem dizer o que esse encontro fez explodir na minha vida e na não-vida, mas posso afirmar que trombar com você é coisa que toma de assalto uma existência. Te amo sempre, mas sempre te odeio antes e depois."
domingo, julho 14, 2013
"Carlinha quer fazer carreira solo!"
- Carlinha já fez todo tipo de dança, dança de tudo essa menina! (é o que costumo ouvir)
- Mentira, eu nunca fiz dança de salão. E o tango só foi um mês, não conta (é o que costumo responder)
- Tu que tas mentindo, você vivia se amostrando e dando show na Cubana da Bela Vista. (é o que costumo ouvir)
- Sim, uma coisa é uma coisa. Outra coisa é outra coisa. (é o que costumo responder)
Mas quando me perguntam o motivo de eu não fazer dança de salão, eu sempre esqueço! Ai hoje, ao ouvir "Carlinha quer fazer carreira solo" em uma aula de salsa e bachata, quando dei continuidade em um passo antes de receber o comando, me lembrei: Salto alto é o inimigo que se mostra primeiro. Mas o principal e mais feroz é o parceiro. A expressão "A dama tem que ser conduzida pelo cavalheiro" me deixa de cabelo em pé. É dependência demais pra mim. Ser conduzida por alguém. Respira fundo e vai.
Vou me esforçar, ao menos na dança.
Vou me esforçar, ao menos na dança.
sábado, julho 13, 2013
Clapton song
Quando uma música (já bem gasta) deixa de ser 4`35 de entretenimento e passa a contar uma história (bem bonita) e maior que 4`35.
sexta-feira, julho 12, 2013
history of my life
Fui alí fazer uma coisa mas acabei fazendo outra(s). Qual era a coisa inicial mesmo?
quinta-feira, julho 11, 2013
Além de delinquente é mal educada
Foi o que o moço do taxi pensou de mim. Primeiro entro no carro dizendo pra minha mãe que não sei se serei capaz de perdoá-la por ter me impedido de sair da loja com o carrinho de compras sendo empurrado os seis quarteirões até em casa. E, depois dela muito relutar em defesa própria, acabou caindo em tentação, pra desespero do motorista que devia ser de Deus - É, se bem que umas plantinhas alí dentro iam ficar lindas, né... -Mas moça, como a senhora ainda influencia essas ideias na cabeça da menina? isso é roubo, um negócio que não é seu, ilegal, sei que lá, meia hora de sermão e de cara de bunda da minha mãe e de um descontrole emocional meu - não conseguia segurar o riso. Depois do discurso, respirei fundo e, nesse instante ingrato, um catarro daqueles desceu guela abaixo com aquele barulho estrondoso que a garganta faz nesses casos, barulho molhado. Barulho quase sólido e amarelado que a gente costuma ouvir nos botequins pega bêbo do Rio de Janeiro, daqueles homens só de bermuda meio sujinha, com um pé descansado na altura um pouco mais pra cima do joelho, enquanto o chinelo aguarda no chão. - Agora já era, foi o que pensei enquanto minha mãe, roxa de vergonha, escondia meu rosto contra seu peito. O motorista não conseguiu segurar e deu uma gaitada e eu, me perdoem caros, engoli o catarro, já que cuspir pela janela seria (ainda) mais bizarro. Pois é, provavelmente serei assunto do jantar daquele rapaz: uma menina delinquente, mal educada e injuriada por não ter aquele carrinho de compras (liiindo) agora, em casa, prazer.
Decidi, decidido
Decidi que não vou (mais) machucar meu coração com pontadinha por coisa pequena, ou ao menos menor que eu.
Decidi que pontadinha nessa região é incômoda, pois se espalha até a garganta e depois volta rasgando bem lentamente, feito veneno, um veneno que não quero tomar.
Decidi que, pontadinha, só de cólica ou gases. Decidi, decidido está.
quarta-feira, julho 10, 2013
aquele corpo
Reconhecer o corpo enrolado naquele lençol branco com fita crepe foi, de longe, a coisa mais deprimente que fiz na vida. meu avô já não tava alí. podia ser qualquer outro. só um corpo abatido empacotado por inteiro em um lençol branco amarrado com fita crepe das grossas. podia ser meu avô, fiscal da receita federal e seus 20 mil reais mensais que vão bancar aquela vagabunda ou podia ser o moço que dorme em frente ao hospital, no chão frio. frio feito o corpo do meu avô. que podia ser o corpo de qualquer outro. mas era o dele. e, naquele hospital, naquela sala tão sem ar, não poderia ser qualquer outro pra reconhecer aquele corpo que não fosse eu, aquele corpo feito de carne - quase podre. a carne é podre, rasa. a alma é vasta. amém.
terça-feira, julho 09, 2013
segunda-feira, julho 08, 2013
talvez migrar
Se algum dia alguém me mostrar algo mais cafona coração que o amor, eu deixo o amor de lado pra escrever sobre essa outra mesma coisa.
meus 20 anos de boy, that`s over, baby!
Observo que a idade ta chegando quando, no lugar de acordar com uma ressaca de uma garrafa de uísque pra dois, acordo doente. é a segunda vez que procede assim. deve ser um sinal. não. deve mesmo ser um fato.
sexta-feira, julho 05, 2013
doisemum
nova moda
Olha a empada, olha a empaaaaada!
- buenas tardes, chica!
- boa tarde!
- ué, você fala português?
- sim, sou daqui, rapaz
- nem parece...
- por que não?
- esse amarrado no cabelo e também... que a moça ai ta de calcinha, né???? isso é coisa de gringo.
- eita! é que eu vim de última hora
- aiai se essa moda pega....
- buenas tardes, chica!
- boa tarde!
- ué, você fala português?
- sim, sou daqui, rapaz
- nem parece...
- por que não?
- esse amarrado no cabelo e também... que a moça ai ta de calcinha, né???? isso é coisa de gringo.
- eita! é que eu vim de última hora
- aiai se essa moda pega....
quinta-feira, julho 04, 2013
blueful
the blue has gone ...
... the blue is coming
i'm blue, i'm blue. can you catch me, baby? i'm blue. i'm blueful.
my beatles song
De alguma maneira que acho que nunca vou e nem pretendo explicar, for no one sempre ganha com um espaço absurdo de distância! Melodia, letra, sensações.
quarta-feira, julho 03, 2013
maratonista
Pensei que se eu corresse o mais rápido que pudesse, poderia escapar de mim por alguns instantes e escapar de mim seria uma maneira de escapar de você. Até me alcançar novamente, eu e o eu que corre atrás de mim, juntos e renovados. Corri Copacabana inteira, mas acho que não corri rápido o suficiente.
à vida
Até hoje eu nunca havia doado sangue. Motivo não me faltava: o peso pena, a anemia, o fato de sempre passar muito mal quando tiro sangue (que dirá uma bolsa de 450 ml) e, por mais vergonhoso que pareça, preciso ser sincera: sei que mesmo que se tivesse o peso e o sangue forte, provavelmente não teria doado por medo, por não ver alguém meu precisando ou pelo dia tá mais bonito pra praia do que pra um consultório médico. Mas era mais confortável dizer que não podia doar por pesar 49 quilos e isso tirava toda a culpa. Hoje o quadro mudou. Meu avô tá internado faz mais de um mês e até agora já usou 68 bolsas de sangue. Sei que ele não vai deixar de receber um sanguezinho bom caso a gente não consiga a quantidade (grande) de doadores que o hospital pede. Mas a consciência bateu pesado, 68 bolsas? Caramba, tem que doar. Todo mundo tem que doar! Como assim as pessoas não fazem desse ato de dez minutos uma rotina de 3 em 3 meses? E, enquanto me perguntava isso, me sentia um ser menor que aquela bolsa transparente sendo preenchida pelo meu líquido vermelho: até hoje eu era parte desse todo mundo. Deixei o medo em casa, aproveitei os dois quilos que angariei em 3 meses de viagem e fui. As médicas me pesaram e, ao verem meus 50.4 falaram que era melhor não. Que 0.4 era só de roupa e que 50 cravado podia ser arriscado, que eu quase não tinha veia (???) e que eu podia passar mal. "Moça, se passar mal, passou, ó minha cara de preocupada com isso", foi o que disse enquanto ela ria e concordava finalizando com um "Tudo bem, a gente tira o mínimo que dá pra aproveitar, que é 360 ml, tá certo?" "tá certo". E, entre um assunto e outro, sotaques, Recife, carnaval, Arrail d'ajuda, emprego, namoro, minha bolsa foi enchendo lentamente. "Seu fluxo tá tão baixo, 20 ml por minuto. Abre e fecha as mãos!" Tonteira. "Mais uma vez." melhorou. "Eita, agora tá ótimo! 45 ml por minuto. Faltam apenas 70 ml." "Coloca o resto, moça, preenche essa bolsinha toda". "seu peso só permite no máximo 400" "manda bala" "meniiina..." "vai, moça, oxe!" "oxe haha ok". Bolsa quase toda preenchida, soro na veia, veia que não aguentou todo o soro, ardor, algodão, gelo, "até logo". "até daqui a três meses!" "Alí tem um lanche gostoso." "Obrigada!"
E aquele suco de laranja desceu com o mesmo sentimento de quando bebemos aquela cerveja estupidamente gelada em uma sexta à noite quando não temos nada de específico pra brindar e simplesmente brindamos a vida! à vida, cheers!
E aquele suco de laranja desceu com o mesmo sentimento de quando bebemos aquela cerveja estupidamente gelada em uma sexta à noite quando não temos nada de específico pra brindar e simplesmente brindamos a vida! à vida, cheers!
segunda-feira, julho 01, 2013
irremediável
O fim da tarde chega e a melancolia se deita na minha janela em cor laranja, rosa, azul petróleo, cinza e, por fim, vai embora tingindo um escuro quase negro. Na maioria das vezes eu não tô aqui pra ver, mas a melancolia se debruça em minha janela entre cinco e seis da tarde. Mesmo quando chove ou o leque de cores é reduzido, ela vem. Todos os dias.
olhos solares
(...) me disparo a falar e quando vejo, não vejo mais nada. Fico cega de minha própria luz. É que meus olhos viram dois faróis incandescentes que se movimentam em rotação e translação quando o assunto é você.
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