“isso é uma doença,
é uma doença consciente!” Mesmo que todas as pessoas que elevo à
mais alta classe e confiança me falassem isso, eu não acreditava.
Eu não queria acreditar. E questionava a eles e a mim que se era uma
doença e a pessoa tinha consciência disso, por que não tratava? “a
doença mora justamente aí. Na consciência do problema e no egoismo
de, no lugar de procurar ajuda pra se curar, preferir espalhar o
tumor. Escolher contaminar quem tá perto. Espalhar.”
A gente
espalha amor. A gente espalha a cura. Ter o prazer de semear a doença
por onde passa é a própria doença. No início eu não conseguia
compreender como uma pessoa bonita, interessante e inteligente podia
fazer isso, traçar dessa maneira o caminho da solidão. Só depois
compreendi que era possível justamente por essas razões. Um jogo
perigoso, uma arapuca danada que envolve quem tá perto. Que envolve
e que depois passa, como sempre é. Sempre passa. Os tentáculos são
fracos, os argumentos iguais. Mais cedo ou mais tarde as pessoas
atravessam esse caminho, aos poucos dissolvem os resquícios e passam
a observar a doença, dessa vez de fora. Passam a analisar a não
vontade de cura. Passam a ver que vontade não é dizer que tem
vontade. Vontade não é dizer. Antes eu sentia tristeza. Doenças
são tristes. Agora sinto apenas pena. Acho triste sentir pena, pena
é um negócio pior que raiva, pior que rancor, pior que mágoa. Pena
é uma indiferença que não se mantém indiferente. Pena é um
sentimento aguado. É a vontade que aquilo fosse diferente. Eu queria muito que fosse diferente. Queria muito, muito! Muito mesmo. E lamento até doer meu peito que não seja.
E vejo as pessoas observando isso de fora. Tomando
consciência, tendo choques de realidade mesmo que doa. É não
precisar mais falar com ar de experiência que eu disse. É ver as
pessoas dizendo.
É não querer que as
pessoas digam e ao mesmo tempo não ter argumentos pra defender. É
ver a vida de alguém que se ama e muito seguindo, agora, por outros
trilhos, mais leves, menos enferrujados. Ao lado de novas pessoas e
relacionamentos, mais leves. É poder depois de meses estar em uma
mesma roda de conversa e até mesmo sentada na mesma mesa em um bar e
esse ser um assunto morto. É poder olhar nos olhos e entender que o
outro entendeu o recado dado em outrora. É ver o sorriso brotar
tranquilo, real, bonito. E é ver a vida de outro alguém que dei todo meu amor ir se perdendo, cada vez mais. É ver que a vida sempre segue e que é
triste, pra não dizer burro, escolher perder tudo por tão pouco,
por nada e no fim restar apenas recalque e espaços, vazios. É
constatar o prazer por relações superficiais e frágeis construídas
por baixo de um túnel enorme, imponente, colorido e ao mesmo tempo
tão fraco, desmontável, descartável. Um vento forte não suporta.
Um vento forte destrói o que não teve base sólida suficiente pra
se manter vivo, porque nunca tem. E nunca vai ter.
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