Foi uma semana difícil. Copacabana foi tomada por japoneses, africanos, holandeses, franceses, italianos, brasileiros e muita gente hablando español por todas as partes. Minha rua começa na saída do metrô principal do bairro e termina na parte da praia onde estavam rolando as concentrações e, de plus, ao lado do palco principal. Pandeiros e apitos me acordando às 6h40 todos os dias. Pandeiros e apitos me levando à cama próximo às 4am todos os dias. Não tava fácil. Tive os desejos mais obscenos e obscuros no período e, exatamente nessa semana, eu tava fazendo parte da montagem de um musical sobre drag queens. Os ensaios aconteciam em um sobrado aqui em Copa. Embaixo de nossa janela as pessoas pregando Deus, esta es la juventud del papa e, da janela pra dentro, a pregação era toda purpurinada e regada a muito palavrão, música, corpos e peles sem medo de existirem. Praticamente um choque quando descia àquelas escadas de volta pra casa e pegava um engarrafamento a pé de mais de 10 minutos na calçada da minha rua. Trajeto que eu levaria 30 segundos pra fazer em um dia não abençoado. Até que a tão esperada sexta-feira chegou e, com ela, todo o meu desespero. Fiquei ilhada em casa. Ninguém entra, ninguém sai. Fui dormir na hora de acodar, entre apitos e gritos. Três milhões de pessoas disputando a minha rua, quer dizer, não é brincadeira. Um funil injusto. Se tava impossível sair de Copacabana, mais impossível ainda seria ficar. Pra minha sanidade mental eu fugi. Fugi como quem foge de casa sem chances de volta. Na bolsa a escova de dentes, blusa, própolis e calcinha extra. Sem data certa pra voltar. E comecei a peregrinar no fluxo contrário ao dos colegas. Três milhões de pessoas, cada uma com uma mochila nas costas multiplicando por dois o volume de gente. A confusão e a disputa por um lugar na pista. Atravessei o Tunel do Rio Sul me perguntando "Cadê os ladrôes essa hora???". Cheguei até um posto de bicicletas e garanti a minha. Me joguei na cicloovia, achando que estaria salva (já que as duas pistas de carro estavam liberadas para a caminhada), "lerdo engano". E, enquanto quase atropelava todo mundo, ouvia os maiores absurdos do mundo em um espaço de tempo tão curto. Primeiro uma mulher virou falando "olha lá, a menina é a maior drogadona" Só porque eu quase caí com a bicicleta de tanto rir quando vi um cartaz escrito "Papa Alma Zelosa" e, óbvio, lí Alma Sebosa. Depois um rapaz tirando foto no Aterro do Flamengo e pedindo pra amiga postar no instragão essa foto dele "aqui na praia de copacabana" (oi?). Sem contar as zilhões de vezes que ouvi gostosa, tesuda e variações de caras e bocas em todas as linguas desses jovens punheiteiros de Deus. Sem esquecer da moça que "olhaaa! achei ousado peregrinar de bike" e dos escritos nos muros de que cerveja dá aids.
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hehehe |
Meu sábado começou animado e graças aos meus companheiros só terminou hoje, de volta à Copacabana e estranhando tanta paz.
E ainda tem gente que pergunta "imagina na copa!?"
Qual a parte das 3 milhões de pessoas que eles não entenderam?
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minha rua. |
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