sábado, novembro 23, 2013

"Que seja doce?" que seja real!

O medo de azedar um doce que ficou gostoso faz com que muita gente não mexa mais nele. Medo que  comer mais perca o encanto, permita descobrir pequenas falhas na receita, uma borda um pouco mais queimada, um recheio que ficou cru. 

Tem gente que não liga pra isso e mexe mesmo assim, prefere se lambuzar com o doce e correr o risco do azedo do que permanecer no quase intacto, bonito e superficial. Do que morar na lembrança do gosto que foi bom, até que ele se dissolva em outros gostos.

Eu me encaixo nessa segunda estrofe. Vou sem saber como é a volta, sem me preocupar com esse caminho tantas vezes doloroso ou frustrante. Prefiro a dor do que o vazio, "e se" é câncer pra mim. De suposições me bastam as irremediáveis.

Mas aprendi uma coisa cheia de importancia e que serve de lição pra tantas outras na vida. Existem pessoas, situações, coisas ou gostos que nasceram pra serem vividos apenas uma vez. Uma coisa estupenda e de uma vez só, feito fósforo quando riscado. 

O aprendizado é entender que esse "apenas" nunca vai ser uma palavra menor.

quinta-feira, novembro 21, 2013

quinta-feira, novembro 14, 2013

O decreto do peito, fechado

Para as duas estranhas que um dia acreditaram que seriam, sempre


É triste perceber isso, assim, na cara, no duro e direto, um abuso abusado decretado por decreto. Por todos os lados, de mim, de tu, de dentro, de fora, de lado. Não é a primeira vez que acontece (em dez anos, também pudera) mas tem jeito de ser a última. Por uma "coisa boba" que de boba não tinha nada, que se tornou gigante e minou, azedou o que era doce, o que era vivo, acabou. Era amizade e virou palito, afiado. Era choro, era riso e virou buraco. Era beleza, era sadio e deu praga. O que era um silêncio cumplice se tornou puro constrangimento. O transparente ficou fosco, tosco, de plástico. 

E a amizade antiga deu espaço pra uma amizade velha, desbotada e cansada. Demais.


quarta-feira, novembro 13, 2013

Enquadramento

Contra
Plongè

A distância
Limite
Entre
Eu e
Você

sábado, novembro 09, 2013

Pra curar

Quando falta rifocina para o machucado  e sobra unha afiada pra arrancar as casquinhas, a gente divide a dor em duas partes: 

cada um com a sua

em seu canto de mundo


quinta-feira, novembro 07, 2013

Pra guardar no peito

'Cansei de dar murro na ponta dessa faca afiada do Rio de Janeiro'

Foi a frase que disse à tarde com um nó bem preso no miolo da garganta. Essa afirmação foi injusta, injusta até demais, eu sei. É fácil falar isso quando se está desempregada contando as migalhas pra saber em quê pode gastar e quanto. Quando se volta by foot de laranjeiras até a Lapa todos os dias só pra economizar algum dinheiro para o fim de semana (tudo bem, tou achando ótima a caminhada, mas podia ser apenas pela saúde). 

A frase foi injusta por muitas coisas, afinal, foi o Rio quem me trouxe a grande decepção desastroamorosa de minha vida e que me fez crescer cinco anos em dois meses. Que me colocou um menino lindinho e mais maluco e tinhoso do que eu bem no meio do meu já desassossego. E continuou, continua.  Foi a ponte pra conhecer um dos grandes amores da minha vida, que por pouco não se tornou meu marido (quem hoje imaginaria eu, casada, (?) mas foi por pouco). Foi essa cidade quem me deu as maiores oportunidades profissionais e também os maiores contatos. E, pra completar minha injustiça,  foi justamente por estar atuando aqui que cheguei na Europa, por conta própria, sem pedir um real a mamãe e a papai. E foi onde conheci gostos e sensações nunca antes experimentadas. Revivi pessoas e construi novas saudades.

Apesar dessa cidade nunca ter sido muito estável comigo, profissionalmente e amorosamente falando,  tem um negocinho à parte que é gigante e que me fez chorar novamente (hoje tô chorona): os amigos. Pode tá tudo partido, o coração sempre remexido, a variedade nos ramos de trabalho mais instáveis que o câmbio na página da Uol, uma saudade que separa toda a minha família por esse brasilzão, mas quando penso em como era minha vida afetiva quando cheguei aqui e como ela se desenhou durante esses quase três anos, meu peito infla e eu só tenho vontade de chorar. Chorar de agradecimento sincero por tantas conquistas. Por tanto amor. 

No último sábado uma amiga antiga de Recife veio me visitar e, no finalzinho do domingo, antes de partir pra terrinha, me falou com tom de emoção que estava muito feliz por mim, em ver as pessoas lindas que estão ao meu redor. E ver que elas também são merecedoras do meu afeto. Quase choro quando ela falou isso (eu tô de TPM?). E é exatamente assim. Em Recife não tenho do que reclamar, tenho amigos incriveis de lindos. De carregar no peito, de levar pra casa e pra bar. De dividir tuias de lágrimas e agonias, quando por ventura elas aparecem, e os risos sem fim, constantes. E aqui no Rio não é diferente. É tudo mais novo, mas é tão sólido que parece ser antigo. Parece não fazer diferença. Na verdade é até mais intenso, algumas vezes dá a impressão que nós, no auge dos vinte e muitos anos (sem contar com os trintões que são maioria), acabamos de descobrir o que é ter um amigo, um grupo de fé, tamanho é o agarro e a trança que a gente forma, cada dia mais amarrada. 

Massa mesmo é quando os antigos e os novos se misturam , Recife/Rio, e quando isso acontece é um turbilhão, de vida, de luminosidade. Fica difícil distinguir onde termina uma terra pra começar a outra. Deu vontade de chorar de novo (hehe) quando penso em cada criaturinha que hoje faz parte dessa minha vida carioca. Dessa minha vida pernambucana. Dessa minha vida. E a emoção que é vê-los participando de mim enquanto eu faço o mesmo com eles, os sotaques se confundem e eu falo "cara" enquanto eles falam visse. Tem hora que a gente se perde, nas gírias e no amor. Amor transbordante. Na rua, nas festas, em casa, na vida.




Essa foto é de dois amados que representam muito bem toda a equipe a qual me refiro. Eu queria uma foto de todos eles, pra ilustrar essa declaração, como não tenho, transfiro toda a minha gratidão e carinho dessa foto para eles, todos, juntos e um por um. E ainda temos muito o que viver juntos, aqui, lá e em todo lugar!

Amo vocês! 


Beijos no cu,


Carlinha.

quarta-feira, novembro 06, 2013

Quando você deixou de ser sentido e passou a ser lembrança

                                                                                                                           A Mauricio

Qualquer coisa que eu fale ou que você murmure, não passa mais de frase. De letras unidinhas formando qualquer palavra. cebola, alicate, toalha, eu te amo. Todas iguais. O sentido se tornou lembrança. A lembrança se  vestiu de dor, a dor em uma rotina estática, sem malemolência. Dor gosta de rebuliço, um rebuliço que nem existe mais. Coagulou. Pra não me arrepender depois, prendo-a num potinho com medo. A dor não gosta desse lugar comum e tá virando poeira. Escolho a dor à poeira. Porque sei que poeira voa longe. Voa pra bem longe e não volta, se esvai e não se recupera. Por que a dor à poeira? Quando eu conseguir responder essa pergunta e decidir por mim e por você sem piedade, vai ser sua vez de me perguntar isso, querendo decidir contrariamente, cheio de vontade e razão, cheio de palavras descabidas e desconexas para o momento. Vai tentar diferenciar, na emoção, cebola de eu te amo. Como sempre é. Pena que já estarei tão distante.

terça-feira, novembro 05, 2013

Primeira Manhã

                                                                                                                      A Mauricio

Crônica de agosto de 2013




Ele fugia de mim. Pra mim. Mas na verdade era eu quem fugia dele. Pra ele. 

Acho que nunca teremos como saber. 

Eu estava sempre namorando, pra ele. Ele estava sempre namorando, pra mim. E quando não estávamos, fugíamos. A vontade de se enroscar acompanhada do medo era tanta que as desculpas se tornavam infindáveis para o não. Até que a matemática falou mais alto e negativo com negativo se tornou positivo e lá fomos nós. Mentira, lá fui eu, por volta das onze da noite pegar um ônibus e depois uma van de Copacabana diretamente pra Santa Teresa, lá no alto. Endereço escrito em um papel e o coração batendo mais rápido que a velocidade que o motorista percorria aquele caminho que nunca chegava. A hora é agora, pensei. A hora é agora, ele pensou. Finalmente pensamos, sincronicidade. É agora. Um agora que demorou coisa de dois anos pra acontecer. Já era bem tarde e a vontade de protelar aquele momento era tão grande que ficamos no estúdio que ele tem em casa. Alguns amigos chegaram e entre uma bebidinha e outra tocaram umas músicas. 

Pra disfarçar minha cara de sem vergonha envergonhada, peguei minha câmera e comecei a filmá-los, como uma maneira de justificar minha existência nova naquele lugar. Mesmo sendo uma existência antiga na vida do dito cujo senhor das baquetas. O tempo foi passando, a bebida acabando, os meninos dando boa noite e até a própria noite se despediu dando espaço para os primeiros tons indicativos de dia. Era hora de foder. Não tinha mais pra onde correr. Não havia mais como fugir. Éramos só nós dois, Eric Clapton conduzindo a ebriedade do momento e um colchão para nossos corpinhos magros no meio do estúdio. Ele fechou a cortina. 

Corta a cena

Acordamos. Quer dizer, acordei primeiro e parecia que éramos um casal antigo: as pernas enroscadas, o nariz no pescoço, o pescoço babado. Me mexi o menos que pude e ainda tateando aquele lugar não comum (tanto o corpo quanto a casa), procurei pelo copo d'água que tava perto. O estúdio tava bem escuro, derrubei meu celular no chão e ele acordou. Abriu os olhos e um sorriso de satisfação e bem sonolento me puxou de volta pra ele. Uma preguiça danada de levantar, as vozes lentas trocando carinhos sem vergonha do bafinho matinal. Lá fora tava um sol de rachar. Aqui dentro também tava, sol. Parecia que a gente não ia se desgrudar nunca mais. Depois desse dia, nos encontramos algumas vezes e depois fizemos questão de arrumar qualquer novo motivo para o não. 

Agora ele foge de mim. Pra mim. Mas na verdade sou eu quem fujo dele. Pra ele. 

Acho que nunca teremos como saber.

sábado, novembro 02, 2013

Sexta, Miles, água com limão, pijama e palavras

Houve um tempo, não muito distante, em que ficar em casa na sexta-feira à noite era sinônimo de derrota, tristeza e agonia. Era quase que hipotética a cena da rua lá fora, as pessoas, a ebriedade do momento e dos risos e eu não estar participando disso. Só se tivesse doente, não tinha essa de chuva ou coração machucado como fatores impeditivos. Sexta-feira era dia de rua, ponto final. Hoje, quase 1h da manhã deste emblemático dia, estou aqui, em casa, sozinha. Sozinha e contente. Não porque não tinha pra onde ir, aliás, eu tinha inclusive um convite pra um baile muito legal. Mas minha casa me ganhou, o cheiro de colônia, alecrim e manjericão do banho de ervas que fiz mais cedo me aconchegou, me fez escolher aqui pra ser hoje o meu lugar. 

Tem cerveja na geladeira, aliás, têm muitas cervejas na geladeira. E tem vinho na prateleira da sala, mas estou na água com gelo e limão. Não, não é suco de limão, é outra coisa, é essa coisa. Por incrível que pareça, até estou com uns trocados que poderiam ser gastos noite adentro com os amigos, mas permanecem na carteira, que permanece na bolsa, que permanece pendurada no meu espelho de pé, bem lindo, que permanece no meu quarto, que me pertence. E eu pertenço a ele, hoje. Bebo minha água com essência de limão e Miles Davis embala minhas palavras pelo Grooveshark. É tão maravilhoso não precisar baixar música no meu computador com pouca memória e não ter que aturar as propagandas do youtube. Eita, agora começou a tocar "The man i love", me arrepio com essa música. Miles é um danadinho! 

Comecei, finalmente, a escrever uns rabiscos sobre meu projeto. Decidi esquecer essa ideia de que porque nunca escrevi um projeto na vida, não posso começar nunca. Joguei pela janela da sala, que é bem grande, a desculpa de que não sei fazer orçamento e de que não sei qual é a linguagem específica a ser usada. É futucando que se aprende. Depois dei uma parada, comecei a ler a apostila do curso e viajar nos tilts, pans, travelings, chicotes, plongès e contra plongès. Voltar a estudar foi uma das decisões mais acertadas que o desemprego me trouxe. Me assusto em como não fiz isso antes, onde morava minha necessidade de aprender mais e mais e mais? Espero que depois dessa eu tome juízo e não pare de estudar nunca mais, mesmo que um dia eu tenha três empregos, um cachorro e um pomar pra tomar conta, cheio de pitangas graúdas.

Dei um um tempo no projeto e vou aproveitar pra terminar meu livrinho que tá parado tem tempo. Ah, nem queira saber a quantidade de livros que tenho interrompidos faltando 2 capítulos pra terminar, não sei que prazer é esse em não querer saber o fim. Vou mudar essa mania boba e terminar o que estou lendo de uma vez por todas, antes que ele vire estatística. 

E agora, vendo minha cama quentinha e bagunçada, deu vontade que o sono não demorasse a chegar. É tão boinha a hora de desligar tudo e deixar só a luminária de luz ambar iluminando minhas últimas ideias antes de pegar no sono... Não sei como tem gente que não gosta desses instantes finais de antes de dormir, pra mim é quase um abraço. Um abraço deitado, suave e contínuo. Obrigada, sexta, água com limão e gelo, Miles, pijama e palavras.

sexta-feira, novembro 01, 2013

Sobre uma tela que divide. Ou o oceano que separa. Ou não.


A Brecht

'Uma felicidade sem futuro
como qualquer felicidade que se preze'

de Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios

Eu te decorei. Os olhinhos mirando a parte superior esquerda. Os olhinhos, cerradinhos, cheios de brilho. Igualzinho como eu lembro. E o sorrisão querendo engolir esse cristal liquido que separa as nossas vistas do abraço, do aconchego, do cheiro cheirado. Três horas de diferença no relógio e o nosso sono igual. Bairro de fátima, Karlsruher, oceano, halloween, guapa, tas aí? Eu te decorei, o silêncio que precede a caretinha de boca, mostrando parte dos dentes, indicando que minhas bochechas vão ganhar um aperto sonorizado por um "aaaaarrrhhh", mas via isso, esse tal de skype, a caretinha de boca é interrompida pelo não ato e o rosto vermelho, frustração disfarçada. E minha caretinha de cumplicidade em querer tocar tua bochecha também. Eu te decorei. E eu também te colori, com lápis nos olhos e batom por tabela, por beijo. Você também é o mais lindo. E vai tá sempre fazendo bonito no meu coração, obrigada! Pela noite de halloween e pelos sentires incoisificáveis. Seremos sempre essa felicidade sem futuro. Que é como são as felicidades que se prezam: agora.

quinta-feira, outubro 31, 2013

Period

jorrando carmim é a poesia de minha 
menstruação sem fim

segunda-feira, outubro 28, 2013

O maior avanço da tecnologia é a falha

"Dessa vez você não esqueceu o cachecol, mas encontrei meu coração caído no cantinho esquerdo do sofá. Quando te encontro pra devolver?"

A pessoa compra um celular novo e ele magicamente apaga mensagens novas e revive mensagens de dois anos e meio atrás que eu sequer tinha. A tecnologia e seu desavanço em prol das lembranças sensitivas de frescurinhas que precedem um namoro. Bonitinho isso. Sorrisinho.

Essa foi a primeira mensagem (antiga) que (re)lí em meu celular (novo). 

sábado, outubro 26, 2013

É batata

E quanto mais a gente pensa em não pensar, mais pensa. E pensa duas vezes, primeiro o pensamento original, depois o pensamento de não pensar. Então vou fazer assim: não vou mais pensar em não pensar, pra pensar uma só vez. Pensar uma vez só é o caminho mais curto para não mais pensar. 

Pensarei, então, com permissão, tudo legalizado, batendo ponto e sem vergonha. 

Até o pensamento mudar de morada. Ou a morada mudar de pensamento.

Valendo!

quarta-feira, outubro 23, 2013

O céu azul de Barcelona



Barçazul

Voltando pra casa, dei uma olhadinha para o céu que fica em cima da pracinha e lá estava ele, azul, azulzinho. Zero vestígio de mancha esbranquiçada ou de um cinza qualquer. Azul. Olhei novamente e ao fundo enxerguei uma das construções de Gaudi refletida: a Casa Battló. As pastilhas, as curvas, as cores. Depois retornei o olhar apenas para céu e aquele azul já não era tão azul assim. Continuava sem manchas, sem cinza, continuava limpo e uniforme. Mas era um azul diferente. Era bonito, também, mas longe de ser o céu azul de Barcelona.

terça-feira, outubro 22, 2013

CUIDADO

com o vão
entre buceta
e coração

quarta-feira, outubro 16, 2013

A hora do tchau



Ela vem sem atrasos e em estado de falta
Se despedir falta palavra e abraço
É sempre pouco
E sobra no olhar a esmo de depois

Não importa quantas horas ainda restem
ou o tanto de preparo que se tenha pra isso:

A hora do tchau são dois copos vazios
Dois corpos vazios e ao mesmo tempo tão cheios, preenchidos
Duas vontades de ficar, estar e permanecer

Sem vazão

segunda-feira, outubro 14, 2013

É amor

É amor. A gente demorou a entender o que danado era isso. E veio sem susto, amor daquele certeiro e que não mancha mais. Não é posto em xeque, não ameaça, não dá soco no peito e nem murro em ponta de faca. A gente aceitou, é amor. Quando sangra logo trata de estancar. E não importa mais o que aconteça por fora ou por dentro, de mim ou de você, e também não depende mais do tempo (que irremediavelmente vive indo): o sentimento não escapa. Ele tá se encontrando firme dentro de cada detalhe. Respeitando cada espaço, cada passo, na certeza do sorriso demente e dos olhinhos brilhando, latentes.

sexta-feira, outubro 11, 2013

Lembrancinha

Nessa vida doida e cheia de falhas, nos encontramos quando tudo era não. Você vinha com um não estampado em neon antes do nome. Mas não me atingia. Os alto falantes negativos não chegavam até mim, chegavam até meus ouvidos, apenas. E chegar aos meus ouvidos e nada dá no mesmo pra uma mente avoada feito a minha. Você era ideia e ideia no máximo intriga. Aos poucos foi trocando o n por t, por talvez, por s, por sim, aos poucos foi mudando, naturalmente (?). E virou sim. Sim, sem mais e nem meio mais.  Depois repentinamente tudo voltou a ser não. Não antes, durante e depois do nome e até da ideia. Não no bar, não viajando ou quando deslembrada de você e você surgia, em pensamento ou em visão: não. A questão é que mesmo com o não, de algum modo você continuou sendo sim por aqui. Sim no bem querer, na vontade de te ver bem, na instiga de que as coisas tomem um caminho bem leve pra teu lado, que as vias se estendam aos teus pés e que teus pés queiram seguir por essas vias, tranquilas e com um sambinha de fundo tocando em tua homenagem, em homenagem às conquistas e à vida que ensinou e aprendeu com você. Eu te desejo uma primavera larga, bonita e limpa. Eu desejo você para você da mameira menos dolorosa que possa ser possível. E te desejo isso como desejo a mim também e a todos que prezo. Um feliz aniversário!

domingo, outubro 06, 2013

Flechada

teus olhos
tristonhos
descansaram 
nos meus olhos
tristonhos
por três
tristonhos
segundos
e
tristonhamente
escapuliu

quarta-feira, outubro 02, 2013

Olhos ancestrais




No limiar entre o dito e o silecioso. Mistério, candura, fogo, brisa. Abismo. Mergulho. Desvio. Aviso, alerta, perigo. Mistério. Aberto. Abrigo, descanso: infinito. 

Foi isso que me disse através daqueles (também) olhos ancestrais.

segunda-feira, setembro 30, 2013

Pra saber que é amor

                                                                                                                               A Mauricio

Amor não é como a gente escolhe e não vem na embalagem que mais agrada, a embalagem bonita da vitrine. Amor às vezes vem quando a gente tá sujo, tá triste, tá querendo fugir da gente. Tá com a blusa manchada e a alma também. Amor não enxerga a cor da blusa, tampouco a cor do momento. Amor costura. Faz curvas e mais curvas em torno das nossas ideias, das nossas vivências, de nossas falhas, nossas doenças. Amor não escolhe a hora e nem o erro mais bruto. Também não escolhe pelo feliz acerto. O amor não escolhe, ele nasce. Nasce de um terreno capinado ou por entre os matagais em abandono. O amor brota. Ele dá um cadinho de esperança mesmo quando tá tudo errado, quando tem buraco, um espaço mal cuidado. 

Amor é um colo quentinho, os braços agarrados nas pernas e cheiro no ombro de olhos fechados, involuntários. 

Amor é isso e se não for é outra coisa, tão latente quanto, mesmo quando vaza, escorre, catuca. Mesmo quando dor.

sexta-feira, setembro 27, 2013

RIP CAIÇARA






Hoje é dia de luto
Coração em poeira
Restos de história
Por baixo da britadeira

Construtora de cú
No cú do Recife
Quase 500 anos de história
E a mesma canalhice

A casa
Cai
A cidade não sara
Com trocadilho horroroso
Feito Recife,

ALIENADA

quarta-feira, setembro 25, 2013

Central do Brasil

Hoje, cheguei na estação por volta das 15h e, ao invés de pegar o subterrâneo para o metrô, me abestalhei e acabei sendo levada pela multidão, seguindo o fluxo 'sempre em frente'. O portão que é enorme se mostrou pequeno demais pra tanta gente apressada na vida. Pra ir e vir. Sabe-se lá pra onde. Quando me ví finalmente só, a muvuca já distante, realizei onde estava, dei um sorriso engraçado e te encontrei. Você tava perto daquela banquinha cheia de coisas pra vender, de blusinha Huebra e me perguntando o motivo de eu não estar bebendo. Expliquei e então comprei uma água, um salgado e fomos em busca dos seus amigos, do aniversariante e do que parecia com você, "de barba e é mais ou menos da minha altura". O samba já estava fervendo, clima de carnaval carioca, moças bonitas com cara de maquiagem ofereciam pulseira para o trem vip que, em cinco minutos, estaria partindo para Madureira. Achamos seus amigos e corremos pra comprar os tickets. Quando finalmente chegamos na plataforma, o trem partia sem nós, sem pena. 

Foi quando me ví novamente só e tomei o metrô linha dois para Coelho Neto, depois Rocha Miranda.  

Grão e vida ou o desejo de felicidade

Aldeia


Com quantos grãos se faz uma fotografia? Com quantas fotografias se faz uma história? Com quantas histórias se faz uma vida? Com quantas vidas retornamos ao grão? 


Os questionamentos são em homemagem aos assuntos que tavam rolando nesse balcão: fotografia analógica, digital, laboratório de revelação e tudo o mais que duas mentes curiosas podem trocar. 

(gente especial faz aniversário no mesmo dia. Parabéns aos dois librianos! Vida longa à curiosidade por esse negócio vivo e latente chamado vida!)

terça-feira, setembro 24, 2013

A alegria de uma nota triste



Enquanto tento me concentrar no meu livro, identifico a nota alegre das teclas do piano, lá longe. E fico imaginando se é uma criança, um rapaz, uma menina, um senhor. Decerto é alguém treinando um exercício repetidas vezes, não me queixo, é bonito. Até as falhas das notas são bonitas. Mas essas são notas alegres. Aprendi com você, rapaz da fotografia, o que são notas alegres e notas tristes. E como em uma brincadeira, alguns testes de ouvido você me fez. Eu prefiro as notas tristes, me tocam mais. Chegam junto, entram nos poros e ficam por algum tempo. As alegres batem e voltam, correm mundo com certa pressa. 

Eu queria dizer pra pessoa do piano lá de longe, pra essa criança, rapaz, menina ou senhor, que eu ia ficar feliz que só se ela tocasse uma nota triste nessa minha tarde chuvosa. 

Rodamundo

O mundo vai girando, girando lentamente e aos pingos mostrando suas nuanças leves outra vez. Um tom verdinho claro, outro azul. Verbena, cravo e hortelã. E eu vou girando junto, a saia contornando meu corpo, a respiração que escuto a cada passo. Uma luz de fresta que vem da janela iluminando meus olhos, ou seriam meus olhos que vão iluminando o ponto de luz que vem da fresta da janela? Uma troca. O mundo girando, girando, eu girando junto, as cores, as formas, o ar, a respiração, o sorriso brotando no meio da rua. A rua brotando firme para meus passos. Meus passos se decidindo, se encontrando, voltando para meus pés. 

segunda-feira, setembro 23, 2013

às 6h45

- ?? alô ??
- Oi! Tá tudo bem?
- Tá
-Tava dormindo?
-Tava...
- Lembra que depois de amanhã é meu aniversário?
- Lembro, né
-Tá, era só isso, pra descontar a sua ligação no ano passado
-Mentira, né? hehe boa noite
-hehe, bom dia e acooorda!

Raica



O cheiro forte, as patas largas, a mansidão experiente - imponente e tranquila em frente de casa. Dourada, graúda, respeitada pelos outros integrantes da família, daqui eu enxergo seus olhinhos tristes, cansados, distantes. E uma vontade tão grande de correr ao seu encontro, mergulhar a cabeça no buchinho, ser lambida sem piedade enquanto os demais atrapalham com mordidinhas de ciúme nas minhas mãos, mas não tem jeito, ela sempre tem a manha: com a perna arreganhada pra acarinhar, raica é uma preguicinha solar. E delicinha também, me encanta.

* acordei com você na cabeça, acho que foi sonho...

domingo, setembro 22, 2013

Avesso

todo dia
toda hora:

bocado pra dentro
um pouco pra fora

sexta-feira, setembro 20, 2013

Mal moderno

Estamos (quase) sempre atrasados e, ao mesmo tempo, duas ou três estações de metrô à frente da realidade. Um quarteirão mais perto do destino final ou, no mínimo, "em 10 minutinhos eu chego!". Dez minutinhos que sabemos ser 20 ou 25.  Até quando não há atraso, quando vai dar tempo, sentimos necessidade de estar um passinho adiante, 

mesmo que não seja verdade.

quinta-feira, setembro 19, 2013

Pra ser mato


Deleuze cita Henry Miller: o mato só existe em espaços não cultivados. Ele preenche os espaços vazios. Cresce entre, no meio de outras coisas. A flor é bela, o repolho é útil, a papoula enlouquece, mas o mato é um transbordamento, uma lição de moral.






Por entre, pelo meio, pelas beiradas. Crescer, ocupar, permear. Sorrateiro, sem alarde, sem ataque. Crescer de ponta à ponta, rasteiramente. Crescer, tão só e somente.




quarta-feira, setembro 18, 2013

Entressonho

Na verdade, estou dormindo. Apesar do ventilador de teto ligado e minha cama embaixo de meu corpo morno, ainda não puxei o lençol, ví o celular pela última vez, pensei pensamentos, virei de bruços, posicionei minhas pernas do mesmo modo de sempre: uma esticada e outra dobrada quase 90 graus. Tampouco comecei o jogo de noite inteira com o travesseiro, virando para um lado e, quando quente demais, para o outro, pra refrescar. Ou aliviar alguma coisa mais abstrata do sono. Mas estou dormindo. E essa música permeia cada pelinho do meu corpo. Mesmo não havendo tantos pelos nele. As notas chegam suaves e minha respiração fica lenta. Meu corpo quase que flutua. Uma nota doce, calma, talvez triste. Uma nota barulho de chuva pra dormir melhor. É isso, uma nota de chuva pra fazer dormir melhor.





terça-feira, setembro 17, 2013

Saudade perigosa:

é deixar o celular bem distante e no silencioso pra não cair em tentação.

segunda-feira, setembro 16, 2013

Das teorias ébrias




Fim do sábado no Bar da Cachaça, 

a Calani e Ana Paula



Um dos maiores erros nos relacionamentos, sobretudo os mal resolvidos: ter a certeza quase que absoluta do que o outro tá pensando. De pronto as suposições tornam-se verdades. E quase sempre estamos errados.

domingo, setembro 15, 2013

Pra quando eu voltar


A Jorge

Esse texto vai pra você. E ele é seu antes mesmo de ter começado a escrever. Aqui é apenas uma extensão do que nem era palavra ainda, eram lágrimas. Lágrimas acompanhadas de soluços. Soluços altos. Eu vou melhorar e a cada passo, pequeno que seja, vou lembrar de você e, baixinho, vou agradecer. Eu vou voltar. E quando isso acontecer eu vou fazer questão de te dizer isso olhando nos olhos pra retribuir todo o carinho dos teus braços, que mesmo cansados e sofridos nunca me faltaram, pelo contrário, se esticaram até mim até quando eu não pedia. Até quando eu sequer merecia - tua atenção, teu amor, tua cumplicidade e amizade.

Eu vou voltar e quando isso acontecer eu vou chorar novamente. Mas dessa vez vai ser um choro emocionado, aliviado, um choro talvez feliz. E vou te agradecer novamente.

Quando eu voltar, para meus braços, meus passos, olhos e coração.

Quando eu voltar pra mim e pra vida, você será o primeiro a saber.

sábado, setembro 14, 2013

Ana Paula:




                                                 

                                                  a extensão do meu sorriso carioca.

quarta-feira, setembro 11, 2013

Quando você acertou

Dia desses fiquei chateada da vida por você ter me dito, com ar de quem não queria mais se magoar nessa vida, que eu era sempre cheia de amores. Discordei de prontidão e, se duvidar, ainda revidei infantilmente cuspindo que quem tem um monte de amores é você. Talvez pra me livrar da culpa da verdade ou pra não cair tudo, eu você, nós dois, nosso passado e um violão guardado e pesado em minhas costas. Mais uma vez. Mas, se quer saber, eu tenho sim, tenho mesmo muitos amores e quero que você saiba disso, mesmo sabendo que você já acha que sabe sem na verdade saber ao certo. Apenas um verde possível. Mais um entre tantos que você coleciona. Tenho vários amores, você é um deles e vai continuar sendo, acredite você ou não. Meu coração é desproporcional ao tamanho da caixa de ossos que o envolve e, antes que você diga ironicamente que sabe disso como ninguém, te adianto que nem sei como ele cabe aqui dentro sem se apertar todo, sem esmagar, sem sufocar você, vocês. Cabe cada um e todos e ainda te digo mais: cada qual no seu espaço, não se misturam, não se confundem em histórias, flores, confidências, cartas, beijos e vinhos. Culpa? Não. Meu coração só é desse tamanho por conta disso, assumo o risco. E assumo feliz. Amores bem vividos é pra quem constrói. Amores falidos também. Você faz parte das duas categorias e ao mesmo tempo de nenhuma dessas. Uma semente eternamente prenhe, carregada de amido, doida pra explodir e se tornar novamente alguma coisa, outra coisa, qualquer coisa. qualquer coisa nova, mesmo sendo tão antiga em mim. Só peço que, da próxima vez, não esqueça: as explosões de amor ganham mais minha atenção que as de mágoa descabida. 

terça-feira, setembro 10, 2013

Lembrete CPY



tá fazendo um ano dessa foto, lá fora...

e depois um que você foi embora (...)

quinta-feira, setembro 05, 2013

Quando encontro com ela sem encontrar

A não possibilidade do encontro ao acaso corta a veia da saudade, aquela que pulsa de esperança, bem no meio. Sem a possibilidade do encontro, ela se torna a única veia que quando cortada ao meio não jorra. 

Essa é a veia da saudade que não se mata. 

sábado de carnaval

O cheiro da tua casa


                                                                                                                                     A Jorge

Tua casa, como a de ninguém, começa pelo hall de entrada. Naquele espaço estreito já é possível se sentir praticamente na sala. É o mesmo cheiro. Um cheiro de família que eu só havia sentido antes e igual na casa de Sofia. Mas não é cheiro de família recém formada. É cheiro de no mínimo quatro pessoas dividindo o mesmo espaço e a vida há muitos e muitos e muitos anos. É um aconchego só, mesmo sendo em uma área tão grande. Depois da sala, o corredor curto que serve de artéria para os outros cômodos, vem como um arrepio leve: pra direita é o quarto dos pais, pra esquerda é o da irmã e o da frente, entre um e outro, fica o seu, seguindo a linha do mesmo cheiro-aconchego, só que dessa vez mais, muito mais. A leve bagunça que perpetua na poltrona, poltrona que serve apenas pra guardar suas roupas do dia, dão um ar ainda mais gostoso naquele lugar marrom, pastel, fotos, bilhetes e ingressos de shows antigos com preguiça de serem trocados por uns mais recentes. Livros que você nunca vai ler servem de consolo aos meus olhos enquanto você vai buscar água na cozinha. O teu quarto, pra mim, além do cheiro geral da casa, também me remete ao passado, um passado bem pertinho, dá até pra correr e agarrá-lo se quiser. E também me remete ao tempo vazio e depois ao tempo presente: a fotografia que ficava embaixo da luminária e ao lado da cama, agora encontra-se em alguma dessas gavetas de madeira maciça que exalam o cheiro da casa. O tempo e o espaço se confundem e é estranho voltar alí mais uma vez. Percorrer você e o que somos separando do que fomos e seríamos é desafio para poucos. Vejo de maneira transparente que somos rascunho daquilo que muita gente gostaria de ser. Um rascunho perfeito do que todo relacionamento deveria ser quando se passa a limpo. Passar a limpo é perigoso, passar a limpo é o mesmo que assinar um documento importante. Passar a limpo é de uma responsabilidade que a leveza das coisas tranquilas não permite.  

Passar a limpo é borrar de tinta de caneta o papel. Somos rascunho e talvez por isso ainda permanecemos na vida do outro. Acredito que de alguma maneira continuaremos assim, rascunhando a vida por muito tempo, até a casa perder o cheiro.

Como é que vocês não se conheceram antes?

Sempre me perguntam isso quando me veem falando de você com um brilho nos olhos que mais parece purpurina em sábado de carnaval. É que é um lance muito mais astral do que tudo, todo o resto, restos que não são restos, são inteiros e enormes, diga-se de passagem.

Hoje eu entendo o motivo e me sinto em estado de alegria imensa por ter sido assim, ainda mais quando nos vejo falando sem parar, na mesma empolgação de sempre. As vezes tas tão presente que nem parece que tem esse negócio tão imenso, líquido e medonho chamado oceano entre Rio de Janeiro e Karlsruher.

Não nos conhecemos antes porque esperamos o espírito ficar o mais livre que fosse possível pra suportar tamanha felicidade sem adoecer depois.



parceria forte aqui era nós dois.
(a legenda tinha que ser maloqueira, claro!)



terça-feira, setembro 03, 2013

No limbo

                                                                                                                               A Mauricio

Você consegue burlar uma a uma as pequenas regras de boa convivência com esse músculo que pulsa por debaixo de meu decote. Eu te dou a faca pra você cortar o danado do queijo e lá está você tomando sopa de garfo. Qual a parte da faca que você não entendeu? Você gosta da ideia de ser, de ocupar, de fazer parte e até mesmo de ser suficiente, mas não sabe trocar. Esqueceu daquela teoria tão elementar da via de mão dupla nos relacionamentos - sejam eles quais forem - mas não adianta, não te darei o gostinho de armar acampamento na lista negra de meu coração. Por intenção própria, voltarás a percorrer este caminho sem intensidade e desinteressante que te pertence e que tristemente te cabe tão bem quando você decide ser nosso passado: um quase nada cheio de pendências inexistentes que criamos pra manter vivo isso, que é tão pouco, que não me basta mais. Já entendi que você gosta de uma confusão, do caminhar em calçadas diferentes, de ter motivo pra uma tromba deste tamanho em uma festa. Uma ceninha ou barraquinho, como você costuma dizer. Mas não vai para a lista negra, não vai, não adianta fazer por onde, com ou sem esforço. Também já pensei na possibilidade de você alegar que demoliram o limbo, que agora só tem céu e inferno, ora que tolice! Ao menos isso a meu favor: quem manda nos compartimentos de meu coração mosáico sou eu.

Beijos.

Daltonismo sentimental

Se os olhos podem enxergar cores distintas, que dirá a cabeça e o coração.

Não nos culpemos - há cores para todos os olhos.

Recalque

Quando a inveja e o ciúme decidem habitar uma mesma palavra.

domingo, setembro 01, 2013

Henrique, "o belga" ou meus 14 anos

Das coisas graves: a primeira grande paixão não correspondida. Uma parede enorme e branca fica à frente de nossos olhos. Nada mais pode existir após aquele muro de concreto. É bem claro que o mundo acabou.

Das coisas da vida: com o tempo a gente aprende que muitos outros muros serão construidos no nosso campo de visão. A diferença é que agora aprendemos a quebrá-los. Ou, ao menos, a enxergar vida além. E essa cena vai se repetir muitas e muitas vezes, amém!

sexta-feira, agosto 30, 2013

Efeito canal

O que parece é que você se esforça e muito, mas no fundo sei que é bastante natural: seus meios tão certeiros de, aos poucos, se matar dentro de mim, feito a broca em ação na raíz infeccionada ou morta do dente. 

Não sei se te agradeço ou se te chamo de burro por isso. Como não sei, nada faço. Mas ainda penso. Uma hora a teimosia cansa e esse não fazer será acompanhado de um não pensar. 

Por enquanto, por via das dúvidas: muito obrigada, seu burro!

quinta-feira, agosto 29, 2013

Da vida

Escorada no balcão, ela me olhava como quem queria dizer algo. Mas não dizia. Ao menos não de voz, mas o olhar indicava tantas coisas, um olhar confuso e ansioso. 

- do you wanna some drink? perguntei, na tentativa de quebrar aquela barreira ocular.
- oi, sou da inglaterra mas pode falar português, estou aprendendo. Eu quero muito, mas acho que não devo, estou esperando alguém e quero estar com as mãos livres.
- Um shot de alguma coisa, talvez?
- Seria ótimo, mas quero estar muito sóbria neste momento. É que estou esperando meu ex namorado, ele é da Colombia e faz anos que não nos vemos.
- !!!!!!!! 

Toca a campainha

- É ele? perguntei enquanto seguia pra abrir a porta
- É!!! (olhos cheios de lágrimas)

Ele entrando pela porta e ela correndo em sua direção pelo corredor.

Ontem presenciei um abraço tão forte que chega senti em mim. Me segurei pra não chorar. 
Reencontro está entre as coisas mais bonitas e ricas da vida!


quarta-feira, agosto 28, 2013

Mais sementes, por favor

Semente é uma palavra que gosto que só. Flor é um negócio que me enche de amor. Vasos de plantas, mesmo os (ainda) vazios, me sugerem um monte de ideias. Terra por dentro das unhas nunca me chateou. Ver os carocinhos se transformando em broto, o broto em galho, o galho em planta: me emociona. 

A primeira vez que senti isso foi com o algodão e o feijão. não entendia muito bem aquela logística, mas gostava de ver a evolução, mas logo depois o algodão ficava escuro e o broto morria, não tinha força pra nascer alí. Um pouquinho de mim e de minha esperança morria junto.

 A segunda vez que senti isso foi logo em seguida e de maneira mais grave, quando plantei com meu pai um pé de pitanga na nossa granja em Aldeia, dessa vez o algodão deu espaço para a pá, terra e beijinho (é que eu beijei o chão depois que a semente foi enterrada e batida). Dessa vez a espera foi longa, uma espera de anos. E o resultado mais concreto, como acontece com tudo que a gente cultiva com paciência. Pressa, pra quê? 

Tá fazendo vinte anos que plantei uma árvore e ela continua viva.

Não me deem flores, me deem sementes.





segunda-feira, agosto 26, 2013

Reflexões de facebook

Dia desses um amigo postou em sua página:

quanta dor cabe num coração partido ao meio:

metade da dor ou um inteiro?


Cada pessoa respondeu uma coisa, uns pra mais e outros pra menos. Na hora eu tava muito chateada pra contribuir com minha opinião. Meu coração havia acabado de ser tesourado feito papel crepom em aula de artes escolar, mas passei um bom tempo pensando nisso. E sempre ficava confusa com a metade, com o inteiro, não podia ser só aquilo. Dor de coração partido é diferente. 

Hoje me dei conta de que é mais danada e oleosa que a dor de um inteiro. É espinho inflamado no pé.  É que se sofre por uma banda do peito, pela outra e, sobretudo, pelo espaço vazio entre uma banda e outra.

sexta-feira, agosto 23, 2013

Repara.


E, no fim das contas, entre tantas palavras ditas, reditas e malditas, essas eram as que eu mais queria te dizer. Ou as que eu mais queria que você reparasse.

quarta-feira, agosto 21, 2013

Ariano

Ontem passei a noite todinha ouvindo que ariano é bicho ruim. É malvado. É ruim, é ruim, é ruim mesmo. Vez por outra um amigo (capricorniano) concordando com a ruindade, dizia que era ruim sim, mas um ruim que ele gostava bastante. E aí alguém interrompeu dizendo que se ele gostava, ele era ainda pior. E fiquei sendo o centro do furacão uns instantes por causa do zodíaco. Até que uma das pessoas lança: "não sei o que leva uma pessoa normal a ir atrás de alguém de áries". Diga-se de passagem, alguém que acabou de finalizar um relacionamento com uma ariana.

E é quando, agora, recordando essa pergunta me questiono: o que diabos faz um ariano ir atrás de... OUTRO ariano? Desvia, meu bem. Corre. De ariano basta você. Ou eu.




Rendida

Mãozinhas pra cima, coração em processo (acredito que eterno) de calmaria e a descida da rua Nossa Senhora de Fátima inteira indicando uma rua maior. Riachuelo pra direita, Riachuelo pra esquerda. 'Meu peito batuca no caminho que eu quiser', é o que esta rua famosa  e cheia de bugigangas tenta me mostrar. Pra onde eu quiser, ela fala no meu ouvido. 
E que o caminho seja para o bem.

terça-feira, agosto 20, 2013

Eu e você ou você e eu

                                                                                                                           a maurício

Se alguém chegasse junto pra tentar entender o que acontece, ia se frustrar. Ia sair sem um parecer. Ia achar que somos malucos, que somos bobos, que nos conhecemos há mais de 10 anos pra ter história suficiente pra tanta confusão. Ou que nos conhecemos há um mês no máximo, pra que tanta dúvida quanto ao outro justifique a formação de um cardume deste tamanho. Só que não é uma coisa e nem outra. A gente consegue um auê sendo apenas dois, nós dois. E diga-se de passagem, duas pessoas com pouco mais de um metro e meio de altura querendo ocupar o espaço de um mundo inteiro na vida do outro. Eu acho que é muita ousadia, das duas partes. E, apesar de achar isso, discordo quando você diz que isso acontece por sermos tão iguais. Pra mim, essa é a desculpa perfeita que você enfia no meio pra se eximir de suas falhas e pra perdoar as minhas. É a desculpa que você usa quando os argumentos escapolem. Você é você e eu sou outra conversa. Não somos farinha do mesmo saco. Nossos pensamentos se cruzam mas não andam em paralelo quase nunca. Salvo quando a gente acorda lado a lado. Nesse instante parece que eu sou você. Ou que você se transforma em mim. É tudo tão diferente que fica meio igual. E eu fico besta admirando como é que pode ser possível. A confusão se esvai e sobra todo o entendimento que se é possível entre duas pessoas. Os sorrisos se abrem. Os corpos se confortam. A voz se mostra doce, suave. A vontade de permanecer alí, em você, em mim, é crescente. E depois de tudo, quando eu vou e você fica, volta a ser aquilo que a gente não quer, até o próximo encontro.

 Afinal, quem somos? 

domingo, agosto 18, 2013

Dia de domingo

Quando eu era pequena, domingo era o dia mais triste da semana. Conseguia desbancar até a segunda-feira. É que nas segundas não havia mais o que ser feito pra mudar tanta realidade, já era assunto encerrado, havia aceitado a condição. O domingo era diferente, carregava a culpa ou a saudade do sábado, a saudade de tudo. Domingo chegava e meu corpo era todo saudade. Era a certeza de não poder fazer nada até tarde, o uniforme escolar pendurado no armário e a mochila por fazer em cima da poltrona eram o prólogo indicativo de que o fim da preguiça tava próximo. Um almoço em família. Um filme. Talvez um sorvete ou um livro de matemática a contragosto. Com muita sorte cinema ou boliche. Era difícil encontrar os amigos, eles estariam fazendo a mesma coisa. 



O tempo passou e as coisas mudaram. Domingo saltou do dia mais chato para o preferido. Em dias de chuva, o almoço, filme, talvez sorvete e um livro passaram a ser mais amigos que meus amigos físicos nesse dia. E com todo prazer.
Em dias de sol, domingo virou praticamente sexta-feira. Os companheiros não dão paz. É muita vontade de almoçar junto, de tomar uma cervejinha, de ir à praia, à feira, ao teatro, pedalar, fazer uma trilha, começar a aprender alguma coisa. A surfar, talvez a andar de skate. Vontade de descobrir um cantinho novo nessa cidade tão linda, um boteco mais distante. Ou só a vontade de provar sorvete de tapioca. De ir a uma exposição, de tocar violão ou ficar alí na praça só compartilhando da existência do outro. É muita vontade de se ver. É vida demais que carrega um dia de domingo.

Mas a maior diferença entre meus domingos antigos e atuais é que saudade não tem mais dia certo pra chegar.

sexta-feira, agosto 16, 2013

Uísque


Hoje eu acordei uísque. Acordar uísque vai além de um copo de vidro, gelo e líquido dourado percorrendo o labirinto gelado que aquelas pedras constroem com tanta perfeição. Acordar uísque é mais que o rebolado da mente após a terceira dose. É mais que um possível vexame. É mais que um sorriso vermelho e molhado com gosto de próximo gole. 

Acordar uísque é estado de espírito.

quinta-feira, agosto 15, 2013

O INÍCIO



Me azucrinaram tanto os ouvidos que acabei rendida e fiz uma extensão do blog no Facebook. Por lá, pequenas cápsulas do que tem por aqui. Poemas curtos e o que tiver de menos pessoal (isso existe?) 

Esse foi o texto de abertura da minha página:

Estou nervosa, bem nervosa. Parece que é a primeira vez que escrevo na vida mesmo já tendo o catando vento há sete anos, sem pausas. Mas é que agora é em uma página com nome de página. Isso de 'página' me inibe um pouco. Também tenho a sensação de que o mundo inteiro tá me vendo agora, já olhei de rabo de olho pra porta do quarto, mas não tem ninguém, só a paranoia. É que dá a impressão que dessa vez tem que ficar impecável de tão bonito. Mas eu nunca escrevo pensando em ficar bonito. Eu escrevo porque ou é isso ou eu pulo pela janela. Ou pintarei todas as paredes da casa diariamente. Ou vou chorar cinco piscinas de água salgada por semana. Ou vou beber até esquecer o nome de minha mãe. E do meu pai. Ou vou transar com as pessoas na rua aleatoriamente e em sequência. Vou acabar andando nua, sempre. Ou vou começar a fumar. E eu não quero começar a fumar. 

Então, se não tem jeito, me agarro nas palavras e me salvo um pouco desse negócio doido e doído que é a vida. Cheers!


https://www.facebook.com/catandovento

A seco



Tristeza é um negócio tão triste

que as lágrimas
em demasia
se aglomeram na garganta 
e não conseguem
escorrer

terça-feira, agosto 13, 2013

Presságio

Minhas pálpebras são lábios. Eu sugo enquanto enxergo. Meus cílios, dentes graúdos. Eu mordo enquanto enxergo. A retina é minha língua. Lambendo tudo, tudo que enxerga. Lambo luzes, gostos, formas. Mordo, lambo, chupo, sugo, gozo. E quando meus cílios, dentes, retinas, lábios, pálpebras se fecham, tudo vira sonho. Os olhos se fecham enquanto meu corpo se abre. Se abre todo. Meu corpo se transforma em palanque para as ideias do dia, a noite inteira.

(?)

Uma das coisas mais malucas é a vida ser sua e você não ter domínio sobre o futuro dela.

segunda-feira, agosto 12, 2013

Mesa de bar

Dudu é bonito. Quer dizer, eu acho Dudu bonito. Uma amiga minha também acha. Mas Dudu não é o típico bonitão. Dudu, quando pequeno, era loirinho, cabelo escorridinho e já usava óculos de grau. Bem tampa de garrafa. Dudu era bonitinho, mas era meio esquisitinho. Dudu tem pais maravilhosos, são ótimos os pais dele, parece. Dudu tem umas tatuagens e estatura média. Eu o considero quase alto, mas meus 1m60 não são referência pra isso. Dudu toca em uma banda que eu gosto e temos 14 amigos em comum no facebook, mas só liguei o nome a pessoa nos últimos dias. Antes, Dudu era o menino que eu via por aí e que não tinha nome. Quero dizer: não tinha nome pra mim. E Dudu também era o menino da banda que não tinha rosto, apenas o nome. Quero dizer: não tinha rosto pra mim. Como se fossem duas pessoas diferentes. Agora ele tem nome, rosto e ainda sustentou ser o assunto de praticamente uma noite inteira. E é por isso que sei dessas coisas que escrevi (tirando a parte do bonito, dos óculos, tatuagem, porte médio, amigos em comum e banda). 

Fiquei aqui pensando quantas vezes já devemos ter sido e ainda seremos assunto de mesa de bar dos outros. De amigos ou de quase anônimos. Quantas vezes já devem ter conversado amenidades sobre nós sem que a gente saiba. Já nos desejaram, já falaram mal sem conhecer, já falaram bem sem conhecer. Já falaram. Já imaginaram. Que doideira!

No fim da noite, brindamos mais uma vez: 

"o brinde vai para o quê agora?" 
"ah, vai pro Dudu, já que falamos nele a noite inteira".

Um brinde ao Dudu, então.