domingo, agosto 18, 2013

Dia de domingo

Quando eu era pequena, domingo era o dia mais triste da semana. Conseguia desbancar até a segunda-feira. É que nas segundas não havia mais o que ser feito pra mudar tanta realidade, já era assunto encerrado, havia aceitado a condição. O domingo era diferente, carregava a culpa ou a saudade do sábado, a saudade de tudo. Domingo chegava e meu corpo era todo saudade. Era a certeza de não poder fazer nada até tarde, o uniforme escolar pendurado no armário e a mochila por fazer em cima da poltrona eram o prólogo indicativo de que o fim da preguiça tava próximo. Um almoço em família. Um filme. Talvez um sorvete ou um livro de matemática a contragosto. Com muita sorte cinema ou boliche. Era difícil encontrar os amigos, eles estariam fazendo a mesma coisa. 



O tempo passou e as coisas mudaram. Domingo saltou do dia mais chato para o preferido. Em dias de chuva, o almoço, filme, talvez sorvete e um livro passaram a ser mais amigos que meus amigos físicos nesse dia. E com todo prazer.
Em dias de sol, domingo virou praticamente sexta-feira. Os companheiros não dão paz. É muita vontade de almoçar junto, de tomar uma cervejinha, de ir à praia, à feira, ao teatro, pedalar, fazer uma trilha, começar a aprender alguma coisa. A surfar, talvez a andar de skate. Vontade de descobrir um cantinho novo nessa cidade tão linda, um boteco mais distante. Ou só a vontade de provar sorvete de tapioca. De ir a uma exposição, de tocar violão ou ficar alí na praça só compartilhando da existência do outro. É muita vontade de se ver. É vida demais que carrega um dia de domingo.

Mas a maior diferença entre meus domingos antigos e atuais é que saudade não tem mais dia certo pra chegar.

Nenhum comentário: