sexta-feira, abril 25, 2014

Bruno, Abdon, B1 (apelidade por mim) ou "mermão, deixe de ser chato, doido"


Era uma quinta-feira à noite em Copacabana, mais precisamente na Siqueira Campos, naquele boteco tradicional cheio de comidinhas tão perto de minha casa mas que eu nunca havia estado: O Adega Pérola. Era a minha primeira vez naquele lugar que eu voltaria tantas outras. Era a primeira vez, também, que eu saía com os amigos de trabalho e amigos de amigos do meu novo namorado. Quando cheguei, todos estavam sentados naquela mesa comprida que comporta bem copos, belisquetes e bebuns. Entre uma bicadinha e outra fui sendo apresentada a eles. Pouco tempo depois chega um rapaz tímido, com dread, camiseta lisa e já pedindo um chopp antes mesmo de sentar, na minha frente. "Ele acabou o namoro de seis anos tem pouco tempo e tá meio pra baixo", me alertou Paloma. 

Falava pouco e tinha um olhar tristonho mas muito bem disfarçado entre uma piada e outra de alta classe pra padrões de mesa de bar. E isso tomava a atenção da gente. "Que menino mau humorado mais engraçado", foi o que pensei.  

Meu primeiro pensamento sobre Bruno foi certeiro e bem julgado. 

Depois de um tempo voltamos a nos encontrar no aniversário de Paloma. Era um lugar chique e eu não conhecia ninguém além do meu namorado e um ou outro de vista de outra ocasião. Meu namorado, que deveria ser mais enturmado, parecia tão peixe fora d'água quanto eu naquele local. Eita, o Calil tá ali, vamos para lá. Eita, o Sato também tá ali, ó. Tudo certo, meu parceiro de cachaça e sobrenome. O Sato logo foi embora e o Calil também. 

"Olha alí, não é aquele menino que acabou o namoro há pouco tempo e tava no Adega?"
"É sim, o Bruno, mas pô, não tenho muita intimidade com ele"
"Que besteira, min. Ele parece legal e tá com a roupa mais parecida com a nossa, bora pra lá"
"Bora"

Corta a cena. 

Depois desse dia, quando marcamos o passeio de bicicleta pra Paquetá (mágicamente sem fulerar) e pouco depois selamos a nova amizade dos três que brotava naquela mesa de bar do bar que estávamos descobrindo, do "Zé", nunca mais nos largamos. Vivíamos os três por aí e era como se tivesse sido assim desde antes ou de sempre. Um casal e um amigo pra cima e pra baixo, de bike, a pé, de ônibus. Não tinha isso de segurando vela. Vez por outra você brotava com um amigo, só pra me dar mais trabalho na hora de cozinhar de madrugada, mas eu adorava. Eu adoro.

O casal se separou, os amigos, não. Nem de um lado e nem do outro. Pelo contrário, além de se consolidarem, ainda agregaram os novos colegas e novos grupos que levaram a novos grupos e a novos. Engraçado isso tudo. E também bonito. Éramos três. Somos vários multiplicados, hoje. E um carinho do trio original absurdo.

Bruno é chato. Provavelmente geneticamente chato. Por sorte não se tornou geneticamente gordo, seria muito para ele. Tem uma casca enorme e um escudo firme que envolvem uma carne fina, frágil, como costuma ser com gente de coração grande que tem um medo medonho de perder o controle. Foi assim por um tempo. Sabe-se lá o motivo, se por afinidade, confiança ou reconhecimento no outro, aos poucos essa casca foi se tornando fina e hoje consigo encostar na pele. Muitas vezes sem nem precisar de contato físico. Escuto o que ele tem pra falar com cuidado e atenção, dou valor. E quando eu falo, não tenho mais medo de receber um "isso não é da sua conta", como já ouvi ele falando por ai sem piedade. Ao contrário disso, ele liberou um "pode falar, temos intimidade pra isso". E ouve com cuidado, com atenção. E não é porque sou mais ou melhor, é apenas porque somos amigos e conquistamos isso dia após dia, em cada situação, conversa e até mesmo nas briguinhas. 

Agradeço demais a confiança que você deposita em mim e sou muito grata pela que tenho em você. É valioso isso, eu acho.

A verdade é que eu podia passar laudas e mais laudas escrevendo vários momentos e lembranças massa e viradas que já tivemos nesse mundo e vida carioca, mas acho que o que fica é o que a gente é hoje e também tudo o que tem pra ser vivido, que é muita coisa.

Te desejo tudo o que há de melhor, como desejo a mim e a um irmão. E te desejo também muitos e muitos carnavais, porque parceiro feito tu nas ladeiras de Olinda, tá pra nascer!

Beijos, meu querido! Vida longa. E um sobrinho bem lindinho e ranzinza pra mim (hehe)

quinta-feira, abril 24, 2014

O Sport ganhou ou o Náutico perdeu?

 Não entendo nada de futebol, aliás, nem gosto. mas sempre que um time ganha, eu tenho a impressão que foi quase apenas o outro que perdeu.

quinta-feira, abril 17, 2014

A inspiração que vem da dor

É natural que meus melhores textos venham de alguma dor. Por um coração partido, inconformado, maltratado, cheio de dúvidas ou dívidas. Passeio pelo meu blog e fico imaginando como seria um infográfico sentimental dele, cheio de altos e baixos, como é a vida. Quando engatada com algum problema, que por algumas vezes eu mesma criei, ele chega ao topo do cotovelo machucado, a carne sem pele, exposta, as veias do coração à mostra. 

Quando dor, os dedos escrevem rapidamente um texto, um poema, um foda-se em fonemas cheios de força, de bala engatilhada para o próximo tiro que sempre há de ter. Um texto atrás do outro pra preencher o vazio que aquela situação deixou. Se não tem mais a história (se é que um dia teve) e sobrou apenas sua lembrança, nos resta apenas as palavras como forma de manter tudo vivo, mesmo que já tenha morrido e só a gente não tenha, tristemente, dado conta, de teimoso que somos.

Quando amor, não. Os textos fluem no olhar em parceria com o outro. Surge na cama, entre um alisado e outro. Entre uma respiração mais forte e o gozo libertador. As palavras escorrem no ato, junto com a lágrima. O poema é o dia-a-dia. A mão na mão, o telefonema, o cheiro no pescoço de bom dia, o abraço da noite quando se reencontra, o jantar especial em dia de semana. As palavras, o texto, a prosa e o poema se confundem com a vida em ação, não mais em lembrança. E meus textos surgem em momentos que não há caneta, papel ou um computador pra escrever e depois passa, pra dar espaço a novos textos mentais, sozinha ou em conjunto.

Algumas vezes acontece da inspiração chegar quando tenho todas essas ferramentas em mãos e me sinto contente e com um cadinho de inveja, não de quando triste estou, mas do impulso quase que psicográfico que a tristeza traz.

Confesso, mesmo que egoistamente, que a felicidade tem seu preço alto: a escrita física acaba, algumas vezes, ficando pra depois. (Ao menos é por um bom motivo)

terça-feira, abril 15, 2014

Três meses


O tempo do amor é caduco

Ligeiro quando muito

Lento quando dentro:

É fundo.

segunda-feira, abril 14, 2014

Brasil:

Não Confundir
Chuva
Com frio

quinta-feira, abril 10, 2014

Sobre ser de Recife e morar no Rio:

Quando o Flamengo perde um jogo no dia em que o Sport ganha, minha timelime fica toda vermelha e preta. E eu fico absolutamente confusa.

quarta-feira, abril 09, 2014

(Re)leitura



Quando dou um flecheiro nesses olhinhos miúdos e amedrontados, vinte e tantos anos atrás, te encontro hoje. 

E meu coração dispara. Te encontro tão antigo e novo em mim, em nós. Duas bolas de gude esticadas que vivem me falando. E carrega, logo embaixo, esse narizinho que antes era só um sapinho e hoje criou ponta. Um acutângulo perfeito que daria pra deitar em cima e passar a tarde inteira lendo um bom livro, confortável. Uma ponta linda. 

Escorregando da ponta eu caio nesse bico todo. Um bico que é desamarrado, bem seu. Um bico suave, molinho, gostoso. (Tem vezes que é brabo, mas passa ligeiro com um cheiro). Por que é um bico que não é um bico, mas é, sim, um bico bem bicudo, no banho, na cama, fazendo manha (ou não). Uma risada em forma de bico. Ou um bicudo em forma de sorriso, ainda não sei. E tentando decidir qual das duas coisas, continuo perdida dentro desses olhinhos de menino que você carrega até hoje e que são de tamanha importância pra mim. Que, vez por outra, se escorrem em lágrimas, seja em um filme, música ou por uma alegria no peito. Você, chorando. Com tanta facilidade. "Quem diria". 

E então continuo e vou seguindo te procurando na fotografia e te encontrando fora dela. E tudo, tudo, tudo faz sentido: o post acaba e eu sigo olhando você no retrato. E na vida.


quarta-feira, abril 02, 2014

31 de março de 2014

Há dias venho pensado em você com frequencia. Seus olhos apertados de chinês, seu cheiro antigo e acolhedor desde que sou pequena, seu bolsinho na blusa, mesmo que não guarde nada nele. 

Tava lembrando dos livros que você já me deu de aniversário, o último, com uma dedicatória tão bonita! Você sempre me deu livros, desde os meus sete anos, quando me presenteou com um Ziraldo, um Pedro Bandeira e um livrinho, quase que manual, "de garotas". Esse ano você não vai sondar que livro ou dvd eu quero de presente. E chegar com eles embrulhados pelo papel da Saraiva de Copacabana. 

Ano passado esse ritual também foi suspenso, afinal, eu estava viajando e, no lugar de receber livros, te enviei um postal bem feliz diretamente de Barcelona. O primeiro postal que enviei nas minhas viagens. E você todo contente no telefone dizendo que tinha recebido rapidamente, pois Europa não era Brasil, que demora em tudo. O postal se foi, junto com você, não sei se foi egoismo meu coloca-lo junto à ti em nossa despedida, mas foi a maneira que encontrei de estarmos sempre juntinhos.

Acontece que depois de tanto te pensar, acabei sonhando no início da semana. Um sonho que ultrapassou os limites de realidade habitual, pois, dentro do sonho, eu sabia que estava sonhando. Nos encontrávamos no corredor da minha escola de infância e eu começava a chorar, chorar bastante, pois sabia que te abraçar, alí, seria um presente que eu não teria mais no plano presente. E eu te abracei apertado, tão rápido... e você, com rosto saudável e corpo forte, bem diferente de como te vi pela última vez, ainda em vida, me disse:

- Pára de chorar, menina! Você tá feliz?

(eu apenas balancei a cabeça positivamente)

- Então é isso que importa.

Você concluia, com seu ar de sabedoria de sempre.

Foi muito, muito bom te reencontrar. E ver que você está bem, firme e tranquilo. Quando quiser, pode aparecer.

Um beijo com saudade,

sua neta.

quinta-feira, março 27, 2014

Era noite azul do meu amor



É azul de manhã, em mim é amor
É azul de manhã e em mim, amor

É azul, azul, azul

É azul noturno e matutino

Aqui dentro,

É azul

Sem tempo

quarta-feira, março 26, 2014

Soltos



Tempo de
Catar ventos
E sonhos


Boa Viagem, março de 2014

terça-feira, março 25, 2014

Sobre o não saber ser o mais natural

Quantas respostas 'erradas' já devemos ter dado - das bobas às decisivas - só pela praga falta de ser humano que nos leva a crer que toda pergunta tem que ter resposta, positiva ou negativa? E na lata?

Não sei.

Talvez seja essa, agorinha mesmo, a minha resposta mais sincera, genuina, humana.

quinta-feira, março 20, 2014

'Eu tenho, você não tem!"

Meus amigos tinham seus livros escolares encapados por papel contacte transparente, bem lisinho, sem bolhas, o que determinava a competência e paciência daquele ser que, por detrás daquela pilha de papeis no espiral, existia: a figura materna. Figura óbvia e colada cheia de zelo em cada livrinho daquele com a ajuda de uma régua transparente de 30cm. Ou daquelas transparentes com desenhos coloridos que envolviam um líquido cheio de purpurina, pra distração da criançada. 

Eu não tinha essa régua transparente, com desenhos coloridos e líquido cheio de purpurina pra me distrair. Como também não tinha meus livros encapados por papel contacte, nem eu e nem meus dois irmãos. Eu também não tinha a tesoura do mickey que "eu tenho, você não tem" e nem a botinha da Xuxa com seus cadarços em tons extravagantes que davam às garotas muito mais status do que os sobrenomes que carregavam. E, mais tarde, sequer passava em frente à loja da Chomp ou Gasoline pra carregar em meu corpo aquele panda tão fofinho ou uma etiqueta marrom maior que meu bumbum, no bumbum. Ah, aquela maldita etiqueta esculpida Gasoline. Esta valia muito, muito mais que todo o jeans que a pessoa estava usando. Se duvidar, na discoteca, as meninas olhavam primeiro pra bunda da amiga e depois para o rosto, recém pintado com sombra verde ou azul pra combinar com a blusa que também seria verde ou azul. Uma cafonice que no alto dos 12 anos era sucesso. E isso eu fazia, pois por sorte nenhuma daquelas meninas ao meu redor, minhas amigas, tinham sabedoria da existência de MAC e sei lá mais o quê. Nisso, éramos todas iguais: aquele conjuntinho de sombras coloridas de embalagem preta e um batonzinho e lápis da avon. No máximo da natura. E tava tudo certo.

Nunca me queixei em não ter o papel contacte, a bota, whatever. Meus livros também eram encapados, mas com um plástico transparente que tinha um único objetivo: protejer os livros, sem tanta beleza quanto o contacte, mas com a mesma função. E esse plástico não era comprado na Livraria Modelo, era no centro da cidade do Recife. E eu adorava aqueles passeios com minha mãe.

Minhas roupas eram compradas nas lojas de fábrica do Shopping Outlet ou no centro da cidade e nunca saí mais feia por conta disso. Nunca fui menos paquerada. Talvez estivesse fora da moda, mas isso já aconteceria normalmente, mesmo se minha mãe comprasse nas lojas de marca, nunca tive coragem de usar uma calça corsário, por exemplo. Desde menina eu tinha noção do que era ridículo e também pudera, com dois irmãos mais velhos, não era perdoada em caso de ato falho.

Minha família não tinha e nem nunca teve problema com grana. Pelo contrário, nunca nos faltou nada, nada. Nunca deixei de passear por falta de dinheiro. Ou de comer. Ou de comprar um presente de aniversário pra um amigo. 

Se meus livros não eram enrolados pelo papel contacte e minhas canetas não eram da Livraria Modelo. Se meu tênis não era da Xuxa, minha calça não era da Gasoline e meus pais não foram comigo pra Disney porque é legal dizer aos outros pais e às outras crianças que aos sete eu fui à Disney, foi porque eles tinham outros valores. Outros valores que, logo cedo, foram passados pra gente. Não achávamos nossos amigos seres menores por isso. Mas também não permitíamos que nos olhassem como tal. E sempre convivemos bem, no mesmo grupo, mesmas festas, mesmos programas, mesma amizade. (Algumas, até hoje!)

Não morremos por conta dessa grana economizada com coisas tão bobas. E hoje podemos comprar nas gasolines da vida porque gostamos daquele produto. Do mesmo modo que podemos comprar no centro da cidade, pelo mesmo motivo: porque gostamos daquilo. E não porque, logo cedo, fomos condicionados a achar que o mais caro ou o que todos da nossa mesma classe têm, é o melhor. 

E isso vale para além do guardar-roupa!





quarta-feira, março 19, 2014

Manauara

Pra meu pai, andiroba, copaiba e aroeira curam o mundo.
Farinha, pimenta e banana alimentam.

segunda-feira, março 17, 2014

Saint Patick's 'Day



Hoje a Irlanda tá em festa. 

E hoje é dia de Guiness e chope verde pra matar a saudade!

* como o tempo passa depressa...

segunda-feira, março 10, 2014

Anete



cada vez
que eu vejo
essa foto

é como 
a primeira vez
que eu vejo
essa foto

Bem ditas palavras. Bem ditas?


Houve um tempo, por um bom tempo, onde a vida era um negócio tão aberto que as lágrimas escorriam antes mesmo das palavras. E durante. E depois. Era uma espécie de contentamento em poder apenas ser e compartilhar, o que quer que fosse. Os ouvidos sempre atentos e o coração aberto. Não havia medo e nem medição: nas palavras ou no afeto. Dos dois lados. Você era de longe uma pessoa que era só coração e incapaz de qualquer ato baqueado de falsidade. Até tudo virar não. Mas se fosse um não anunciado, te aplaudia, respeitava e me recolhia. Mas aconteceu de ser um não que não foi anunciado e, não satisfeito, se mostrou o oposto: abraço apertado seguido de acalantos "coronários", "pois quando vem do coração Deus abençoa" e sei lá mais o quê de tanta palavra junta. De tanta palavra vazia. 

A Rainha-Deusa-Mãe das palavras e do amor se engoliu no próprio desato e a vida do próximo virou a coisa mais interessante do mundo. Talvez por uma vida própria vazia. Talvez por puro esporte. Ou pelo desejo de ver um circo tão pequenino tocando fogo. O motivo em sí não me importa, não mais. Mas o não - que não foi anunciado e pelo contrário foi acalantado por palavras bonitas, porém encontradas em dicionário qualquer, veio seguido de palavras feias, também encontradas em dicionário qualquer. A diferença entre os dois conjuntos de palavras, é que um não teve a mesma coragem que o outro. As feias, aquelas que você não conseguiu segurar e nem mesmo medir - mesmo dentro de tantas incertezas no que estava falando - não tiveram coragem de se mostrar pra mim. Não tiveram coragem de se despir. Não passaram de linhas avulsas e destrambelhadas escritas para outra pessoa, não viraram voz. Esses olhos - que em outrora eram amor (?), não tiveram coragem de dizer pra mim. A força foi canalizada apenas para o negativo -  por trás, feito faca nas costas, enquanto as palavras continuaram de afago, amor e afeto. E ainda com direito a fotografia.

Isso foi de longe uma das coisas mais deprimentes que um ser humano pôde me mostrar, em quase 26 anos de vida. A parte divertida de tudo (porque sempre tem) é ver que o mundo dá voltas. E como dá, hoje eu vejo isso sem necessidade de lupa. E o ser que um dia julgou, não se iluda, uma hora ou outra vai cair na própria cilada e ser julgado. Até aprender que julgar é de longe uma das maiores babaquices e armas contra sí mesmo que se possa existir. Um prévio tiro no pé. Aprender isso foi como descarregar um revolver com um pente atolado de balas para o céu, libertá-las. Tem gente, no alto dos 30, 40 anos que ainda não aprendeu. Que bom que aprendi isso aos 25, ganhei uns anos a menos de sofrimento. Mas uma hora todo mundo aprende. O tempo e a maturidade ensinam essas coisas.

2014 começou agora e com a leveza e felicidade de ter por perto apenas gente de coração em comunhão. Algumas vezes é preciso que algo aconteça pra gente ver quem de fato tá junto e quer bem. Pior seria passar a vida inteira se enganando entre sorrisos bombásticos de emoção em cada fotografia - e tão superficiais. Hoje me envergonho dessas fotos que um dia participei, melhores amigos por conveniência. Mas sei que não é assim. Dei tudo de mim e é isso que importa. Cada fase é uma fase e tem coisas e pessoas que apenas cruzam com a gente nessa vida e passam. Do mesmo modo que outras também  virão. E que o importante é ver quem realmente é concreto, os que sempre foram e sempre serão.

É muito fácil ser amigo em mesa de bar e em almocinho em casa. Amigo de bar a gente arruma, tem em cada esquina do Rio de Janeiro, de Recife, da Europa, até.

Alegria na vida é olhar pra trás e perceber que os seus, aqueles seus de sempre, de fé, de doença, de falta de grana e de coração partido são os mesmos que compartilham dos gozos, dos sucessos, do uisque do bom. E eles continuam exatamente no mesmo lugar. E é um lugar que não fica estático e empoeirado, um lugar que não é nem atrás e nem na frente, mas do lado. Do lado lateral, lado a lado e do lado de dentro, como tem que ser.

Em resumo: além de tudo o que me aconteceu de bom e que me vem acontecendo a cada dia, que não quero compartilhar para que o recalque passe bem longe (com direito a funk e tudo) veio de quebra uma peneira gigante e gratuita (mesmo que na pancada) do que e de  quem eu devo ou não levar pra vida. Nem precisei me dar ao trabalho de fazer isso na retrospectiva 2013, a vida mesmo se encarregou me dando esse presente em forma de realidade. Até na hora de bater a danada de algum modo me alisa.  

Na hora, a pancada dói sólida, mas a dor vem seguida de mágoa líquida, que finaliza em formato de alívio gasoso. Um processo chato, lento, que machuca mas que é necessário passar sem pular etapas. E a leveza que invade varrendo o fim desse ciclo não tem nome. É um troço muito bom e que se eu pudesse, eu engarrafava e dava de presente para o mundo todo. Se é impossível uma sustentável leveza do ser, a gente busca o mais próximo que pode. E essa busca é diária.

Axé, 2014! Obrigada por todos os momentos que em pouco mais de dois meses você já me proporcionou! Vemtimbora que tem é muita vida lá fora (e aqui dentro também). Vibrante. E suave.

quarta-feira, fevereiro 19, 2014

Varandinha

'Todas as mulheres são complexas até que você encontre a SUA mulher. Ai tudo se torna simples.'

Calani, Gustavo. 

Rio de Janeiro, 18 de fevereiro de 2014. Rua Almirante Alexandrino, Santa Teresa.

quarta-feira, fevereiro 12, 2014

Quando a certeza prova que é falha

O instante em que, "apesar de", você continua desejando o bem de algumas pessoas, sim. 

Só que bem longe de você.

sexta-feira, fevereiro 07, 2014

Aeroporto de Cegonhas

Trabalho fotografando e filmando bebês. Não, não é aquele trabalho da moda, o "newborn", e que entra um "bom cascalho", como Gustavo costuma falar. Eu trabalho filmando e fotografando o nascimento da criança e o que envolve isso, os entornos mais próximos: o instante anterior, no quarto, lembrancinhas, barrigão, beijinhos. O durante, centro cirúrgico, mãe nervosa, pai nervoso e o logo depois, berçário, família emocionada do outro lado do vidro, bebê chorando, pai chorando, família chorando e eu, claro, chorando. Ou quase isso, quase sempre. É tudo meio poético até deixar de ser. É lírico, é um trabalho bonito e "que pouquíssimas pessoas conseguem fazer", como costumo ouvir. Eu também acho. É bonito e a cada parto, a cada click ou take no baby, meu coração explode e a vontade que dá é de sair abraçando pediatra, pai, mãe, enfermeira, bebê, todo mundo. Mas, à essa explicação, faltou explanar um ratito más sobre o centro cirúrgico não tão poético assim: bisturi elétrico cortando a carne, viva. Cheiro de carne viva sendo queimada. Sangue, muito sangue. Seres estranhos saindo de dentro da barriga e sendo arremessados (exatamente essa palavra) pra uma lixeira enorme. Gente de um lado e de outro enfiando uma espátula dentro da barriga pra suspender o bebê. Ele sai. Amassadinho e melado de útero, ainda quentinho e já reclamando da frieza que é essa vida do lado de fora.
"como é que tu aguenta ver isso sem desmaiar, hein?"
Hoje, sei a resposta: É que, ao ver o primeiro sopro de vida surgir, com um choro forte, de prontidão eu transformei meu estômago em coração. 

Ego infla(ma)do

Há gente com tanta necessidade de ter um cortejo seguindo atrás, que, no fim, acaba virando o próprio bobo da corte. E nem nota.

por Gustavo Calani

segunda-feira, fevereiro 03, 2014

De manhã cedinho


O despertador apontava 6ham quando tocou pela primeira vez anunciando uma tristezinha no meu peito: em meia hora de soneca, o mais tardar e com atrasos 1h de soneca, eu teria que deixar aquela cama. E deixar aquela cama significava muito mais do que encarar a vida lá fora em plena segunda-feira calorenta do Rio de Janeiro: significava te deixar. Te deixar assim, depois do final de semana inteiro dormindo juntos e sem hora pra levantar, naquela lengação tamanha que você sabe que sou mestra.

(não importa a música preferida que você coloque no despertador, você vai passar a odiá-la)

Pés nas pontas pra não te acordar (ainda mais), preparava meu sanduiche enquanto misturava o própolis na água pra te dar. Um beijinho, mais um abracinho, uns cheirinhos, você, entre o sono e a realidade, me falando coisas bonitas. E me abraçando de novo. Beijos, tchau, bom dia, bom trabalho, não perde a hora, melhora logo, não esquece o remédio, beijo, tchau!

Volto à sala e, antes de pegar minha mochila, o sol lá fora me pede algo pra beber. Geladeira, mate gelado, água, mais mate, mais água. Hora de pegar a mochila e partir, já estou atrasada. E, ao chegar na porta, olho de rabo de olho a porta do quarto escorada e meu coração acelerado. Mas eu estou atrasada! Mas meu coração tá pedindo. E volto no quarto, você de ladinho, olhos fechados e tintin com cara de pidão pedindo uma beijoca. Uma beijoca em tintin, outra em você, outra em você, outra em você e teus olhinhos abertos, brilhando.

E um sorriso maior que o metrô que eu provavelmente perdi de pegar na hora e me fez atrasar dez ou quinze minutos. É que o dia pode esperar um pouquinho. O amor, não.

Grandes estranhos

A Mauricio e ao fim de um ciclo

Você não me dói mais, direto assim. 

Não machuca e não catuca. Não sobrou raiva ou rancor. Não sobrou amor de sobra, também. Nem quando você aparece e muito menos quando some. E reaparece pra depois sumir de novo e ficar nesse jogo, agora, tão sozinho, do ir e vir. Você e você mesmo nesta batalha confusa que travou e que foge ao meu poder de entendimento. Desconfio que do seu também.

Você, esse menino dentro de uma pessoa, é uma figura que hoje em dia me diz tão pouco. Não chora e nem faz rir e, ainda assim, quando faz questão de demonstrar sua existência colocando à conta gotas particulas de afeto pra atingir meu coração, você atinge uma parte de nós dois que hoje é só minha e que não morreu. E que não vai morrer, pois não há mais mágoa e, mesmo quando mágoa, nunca me deixou escapar, nem por um segundo, você se virando em dez pra chamar atenção ou não: o desejo infinito de que você esteja e permança bem. 

Hoje, um sentimento unilateral que não tem mais a pretensão de troca. E nem vontade. Apenas (ou não tão apenas assim) o desejo de te saber feliz. Feliz contigo e não por uma coisa de fora, por pouco tempo, como costuma(va) ser: picos altíssimos de alegria e depois tão baixos, abaixo do mais baixo de melancolia. 

Hoje, eu fecho os olhos e, por uns instantes, mentalizo isso. Vez por outra. 

Hoje, não te reconheço mais. Nem ao vivo e nem em uma canção. E não sei se acho isso bom, ruim ou se jogo a responsabilidade de tal feito para a vida. Ou para o tempo. É, acho que para o tempo é conveniente, afinal, todo mundo sempre diz que o tempo isso e aquilo, vai ver é verdade.

Hoje,  não somos mais do que dois grandes estranhos. 

Hoje, pra concluir, sua foto descolou da minha parede, se pendurou na de Raica, não se sustentou e caiu no chão. Você tocando o chão e não mais o piano e seus jazzes inventados. Seu amor inventado. 

Não mais tua mão. 

Não mais.

segunda-feira, janeiro 27, 2014

Uma toalha pra dois

E, no meio do banho, distraidamente passei sabonete líquido para partes íntimas nas axilas. Um acesso de saudade mesmo estando há apenas 17 horas distante do meu objeto de desejo. Foi uma cena ridícula, mas como é também ridículo o amor, eu dei uma risada daquelas. É que na hora eu tava pensando nele embaixo do chuveiro, com a água percorrendo todo o rosto sem piedade, em um jato forte. E seu biquinho que é bicão escoando a água pra fora. E os olhinhos apertadinhos pra escapar da água. E eu, na frente, mirando tudo pra não esquecer. 

Já posso desligar a água, amor? 

Rapidinho, ainda tem um pouco de condicionador no meu cabelo. 

terça-feira, janeiro 07, 2014

Vertiginosamente vivos


'É certo que temos mais medo de viver do que morrer'

Essas palavras ficaram rondando minha cabeça por um bom tempo. De primeira te disse que deve ser porque morrer é inevitável e viver é escolha. E tudo que envolve escolha dá mais preguiça e acabamos imersos na comodidade humana deprimente, levados pelo depois e pelo e se.  

'Se tiver que ser, será e Seja o que Deus quiser' são praticamente um mantra que enredam nossas vidinhas, como se Deus, cheio de afazeres maiores, tivesse a obrigação de além de tudo dar um chute na nossa bunda com salto agulha pra que a gente tome prumo na cara e vá viver e não somente sobreviver, como fazemos na maioria das vezes. Tomar uma cervejinha dia de semana é a maior fuga que alcançamos pra provar a nós mesmos quem é que manda nessa porra. Ou nessa vida mediocre que levamos de despertadores, canetas, gravatas em meio a um país tropical e contas pra pagar. Todo santo (ou nem tão santo) fim de mês. 

Quando programamos uma viagem, sentimos que estamos vivendo demais, que viver de verdade é isso. A sunga na mochila, o cheiro de protetor solar e os óculos escuros dão um novo gás e uma sede maior que a de água, mesmo que essa vivência dure uma semana ou um mês, de fantasia. Mas é o que nos salva. Um tempo fora do espaço que cabe na realidade do nosso latifundiário calendário de 12 meses ou quase 400 dias. Pra depois começar tudo de novo e a gente sentir no peito a sensação de que algo diferente vai desabrochar, mesmo que simbolicamente, mesmo que nas roupas leves do dia 31 de dezembro e nos abraços mais apertados que acabamos economizando durante o ano inteiro pra entregar nesse dia. 

A gente abraça rápido demais. (Quando abraça). Abraçar é tipo dois beijinhos e isso me entristece por demais. Tenho medo de contar e ver que possivelmente poderei calcular com os dedos das mãos e dos pés quantos abraços apertadíssimos e longos e sentidos eu dei no último ano. Imagina, 20 respiros de vida que não durariam mais de um minuto cada em 360 dias? Tem algo errado ai. E dessa vez não é a preguiça.

 Parece que a gente tem vergonha de abraçar mais largo e de olhos fechados. Somos tomados pelo receio de que a outra pessoa não esteja preparada pra tal entrega e fique lá esperando o momento de ser liberada, com um balãozinho na cabeça no lado esquerdo escrito 'oxe, tá bom já, três exclamações' enquanto afasta o umbigo do umbigo do outro, porque já tá demais. E  o que nos resta é aquele abracinho murcho de peito com peito que dura 3 segundos e, com sorte, não vem acompanhado de um ou dois tapinhas nas costas. De fazer chorar.

Comecei o texto falando sobre viver. Sobre o medo disso. Desse negócio que a gente tem na mão e na respiração e não sabe direito como levar. E agora estou aqui falando sobre abraço, como se a incoerência do meu ser fosse tamanha que não fosse possível falar lé com cré. 

Mas não é assim. Avalie que se a gente tem medo de abraçar, que é um negócio tão elementar, que dirá de se entregar pra vida e entender que viver, sugar cada gota do copo plástico de 500 ml que temos, vai além da cervejinha em uma terça-feira. Ultrapassa uma viagem internacional onde experimentamos um sabor novo de sorvete, de amor ou de cerveja, amarga. 

A gente deixa de viver dentro de casa, muitas vezes. Na nossa família. Nos nossos amigos. Deixamos de viver no nosso trabalho. Na refeição que fazemos, na uma hora do almoço no self-service. No cafezinho frio. Deixamos de viver no caminho do trabalho pra casa. Ou no caminho da casa para a festa. Ou da festa para a cama. Morremos um pouquinho na palavra que não foi dita ou na que verborragicou demais. 

A gente sobrevive, tantas vezes é isso que fazemos e nem notamos, apenas riscamos mais um dia, entre tantos desse calendário que separamos por etapas pra não endoidar, pra ter um respiro. Uma pausa mesmo que imaginária. 

Somos levados pelo tsunami que são as horas, que invariavelmente não param e, não satisfeitos, conseguimos a proeza de atropelar tudo, todos, a gente. É dessa maneira que agimos e, mesmo assim, acreditamos piamente que tudo terminará bem. Bem não, a gente espera mais, a gente espera quase que com certeza que tudo termine exatamente como a gente quer, mesmo que a gente não faça muito por isso, como se Deus, novamente ele, bichinho, tivesse que respirar por nós, um último suspiro, dessa vez de lamento.

Enquanto a gente tiver medo de abraçar, viver vai ser tarefa das mais difíceis. 

E é só nisso que consigo pensar agora. É a minha conclusão sobre a afirmação inicial do texto. Uma conclusão em aberto, de braços abertos, esperando por um abraço que sele a ideia - sem tapinha nas costas.

domingo, janeiro 05, 2014

Poeminha dos olhos de domingo



É que teus olhos nos meus
Ou que meus olhos e os seus
Não são mais ateus
Repouso de mágoas
Espelhos d'água dormentes de dor

Eles se abrem 
E fecham
E brecham 
Escapam
Se acham
E fixam

Agora,
Se desmancham com candura

Teus olhos nos meus
Meus olhos e os teus
Se desenham sem caneta
Sem papel
Sem rascunho
Sem nada

Desembestados
Com vida própria
Esperando pela hora de chegar

sábado, dezembro 21, 2013

Carta de fim de ano

'Eu podia resumir tudo isso a:

eu lembro de você em detalhes e sinto uma felicidade invadindo que nunca senti na vida. nem antes e nem depois.

(teria sido uma carta mais simples!)

Beijos.'

sexta-feira, dezembro 20, 2013

Sem laço de fita

Das minhas paixões: janelas, varais, galhos secos e cobogós.

Se algum dia alguém conseguir colocar tudo isso dentro de uma caixa bonita e me presentear, eu não vou ficar feliz. 

Eu gosto, ou melhor, tenho paixão, tesão, quase que uma obsessão por estes quatro paraisos ao meu globo ocular. Mas tem que ser cada um dentro de sua natureza, sem interferências. 

As janelas têm que servir de suporte pra uma estrutura maior. E quanto mais barulhentas com o saculejar do vento, mais contente eu fico. 

Os varais ao ar livre, cheirando a roupa limpa. E se são roupas surradas que a gente vê nas estradas para o interior ou pra praia, eu choro. Conseguem ser ainda mais bonitas, as cores vibrantes ou a falta delas, um ocre sem fim. 

Os galhos secos nas árvores com uma ou outra folhinha pendurada e um chão recheado delas, laranjinhas, amarelas ou marrons, indicando o fim de um ciclo e, invariavelmente, o início de outro. 

E os cobogós, esses eu até aceito em unidades, mas nada como uma parede cobogozada pra eu passar a pé e ficar um tempão olhando ou pra percorrer com os olhos de dentro do carro, do ônibus ou da bike e abrir um sorriso ligeiro, do tamanho de um palmo.

As minhas paixões eu tenho de graça. Isso é o que eu chamo de sorte!

quarta-feira, dezembro 18, 2013

Das sabedorias que não possuo

Pra minha pequena, saudade é contável. 

No auge dos seus 4 anos, ela não compreende que saudade é uma só e a gente que vai sentindo parceladamente ou de uma vez, no modo contínuo. 

Quando estou em Recife e passo uma noite fora, no outro dia ela diz "eu tou com a tua saudade". Quando estou longe, ela diz "tou com uma saudade tua". No fim das contas, quem não faz a conta certa e consegue compreender a saudade somos nós, adultos. A saudade tem, sim, identidade própria e pecualiaridades. Uma pra cada instante. Pra cada fase. Pra cada tempo e quilômetro percorridos para o sentido oposto, mesmo que destinada à mesma pessoa. 

A pequena tem a minha saudade quando tá um dia distante mas sabe que vai me ver no outro dia. E tem uma saudade de mim cada vez que fala comigo no telefone, lá longe, ou manda recado. E nos demais tempos, nos espaços entre essas saudades, ela corre, brinca, chora, estuda, pinta, aprende. Como se perdesse as contas das saudades que sentiu. E sem se dar conta das que ainda vai sentir.

Eu também corro, brinco, choro, estudo, pinto e aprendo, em outras proporções, mas ainda não compreendi como faz pra saudade existir em um dado instante. 

E não quando quer, assim, sem cerimônia.

segunda-feira, dezembro 16, 2013

O conhecimento milimétrico

                                                                                                                                 A Maurício
Não era você. 

Teu carro, preto, cruzou comigo tão rapidamente, a pé, que não consegui ver teu rosto. Não, não foi porque você virou a cabeça para o outro lado justo neste instante, eu poderia te reconhecer através de seus pés no chinelinho ligeiro, que dirá sua nuca e seu cabelo assanhado. Mas é que o carro passou mesmo muito rápido, quando ví, ele já havia seguido adiante e só me restava a lateral e depois a parte de trás. 

A cor do bracinho era seu. A circunferência dele também. O modelo da blusa e a cor branca provavelmente bufenta, provavelmente escrita "abayomy" também te vestiam com fidelidade. A janela estava aberta e imagino que até hoje seu ar-condicionado siga quebrado junto com o amassado na lataria. 

(Sorri aquele sorriso de quando te vejo sem querer te ver mas querendo) e logo em seguida me dei conta de que não era você. É que você nunca teria a leveza de apoiar o braço esquerdo na janela do carro enquanto comete o pequeno delito de dirigir apenas com uma mão. Isso faz quem tá indo pra um churrasco, pra uma praia, quem tá ouvindo sublime e batendo a cinza do cigarro ou da maconha continuamente no asfalto. (cometendo um outro pequeno delito perdoável). Quem tá programando o feriado, indo pagar a casa de praia ou apenas que tá na rua porque quer estar na rua e não porque tá com fome e precisa descer pra comer, pois não aguenta mais chocolate bis, biscoito e chá. 

Só fica nessa posição quem tem os ombros desbloqueados. 

Por um detalhe milimétrico não era você. E seria muito bom se fosse você por um erro milimétrico meu, que mudaria tudo: um simples colocar de cotovelos na janela aberta de um carro. 

domingo, dezembro 15, 2013

Novo Rio

Depois de mais de um ano eu voltei naquele dois andares de concreto, luz branca, pessoas apressadas e uma cor meio suja. Um dos lugares mais sem graça e sem identidade do Rio de Janeiro e que, só agora, me dei conta do quão presente e marcante foi pra mim e para aquele tempo. 

Desci no ponto final do 178, atravessei a rua e corri para o segundo andar, onde recordava ser o stand da Teresópolis. Mas, no meio do caminho, fui atracada por outras situações e as lembranças se jogaram na minha frente, feito raposa desembestada em estrada de madrugada. 

Rio das Ostras, Paraty, Ilha Grande, São Paulo, Teresópolis e, claro Petrópolis, infinitas vezes. 

Esse lugar, feio e apressado, nos levou a tantos paraisos, a tantos momentos, a tantas risadas. E eu ia passando em frente ao stand de cada um desses nossos destinos e abrindo um risinho de lado: festival de Jazz, de chuva, de vinho e de amor em Rio das Ostras, evento de fotografia que bebemos todas as cachaças e esquecemos do resto em Paraty, ano novo chuvoso em Ilha Grande, fazendo xixi dentro da barraca, o resgate da chave, a moqueca\panqueca, a praia deserta, toda deserta só pra gente e estourando a champagne antes do tempo. São Paulo, a Serra Malte na Benedito Calixto, o frio nas canelas, os dois sanduiches de mortadela que você comeu sozinho. Teresópolis, piscina, fundue, vinho, amigos, música, trilha no Serra dos Orgãos. E Petrópolis. Nem que eu dedicasse um texto inteiro caberia tanta vida, caberia um cheiro tão específico quanto o daquele sofá, daquela mesa, as conversas postas em dia e o strogonoff de murango.  

Comprei minha passagem pra Terê, comi um salgado seco acompanhado de um mate, daquela loijnha que tem no andar lá de cima, peguei meu ônibus sozinha (nem deu tempo pra um stop na livraria ou na loja de doces). E, já na estrada Rio-Bahia, a caminho da fazenda que estava indo, me deparei com milhões de brocolinhos. Imaginei o fio de azeite escorrendo lá do céu. Vi você rindo da minha cara e dando corda pra minha imaginação. Nossas barrigas roncando, eu cochilando em você, pra onde fosse.

Fomos muito, muito felizes, foi só nisso que pensei antes de chegar no meu destino final.

sexta-feira, dezembro 13, 2013

Retrô 2013

Fui madrinha do desfile dos bonecos gigantes no carnaval de Olinda

Andei de chinelo com temperatura de 1º

Viciei em guinness e pale ale

Me apaixonei por Barcelona

Me apaixonei em Barcelona

Me hospedei em uma okupa

Conheci Brecht

Abracei apertado Samantha

Reencontrei Vic e Quentin

Dividi a vida com Talha

Achei a Torre Eiffel nada demais

Tava em Berlim na Myfest

Quase morri de bike atropelada por um trem 

Quase morri nos trilhos de um metrô

Participei de um campeonato de handball sem nunca ter jogado na vida

Aprendi a cozinhar 

Perdi meu avô

Mostrei o Rio aos meus irmãos pequenos e ao meu pai

Me mudei de bairro

Mauricio me trouxe Raica

E depois foi-se embora

Assisti ao show do Herbie Hancock

Perdi alguns amigos

Consolidei outros

Jorge continuou na minha vida

Enviei e recebi cartas

Perdi muitos casamentos de queridos

Voltei a estudar

Conheci Joatinga e Prainha

Provei caldinho de aratu (tardiamente)

Juntei dinheiro como nunca na vida

Fui lisa como nunca na vida

Fui feliz como nunca na vida

Fui triste como nunca na vida

Devo ter bebido como nunca na vida



Vou passar os últimos dias do ano no sol e mar da Bahia.



segunda-feira, dezembro 09, 2013

De otras vidas

Acho que em outra vida a gente não se despediu... 
... é que a gente sempre se despede mil vezes nessa!

Uma alegria excelsa pra você!



Ao meu orgulho chamado Julia

Esse texto vai ser cheio de clichés. 

É que derrota, vitória, superação, admiração e amor são clichés demais, mas são verdadeiros, percorrem as matizes da vida da gente diariamente e justamente por isso se tornaram clichés, mas não menos importantes. 

Desde que conheço essa moça bonita e espevitada, as fases da gente se misturam, se confundem, se alternam. Eu tô bem e ela tá mal. Eu tô mal, ela tá bem. Dificilmente estamos no alto e avante ao mesmo tempo ou afundadas no poço fundo juntas e talvez não seja por acaso. Estamos sempre atentas e com os ombros largos pra segurar a outra ou pra acompanhar e vibrar as coisas boas que, no fim das contas, sempre vêm. 

E é tão bonito te ver feliz assim! Tas vibrante, bela, sorridente e escorrendo luz. Tas chorando, mas de alegria. É bonito, é bonito demais! E esse bonito engloba tanta coisa...  Nem parece aquela loirinha do verão passado, cabisbaixa, sofrida, penando com as alfinetadas da vida, recolhendo as migalhas em troca de tantos atos grandes. É tão grandioso ter te visto tomar decisões importantes, focado em coisas importantes, levando a sério, se esforçado, abrindo mão de coisinhas menores e, principalmente, não ter se deixado derrubar quando tudo era não, um tsunami. 

O mais foda é ver que o mesmo tsunami que uma hora te destrói, te quebra na emenda, é o mesmo que te coloca lá no alto, na crista da onda, e que onda, hein? 

Pois esse verão vai ser diferente. Vai ser em águas caribenhas, vai ser aproveitando cada segundo dessa tua conquista tão fascinante, tão esperada e ainda sendo MESTRANDA CARAI!! E eu tenho certeza que você vai saber aproveitar cada pedacinho de minuto dessa viagem, dessa fase e dessa vida. 

(Parece que esse verão, finalmente, vai ser de sol para nós duas, simultaneamente).

Axé!


Te amo, galega!

sábado, dezembro 07, 2013

Vertigem

Ando com medo de morrer. Ando, no sentido literal e no outro. Ando olhando para todos os lados, pra cima, para o canto. Ando correndo. Ando cansada. Ando ouvindo pelos sete buracos de minha cabeça, atenta, em eterno estado de alerta. Ando com medo, com medo da morte, da falta de sorte, da hora errada. Ando com medo do outro, do mesmo, de mim. Ando com medo da morte. Não da morte morrida, doença. Ou da falta de ar, afogada. Meu medo é da morte matada, covardia detrás de uma arma, armada. De uma faca, afiada. Da gilete, rasgada. Eu nunca tive medo da morte e agora ela me assombra a cada passada, cilada, esquina. Sair de casa é rezar pelo caminho da volta.  É se desejar invisível. É ver bem de perto que aquilo que acontece com o outro não cabe mais em situações hipotéticas. Elas estão do meu lado, elas já me atacam. Estou no meio do furacão, meu bairro mal-assombrado por seu entorno. Sou uma sobrevivente diária das notícias dos jornais. Seja por uma questão de poucas horas ou de uma rua diferente. Dia desses foi o menino saindo da festa, depois o outro atacado pela gangue de travestis, a garota estuprada na rua daqui de perto, meus dois assaltos com arma em punho e ontem nosso querido Gerson. Desci do ônibus pra voltar pra casa e a água vinha no joelho. Enquanto eu esperava desalagar, presa em um bar como refugio, o Gerson respirava seus últimos minutos antes de morrer covardemente. A água baixou, os taxis se negaram a me levar em casa e eu fui a pé, correndo embaixo da chuva, passando em frente ao bar que por muito tempo foi a segunda casa, minha e de meus amigos, com aquela "TV" e o retratinho cafona e contente. Cheguei em casa na hora que o Gerson, naquele mesmo lugar, morria baleado. Nesse instante eu também morria um pouquinho.



Rip Gerson, Rip Lapa, Rip tranquilidade no peito.

quarta-feira, dezembro 04, 2013

TRANSLATE

Traduzindo para o carioquês, 

'Um olho no padre e outro na missa'

fica:

 'Um olho na polícia e outro no ladrão'.

terça-feira, dezembro 03, 2013

Das coisas tristes

Chegar em casa e perceber a presença de minha mãe não pelo cheiro de seu perfume, mas pelo fedor sufocante de seu cigarro.

Não, era?

                                                                                                                                  A Mauricio

Eu não ia à aula hoje. Eu não ia com a roupa que tava, iria demorar mais a me arrumar trocando de vestido. Você não ia deixar a metade da comida no restaurante ruim se o "R$20 reais" tivesse aberto. Você não teria ficado sem sobremesa se no menu tivesse mais do que pudim de opção. 

Se alguma possibilidade dessa tivesse sido efetuada, esse texto não existiria.

Não era pra gente ter se encontrado, ao acaso, eu soltando meus cabelos e você com a mesma blusa de sempre atravessando a rua em minha direção. Não era pra ter aberto um sorriso daqueles e vindo meio sem jeito com os braços estendidos em busca de conforto ou alívio.

Não era pra nosso abraço ser inevitável. 

Não era pra fazer de conta que tá sempre igual, tudo legal, mas quando você vai embora...

Não era pra perguntar pra onde eu estava indo enquanto me olhava de cima a baixo, querendo captar cada segundo da minha existência rápida ali, naquele pedaço de esquina. 

Não era pra eu ter dito pra onde eu estava indo. "Estou indo para a puta que te pariu, camarada", isso ninguém tem coragem de dizer na hora. Não era pra você ter me oferecido uma carona mesmo não sendo no seu caminho. E, óbvio, não era pra eu ter dito que tudo bem, então.

Não era pra você não entender três vezes o que é tá cevadinho e rir do meu sotaque. E não era pra eu continuar falando. Não era pra você perguntar por qual escada eu queria subir e a gente ouvir a voz e a respiração cansada do outro. 

Não era pra eu ter dito que queria muito água. Não era pra você ter dito que também. 

Não era pra eu sorrir tanto. Não era pra você olhar tanto. 

Não era pra ter um pé de pitanga no meio do caminho até o carro e eu achar que isso é um bom sinal. Não era pra encontrar teu amigo no meio do caminho e ido deixá-lo na sua casa. Não era pra ele tá indo pra sua casa. Não era, sobretudo, pra EU estar indo pra sua casa. Não era pra eu subir aquela rampa novamente. Não era pra sua raposinha aparecer ali embaixo se espreguiçando. Não era pra Raica vir até o carro em busca de carinho, me lamber toda e acabar por ai todos os nãos. Amém, ela não veio. Não era pra você ter me oferecido um copo d'água como se ir até a cozinha significasse só matar a sede, essa sede de água. Não era pra eu ter aceitado. E não aceitei. 

Não era pra haver rebuliço voltar alí no teu pedaço de mundo. 

Não era pra ter um trânsito tão grande. Uma tensão tão grande. Uma vontade tão grande de te falar. De te ouvir. Não era pra você me pedir pra falar em um instante de silêncio. Não era pra eu falar qualquer coisa, qualquer coisa, pra não deixar o silêncio machucar tanto. Não era pra você quase que involuntariamente alisar a minha franja como se fosse normal. Não era pra existir essa vontade. Não era pra eu ter te mostrado o papelzinho dentro do caderninho. Não era pra tocar um reggae e você me dizer que o verão tava chegando. Não era pra eu ter demonstrado que sabia. Que só sabe disso quem te conhece. 

Não deveria ter sido um abraço tão apertado na hora do tchau. Não era pra você ficar me olhando enquanto eu descia do carro. Não era pra gente ter ficado pensando nisso tudo até chegar no destino final. 

Não era pra esse texto ter sido escrito. E nem lido. 

Não era pra ter, ad infinitum, um resto de coisa não exorcizada. 

Não era pra gente ter se perdido. 

Não,

Na verdade não era pra gente ter se encontrado, nunca. 

Não, 

era?


segunda-feira, dezembro 02, 2013

Amores descartáveis

O que mais me entristece nesse novo planeta amor, lulu, tubby, whatspp, é ver a alegria ou devoção das pessoas, inclusive a minha, quando cruzam com um casal que se dê bem, que seja bonito junto e que aparente ser feliz, de tão mina de ouro que isso se tornou. O que era pra ser natural, dar amor e receber amor de volta, se transformou em uma carta escrita à mão. Em um sorteio de amigo oculto feito ao vivo, com papelzinho. Na expectativa pra saber se alguma foto queimou na revelação. 

Tem coisa mais moderna que ocupar as mãos com outra mão (ou com o que queira) por ai, enquanto o smartphone se esguela e vibra sozinho no seu bolso, sem atenção?

domingo, dezembro 01, 2013

VRÁÁÁU

Nunca, nuinca vou saber como chegou nisso. Fazia muito tempo que Barcelona tava distante, era outro país, outro tempo, um capítulo à parte e intocável, guardado, refêrencia de alegria mas sem vivência, pra não machucar. pra não indicar que é possível ser mais feliz, mesmo havendo felicidade. Pra mim, aqui. E pra você, aí, no frio. Compartilhamos dessa mesma dor-amor. Um consolando o outro.  E hoje, no meio do nada, no meio de uma festa, uma festa tão boa, esse assunto veio à tona. Fiz nada pra isso, até agora não entendo a razão. Rio de Janeiro, português, um português cheio de frescura. Barça, espanhol, voz alta, as meninas, você. A gente. Todo mundo.

Que doideira. A gente se fala tanto. Trocamos tantas coisas. Nos amamos à distância e com o que temos condição: palavras Tão mais do que paqueras, do que amantes, do que namoradinhos. Eu creio que somos amigos. Mas leio essa palavra e dou uma risada. Te dou dicas com as garotas e você retribui.  E nessas conversas entre letras concatenadas e a imagem do teu rosto embaçado, antigo, hipotético, te ví. Radiante. Como era cada segundo daquela primavera. Olhos esticadinhos. Voz. Um risinho sacana, sempre. Cabelos semi-oleosos.

E aquela velha sensação de como a gente se entendia mesmo que eu não tivesse celular pra comunicação. mesmo que eu, encantada pela cidade, atrasasse um poucco nosso encontro no horário combinado, mesmo que chovesse. Mesmo que fosse quarta-feira.

Lembra que eu te disse que sonhei contigo e foi bem real? Hoje foi mais real que em sonho. Eu revivi. Eu pude ver teu sorriso abril e maio de 2013. 

E isso dá uma saudade maior do que a gente fala. Um choro involuntário que você iria dar uma risada e me mandar parar de frescura.

Relembrar você e a gente me molda o coração. Modela esse musculo maluco que carrego dentro do peito de uma maneira que ele nunca experimentou antes. 

E nem depois.