Depois de mais de um ano eu voltei naquele dois andares de concreto, luz branca, pessoas apressadas e uma cor meio suja. Um dos lugares mais sem graça e sem identidade do Rio de Janeiro e que, só agora, me dei conta do quão presente e marcante foi pra mim e para aquele tempo.
Desci no ponto final do 178, atravessei a rua e corri para o segundo andar, onde recordava ser o stand da Teresópolis. Mas, no meio do caminho, fui atracada por outras situações e as lembranças se jogaram na minha frente, feito raposa desembestada em estrada de madrugada.
Rio das Ostras, Paraty, Ilha Grande, São Paulo, Teresópolis e, claro Petrópolis, infinitas vezes.
Esse lugar, feio e apressado, nos levou a tantos paraisos, a tantos momentos, a tantas risadas. E eu ia passando em frente ao stand de cada um desses nossos destinos e abrindo um risinho de lado: festival de Jazz, de chuva, de vinho e de amor em Rio das Ostras, evento de fotografia que bebemos todas as cachaças e esquecemos do resto em Paraty, ano novo chuvoso em Ilha Grande, fazendo xixi dentro da barraca, o resgate da chave, a moqueca\panqueca, a praia deserta, toda deserta só pra gente e estourando a champagne antes do tempo. São Paulo, a Serra Malte na Benedito Calixto, o frio nas canelas, os dois sanduiches de mortadela que você comeu sozinho. Teresópolis, piscina, fundue, vinho, amigos, música, trilha no Serra dos Orgãos. E Petrópolis. Nem que eu dedicasse um texto inteiro caberia tanta vida, caberia um cheiro tão específico quanto o daquele sofá, daquela mesa, as conversas postas em dia e o strogonoff de murango.
Comprei minha passagem pra Terê, comi um salgado seco acompanhado de um mate, daquela loijnha que tem no andar lá de cima, peguei meu ônibus sozinha (nem deu tempo pra um stop na livraria ou na loja de doces). E, já na estrada Rio-Bahia, a caminho da fazenda que estava indo, me deparei com milhões de brocolinhos. Imaginei o fio de azeite escorrendo lá do céu. Vi você rindo da minha cara e dando corda pra minha imaginação. Nossas barrigas roncando, eu cochilando em você, pra onde fosse.
Fomos muito, muito felizes, foi só nisso que pensei antes de chegar no meu destino final.
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