Era uma quinta-feira à noite em Copacabana, mais precisamente na Siqueira Campos, naquele boteco tradicional cheio de comidinhas tão perto de minha casa mas que eu nunca havia estado: O Adega Pérola. Era a minha primeira vez naquele lugar que eu voltaria tantas outras. Era a primeira vez, também, que eu saía com os amigos de trabalho e amigos de amigos do meu novo namorado. Quando cheguei, todos estavam sentados naquela mesa comprida que comporta bem copos, belisquetes e bebuns. Entre uma bicadinha e outra fui sendo apresentada a eles. Pouco tempo depois chega um rapaz tímido, com dread, camiseta lisa e já pedindo um chopp antes mesmo de sentar, na minha frente. "Ele acabou o namoro de seis anos tem pouco tempo e tá meio pra baixo", me alertou Paloma.
Falava pouco e tinha um olhar tristonho mas muito bem disfarçado entre uma piada e outra de alta classe pra padrões de mesa de bar. E isso tomava a atenção da gente. "Que menino mau humorado mais engraçado", foi o que pensei.
Meu primeiro pensamento sobre Bruno foi certeiro e bem julgado.
Depois de um tempo voltamos a nos encontrar no aniversário de Paloma. Era um lugar chique e eu não conhecia ninguém além do meu namorado e um ou outro de vista de outra ocasião. Meu namorado, que deveria ser mais enturmado, parecia tão peixe fora d'água quanto eu naquele local. Eita, o Calil tá ali, vamos para lá. Eita, o Sato também tá ali, ó. Tudo certo, meu parceiro de cachaça e sobrenome. O Sato logo foi embora e o Calil também.
"Olha alí, não é aquele menino que acabou o namoro há pouco tempo e tava no Adega?"
"É sim, o Bruno, mas pô, não tenho muita intimidade com ele"
"Que besteira, min. Ele parece legal e tá com a roupa mais parecida com a nossa, bora pra lá"
"Bora"
Corta a cena.
Depois desse dia, quando marcamos o passeio de bicicleta pra Paquetá (mágicamente sem fulerar) e pouco depois selamos a nova amizade dos três que brotava naquela mesa de bar do bar que estávamos descobrindo, do "Zé", nunca mais nos largamos. Vivíamos os três por aí e era como se tivesse sido assim desde antes ou de sempre. Um casal e um amigo pra cima e pra baixo, de bike, a pé, de ônibus. Não tinha isso de segurando vela. Vez por outra você brotava com um amigo, só pra me dar mais trabalho na hora de cozinhar de madrugada, mas eu adorava. Eu adoro.
O casal se separou, os amigos, não. Nem de um lado e nem do outro. Pelo contrário, além de se consolidarem, ainda agregaram os novos colegas e novos grupos que levaram a novos grupos e a novos. Engraçado isso tudo. E também bonito. Éramos três. Somos vários multiplicados, hoje. E um carinho do trio original absurdo.
Bruno é chato. Provavelmente geneticamente chato. Por sorte não se tornou geneticamente gordo, seria muito para ele. Tem uma casca enorme e um escudo firme que envolvem uma carne fina, frágil, como costuma ser com gente de coração grande que tem um medo medonho de perder o controle. Foi assim por um tempo. Sabe-se lá o motivo, se por afinidade, confiança ou reconhecimento no outro, aos poucos essa casca foi se tornando fina e hoje consigo encostar na pele. Muitas vezes sem nem precisar de contato físico. Escuto o que ele tem pra falar com cuidado e atenção, dou valor. E quando eu falo, não tenho mais medo de receber um "isso não é da sua conta", como já ouvi ele falando por ai sem piedade. Ao contrário disso, ele liberou um "pode falar, temos intimidade pra isso". E ouve com cuidado, com atenção. E não é porque sou mais ou melhor, é apenas porque somos amigos e conquistamos isso dia após dia, em cada situação, conversa e até mesmo nas briguinhas.
Agradeço demais a confiança que você deposita em mim e sou muito grata pela que tenho em você. É valioso isso, eu acho.
A verdade é que eu podia passar laudas e mais laudas escrevendo vários momentos e lembranças massa e viradas que já tivemos nesse mundo e vida carioca, mas acho que o que fica é o que a gente é hoje e também tudo o que tem pra ser vivido, que é muita coisa.
Te desejo tudo o que há de melhor, como desejo a mim e a um irmão. E te desejo também muitos e muitos carnavais, porque parceiro feito tu nas ladeiras de Olinda, tá pra nascer!
Beijos, meu querido! Vida longa. E um sobrinho bem lindinho e ranzinza pra mim (hehe)
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