A Maurício
Não era você.
Teu carro, preto, cruzou comigo tão rapidamente, a pé, que não consegui ver teu rosto. Não, não foi porque você virou a cabeça para o outro lado justo neste instante, eu poderia te reconhecer através de seus pés no chinelinho ligeiro, que dirá sua nuca e seu cabelo assanhado. Mas é que o carro passou mesmo muito rápido, quando ví, ele já havia seguido adiante e só me restava a lateral e depois a parte de trás.
A cor do bracinho era seu. A circunferência dele também. O modelo da blusa e a cor branca provavelmente bufenta, provavelmente escrita "abayomy" também te vestiam com fidelidade. A janela estava aberta e imagino que até hoje seu ar-condicionado siga quebrado junto com o amassado na lataria.
(Sorri aquele sorriso de quando te vejo sem querer te ver mas querendo) e logo em seguida me dei conta de que não era você. É que você nunca teria a leveza de apoiar o braço esquerdo na janela do carro enquanto comete o pequeno delito de dirigir apenas com uma mão. Isso faz quem tá indo pra um churrasco, pra uma praia, quem tá ouvindo sublime e batendo a cinza do cigarro ou da maconha continuamente no asfalto. (cometendo um outro pequeno delito perdoável). Quem tá programando o feriado, indo pagar a casa de praia ou apenas que tá na rua porque quer estar na rua e não porque tá com fome e precisa descer pra comer, pois não aguenta mais chocolate bis, biscoito e chá.
Só fica nessa posição quem tem os ombros desbloqueados.
Por um detalhe milimétrico não era você. E seria muito bom se fosse você por um erro milimétrico meu, que mudaria tudo: um simples colocar de cotovelos na janela aberta de um carro.
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