Há gente com tanta necessidade de ter um cortejo seguindo atrás, que, no fim, acaba virando o próprio bobo da corte. E nem nota.
por Gustavo Calani
sexta-feira, fevereiro 07, 2014
segunda-feira, fevereiro 03, 2014
De manhã cedinho
O despertador apontava 6ham quando tocou pela primeira vez anunciando uma tristezinha no meu peito: em meia hora de soneca, o mais tardar e com atrasos 1h de soneca, eu teria que deixar aquela cama. E deixar aquela cama significava muito mais do que encarar a vida lá fora em plena segunda-feira calorenta do Rio de Janeiro: significava te deixar. Te deixar assim, depois do final de semana inteiro dormindo juntos e sem hora pra levantar, naquela lengação tamanha que você sabe que sou mestra.
(não importa a música preferida que você coloque no despertador, você vai passar a odiá-la)
Pés nas pontas pra não te acordar (ainda mais), preparava meu sanduiche enquanto misturava o própolis na água pra te dar. Um beijinho, mais um abracinho, uns cheirinhos, você, entre o sono e a realidade, me falando coisas bonitas. E me abraçando de novo. Beijos, tchau, bom dia, bom trabalho, não perde a hora, melhora logo, não esquece o remédio, beijo, tchau!
Volto à sala e, antes de pegar minha mochila, o sol lá fora me pede algo pra beber. Geladeira, mate gelado, água, mais mate, mais água. Hora de pegar a mochila e partir, já estou atrasada. E, ao chegar na porta, olho de rabo de olho a porta do quarto escorada e meu coração acelerado. Mas eu estou atrasada! Mas meu coração tá pedindo. E volto no quarto, você de ladinho, olhos fechados e tintin com cara de pidão pedindo uma beijoca. Uma beijoca em tintin, outra em você, outra em você, outra em você e teus olhinhos abertos, brilhando.
E um sorriso maior que o metrô que eu provavelmente perdi de pegar na hora e me fez atrasar dez ou quinze minutos. É que o dia pode esperar um pouquinho. O amor, não.
Grandes estranhos
A Mauricio e ao fim de um ciclo
Você não me dói mais, direto assim.
Não machuca e não catuca. Não sobrou raiva ou rancor. Não sobrou amor de sobra, também. Nem quando você aparece e muito menos quando some. E reaparece pra depois sumir de novo e ficar nesse jogo, agora, tão sozinho, do ir e vir. Você e você mesmo nesta batalha confusa que travou e que foge ao meu poder de entendimento. Desconfio que do seu também.
Você não me dói mais, direto assim.
Não machuca e não catuca. Não sobrou raiva ou rancor. Não sobrou amor de sobra, também. Nem quando você aparece e muito menos quando some. E reaparece pra depois sumir de novo e ficar nesse jogo, agora, tão sozinho, do ir e vir. Você e você mesmo nesta batalha confusa que travou e que foge ao meu poder de entendimento. Desconfio que do seu também.
Você, esse menino dentro de uma pessoa, é uma figura que hoje em dia me diz tão pouco. Não chora e nem faz rir e, ainda assim, quando faz questão de demonstrar sua existência colocando à conta gotas particulas de afeto pra atingir meu coração, você atinge uma parte de nós dois que hoje é só minha e que não morreu. E que não vai morrer, pois não há mais mágoa e, mesmo quando mágoa, nunca me deixou escapar, nem por um segundo, você se virando em dez pra chamar atenção ou não: o desejo infinito de que você esteja e permança bem.
Hoje, um sentimento unilateral que não tem mais a pretensão de troca. E nem vontade. Apenas (ou não tão apenas assim) o desejo de te saber feliz. Feliz contigo e não por uma coisa de fora, por pouco tempo, como costuma(va) ser: picos altíssimos de alegria e depois tão baixos, abaixo do mais baixo de melancolia.
Hoje, eu fecho os olhos e, por uns instantes, mentalizo isso. Vez por outra.
Hoje, não te reconheço mais. Nem ao vivo e nem em uma canção. E não sei se acho isso bom, ruim ou se jogo a responsabilidade de tal feito para a vida. Ou para o tempo. É, acho que para o tempo é conveniente, afinal, todo mundo sempre diz que o tempo isso e aquilo, vai ver é verdade.
Hoje, não somos mais do que dois grandes estranhos.
Hoje, pra concluir, sua foto descolou da minha parede, se pendurou na de Raica, não se sustentou e caiu no chão. Você tocando o chão e não mais o piano e seus jazzes inventados. Seu amor inventado.
Não mais tua mão.
Não mais.
segunda-feira, janeiro 27, 2014
Uma toalha pra dois
E, no meio do banho, distraidamente passei sabonete líquido para partes íntimas nas axilas. Um acesso de saudade mesmo estando há apenas 17 horas distante do meu objeto de desejo. Foi uma cena ridícula, mas como é também ridículo o amor, eu dei uma risada daquelas. É que na hora eu tava pensando nele embaixo do chuveiro, com a água percorrendo todo o rosto sem piedade, em um jato forte. E seu biquinho que é bicão escoando a água pra fora. E os olhinhos apertadinhos pra escapar da água. E eu, na frente, mirando tudo pra não esquecer.
Já posso desligar a água, amor?
Rapidinho, ainda tem um pouco de condicionador no meu cabelo.
terça-feira, janeiro 07, 2014
Vertiginosamente vivos
'É certo que temos mais medo de viver do que morrer'
Essas palavras ficaram rondando minha cabeça por um bom tempo. De primeira te disse que deve ser porque morrer é inevitável e viver é escolha. E tudo que envolve escolha dá mais preguiça e acabamos imersos na comodidade humana deprimente, levados pelo depois e pelo e se.
'Se tiver que ser, será e Seja o que Deus quiser' são praticamente um mantra que enredam nossas vidinhas, como se Deus, cheio de afazeres maiores, tivesse a obrigação de além de tudo dar um chute na nossa bunda com salto agulha pra que a gente tome prumo na cara e vá viver e não somente sobreviver, como fazemos na maioria das vezes. Tomar uma cervejinha dia de semana é a maior fuga que alcançamos pra provar a nós mesmos quem é que manda nessa porra. Ou nessa vida mediocre que levamos de despertadores, canetas, gravatas em meio a um país tropical e contas pra pagar. Todo santo (ou nem tão santo) fim de mês.
Quando programamos uma viagem, sentimos que estamos vivendo demais, que viver de verdade é isso. A sunga na mochila, o cheiro de protetor solar e os óculos escuros dão um novo gás e uma sede maior que a de água, mesmo que essa vivência dure uma semana ou um mês, de fantasia. Mas é o que nos salva. Um tempo fora do espaço que cabe na realidade do nosso latifundiário calendário de 12 meses ou quase 400 dias. Pra depois começar tudo de novo e a gente sentir no peito a sensação de que algo diferente vai desabrochar, mesmo que simbolicamente, mesmo que nas roupas leves do dia 31 de dezembro e nos abraços mais apertados que acabamos economizando durante o ano inteiro pra entregar nesse dia.
A gente abraça rápido demais. (Quando abraça). Abraçar é tipo dois beijinhos e isso me entristece por demais. Tenho medo de contar e ver que possivelmente poderei calcular com os dedos das mãos e dos pés quantos abraços apertadíssimos e longos e sentidos eu dei no último ano. Imagina, 20 respiros de vida que não durariam mais de um minuto cada em 360 dias? Tem algo errado ai. E dessa vez não é a preguiça.
Parece que a gente tem vergonha de abraçar mais largo e de olhos fechados. Somos tomados pelo receio de que a outra pessoa não esteja preparada pra tal entrega e fique lá esperando o momento de ser liberada, com um balãozinho na cabeça no lado esquerdo escrito 'oxe, tá bom já, três exclamações' enquanto afasta o umbigo do umbigo do outro, porque já tá demais. E o que nos resta é aquele abracinho murcho de peito com peito que dura 3 segundos e, com sorte, não vem acompanhado de um ou dois tapinhas nas costas. De fazer chorar.
Comecei o texto falando sobre viver. Sobre o medo disso. Desse negócio que a gente tem na mão e na respiração e não sabe direito como levar. E agora estou aqui falando sobre abraço, como se a incoerência do meu ser fosse tamanha que não fosse possível falar lé com cré.
Mas não é assim. Avalie que se a gente tem medo de abraçar, que é um negócio tão elementar, que dirá de se entregar pra vida e entender que viver, sugar cada gota do copo plástico de 500 ml que temos, vai além da cervejinha em uma terça-feira. Ultrapassa uma viagem internacional onde experimentamos um sabor novo de sorvete, de amor ou de cerveja, amarga.
A gente deixa de viver dentro de casa, muitas vezes. Na nossa família. Nos nossos amigos. Deixamos de viver no nosso trabalho. Na refeição que fazemos, na uma hora do almoço no self-service. No cafezinho frio. Deixamos de viver no caminho do trabalho pra casa. Ou no caminho da casa para a festa. Ou da festa para a cama. Morremos um pouquinho na palavra que não foi dita ou na que verborragicou demais.
A gente sobrevive, tantas vezes é isso que fazemos e nem notamos, apenas riscamos mais um dia, entre tantos desse calendário que separamos por etapas pra não endoidar, pra ter um respiro. Uma pausa mesmo que imaginária.
Somos levados pelo tsunami que são as horas, que invariavelmente não param e, não satisfeitos, conseguimos a proeza de atropelar tudo, todos, a gente. É dessa maneira que agimos e, mesmo assim, acreditamos piamente que tudo terminará bem. Bem não, a gente espera mais, a gente espera quase que com certeza que tudo termine exatamente como a gente quer, mesmo que a gente não faça muito por isso, como se Deus, novamente ele, bichinho, tivesse que respirar por nós, um último suspiro, dessa vez de lamento.
Enquanto a gente tiver medo de abraçar, viver vai ser tarefa das mais difíceis.
E é só nisso que consigo pensar agora. É a minha conclusão sobre a afirmação inicial do texto. Uma conclusão em aberto, de braços abertos, esperando por um abraço que sele a ideia - sem tapinha nas costas.
domingo, janeiro 05, 2014
Poeminha dos olhos de domingo
Ou que meus olhos e os seus
Não são mais ateus
Repouso de mágoas
Espelhos d'água dormentes de dor
Eles se abrem
E fecham
E brecham
Escapam
Se acham
E fixam
Agora,
Se desmancham com candura
Teus olhos nos meus
Meus olhos e os teus
Se desenham sem caneta
Sem papel
Sem rascunho
Sem nada
Desembestados
Com vida própria
Esperando pela hora de chegar
sábado, dezembro 21, 2013
Carta de fim de ano
'Eu podia resumir tudo isso a:
eu lembro de você em detalhes e sinto uma felicidade invadindo que nunca senti na vida. nem antes e nem depois.
(teria sido uma carta mais simples!)
Beijos.'
eu lembro de você em detalhes e sinto uma felicidade invadindo que nunca senti na vida. nem antes e nem depois.
(teria sido uma carta mais simples!)
Beijos.'
sexta-feira, dezembro 20, 2013
Sem laço de fita
Das minhas paixões: janelas, varais, galhos secos e cobogós.
Se algum dia alguém conseguir colocar tudo isso dentro de uma caixa bonita e me presentear, eu não vou ficar feliz.
Eu gosto, ou melhor, tenho paixão, tesão, quase que uma obsessão por estes quatro paraisos ao meu globo ocular. Mas tem que ser cada um dentro de sua natureza, sem interferências.
As janelas têm que servir de suporte pra uma estrutura maior. E quanto mais barulhentas com o saculejar do vento, mais contente eu fico.
Os varais ao ar livre, cheirando a roupa limpa. E se são roupas surradas que a gente vê nas estradas para o interior ou pra praia, eu choro. Conseguem ser ainda mais bonitas, as cores vibrantes ou a falta delas, um ocre sem fim.
Os galhos secos nas árvores com uma ou outra folhinha pendurada e um chão recheado delas, laranjinhas, amarelas ou marrons, indicando o fim de um ciclo e, invariavelmente, o início de outro.
E os cobogós, esses eu até aceito em unidades, mas nada como uma parede cobogozada pra eu passar a pé e ficar um tempão olhando ou pra percorrer com os olhos de dentro do carro, do ônibus ou da bike e abrir um sorriso ligeiro, do tamanho de um palmo.
As minhas paixões eu tenho de graça. Isso é o que eu chamo de sorte!
quarta-feira, dezembro 18, 2013
Das sabedorias que não possuo
Pra minha pequena, saudade é contável.
No auge dos seus 4 anos, ela não compreende que saudade é uma só e a gente que vai sentindo parceladamente ou de uma vez, no modo contínuo.
No auge dos seus 4 anos, ela não compreende que saudade é uma só e a gente que vai sentindo parceladamente ou de uma vez, no modo contínuo.
Quando estou em Recife e passo uma noite fora, no outro dia ela diz "eu tou com a tua saudade". Quando estou longe, ela diz "tou com uma saudade tua". No fim das contas, quem não faz a conta certa e consegue compreender a saudade somos nós, adultos. A saudade tem, sim, identidade própria e pecualiaridades. Uma pra cada instante. Pra cada fase. Pra cada tempo e quilômetro percorridos para o sentido oposto, mesmo que destinada à mesma pessoa.
A pequena tem a minha saudade quando tá um dia distante mas sabe que vai me ver no outro dia. E tem uma saudade de mim cada vez que fala comigo no telefone, lá longe, ou manda recado. E nos demais tempos, nos espaços entre essas saudades, ela corre, brinca, chora, estuda, pinta, aprende. Como se perdesse as contas das saudades que sentiu. E sem se dar conta das que ainda vai sentir.
Eu também corro, brinco, choro, estudo, pinto e aprendo, em outras proporções, mas ainda não compreendi como faz pra saudade existir em um dado instante.
E não quando quer, assim, sem cerimônia.
segunda-feira, dezembro 16, 2013
O conhecimento milimétrico
A Maurício
Não era você.
Teu carro, preto, cruzou comigo tão rapidamente, a pé, que não consegui ver teu rosto. Não, não foi porque você virou a cabeça para o outro lado justo neste instante, eu poderia te reconhecer através de seus pés no chinelinho ligeiro, que dirá sua nuca e seu cabelo assanhado. Mas é que o carro passou mesmo muito rápido, quando ví, ele já havia seguido adiante e só me restava a lateral e depois a parte de trás.
A cor do bracinho era seu. A circunferência dele também. O modelo da blusa e a cor branca provavelmente bufenta, provavelmente escrita "abayomy" também te vestiam com fidelidade. A janela estava aberta e imagino que até hoje seu ar-condicionado siga quebrado junto com o amassado na lataria.
(Sorri aquele sorriso de quando te vejo sem querer te ver mas querendo) e logo em seguida me dei conta de que não era você. É que você nunca teria a leveza de apoiar o braço esquerdo na janela do carro enquanto comete o pequeno delito de dirigir apenas com uma mão. Isso faz quem tá indo pra um churrasco, pra uma praia, quem tá ouvindo sublime e batendo a cinza do cigarro ou da maconha continuamente no asfalto. (cometendo um outro pequeno delito perdoável). Quem tá programando o feriado, indo pagar a casa de praia ou apenas que tá na rua porque quer estar na rua e não porque tá com fome e precisa descer pra comer, pois não aguenta mais chocolate bis, biscoito e chá.
Só fica nessa posição quem tem os ombros desbloqueados.
Por um detalhe milimétrico não era você. E seria muito bom se fosse você por um erro milimétrico meu, que mudaria tudo: um simples colocar de cotovelos na janela aberta de um carro.
Não era você.
Teu carro, preto, cruzou comigo tão rapidamente, a pé, que não consegui ver teu rosto. Não, não foi porque você virou a cabeça para o outro lado justo neste instante, eu poderia te reconhecer através de seus pés no chinelinho ligeiro, que dirá sua nuca e seu cabelo assanhado. Mas é que o carro passou mesmo muito rápido, quando ví, ele já havia seguido adiante e só me restava a lateral e depois a parte de trás.
A cor do bracinho era seu. A circunferência dele também. O modelo da blusa e a cor branca provavelmente bufenta, provavelmente escrita "abayomy" também te vestiam com fidelidade. A janela estava aberta e imagino que até hoje seu ar-condicionado siga quebrado junto com o amassado na lataria.
(Sorri aquele sorriso de quando te vejo sem querer te ver mas querendo) e logo em seguida me dei conta de que não era você. É que você nunca teria a leveza de apoiar o braço esquerdo na janela do carro enquanto comete o pequeno delito de dirigir apenas com uma mão. Isso faz quem tá indo pra um churrasco, pra uma praia, quem tá ouvindo sublime e batendo a cinza do cigarro ou da maconha continuamente no asfalto. (cometendo um outro pequeno delito perdoável). Quem tá programando o feriado, indo pagar a casa de praia ou apenas que tá na rua porque quer estar na rua e não porque tá com fome e precisa descer pra comer, pois não aguenta mais chocolate bis, biscoito e chá.
Só fica nessa posição quem tem os ombros desbloqueados.
Por um detalhe milimétrico não era você. E seria muito bom se fosse você por um erro milimétrico meu, que mudaria tudo: um simples colocar de cotovelos na janela aberta de um carro.
domingo, dezembro 15, 2013
Novo Rio
Depois de mais de um ano eu voltei naquele dois andares de concreto, luz branca, pessoas apressadas e uma cor meio suja. Um dos lugares mais sem graça e sem identidade do Rio de Janeiro e que, só agora, me dei conta do quão presente e marcante foi pra mim e para aquele tempo.
Desci no ponto final do 178, atravessei a rua e corri para o segundo andar, onde recordava ser o stand da Teresópolis. Mas, no meio do caminho, fui atracada por outras situações e as lembranças se jogaram na minha frente, feito raposa desembestada em estrada de madrugada.
Rio das Ostras, Paraty, Ilha Grande, São Paulo, Teresópolis e, claro Petrópolis, infinitas vezes.
Esse lugar, feio e apressado, nos levou a tantos paraisos, a tantos momentos, a tantas risadas. E eu ia passando em frente ao stand de cada um desses nossos destinos e abrindo um risinho de lado: festival de Jazz, de chuva, de vinho e de amor em Rio das Ostras, evento de fotografia que bebemos todas as cachaças e esquecemos do resto em Paraty, ano novo chuvoso em Ilha Grande, fazendo xixi dentro da barraca, o resgate da chave, a moqueca\panqueca, a praia deserta, toda deserta só pra gente e estourando a champagne antes do tempo. São Paulo, a Serra Malte na Benedito Calixto, o frio nas canelas, os dois sanduiches de mortadela que você comeu sozinho. Teresópolis, piscina, fundue, vinho, amigos, música, trilha no Serra dos Orgãos. E Petrópolis. Nem que eu dedicasse um texto inteiro caberia tanta vida, caberia um cheiro tão específico quanto o daquele sofá, daquela mesa, as conversas postas em dia e o strogonoff de murango.
Comprei minha passagem pra Terê, comi um salgado seco acompanhado de um mate, daquela loijnha que tem no andar lá de cima, peguei meu ônibus sozinha (nem deu tempo pra um stop na livraria ou na loja de doces). E, já na estrada Rio-Bahia, a caminho da fazenda que estava indo, me deparei com milhões de brocolinhos. Imaginei o fio de azeite escorrendo lá do céu. Vi você rindo da minha cara e dando corda pra minha imaginação. Nossas barrigas roncando, eu cochilando em você, pra onde fosse.
Fomos muito, muito felizes, foi só nisso que pensei antes de chegar no meu destino final.
sexta-feira, dezembro 13, 2013
Retrô 2013
Fui madrinha do desfile dos bonecos gigantes no carnaval de Olinda
Andei de chinelo com temperatura de 1º
Viciei em guinness e pale ale
Me apaixonei por Barcelona
Me apaixonei em Barcelona
Me hospedei em uma okupa
Conheci Brecht
Me hospedei em uma okupa
Conheci Brecht
Abracei apertado Samantha
Reencontrei Vic e Quentin
Dividi a vida com Talha
Achei a Torre Eiffel nada demais
Tava em Berlim na Myfest
Reencontrei Vic e Quentin
Dividi a vida com Talha
Achei a Torre Eiffel nada demais
Tava em Berlim na Myfest
Quase morri de bike atropelada por um trem
Quase morri nos trilhos de um metrô
Participei de um campeonato de handball sem nunca ter jogado na vida
Aprendi a cozinhar
Perdi meu avô
Mostrei o Rio aos meus irmãos pequenos e ao meu pai
Mostrei o Rio aos meus irmãos pequenos e ao meu pai
Me mudei de bairro
Mauricio me trouxe Raica
E depois foi-se embora
E depois foi-se embora
Assisti ao show do Herbie Hancock
Perdi alguns amigos
Consolidei outros
Jorge continuou na minha vida
Enviei e recebi cartas
Perdi muitos casamentos de queridos
Jorge continuou na minha vida
Enviei e recebi cartas
Perdi muitos casamentos de queridos
Voltei a estudar
Conheci Joatinga e Prainha
Conheci Joatinga e Prainha
Provei caldinho de aratu (tardiamente)
Juntei dinheiro como nunca na vida
Fui lisa como nunca na vida
Fui feliz como nunca na vida
Fui triste como nunca na vida
Devo ter bebido como nunca na vida
Vou passar os últimos dias do ano no sol e mar da Bahia.
segunda-feira, dezembro 09, 2013
De otras vidas
Acho que em outra vida a gente não se despediu...
... é que a gente sempre se despede mil vezes nessa!
Uma alegria excelsa pra você!
Ao meu orgulho chamado Julia
Esse texto vai ser cheio de clichés.
É que derrota, vitória, superação, admiração e amor são clichés demais, mas são verdadeiros, percorrem as matizes da vida da gente diariamente e justamente por isso se tornaram clichés, mas não menos importantes.
Desde que conheço essa moça bonita e espevitada, as fases da gente se misturam, se confundem, se alternam. Eu tô bem e ela tá mal. Eu tô mal, ela tá bem. Dificilmente estamos no alto e avante ao mesmo tempo ou afundadas no poço fundo juntas e talvez não seja por acaso. Estamos sempre atentas e com os ombros largos pra segurar a outra ou pra acompanhar e vibrar as coisas boas que, no fim das contas, sempre vêm.
E é tão bonito te ver feliz assim! Tas vibrante, bela, sorridente e escorrendo luz. Tas chorando, mas de alegria. É bonito, é bonito demais! E esse bonito engloba tanta coisa... Nem parece aquela loirinha do verão passado, cabisbaixa, sofrida, penando com as alfinetadas da vida, recolhendo as migalhas em troca de tantos atos grandes. É tão grandioso ter te visto tomar decisões importantes, focado em coisas importantes, levando a sério, se esforçado, abrindo mão de coisinhas menores e, principalmente, não ter se deixado derrubar quando tudo era não, um tsunami.
O mais foda é ver que o mesmo tsunami que uma hora te destrói, te quebra na emenda, é o mesmo que te coloca lá no alto, na crista da onda, e que onda, hein?
Pois esse verão vai ser diferente. Vai ser em águas caribenhas, vai ser aproveitando cada segundo dessa tua conquista tão fascinante, tão esperada e ainda sendo MESTRANDA CARAI!! E eu tenho certeza que você vai saber aproveitar cada pedacinho de minuto dessa viagem, dessa fase e dessa vida.
(Parece que esse verão, finalmente, vai ser de sol para nós duas, simultaneamente).
Axé!
Te amo, galega!
sábado, dezembro 07, 2013
Vertigem
Ando com medo de morrer. Ando, no sentido literal e no outro. Ando olhando para todos os lados, pra cima, para o canto. Ando correndo. Ando cansada. Ando ouvindo pelos sete buracos de minha cabeça, atenta, em eterno estado de alerta. Ando com medo, com medo da morte, da falta de sorte, da hora errada. Ando com medo do outro, do mesmo, de mim. Ando com medo da morte. Não da morte morrida, doença. Ou da falta de ar, afogada. Meu medo é da morte matada, covardia detrás de uma arma, armada. De uma faca, afiada. Da gilete, rasgada. Eu nunca tive medo da morte e agora ela me assombra a cada passada, cilada, esquina. Sair de casa é rezar pelo caminho da volta. É se desejar invisível. É ver bem de perto que aquilo que acontece com o outro não cabe mais em situações hipotéticas. Elas estão do meu lado, elas já me atacam. Estou no meio do furacão, meu bairro mal-assombrado por seu entorno. Sou uma sobrevivente diária das notícias dos jornais. Seja por uma questão de poucas horas ou de uma rua diferente. Dia desses foi o menino saindo da festa, depois o outro atacado pela gangue de travestis, a garota estuprada na rua daqui de perto, meus dois assaltos com arma em punho e ontem nosso querido Gerson. Desci do ônibus pra voltar pra casa e a água vinha no joelho. Enquanto eu esperava desalagar, presa em um bar como refugio, o Gerson respirava seus últimos minutos antes de morrer covardemente. A água baixou, os taxis se negaram a me levar em casa e eu fui a pé, correndo embaixo da chuva, passando em frente ao bar que por muito tempo foi a segunda casa, minha e de meus amigos, com aquela "TV" e o retratinho cafona e contente. Cheguei em casa na hora que o Gerson, naquele mesmo lugar, morria baleado. Nesse instante eu também morria um pouquinho.
Rip Gerson, Rip Lapa, Rip tranquilidade no peito.
quarta-feira, dezembro 04, 2013
TRANSLATE
Traduzindo para o carioquês,
'Um olho no padre e outro na missa'
fica:
'Um olho na polícia e outro no ladrão'.
'Um olho no padre e outro na missa'
fica:
'Um olho na polícia e outro no ladrão'.
terça-feira, dezembro 03, 2013
Das coisas tristes
Chegar em casa e perceber a presença de minha mãe não pelo cheiro de seu perfume, mas pelo fedor sufocante de seu cigarro.
Não, era?
A Mauricio
Eu não ia à aula hoje. Eu não ia com a roupa que tava, iria demorar mais a me arrumar trocando de vestido. Você não ia deixar a metade da comida no restaurante ruim se o "R$20 reais" tivesse aberto. Você não teria ficado sem sobremesa se no menu tivesse mais do que pudim de opção.
Se alguma possibilidade dessa tivesse sido efetuada, esse texto não existiria.
Eu não ia à aula hoje. Eu não ia com a roupa que tava, iria demorar mais a me arrumar trocando de vestido. Você não ia deixar a metade da comida no restaurante ruim se o "R$20 reais" tivesse aberto. Você não teria ficado sem sobremesa se no menu tivesse mais do que pudim de opção.
Se alguma possibilidade dessa tivesse sido efetuada, esse texto não existiria.
Não era pra gente ter se encontrado, ao acaso, eu soltando meus cabelos e você com a mesma blusa de sempre atravessando a rua em minha direção. Não era pra ter aberto um sorriso daqueles e vindo meio sem jeito com os braços estendidos em busca de conforto ou alívio.
Não era pra nosso abraço ser inevitável.
Não era pra fazer de conta que tá sempre igual, tudo legal, mas quando você vai embora...
Não era pra perguntar pra onde eu estava indo enquanto me olhava de cima a baixo, querendo captar cada segundo da minha existência rápida ali, naquele pedaço de esquina.
Não era pra eu ter dito pra onde eu estava indo. "Estou indo para a puta que te pariu, camarada", isso ninguém tem coragem de dizer na hora. Não era pra você ter me oferecido uma carona mesmo não sendo no seu caminho. E, óbvio, não era pra eu ter dito que tudo bem, então.
Não era pra você não entender três vezes o que é tá cevadinho e rir do meu sotaque. E não era pra eu continuar falando. Não era pra você perguntar por qual escada eu queria subir e a gente ouvir a voz e a respiração cansada do outro.
Não era pra eu ter dito que queria muito água. Não era pra você ter dito que também.
Não era pra eu sorrir tanto. Não era pra você olhar tanto.
Não era pra ter um pé de pitanga no meio do caminho até o carro e eu achar que isso é um bom sinal. Não era pra encontrar teu amigo no meio do caminho e ido deixá-lo na sua casa. Não era pra ele tá indo pra sua casa. Não era, sobretudo, pra EU estar indo pra sua casa. Não era pra eu subir aquela rampa novamente. Não era pra sua raposinha aparecer ali embaixo se espreguiçando. Não era pra Raica vir até o carro em busca de carinho, me lamber toda e acabar por ai todos os nãos. Amém, ela não veio. Não era pra você ter me oferecido um copo d'água como se ir até a cozinha significasse só matar a sede, essa sede de água. Não era pra eu ter aceitado. E não aceitei.
Não era pra haver rebuliço voltar alí no teu pedaço de mundo.
Não era pra ter um trânsito tão grande. Uma tensão tão grande. Uma vontade tão grande de te falar. De te ouvir. Não era pra você me pedir pra falar em um instante de silêncio. Não era pra eu falar qualquer coisa, qualquer coisa, pra não deixar o silêncio machucar tanto. Não era pra você quase que involuntariamente alisar a minha franja como se fosse normal. Não era pra existir essa vontade. Não era pra eu ter te mostrado o papelzinho dentro do caderninho. Não era pra tocar um reggae e você me dizer que o verão tava chegando. Não era pra eu ter demonstrado que sabia. Que só sabe disso quem te conhece.
Não deveria ter sido um abraço tão apertado na hora do tchau. Não era pra você ficar me olhando enquanto eu descia do carro. Não era pra gente ter ficado pensando nisso tudo até chegar no destino final.
Não era pra esse texto ter sido escrito. E nem lido.
Não era pra ter, ad infinitum, um resto de coisa não exorcizada.
Não era pra gente ter se perdido.
Não,
Na verdade não era pra gente ter se encontrado, nunca.
Não,
era?
segunda-feira, dezembro 02, 2013
Amores descartáveis
O que mais me entristece nesse novo planeta amor, lulu, tubby, whatspp, é ver a alegria ou devoção das pessoas, inclusive a minha, quando cruzam com um casal que se dê bem, que seja bonito junto e que aparente ser feliz, de tão mina de ouro que isso se tornou. O que era pra ser natural, dar amor e receber amor de volta, se transformou em uma carta escrita à mão. Em um sorteio de amigo oculto feito ao vivo, com papelzinho. Na expectativa pra saber se alguma foto queimou na revelação.
Tem coisa mais moderna que ocupar as mãos com outra mão (ou com o que queira) por ai, enquanto o smartphone se esguela e vibra sozinho no seu bolso, sem atenção?
Tem coisa mais moderna que ocupar as mãos com outra mão (ou com o que queira) por ai, enquanto o smartphone se esguela e vibra sozinho no seu bolso, sem atenção?
domingo, dezembro 01, 2013
VRÁÁÁU
Nunca, nuinca vou saber como chegou nisso. Fazia muito tempo que Barcelona tava distante, era outro país, outro tempo, um capítulo à parte e intocável, guardado, refêrencia de alegria mas sem vivência, pra não machucar. pra não indicar que é possível ser mais feliz, mesmo havendo felicidade. Pra mim, aqui. E pra você, aí, no frio. Compartilhamos dessa mesma dor-amor. Um consolando o outro. E hoje, no meio do nada, no meio de uma festa, uma festa tão boa, esse assunto veio à tona. Fiz nada pra isso, até agora não entendo a razão. Rio de Janeiro, português, um português cheio de frescura. Barça, espanhol, voz alta, as meninas, você. A gente. Todo mundo.
Que doideira. A gente se fala tanto. Trocamos tantas coisas. Nos amamos à distância e com o que temos condição: palavras Tão mais do que paqueras, do que amantes, do que namoradinhos. Eu creio que somos amigos. Mas leio essa palavra e dou uma risada. Te dou dicas com as garotas e você retribui. E nessas conversas entre letras concatenadas e a imagem do teu rosto embaçado, antigo, hipotético, te ví. Radiante. Como era cada segundo daquela primavera. Olhos esticadinhos. Voz. Um risinho sacana, sempre. Cabelos semi-oleosos.
E aquela velha sensação de como a gente se entendia mesmo que eu não tivesse celular pra comunicação. mesmo que eu, encantada pela cidade, atrasasse um poucco nosso encontro no horário combinado, mesmo que chovesse. Mesmo que fosse quarta-feira.
Lembra que eu te disse que sonhei contigo e foi bem real? Hoje foi mais real que em sonho. Eu revivi. Eu pude ver teu sorriso abril e maio de 2013.
E isso dá uma saudade maior do que a gente fala. Um choro involuntário que você iria dar uma risada e me mandar parar de frescura.
Relembrar você e a gente me molda o coração. Modela esse musculo maluco que carrego dentro do peito de uma maneira que ele nunca experimentou antes.
E nem depois.
Relembrar você e a gente me molda o coração. Modela esse musculo maluco que carrego dentro do peito de uma maneira que ele nunca experimentou antes.
E nem depois.
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