Cruzei o Nordeste do Brasil de trem. Apesar de ter levado alguns dias
pra atravessá-lo, a viagem me pareceu bem rápida. Era como se em
minutos eu me deslocasse de um estado para o outro. Comecei no Maranhão, desci
para o Piauí e quando cheguei na Bahia tomei um banho morno de mar, comi
umas coisas gostosas e não me saía do pensamento "que viagem do caralho, que viagem do caralho!!!" Eu queria muito que meus amigos tivessem junto, mas viajei sozinha. Depois da Bahia, segui subindo por Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraiba, Rio Grande do Norte e finalizei no Ceará, com um caranguejo bem
graúdo na Praia do Futuro e uma cervejinha gelada sendo acompanhados
por um repente muito louco daqueles moços que sempre ficam por alí tocando para os turistas.
O dilema era saber pra onde eu iria depois dalí. Pernambuco já havia passado fazia era tempo e eu só o ví pela
janela, cheinha de saudade. Não teve parada pra uma tapioca na Sé e um
reencontro com os amigos do peito. E o Rio de Janeiro? Me fiz de burra e
disse ao motorista que a gente tinha que passar por lá, pra eu chegar
em casa. Ele disse que Rio de Janeiro era em outro pacote, que eu tinha
que fazer baldeação (odeio essa palavra) não sei onde e lá adquirir os tickets pra cruzar o Sul e Sudeste. Mas o ticket custava três vezes mais. Fiquei por alí, sem
pressa pra chegar na patola, na esperança que alguém decidisse por mim.
Uma voz em outra língua que não nordestina sopra em meu ouvido e um
catucão discreto me acorda "endireita a poltrona e coloca o cinto que
a aeronave já vai pousar."
Olho pela janelinha e vejo o meu Rio de
Janeiro todo iluminado. Fim do dilema.
terça-feira, maio 28, 2013
domingo, maio 26, 2013
Dublin dando um tapa na minha cara
É muito fácil simplesmente dizer que "agora eu gosto de Dublin" justamente um dia antes de ir-me embora. E, apesar de não bater com nada do que sempre falei daqui, se hoje fosse meu primeiro dia na cidade, certamente iria pintá-la de outro modo, toda empolgada.Mas hoje foi mesmo um dia atípico, e não apenas pra mim que estou de partida em poucas horas. A alegria solar invadiu todo mundo. Era como se hoje fosse o primeiro dia do verão e a cidade, finalmente, começasse a existir. (mesmo sabendo que aqui não tem isso de bikini, batida de frutas, piscina azul. Apenas uns dias raros de sol, como hoje).
Foi a primeira vez em meses que vi pessoas - várias - na rua e que não fossem apenas brasileiros indo pra aula ou pra um pub qualquer encontrar outros brasileiros. A primeira vez que tinha gente de tudo quanto é tipo da porta pra fora. Felizes, sorridentes e com uma bebida na mão. Chega me esqueci que não se pode beber na rua. Eu e todo mundo. Primeiro dia em que o sol - forte - não significou mais frio ainda. Casaquinho leve só pra não ousar demais e Talha de havaianas, shortinho sem meia por baixo e um sorvete amarelo. A alegria era tamanha que arriscamos novos sabores de sorvete, como quem arriscca uma aventura amorosa.
A melhor parte foi chegar na Merrion Square e, no lugar de deserto, se deparar com um festival de soul bombante. Gente feliz, clima de paquera, gramado lotado, sol queimando a cara, competição de pernas brancas, estupidamente brancas de fora. Coisa linda. Coração chega se aqueceu. Fiquei contente, mesmo que no meu último dia, em ver que a cidade - sempre tão baixo astral - pode ter vida no lado de fora das portas e não apenas dentro dos pubs.
Foi bom ter visto isso
de perto! Se alguém me contasse, mesmo que fosse um alguém de confiança , eu ia pensar que tava de
sacanagem.
E dá-lhe verão pra meu povo!
sábado, maio 25, 2013
Amsterdam, 23 de abril
Aventura mesmo é estar em cima da linha do trem, em uma bike sem freio e
sem lanterna, com o trem buzinando atrás (podia sentir o ventinho) , carros de um lado da pista e gente gritando do
outro, na calçada. Um corte na canela, uns arranhões nas mãos e um abraço sincero de alguém que não conheço. A vida é o instante entre minha bike e o trem. Ou simplesmente um gramado frio, acolhedor e essa cerveja que bebo agora.
* papelzinho amassado e encontrado dentro do bolso da calça jeans.
sexta-feira, maio 24, 2013
25 de maio
* Carta escrita em 05 de agosto de 2012, no rascunho do gmail. Nunca te enviei e nem sei exatamente se teve motivo ou se o tempo apenas passou e passou. Hoje, teu aniversário e mais de 20 anos que nos conhecemos, lembrei da existência dela e decidi postar, mesmo sabendo que você não vai ler.
Minha querida,
Enquanto assisto ao nado sincronizado
na TV, me recordo da época em que tudo tinha gosto de leite ninho em pó
com nescau e cheiro de grama com terra. No tempo em que achávamos que
podia-se colocar as mãos no chão nas coreografias na piscina e nos
arriscávamos em uns passinhos tortos e cheios de felicidade no km 2 da Estrada de Aldeia. Nesse tempo
você insistia, com tamanha ousadia, que eu deveria ser campeã olímpica,
primeira bailarina de algum teatro importante e todas essas coisas que
eu nunca seria, nunca fui. E era com um imenso orgulho que você falava de mim para
suas amigas bailarinas, que eu dançava como nenhuma delas daquela tua escola importante no Recife. E eu morria de
medo de te decepcionar um dia. O tempo passou e os gibis foram
substituidos por livros de garota 'coisas que toda garota deve saber',
textos de agendas, depois por romances e posteriormente por livros que
eu não fiquei sabendo mais quais seriam.
E foi quando as brincadeiras de escoteiro, de bicicleta pela granja, de passeios escondidos pela mata, ensaios de quadrilha, diários escritos e secretos, aniversários, um deles com direito a cesta de guloseimas e declaração em uma faixa bem grande no meio da rua, com toda a breguice que o amor tem, carta de rolo, receitas dos livros da tuma da Mônica, bolos de cenoura, arroz, frango à milanesa e arroz (sempre), karaokê, espingarda de chumbinho, cobra de dois metros na frente da minha casa e todo o blá blá blá da infância foi guardado em uma daquelas duzentas caixas do porão da tua casa. E é quando me dá uma raiva danada de tu, raiva igual aquelas que a gente sentia quando era pequena e brigava por conta de alguma brincadeira de v ôlei ou de nome/objeto. Porque vejo que grande parte dessas coisas que vivemos, ao passo que fez com que eu me tornasse a pessoa que sou: cheia de boas lembranças da vida, se tornaram empoeiradas e lacradas. Sempre fomos tão craques em planos infaliveis e acabamos falhando no nosso próprio plano de amizade. E é quando, só pra juntar um tiquinho mais de raiva, me lembro de cenas ímpares, como fugir de missa de sétimo dia de algum amigo da tua mãe e de tio Yony pra uma festa de aniversário que tava rolando ali perto e dava pra ouvir a música, na Jaqueira, onde enrolamos o porteiro e entramos sem conhecer ninguém e so saimos depois de bater papo com os pais do garoto, comer cachorro quente e dançar sob os olhos de várias meninas com raiva da gente por estar chamando mais atenção do que elas. E foda-se quem eram elas. Ou eles. A gente queria era aventura no ápice dos 13 anos de idade.
Me lembro também de quando nadávamos no mar violento de Tamandaré até o mais distante que podíamos, até pra salvar um velhinho já mergulhamos, destemidas. Do beliscão na bunda de Virginia Cavendish e também do nosso primeiro beijo no trenzinho do parquinho em uma discoteca. DiscotEIA.
E foi quando as brincadeiras de escoteiro, de bicicleta pela granja, de passeios escondidos pela mata, ensaios de quadrilha, diários escritos e secretos, aniversários, um deles com direito a cesta de guloseimas e declaração em uma faixa bem grande no meio da rua, com toda a breguice que o amor tem, carta de rolo, receitas dos livros da tuma da Mônica, bolos de cenoura, arroz, frango à milanesa e arroz (sempre), karaokê, espingarda de chumbinho, cobra de dois metros na frente da minha casa e todo o blá blá blá da infância foi guardado em uma daquelas duzentas caixas do porão da tua casa. E é quando me dá uma raiva danada de tu, raiva igual aquelas que a gente sentia quando era pequena e brigava por conta de alguma brincadeira de v ôlei ou de nome/objeto. Porque vejo que grande parte dessas coisas que vivemos, ao passo que fez com que eu me tornasse a pessoa que sou: cheia de boas lembranças da vida, se tornaram empoeiradas e lacradas. Sempre fomos tão craques em planos infaliveis e acabamos falhando no nosso próprio plano de amizade. E é quando, só pra juntar um tiquinho mais de raiva, me lembro de cenas ímpares, como fugir de missa de sétimo dia de algum amigo da tua mãe e de tio Yony pra uma festa de aniversário que tava rolando ali perto e dava pra ouvir a música, na Jaqueira, onde enrolamos o porteiro e entramos sem conhecer ninguém e so saimos depois de bater papo com os pais do garoto, comer cachorro quente e dançar sob os olhos de várias meninas com raiva da gente por estar chamando mais atenção do que elas. E foda-se quem eram elas. Ou eles. A gente queria era aventura no ápice dos 13 anos de idade.
Me lembro também de quando nadávamos no mar violento de Tamandaré até o mais distante que podíamos, até pra salvar um velhinho já mergulhamos, destemidas. Do beliscão na bunda de Virginia Cavendish e também do nosso primeiro beijo no trenzinho do parquinho em uma discoteca. DiscotEIA.
E falo tudo isso só de ruim, pois tenho certeza que você não vai lembrar da metade dessas histórias que contei e das muitas
outras que eu poderia contar, mas isso nao me deixa chateada,
pois sei que você sempre teve uma memória ruim, além de toda sua
fuleiragem e o gene egoistinha de merda que corre em tuas veias. Tudo sempre na
hora que você quer e como você quer. Eu sei que sempre foi assim, mas
não sei se continua sendo e se sempre será. Eu sempre fiz das tripas
coração pra equilibrar meu jeito com o teu pra poder resultar no que
éramos, -Sonicas. Quem não entendeu nada, pelo visto, foi você. Não
entendeu que eu te amo mesmo assim, mesmo com todo esse desleixo de uma
vida inteira. Te amo em cada palavra de voz fina que ainda recordo e dentro
de cada espaço, o que passou e os que ficaram.
Me pergunto se hoje em
dia você ainda tem nojo de dividir o mesmo copo e me pego curiosa se
aprendeu a ouvir mais do que a chegar na eterna defensiva ou ainda se sua voz
continua maravilhosa... E percebo que pessoas que te conhecem de oi
devem saber mais dessas respostas do que eu que dividi contigo não só o
meu diário, mas a minha vida. Vejo nas fotos a mulher linda que você se
tornou, uma princesa, como sempre almejou: cabelos impecáveis, pele alva
mais do que a de Carolina Casting e magra. E é quando te digo com todas
as letras que, só de ruim, faço questão de recordar de todas as boas
coisas, quem sabe assim você, competitiva que só (tenho certeza que
nisso não mudou em nada), não toma juízo e vem aqui, pertinho de mim,
admitir (imagino que essa palavra ainda te doa) que apenas eu cumpri a
promessa de menina que você sugeriu: morarmos no Rio de Janeiro. Não
entramos pra Malhação, é verdade (ainda bem!), não virei campeão
Olímpica e você não se tornou uma cantora famosa de Ópera, e, claro, não
viramos levantadoras profissionais de vôlei (como já era de se esperar
com nossa altura de gnomo que com certeza não deve ter mudado tanto
assim). Kate winslet já não deve ser sua atriz preferida (apesar de
Rodrigo Santoro AINDA ser o que acho mais bonito de todos, ever and ever), aquele chaveirinho com a
casa de Santos Dumont que me desse, como se fosse uma coisa bem
distante da minha realidade, hoje faz parte da minha vida e de vários
finais de semana, pois meu namorado é de Petrópolis. A coleção de
areia, apesar de ainda existir, está toda maltratada e sempre que a vejo
tenho pena de jogar fora, principalmente quando olho aqueles grãos
escuros de terras tão distantes e a coleção que ficaria "uma semana na
casa de cada uma", acabou não saindo da minha.
Muita coisa mudou,
mudamos, mas uma coisa é certa, não vai mais doer, descobri que tenho
lembranças bonitas guardadas por mim e por você.
Beijos, sua vaca!
quinta-feira, maio 23, 2013
Hora de voltar
Nem voltei para o Brasil e já quero estar de volta. Não sei com que objetivo e nem quando, mas sei que quero e isso já me faz levantar da cama como se eu tivesse deixando de fazer algo para isso, nem que seja comer chicken filet a semana inteira pra economizar, mas logo em seguida dou uma risada bem óbvia já que tenho planos de gastar uns trocados com retiro artístico espiritual em Maricá no proximo mês , passagem para o carnaval de Recife e um macbook. So ai meu dinheiro já acabou faz é tempo, aliás , nem deu! Também não sei como vou voltar se antes quero fazer uma viagem pela America Latina, virar ano no Vale do Capão , comprar um skate, me matricular em um curso de inglês e ballet. Ah, isso tudo sem emprego. Mas, ainda assim, eu vou voltar. Vou voltar e vou conhecer a Bósnia, Croácia e a Sérvia . Não sei se antes ou depois do macbook. Se antes ou depois do Chile. Mas eu vou voltar, eu sinto, sabe?
Em poucos dias meu horário biológico passará a ser outro. Cinco horas de diferença e uma enxurrada de quilômetros me afastando daqui. De primeira isso me parece assustador. Como assim, né? Não tem a chance de comprar uma passagem Ryanair e estar ali do lado. Vai ter um mother fuck oceano do caralho separando 3 meses de história sem piedade alguma, como se isso fosse justo. E do nada o frio passa a ser calor. A cerveja volta a ser a mais modesta. O feijão mais gostoso. A carne, aaaah, a carne, vem que eu te quero, sua gostosa. Leo e Rafa ouvindo minhas aventuras. A cerveja gelada e mau humorada do Ze. A praia, os mergulhos, a bike. O chocolate - que volta a ser importado e caro - O cuzcuz que vira rotina mais uma vez. A feira do lado de casa dia de quinta-feira. A azeitona que nunca mais terá o mesmo gosto. O gosto das frutas e dos sucos. Um samba na Pedra do Sal com os bons. Mudar da confusão de língua para a confusão de sotaques.
E um relógio de celular por acertar - eu acordo, você dorme. você acorda e eu vou dormir.
dói e alivia. que bom poder viver tudo isso.
quarta-feira, maio 22, 2013
Deicys
O pior lugar pra sair em Dublin e, ainda assim, toda terça-feira, com ou sem chuva, a galera ta lá preenchendo todos os espaços. Todos os espaços dessa balada (a palavra balada combina com o lugar) ruim. Mas, ainda assim, no fim das contas a gente acaba indo já que não é todo dia que se bebe meio litro de guinness por 2,5 nessa terra cara de meu deus. Só na terça-feira e na Deicys.
Com a primeira guinness na mão, já começo a me perguntar o que diabos estou fazendo ali enquanto no último volume Gustavo Lima e você canta o tche tche rere tche tche e, antes que eu responda minha própria pergunta mental, sigo desesperada pra outro ambiente da boate e me deparo com todas as garotas com uma argamassa cor de laranja na cara, um sapato alto deste tamanho, uma sainha mostracú e dançando fazendo biquinho. E o pior? eu faço um bico maior ainda pra compensar o tênis, a meia de cada par diferente, o short jeans surrado e a blusinha caqué, só me sobra o bico, que não dura nem dois minutos pois os amigos não se aguentam na risada, nem eu.
No fim da pint, rola aquela vontadezinha de liberar o xixi e eis que naquela fila mais demorada que a espera pelo carnaval, você é obrigada a ouvir a colega de fila chamar a amiga de a-mi-ga. Ah, pelo amor de deus, né? amiga chamar amiga de amiga é demais pra mim. Depois de ouvir meia hora de assunto alheio entre - ele se agarrou com outra e eu preciso vomitar - você faz seu xixi bacana e volta pra comprar outra cerveja, afinal de contas, esse é o motivo pelo qual você e os seus estão ali. Acontece que no caminho entre o banheiro e o bar existem 587 cidadãos que chegam se pendurando em você. em você e na amiga. em você na amiga e em qualquer outra. todos querem todos o tempo todos, sem esse último s. mas é que é muito plural aquilo ali, muita informação.
Mas, calmae, além de toda terça-feira ao menos 5 pessoas serem furtadas por lá, o lugar ta sempre abarrotado de gente que derruba cerveja em você o tempo todo e se desculpa falando `desculpa` porque são quase todos brasileiros, meio litro de guinness custa 2,5. Ai a gente vai, né?
Mas não consigo respeitar um lugar onde um cidadão catuca minha cintura e diz - I know you! I know you de cú é rola, amigo, respondo sem me importar com sua nacionalidade e capacidade de entendimento. E, quando a gente acha que não pode piorar, o amigo do amigo de um amigo que é carioca e fica sabendo que moro por lá , me pergunta o que faço no Rio, pra onde gosto de sair e eu respondo que não sou de boate, que levo uma vida mais diurna. E então ele me diz - ah, diurna... diurna é um tipo de festa, ne? maneiro! (Meu deus do céu, pelo amor de deus me tire daqui.) Isso, é uma festa, sim... deu minha hora, vou mimbora, adeus.
Ontem foi minha última terça-feira na Deicys e foi ruim, muito ruim. Mas, sei lá... foi bom! a galera, a guinness, meio litro, 2,5...
terça-feira, maio 21, 2013
Confusão astral
sair à noite de shortinho jeans, tênis, blusinha fina e, na volta, tremendo de frio, quando vou desamarrar a meia calça da cintura no caminho do M pra Joanic, não só me dou conta de que estou na Irlanda, como percebo que a meia calça ficou em Barcelona. Eu também.
morning song
minha pele conheceu todos os espaços vazios da cama
a cama, vazia, se apoderou de toda a minha pele
essa pele, minha
(ainda)
cheia de você
a cama, vazia, se apoderou de toda a minha pele
essa pele, minha
(ainda)
cheia de você
segunda-feira, maio 20, 2013
segunda-feira, maio 13, 2013
Dipois
A Brecht
Ordinários daqueles que te têm todos os dias pelas ruas, no banco, elevador, farmácia e não te sabem. Aqueles que tem têm hoje na frente da universidade, amanhã na fila do banheiro, agorinha mesmo cruzando de bike e daqui a uma semana entre uma prateleira e outra do supermercado. Entre laranjas e lulas dorê congeladas. Ordinários daqueles que te esbarram, pedem desculpas, por favor, dá lincença e não te sabem. Te perguntam as horas, se queres com açúcar, te dão o troco, encostam dedo com dedo e não te sabem. Daqueles que te pedem uma informação, te dizem não com um aperto de mão, te pedem um trocado - negado - e não te sabem. Ordinários que te tomam uma caneta emprestada, te veem tropeçar na calçada, sentam ao teu lado - veja bem - ao teu lado no metrô e não te sabem.
E à mim, que te sei, te digo e te repito, só me resta este texto. Este texto quase bonito.
Ordinários daqueles que te têm todos os dias pelas ruas, no banco, elevador, farmácia e não te sabem. Aqueles que tem têm hoje na frente da universidade, amanhã na fila do banheiro, agorinha mesmo cruzando de bike e daqui a uma semana entre uma prateleira e outra do supermercado. Entre laranjas e lulas dorê congeladas. Ordinários daqueles que te esbarram, pedem desculpas, por favor, dá lincença e não te sabem. Te perguntam as horas, se queres com açúcar, te dão o troco, encostam dedo com dedo e não te sabem. Daqueles que te pedem uma informação, te dizem não com um aperto de mão, te pedem um trocado - negado - e não te sabem. Ordinários que te tomam uma caneta emprestada, te veem tropeçar na calçada, sentam ao teu lado - veja bem - ao teu lado no metrô e não te sabem.
E à mim, que te sei, te digo e te repito, só me resta este texto. Este texto quase bonito.
sábado, maio 11, 2013
Risoflora
Uma vez que se escolhe como estilo de vida sair de sí pra ir aos outros - pisos, pessoas, gostos, sensações - despedidas passam a ser companheiras de trajetória, caminham juntas à essa decisão. Conhecer o outro, o novo, é sempre gratificante, eleva a alma, colore o peito, dá sentido a isso que a gente chama de vida e que é tão mais grandiosa do que quatro letras de um alfabeto de 26.
Na teoria é bem simples, pensamento fechado, mas apesar de ter escolhido ser assim desde o instante em que saí de minha terra natal, as despedidas foram constantes e a elas eu não consigo me acostumar, não tem jeito. Não consigo contar quantas vezes já me despedi da minha mãe, do meu pai, dos meus irmãos e amigos, e aquela dorzinha no peito, invariavelmente, sempre chega.
Na teoria é bem simples, pensamento fechado, mas apesar de ter escolhido ser assim desde o instante em que saí de minha terra natal, as despedidas foram constantes e a elas eu não consigo me acostumar, não tem jeito. Não consigo contar quantas vezes já me despedi da minha mãe, do meu pai, dos meus irmãos e amigos, e aquela dorzinha no peito, invariavelmente, sempre chega.
É tão difícil só dizer byebye, see you, sorrisos e mão em movimento rápido da esquerda para a direita querendo mostrar que jájá a gente se encontra novamente. E, mesmo que esse até logo tenha um costume medonho de demorar tanto, sempre acaba passando rápido, pois quando se tem certeza "de", o quanto não importa. Tempo não importa. quilômetros não contam. Coração não tem a mínima ideia quanto a existência de números cardinais e ordinais, ele palpita de acordo com os estímulos que recebe e, em se tratando de amor, ele vai bem demais.
Minha irmã, minha galega, meu amor, se pra cada vez que eu te encontrar eu tiver que passar pela dorzinha do tchau, eu o faço trezentos e oitenta vezes. E a essa dorzinha - característica de quem se joga e não teme o balançado da vida - eu não quero me acostumar é nunca.
Te amo. Desde o dia, 9 anos atrás, em que estávamos sentadas no chão, uma de frente pra outra, conversando apenas com a linguagem do olhar e do tato, como duas crianças descobrindo a existência do outro, do novo.
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| Londres, maio de 2013 |
quarta-feira, maio 08, 2013
Timing
Quando ele disse finalmente estar apaichonado, minha paixão finalmente foi-se embora.
pra mamãe e suas aventuras antigramaticamorosas.
pra mamãe e suas aventuras antigramaticamorosas.
sexta-feira, abril 26, 2013
Sobre pontes, cadeados e bicicletas
| Paris |
Nada contra os casais apaixonados (ou não) que selam seu amor 'eterno' em uma ponte de Paris. Apesar de me perguntar quantos deles ainda permanecem juntos 'além cadeado', que é ad infinitum, não quero parecer descrente com o amor, muito pelo contrário, algumas vezes até penso que roubei o posto de último romântico do Lulu Santos.
Romântico mesmo é colocar sua garota no bagageiro enquanto ela te agarra a cintura e cheira teu cangote, selando ali o sentimento bom, o amor (ou o que quer que o valha), apenas com os movimentos das mãos, sem chave e cadeado. Sem palavras, sem nada.
Torre Eiffel em sí não é romântica, receber um postal de lá, sim.
O romantismo não é rico e nem carece de luvas (mesmo que não esteja frio) pra sair bem no registro do instagram para os colegas verem e darem um like na sua pseudo felicidade deprimente.
Paris, seus postes, o rio Sena e até aquela estrutura giga de ferro podem ser românticas.
Paudalho também.
| Amsterdam |
quarta-feira, abril 24, 2013
Em todo lugar
Pudera eu em um só trago te fumar
E depois ir te soltando aos poucos
Te vendo em estado gasoso
Partir com o vento da cidade
Pra onde quiseres ir
Malemolente e sem amarras
Pudera eu
E depois ir te soltando aos poucos
Te vendo em estado gasoso
Partir com o vento da cidade
Pra onde quiseres ir
Malemolente e sem amarras
Pudera eu
quinta-feira, abril 18, 2013
Barça - 16.04.13
Se eu pudesse comer lugares, antes eu lamberia Barcelona inteira. Percorreria a língua por todas as esquinas, postes, ladrilhos, chafarizes, pessoas, plantas, monumentos, pitocos de rua. Como não posso, lambo os segundos, engulo e fico grávida de instantes. Quero parir não. Nem partir, Paris.
--
quarta-feira, abril 03, 2013
domingo, março 24, 2013
Da maior importância
Tantas vezes, em algumas situações, por entendê-las bem, eu tenho algo a acrescentar, uma boa resposta ou uma piada que seja e elas simplesmente passam batido por não saber falar aquilo em inglês ou porque aquela expressão não existe em inglês. Ou ainda porque a maneira que consigo explicar é tão tosca que vai demorar pra pessoa entender, e ai o instante passa de piada para uma baita chatice carregada de responsabilidade de entendimento: tanto do interlocutor quanto do ouvinte. E também, nada mais deprimente que traduzir piada da própria língua para a língua alheia, principalmente quando não se tem o domínio da mesma.
É engraçado isso: aquelas pessoas bebem cerveja comigo, me acham bacana, simpática e bonita. Uma ou outra pesca fragmentos de minha essência, mas pouco provável que saibam quem de fato eu sou.
É difícil mostrar quem se é sem palavras.
sábado, março 23, 2013
Love is uncountable?
A Jorge
Hoje a minha saudade escorreu todinha e molhou meu corpo em estado de lágrimas, frias. Meu feijão salgou, o chocolate acabou e as lições se mostram difíceis pra mim. Minha poesia anda sem rima, sem nexo. E hoje eu te amo da maneira mais dura que se é possível para um sábado a tarde: através de projeções mentais chamadas lembranças. Mastigo e engulo tua foto pra ver se preenche esse vazio de você. Jogo minhas mãos no balãozinho da memória pra te pegar, você escapa e volta e fica, finca flor no meu peito, que brota. Vira árvore saindo pela minha boca, cheia de arestas pra me abraçar. É quando me sinto grande, me sinto plena, mesmo sendo tão pequenina assim.
E então me enfio a contragosto dentro da blusa retrô-bufenta do flamengo e do samba canção que tá logo alí em cima, enquanto você, deitado e sorrindo, me chama. Mesmo sem usar uma só palavra.
Love is uncountable?
segunda-feira, março 11, 2013
domingo, março 10, 2013
Behind brown eyes
- Seus olhos são muito, muito bonitos.
- Você acha isso por não serem azuis, como os de vocês.
- Não, não é por isso. Os delas não são azuis e não são tão bonitos.
Os seus são bonitos porque você tá logo atrás deles.
- Você acha isso por não serem azuis, como os de vocês.
- Não, não é por isso. Os delas não são azuis e não são tão bonitos.
Os seus são bonitos porque você tá logo atrás deles.
sábado, março 09, 2013
amizade
sexta-feira, março 08, 2013
terça-feira, março 05, 2013
sour(weet) home
when your home is a hot shower on the hostel and two photographs on the wallet
Desafio pra mim: escrever em inglês mesmo que errado
Desafio pra quem lê: escrever certo a frase que escrevi errado
segunda-feira, março 04, 2013
before the dream
Não sou maluca ou finjo que estou dormindo:
Apenas fecho os olhos pra te enxergar melhor e mais pertinho
domingo, março 03, 2013
quarta-feira, fevereiro 27, 2013
First Day
Lá fora faz um frio danado. Aqui por dentro tem nevoeiro na maioria das horas, mas então te sinto e faz sol. Quentinho como um amor tranquilo e recém chegado. Com cara de cama desfeita e lençol por dobrar.
segunda-feira, fevereiro 25, 2013
Prévia
Me ocorreu que o adiar pra fechar a
mala foi um código que meu coração criou pra mostrar que ainda
falta tempo pra não mais te ver, pra esse hiato, pra morrer de
saudade. E quanto mais próximo fica, mais jogo alguma coisa alí por
cima enquanto penso simultaneamente que é preciso organizar de uma
vez os próximos meses em uma mala grande e outra média. Minha mãe
pergunta com ar de repreensão se não está faltando fazer mais nada
quando eu, ao invés de pegar a mochila, guardar a câmera, organizar
os fios, os cards, o netbook, fico praticando a procrastinação nas
horas e cinicamente respondo que 'não falta mais nada.' E completo
com um 'ao menos nada que eu possa fazer em um domingo à noite,
amanhã vou comprar uns dólares'. O bom desse blog é saber que ela
lê tudo, tudinho e cheia de amor que é, sempre perdoa minha
sinceridade e deve até dar umas boas risadas por saber que me
conhece tanto.
Mas eu também a pego na mentira vez por outra. É uma
espécie de mentira autorizada, que não faz mal se for descoberta,
pelo contrário, foi feita para ser desmascarada com todo o carinho.
Ainda ontem ela disse pra Júlia que tudo que ela tem pra me
escrever, ela escreve direto no meu coração. Menos de duas horas
depois estava me fazendo a declaração de amor mais linda,
cheinha de palavras, lágrimas e amor. Ela fala sim e tem uma voz
linda. A gente se parece sempre e como nunca. Mas na verdade esse
texto não é para ela, é para você.
Pra você que chegou varrendo tudo, passando pano e desinfetante no meu chão. Que chegou junto. Nem de baixo e nem de cima, de lado: como tem que ser. Não deu espaço e tempo pra mais ninguém. Segurou forte na minha mão e foi simbora ver a vida. Sem temer. Eu lembro que no início acreditei piamente e até te disse que tudo aquilo era a maneira que você havia arrumado para tapar qualquer projeto de buraco já existente 'Tá tudo errado, tudo errado', eu insistia. Só depois me ocorreu que buraco mesmo seria se eu não ficasse. Buraco e burrice. Fiquei, fico.
Com amor, Carlinha.
O texto tem jeito de inacabado e foi de caso pensado. Esse negócio de fim não tá com nada. Ainda tenho muito pra te falar, e, mais que isso: pra te olhar - na vida.
Pra você que chegou varrendo tudo, passando pano e desinfetante no meu chão. Que chegou junto. Nem de baixo e nem de cima, de lado: como tem que ser. Não deu espaço e tempo pra mais ninguém. Segurou forte na minha mão e foi simbora ver a vida. Sem temer. Eu lembro que no início acreditei piamente e até te disse que tudo aquilo era a maneira que você havia arrumado para tapar qualquer projeto de buraco já existente 'Tá tudo errado, tudo errado', eu insistia. Só depois me ocorreu que buraco mesmo seria se eu não ficasse. Buraco e burrice. Fiquei, fico.
Com amor, Carlinha.
O texto tem jeito de inacabado e foi de caso pensado. Esse negócio de fim não tá com nada. Ainda tenho muito pra te falar, e, mais que isso: pra te olhar - na vida.
quinta-feira, fevereiro 21, 2013
Um solavanco na vida
Pode parecer maluquice isso que vou dizer agora e de fato deve mesmo ser: ando com alergia à noite. Escurece e logo começo a me coçar toda. Eu sei que o nome disso ultrapassa calor ou mesmo alergia. Ultrapassa remédios pra curar, o nome disso é ansiedade. Aquele negócio que eu tenho de sobra naturalmente, imagine quando tenho motivo para tal. Em um mês organizei uma viagem de meses para outro país, pra um país que não conheço: nem ele e nem sua redondeza. Minha primeira vez de Europa e também o meu primeiro intercâmbio. O normal seria procurar uma agência e fechar um pacote, mas e quem disse que existe normalidade dentro do meu pequeno ser? Acabei fazendo e organizando tudo por conta própria e quando digo por conta própria eu quero falar tudo: de cada centavinho gasto à passagem, hospedagem, seguro viagem, visto, mala, etc e tal.
Faltando menos de uma semana para o grande dia, finalmente paro e respiro um ar aliviado de "finalmente está tudo pronto, do grande aos detalhes mais bobos como remédios e alicate para unha". Mas e quem disse que isso faz diminuir a ansiedade? Acho que só aumenta, pois agora tenho tempo de sobra (já que até a viagem eu possuo 24 horas de almoço por dia) pra pensar as asneiras que for. Bem sei que a ansiedade, no fundo, é de tudo ao mesmo tempo e não só da viagem. Um acúmulo de sentimentos. Do 360 que minha vida deu nos últimos meses e que eu não me dei o tempo devido de digerir e viver intensamente cada situação, mesmo as de dor. Ou como diz minha mãe: meu sofrimento segue até a página 3. "lerdo" engano. Uma hora tudo isso explode, nem que seja em coceiras.
Simplesmente me deixei levar pela vida e cá estou, pronta pra mais um looping. Apesar de ter decidido tudo muito rápido, na verdade essa é uma viagem que eu já me devia fazia muito tempo. É necessário dar um solavanco nesse meu inglês fuleiro e viajar é sempre bom, pra todo mundo: meses fora de tudo e de todos, em uma cultura diferente, sabores e cheiros estranhos, novos perrengues, nova língua. Tudo vale pra se encontrar, se conhecer mais, se respeitar, e, claro, aprender. Aprender muito. Curiosa como sou não duvido voltar ensinando as dancinhas típicas e/ou com várias receitas de lamber a pia. Como disse um sábio amigo: 'Você vai aprender muitas coisas nessa viagem e inglês é só uma delas'.
Bom, enquanto isso terei de conviver com esse vácuo entre o que foi e o que será. Com essas dúvidas todas: como será a cidade, como serão as pessoas, como será a escola, como será a comida, como será passar tanto frio, quando será que arrumo emprego, será que vou conhecer Berlim ou Barcelona antes de Londres e etc. É tanta questão que tenho medo de me privar do presente pra antecipar situações no fundo falso de minha cabecinha. Mesmo que o presente até lá seja de apenas 4 dias.
Parafraseando a expressão que andam falando pelas redes sociais:
Eu sempre fui ansiosa, mas esse mês eu tô de parabéns.
'doce, que seja doce, que seja doce, que seja doce.'
Faltando menos de uma semana para o grande dia, finalmente paro e respiro um ar aliviado de "finalmente está tudo pronto, do grande aos detalhes mais bobos como remédios e alicate para unha". Mas e quem disse que isso faz diminuir a ansiedade? Acho que só aumenta, pois agora tenho tempo de sobra (já que até a viagem eu possuo 24 horas de almoço por dia) pra pensar as asneiras que for. Bem sei que a ansiedade, no fundo, é de tudo ao mesmo tempo e não só da viagem. Um acúmulo de sentimentos. Do 360 que minha vida deu nos últimos meses e que eu não me dei o tempo devido de digerir e viver intensamente cada situação, mesmo as de dor. Ou como diz minha mãe: meu sofrimento segue até a página 3. "lerdo" engano. Uma hora tudo isso explode, nem que seja em coceiras.
Simplesmente me deixei levar pela vida e cá estou, pronta pra mais um looping. Apesar de ter decidido tudo muito rápido, na verdade essa é uma viagem que eu já me devia fazia muito tempo. É necessário dar um solavanco nesse meu inglês fuleiro e viajar é sempre bom, pra todo mundo: meses fora de tudo e de todos, em uma cultura diferente, sabores e cheiros estranhos, novos perrengues, nova língua. Tudo vale pra se encontrar, se conhecer mais, se respeitar, e, claro, aprender. Aprender muito. Curiosa como sou não duvido voltar ensinando as dancinhas típicas e/ou com várias receitas de lamber a pia. Como disse um sábio amigo: 'Você vai aprender muitas coisas nessa viagem e inglês é só uma delas'.
Bom, enquanto isso terei de conviver com esse vácuo entre o que foi e o que será. Com essas dúvidas todas: como será a cidade, como serão as pessoas, como será a escola, como será a comida, como será passar tanto frio, quando será que arrumo emprego, será que vou conhecer Berlim ou Barcelona antes de Londres e etc. É tanta questão que tenho medo de me privar do presente pra antecipar situações no fundo falso de minha cabecinha. Mesmo que o presente até lá seja de apenas 4 dias.
Parafraseando a expressão que andam falando pelas redes sociais:
Eu sempre fui ansiosa, mas esse mês eu tô de parabéns.
'doce, que seja doce, que seja doce, que seja doce.'
terça-feira, fevereiro 05, 2013
Quando você demorou a voltar e endoideceu todo mundo
E todas as pessoas que eu corria as vistas e enxergava trajando blusa listrada de verde, eu morria de raiva e só depois vinha o alívio e a alegria do encontro . Logo depois, quando me ocorria que não era você, a raiva que eu sentia se transformava em uma maior ainda (só que dessa vez de mim), por perceber que senti primeiro a raiva pra depois sentir o alívio e a alegria.
Algumas vezes o ser humano é ser humano até demais, o tempo todo, até (ou principalmente) nessas horas.
Mas quando você entrou por essa porta, o alívio e a alegria foram tão enormes que eu só fiquei com raiva uma fração de segundo depois. E por pura necessidade de mostrar o meu alívio e a minha alegria.
Nós: seres que somos tão humanos.
Não me faça mais isso!
Algumas vezes o ser humano é ser humano até demais, o tempo todo, até (ou principalmente) nessas horas.
Mas quando você entrou por essa porta, o alívio e a alegria foram tão enormes que eu só fiquei com raiva uma fração de segundo depois. E por pura necessidade de mostrar o meu alívio e a minha alegria.
Nós: seres que somos tão humanos.
Não me faça mais isso!
quarta-feira, janeiro 30, 2013
uncountable
o amor é feito de uma fibra bem firme que é feita de zilhões de outras fibrinhas que a gente não pode ver e muito menos contar. Por isso que a gente diz, quando ama muito, que ama demais da conta.
minúsculo
hoje tá tudo tão vazio. tão silêncio. tão frio - mesmo com o sol tímido
da janela da sala - hoje eu tô outra, mesmo sendo aquela velha
carlinha de sempre. hoje ficou tudo muito mais duro, maduro e seco. hoje
você não quer falar comigo nunca mais, como se eu merecesse isso. e como se eu merecesse isso eu choro, tentando discernir o que fui do que
sou, pra buscar o pior de mim, o motivo pra essas frases tão curtas,
diretas e sem cheiro, gosto ou cor. menos do que cinza. mas me vejo
igual, tão igual que chega me assusto. e tento então separar a culpa da
desculpa. tento entender a mais tanta coisa de menos. todas essas coisas
a menos que você faz questão de mostrar que é o que restou pra mim. e eu vejo assim: restos imensos.
sábado, janeiro 26, 2013
no coração
Textinho pra mim com cheirinho de saudade boa.
Por Clara Arôxa
Bailarina,
Eu poderia descrever direitinho a alegria que é te ver em um dia enluarado: você, a doida das lantejoulas, transbordando em sorriso e eu, a doida dos Quatro Cantos, abrindo todos os abraços do infinito para reunirmos todas as delícias de ser. Sabe, eu poderia, inclusive, tornar público teu frevar, a delicadeza das tuas passadas fortes, de sombrinha reta e ritmo nas veias. É tão bonito, bailarina. É tão bonito ser platéia quando colocas tua alma para girar, girar, girar até que ela cresça dez centímetros pra aguentar o tanto de poesia que foi construída durante a dança. Eu até falaria daquele dia que tu me emprestasse o par de asas quando as minhas estavam naquele estado em que nem sobe e nem desce – foi lindo, coisa de quem ama. Aí também eu falaria no dia em que retirei as asas e pus em cima da tua sapatilha, com o recado: moça bonita, apare as mãos para não se entregar. Acho que deveria te falar, refalar, rerefalar o quanto te quero bem, mas talvez o discurso soasse um pouco repetitivo e coisa de coração a gente diz em abraço, em mão na mão. As palavras, as tais das palavras, que nos mostram ninhos, seriam apenas roupagem de uma essência que nua, por si só, já brilha. Isso, bailarina, deixa eu te falar do teu brilho, dos teus cachos, da beleza que é tão, ah, já repeti isso, em voz alta até. E os segredos dos teus cachos não cabem em simples linhas minhas, muito menos em rodopios teus, vão se enrolando com a vida e vida, a gente sabe, é coisa que brota. Eu queria te falar da sede, da chuva, dos carnavais, dos risos e da quantidade de lágrimas, no entanto, isso daria páginas e páginas de um texto cheiroso de lembrança.
Vou ficar aqui, bailarina, poetizando o nosso próximo abraço.
Vai, bailarina, dança! Brilha! Rodopia!
Eu te amo
Ciúme
Agora eu posso divulgar!
Poesia minha e uma das vencedoras do 25º Festival de Poemas de Cerquilho (FEPOC), com direito a noite de premiação no Theatro Municipal de Cerquilho - SP.
Ciúme é quando o
coração aperta a garganta
São resquícios de
uma experiência que não foi bacana
Uma pergunta infeliz
fora de hora
Um palpite, uma
demora
Ciúme são duas
retas paralelas
Ciúme é assistir
muita novela
Um enxame, um vexame
Ciúme são palavras
que falamos sem lembrar
Ciúme é um pano
preto defronte aos olhos e
Um microfone na voz
É murro na parede
Dente travado
Uma arrumação
feita no quarto para se acalmar
Ciúme são lágrimas
sem choramingo
Uma ressaca de
domingo e
Um pé que não
arreda
Ciúme é palito
cutucando o peito
Uma espécie de
defeito
Uma geléia sem
açúcar
Ciúme é uma
danação
Uma loucura
É mais daninho que
amor ou que ternura
Ciúme é um ouvido
tampado e
Uma boca envenenada
Ciúme são
expressões presas e pesadas
São farpas
Um cardume que te
empurra
Num precipício sem
ajuda
Ciúme é feito apenas pra fazer poesia e pronto, ponto
![]() |
| vôvô todo orgulhosinho |
sexta-feira, janeiro 25, 2013
dos aprendizados
Um monte de coisa pode ser diferente, mas uma não adianta forçar: gente de espírto livre precisa de gente de espírito igualmente livre pra fluir. Caso contrário apodrece, amarga ou no mínimo vive pra se esconder.
quarta-feira, janeiro 23, 2013
Sol na casa 11, lua na casa 4
A Jorge
É tarde da noite e uma réstia de luz clareia teu rosto em tom amarelo velho. E em pequenas nuances, o ambiente impregnado de você indica pretender ficar cheio de mim. Para que eu possa durar mais que algumas horas aqui, me prolongando em cheiros e retratos quase que palpáveis no instante de depois: no ínterim da solidão secreta e silenciosa de tua cama já fria.
É tarde da noite e uma réstia de luz clareia teu rosto em tom amarelo velho. E em pequenas nuances, o ambiente impregnado de você indica pretender ficar cheio de mim. Para que eu possa durar mais que algumas horas aqui, me prolongando em cheiros e retratos quase que palpáveis no instante de depois: no ínterim da solidão secreta e silenciosa de tua cama já fria.
- Não tem mais jeito, é o que penso. E feito correnteza escorrego
nesses olhinhos-rasgados-castanhos que mais parecem um campo de futebol de cidade de interior batidinho de terra em dia de chuva - vasto - enquanto permito que
descubras os meus também, bem lentamente, antes do teu peito aberto em flor me receber para um sono tranquilo.
É que
agora o amor, este que em mim brota, não só carece, como semeia
adormecer em paz - pra germinar.
segunda-feira, janeiro 21, 2013
dia de segunda
Para mim
Por Ana de Biase
... e nas segundas, as primeiras meninas se espreguiçam vendo tudo nublado -mesmo se o sol brilha e a chuva não cai- porque acreditam que nada pode ser divino maravilhoso nesse dia! Mas a Menina Borboleta, que hesita em voar nesta manhã (apenas hesita), porque a dúvida faz parte da sua própria natureza inquieta, olha para uma flor do seu imaginario e começa a se alegrar (voluvel que é)... Daí em diante, mesmo quieta, fotografa na retina detalhes coloridos de sonhar acordada! Mexe o pé sacode o cabelo, respira fundo e se delicia com um som suave, que só existe dentro dos seus sentimentos que começam a despertar feericamente. Porque nada nessa ninfa é para sempre; efemera, delicada e sutil quando triste; a cada recomeço ela brilha, como louca, dança, canta e encanta. E voa!
Por Ana de Biase
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| imagem internet |
... e nas segundas, as primeiras meninas se espreguiçam vendo tudo nublado -mesmo se o sol brilha e a chuva não cai- porque acreditam que nada pode ser divino maravilhoso nesse dia! Mas a Menina Borboleta, que hesita em voar nesta manhã (apenas hesita), porque a dúvida faz parte da sua própria natureza inquieta, olha para uma flor do seu imaginario e começa a se alegrar (voluvel que é)... Daí em diante, mesmo quieta, fotografa na retina detalhes coloridos de sonhar acordada! Mexe o pé sacode o cabelo, respira fundo e se delicia com um som suave, que só existe dentro dos seus sentimentos que começam a despertar feericamente. Porque nada nessa ninfa é para sempre; efemera, delicada e sutil quando triste; a cada recomeço ela brilha, como louca, dança, canta e encanta. E voa!
sábado, janeiro 19, 2013
carnavale
carnaval é purpurina que gruda no lado de dentro do peito e demora dias, às vezes meses pra ir embora.
Criando fôlego e coragem para apertar o danado do Play. Tô numa dúvida... quero não me dá.
Criando fôlego e coragem para apertar o danado do Play. Tô numa dúvida... quero não me dá.
sexta-feira, janeiro 18, 2013
terça-feira, janeiro 15, 2013
Menina do Rio
Aqui também tem espaço para os textos escritos para moi.
Por Amanda Borba (umarosaparajoao.blogspot.com)
'No começo, a moça sorria e seus dentes brancos em nada resplandecia em
minha vida. Havia um carinho sim; um singelo bem-querer que acompanhava
suas letras. Palavras doces vindas direto do coração era o perene dos
seus textos. Linhas de vida acrescidas de um além-cotidiano, esse a mais
que permite ver poesia no que nos cerca, o que diferencia o cidadão
comum do escritor.
Agora seus textos têm a vida andando em corpo físico: pernas, mãos e
braços longos que dão movimento ao conteúdo da moça. Seu balanço é
cadenciado e cadente. Ela toca o mundo numa molecagem sem tamanho ou num
tamanho que não cabe nesse mundo pequeno que leva em si; esse mundo
pequeno que nunca será menor. Essa largura de esperança que carrega nos
olhos brilhantes, que muitas vezes chegam antes das palavras. Esse olhar
real; esse olhar que não mente mesmo que quisesse. Essa verdade de
menina que me conquistou.
à Carlinha Alencar, com um carinho que não cabe na imaturidade de minhas letras.'
quinta-feira, janeiro 10, 2013
As inquietas
Mesmo você morando nesse Recreio que é mais longe que São Paulo e que dificulta o encontro pra falarmos de um livro que já lemos faz meses, mesmo que você faça uma sucessão de fuleragens em série feito tiroteio, e mesmo que você leia um convite de ontem como se fosse pra hoje (e não comparece nem no de ontem e nem no de hoje) por causa disso e aquilo e aquilo outro, não se preocupe: não vou te jubilar do meu coração, assim mesmo, bem brega, exatamente como somos defronte a uma máquina de karaokê instalada no boteco mais sujo da região. Brega e felizes.
Acabei de ler teu e-mail e fui invadida por uma saudade gostosa da tua alegria lilás, teu cabelo claro esvoaçando na rua e tua voz espevitada que emenda um assunto no outro - ou que explica um mesmo assunto por horas, horas ricas em detalhes teus.
Acho que tá fazendo um ano que me pedisse em amizade e eu achei isso uma das coisas mais corajosas e lindas do mundo. Em poucas horas lá estávamos nós duas colocando o assunto de uma vida inteira em dia antes que a sessão de cinema começasse. Mas na verdade, foi dentro daquela sala tão pequena que nos reconhecemos uma na outra: a cumplicidade do silêncio e as lágrimas enxugadas na hora de levantar. Depois desse dia foi como em início de namoro: uma alegria e surpresa a cada encontro. E sem o mínimo de esforço para tal, eu ganhei uma amiga, ou, como dizia um poeta maior: 'amigos a gente não faz, amigos a gente reconhece.' E eu te reconheci naquele instante de abraço ou ainda quando falasse que nossos cabelos eram iguais, só que o meu era mais bonito. Quanta tolice, pra falar uma coisa dessas só mesmo sendo do lado de cá do meu coração.
Um beijo. O abraço eu só dou ao vivo!
quarta-feira, janeiro 09, 2013
Preparando o salto
Essa foto é tão explícita quanto a natureza dele que chega me tomou de assalto. Passei longos minutos observando em detalhes: o fundo azul, a expressão da boca, a posição dos braços, o cabelo salgado e a aurea iluminada, lúcida, limpa e distraída.
Entre tantas coisas que ele é e que ainda vai ser, tem uma que nunca escapa, que nunca muda, desde menino miúdo: um voo livre.
E decerto veio dele a parte que eu mais gosto em mim.
terça-feira, janeiro 01, 2013
para amanhecer
a noite foi-se embora com o céu em um tom de azul que não tem nome. E enquanto eu mentalizava algumas coisas aleatórias, um desejo específico batia direto da mente para o coração: você ali do meu ladinho naquele instante.
sobre o tamanho do tanto de amor eu não saberia dizer
Esse silêncio
enorme que nunca doeu tanto é a prova disso. Uma calmaria sem tamanho.
Uma maré rasa de olhares que não se lembram. Te amar era de longe uma
das coisas mais fáceis que já me aconteceu na vida. a alegria de um
encontro na rua como se não conhecesse o outro, se
escondendo, se encontrando, se percebendo, correndo, sorrindo e dando o
pulo mortal de peito com peito. O sabor do abraço apertado e do beijo no meio da rua pra esquecer do trânsito caótico do dia.
Tinha cheiro de jasmim e de dama da noite. Tinha a leveza de uma volta pra casa pendurada na tua carcunda e a impressão de que a rua era toda nossa, com seu cheiro de pão na chapa e casa da gente.
Te amar era como conhecer a mim mesma: era mistério e ousadia mas não doia. Te amar era uma espécie de presente, o maior presente do mundo, um presente que nunca mudava mesmo que já estivéssemos em janeiro ou abril. Te amar era te contar mil vezes isso por gestos. por poucas palavras. por letras, várias. Te amar era te mostrar tudo e nada por lágrimas.
Daquilo que não tem nome. Daquilo que não se explica: você foi e vai continuar sendo pra mim a coisa mais bonita e rica. Feliz ano novo pra você, dessa vez sem chuvas!
Tinha cheiro de jasmim e de dama da noite. Tinha a leveza de uma volta pra casa pendurada na tua carcunda e a impressão de que a rua era toda nossa, com seu cheiro de pão na chapa e casa da gente.
Te amar era como conhecer a mim mesma: era mistério e ousadia mas não doia. Te amar era uma espécie de presente, o maior presente do mundo, um presente que nunca mudava mesmo que já estivéssemos em janeiro ou abril. Te amar era te contar mil vezes isso por gestos. por poucas palavras. por letras, várias. Te amar era te mostrar tudo e nada por lágrimas.
Daquilo que não tem nome. Daquilo que não se explica: você foi e vai continuar sendo pra mim a coisa mais bonita e rica. Feliz ano novo pra você, dessa vez sem chuvas!
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