* Carta escrita em 05 de agosto de 2012, no rascunho do gmail. Nunca te enviei e nem sei exatamente se teve motivo ou se o tempo apenas passou e passou. Hoje, teu aniversário e mais de 20 anos que nos conhecemos, lembrei da existência dela e decidi postar, mesmo sabendo que você não vai ler.
Minha querida,
Enquanto assisto ao nado sincronizado
na TV, me recordo da época em que tudo tinha gosto de leite ninho em pó
com nescau e cheiro de grama com terra. No tempo em que achávamos que
podia-se colocar as mãos no chão nas coreografias na piscina e nos
arriscávamos em uns passinhos tortos e cheios de felicidade no km 2 da Estrada de Aldeia. Nesse tempo
você insistia, com tamanha ousadia, que eu deveria ser campeã olímpica,
primeira bailarina de algum teatro importante e todas essas coisas que
eu nunca seria, nunca fui. E era com um imenso orgulho que você falava de mim para
suas amigas bailarinas, que eu dançava como nenhuma delas daquela tua escola importante no Recife. E eu morria de
medo de te decepcionar um dia. O tempo passou e os gibis foram
substituidos por livros de garota 'coisas que toda garota deve saber',
textos de agendas, depois por romances e posteriormente por livros que
eu não fiquei sabendo mais quais seriam.
E foi quando as brincadeiras de escoteiro, de bicicleta pela granja, de passeios escondidos pela mata, ensaios de quadrilha, diários escritos e secretos, aniversários, um deles com direito a cesta de guloseimas e declaração em uma faixa bem grande no meio da rua, com toda a breguice que o amor tem, carta de rolo, receitas dos livros da tuma da Mônica, bolos de cenoura, arroz, frango à milanesa e arroz (sempre), karaokê, espingarda de chumbinho, cobra de dois metros na frente da minha casa e todo o blá blá blá da infância foi guardado em uma daquelas duzentas caixas do porão da tua casa. E é quando me dá uma raiva danada de tu, raiva igual aquelas que a gente sentia quando era pequena e brigava por conta de alguma brincadeira de v ôlei ou de nome/objeto. Porque vejo que grande parte dessas coisas que vivemos, ao passo que fez com que eu me tornasse a pessoa que sou: cheia de boas lembranças da vida, se tornaram empoeiradas e lacradas. Sempre fomos tão craques em planos infaliveis e acabamos falhando no nosso próprio plano de amizade. E é quando, só pra juntar um tiquinho mais de raiva, me lembro de cenas ímpares, como fugir de missa de sétimo dia de algum amigo da tua mãe e de tio Yony pra uma festa de aniversário que tava rolando ali perto e dava pra ouvir a música, na Jaqueira, onde enrolamos o porteiro e entramos sem conhecer ninguém e so saimos depois de bater papo com os pais do garoto, comer cachorro quente e dançar sob os olhos de várias meninas com raiva da gente por estar chamando mais atenção do que elas. E foda-se quem eram elas. Ou eles. A gente queria era aventura no ápice dos 13 anos de idade.
Me lembro também de quando nadávamos no mar violento de Tamandaré até o mais distante que podíamos, até pra salvar um velhinho já mergulhamos, destemidas. Do beliscão na bunda de Virginia Cavendish e também do nosso primeiro beijo no trenzinho do parquinho em uma discoteca. DiscotEIA.
E foi quando as brincadeiras de escoteiro, de bicicleta pela granja, de passeios escondidos pela mata, ensaios de quadrilha, diários escritos e secretos, aniversários, um deles com direito a cesta de guloseimas e declaração em uma faixa bem grande no meio da rua, com toda a breguice que o amor tem, carta de rolo, receitas dos livros da tuma da Mônica, bolos de cenoura, arroz, frango à milanesa e arroz (sempre), karaokê, espingarda de chumbinho, cobra de dois metros na frente da minha casa e todo o blá blá blá da infância foi guardado em uma daquelas duzentas caixas do porão da tua casa. E é quando me dá uma raiva danada de tu, raiva igual aquelas que a gente sentia quando era pequena e brigava por conta de alguma brincadeira de v ôlei ou de nome/objeto. Porque vejo que grande parte dessas coisas que vivemos, ao passo que fez com que eu me tornasse a pessoa que sou: cheia de boas lembranças da vida, se tornaram empoeiradas e lacradas. Sempre fomos tão craques em planos infaliveis e acabamos falhando no nosso próprio plano de amizade. E é quando, só pra juntar um tiquinho mais de raiva, me lembro de cenas ímpares, como fugir de missa de sétimo dia de algum amigo da tua mãe e de tio Yony pra uma festa de aniversário que tava rolando ali perto e dava pra ouvir a música, na Jaqueira, onde enrolamos o porteiro e entramos sem conhecer ninguém e so saimos depois de bater papo com os pais do garoto, comer cachorro quente e dançar sob os olhos de várias meninas com raiva da gente por estar chamando mais atenção do que elas. E foda-se quem eram elas. Ou eles. A gente queria era aventura no ápice dos 13 anos de idade.
Me lembro também de quando nadávamos no mar violento de Tamandaré até o mais distante que podíamos, até pra salvar um velhinho já mergulhamos, destemidas. Do beliscão na bunda de Virginia Cavendish e também do nosso primeiro beijo no trenzinho do parquinho em uma discoteca. DiscotEIA.
E falo tudo isso só de ruim, pois tenho certeza que você não vai lembrar da metade dessas histórias que contei e das muitas
outras que eu poderia contar, mas isso nao me deixa chateada,
pois sei que você sempre teve uma memória ruim, além de toda sua
fuleiragem e o gene egoistinha de merda que corre em tuas veias. Tudo sempre na
hora que você quer e como você quer. Eu sei que sempre foi assim, mas
não sei se continua sendo e se sempre será. Eu sempre fiz das tripas
coração pra equilibrar meu jeito com o teu pra poder resultar no que
éramos, -Sonicas. Quem não entendeu nada, pelo visto, foi você. Não
entendeu que eu te amo mesmo assim, mesmo com todo esse desleixo de uma
vida inteira. Te amo em cada palavra de voz fina que ainda recordo e dentro
de cada espaço, o que passou e os que ficaram.
Me pergunto se hoje em
dia você ainda tem nojo de dividir o mesmo copo e me pego curiosa se
aprendeu a ouvir mais do que a chegar na eterna defensiva ou ainda se sua voz
continua maravilhosa... E percebo que pessoas que te conhecem de oi
devem saber mais dessas respostas do que eu que dividi contigo não só o
meu diário, mas a minha vida. Vejo nas fotos a mulher linda que você se
tornou, uma princesa, como sempre almejou: cabelos impecáveis, pele alva
mais do que a de Carolina Casting e magra. E é quando te digo com todas
as letras que, só de ruim, faço questão de recordar de todas as boas
coisas, quem sabe assim você, competitiva que só (tenho certeza que
nisso não mudou em nada), não toma juízo e vem aqui, pertinho de mim,
admitir (imagino que essa palavra ainda te doa) que apenas eu cumpri a
promessa de menina que você sugeriu: morarmos no Rio de Janeiro. Não
entramos pra Malhação, é verdade (ainda bem!), não virei campeão
Olímpica e você não se tornou uma cantora famosa de Ópera, e, claro, não
viramos levantadoras profissionais de vôlei (como já era de se esperar
com nossa altura de gnomo que com certeza não deve ter mudado tanto
assim). Kate winslet já não deve ser sua atriz preferida (apesar de
Rodrigo Santoro AINDA ser o que acho mais bonito de todos, ever and ever), aquele chaveirinho com a
casa de Santos Dumont que me desse, como se fosse uma coisa bem
distante da minha realidade, hoje faz parte da minha vida e de vários
finais de semana, pois meu namorado é de Petrópolis. A coleção de
areia, apesar de ainda existir, está toda maltratada e sempre que a vejo
tenho pena de jogar fora, principalmente quando olho aqueles grãos
escuros de terras tão distantes e a coleção que ficaria "uma semana na
casa de cada uma", acabou não saindo da minha.
Muita coisa mudou,
mudamos, mas uma coisa é certa, não vai mais doer, descobri que tenho
lembranças bonitas guardadas por mim e por você.
Beijos, sua vaca!
2 comentários:
"Carlinhas", esse texto me pegou de surpresa! Diferentemente do que você acredita, e apesar de minha péssima memória, lembro-me com clareza de todos os momentos descritos neste texto. Exceto, talvez esse "nosso primeiro beijo", mas eu acho que você quis dizer o primeiro de beijo de cada uma com seus respectivos, hahahahahahahahahaha! Você esqueceu de mencionar as receitas que fazíamos dos livros da Turma da Mônica!
Ainda sou muito do que fui, ainda bem. Mas também mudei bastante a ponto de, às vezes, sentir uma certa nostalgia da Sofia que outrora existiu. Ainda faço canto no Conservatório e, às vezes, me pego sonhando com óperas igualzinho como eu fazia antes... do teatro, só gosto do musical. Das novelas, detesto todas e mal assisto TV. Ainda gosto de ler, mas escrevo muito pouco. Ainda brigo com Breno, mas raramente! Finalmente conseguimos estabelecer uma amizade quase que 80% igual a sua com Doug! Ainda sou competitiva, mas (e isso pode parecer extremamente arrogante) sou mais humilde. O direito me ensinou que muitas vezes temos várias respostas para uma coisa só, e aquela minha mania de criança de me achar sempre a certa acabou se transformando no amor ao debate.
Ainda falo de você com orgulho: "tem uma amiga minha que levantava o pé até à orelha". E admiro muito sua determinação em ir morar no Rio de Janeiro. Hoje, acho que eu preferiria São Paulo.
O certo é que eu sou muito fuleira mesmo, mas estou mudando. Sempre chego atrasada e às vezes digo que vou sair com alguém e durmo, mas ao invés de me "esconder" no dia seguinte, eu ligo ou mando mensagem para me desculpar. Mas acho que a distância que hoje existe entre nós vai muito além de mera fuleiragem... trilhamos caminhos diversos e mal nos encontramos. Tenho certeza, no entanto, que quando nos vermos estaremos em perfeita sintonia.
Que presente foi nossa amizade, e ainda é, mesmo que diferente! Que presente foi esse texto! E mais: que presente você me deu quando insistiu que eu ligasse para o seu amigo Danilo (o menino alto de olhos verdes) para recitar o rap do cocô!
Quando vieres a Recife vamos sair. Definitivamente!
Obrigada, Carlinhas!
ox, esqueci da mencionar receita da turma da monica nao, po!!!! ta ai!!! chegando em Recife eu te ligo pra te responder ao vivo a tua resposta - surpresa pra mim. beijos.
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