sexta-feira, agosto 30, 2013

Efeito canal

O que parece é que você se esforça e muito, mas no fundo sei que é bastante natural: seus meios tão certeiros de, aos poucos, se matar dentro de mim, feito a broca em ação na raíz infeccionada ou morta do dente. 

Não sei se te agradeço ou se te chamo de burro por isso. Como não sei, nada faço. Mas ainda penso. Uma hora a teimosia cansa e esse não fazer será acompanhado de um não pensar. 

Por enquanto, por via das dúvidas: muito obrigada, seu burro!

quinta-feira, agosto 29, 2013

Da vida

Escorada no balcão, ela me olhava como quem queria dizer algo. Mas não dizia. Ao menos não de voz, mas o olhar indicava tantas coisas, um olhar confuso e ansioso. 

- do you wanna some drink? perguntei, na tentativa de quebrar aquela barreira ocular.
- oi, sou da inglaterra mas pode falar português, estou aprendendo. Eu quero muito, mas acho que não devo, estou esperando alguém e quero estar com as mãos livres.
- Um shot de alguma coisa, talvez?
- Seria ótimo, mas quero estar muito sóbria neste momento. É que estou esperando meu ex namorado, ele é da Colombia e faz anos que não nos vemos.
- !!!!!!!! 

Toca a campainha

- É ele? perguntei enquanto seguia pra abrir a porta
- É!!! (olhos cheios de lágrimas)

Ele entrando pela porta e ela correndo em sua direção pelo corredor.

Ontem presenciei um abraço tão forte que chega senti em mim. Me segurei pra não chorar. 
Reencontro está entre as coisas mais bonitas e ricas da vida!


quarta-feira, agosto 28, 2013

Mais sementes, por favor

Semente é uma palavra que gosto que só. Flor é um negócio que me enche de amor. Vasos de plantas, mesmo os (ainda) vazios, me sugerem um monte de ideias. Terra por dentro das unhas nunca me chateou. Ver os carocinhos se transformando em broto, o broto em galho, o galho em planta: me emociona. 

A primeira vez que senti isso foi com o algodão e o feijão. não entendia muito bem aquela logística, mas gostava de ver a evolução, mas logo depois o algodão ficava escuro e o broto morria, não tinha força pra nascer alí. Um pouquinho de mim e de minha esperança morria junto.

 A segunda vez que senti isso foi logo em seguida e de maneira mais grave, quando plantei com meu pai um pé de pitanga na nossa granja em Aldeia, dessa vez o algodão deu espaço para a pá, terra e beijinho (é que eu beijei o chão depois que a semente foi enterrada e batida). Dessa vez a espera foi longa, uma espera de anos. E o resultado mais concreto, como acontece com tudo que a gente cultiva com paciência. Pressa, pra quê? 

Tá fazendo vinte anos que plantei uma árvore e ela continua viva.

Não me deem flores, me deem sementes.





segunda-feira, agosto 26, 2013

Reflexões de facebook

Dia desses um amigo postou em sua página:

quanta dor cabe num coração partido ao meio:

metade da dor ou um inteiro?


Cada pessoa respondeu uma coisa, uns pra mais e outros pra menos. Na hora eu tava muito chateada pra contribuir com minha opinião. Meu coração havia acabado de ser tesourado feito papel crepom em aula de artes escolar, mas passei um bom tempo pensando nisso. E sempre ficava confusa com a metade, com o inteiro, não podia ser só aquilo. Dor de coração partido é diferente. 

Hoje me dei conta de que é mais danada e oleosa que a dor de um inteiro. É espinho inflamado no pé.  É que se sofre por uma banda do peito, pela outra e, sobretudo, pelo espaço vazio entre uma banda e outra.

sexta-feira, agosto 23, 2013

Repara.


E, no fim das contas, entre tantas palavras ditas, reditas e malditas, essas eram as que eu mais queria te dizer. Ou as que eu mais queria que você reparasse.

quarta-feira, agosto 21, 2013

Ariano

Ontem passei a noite todinha ouvindo que ariano é bicho ruim. É malvado. É ruim, é ruim, é ruim mesmo. Vez por outra um amigo (capricorniano) concordando com a ruindade, dizia que era ruim sim, mas um ruim que ele gostava bastante. E aí alguém interrompeu dizendo que se ele gostava, ele era ainda pior. E fiquei sendo o centro do furacão uns instantes por causa do zodíaco. Até que uma das pessoas lança: "não sei o que leva uma pessoa normal a ir atrás de alguém de áries". Diga-se de passagem, alguém que acabou de finalizar um relacionamento com uma ariana.

E é quando, agora, recordando essa pergunta me questiono: o que diabos faz um ariano ir atrás de... OUTRO ariano? Desvia, meu bem. Corre. De ariano basta você. Ou eu.




Rendida

Mãozinhas pra cima, coração em processo (acredito que eterno) de calmaria e a descida da rua Nossa Senhora de Fátima inteira indicando uma rua maior. Riachuelo pra direita, Riachuelo pra esquerda. 'Meu peito batuca no caminho que eu quiser', é o que esta rua famosa  e cheia de bugigangas tenta me mostrar. Pra onde eu quiser, ela fala no meu ouvido. 
E que o caminho seja para o bem.

terça-feira, agosto 20, 2013

Eu e você ou você e eu

                                                                                                                           a maurício

Se alguém chegasse junto pra tentar entender o que acontece, ia se frustrar. Ia sair sem um parecer. Ia achar que somos malucos, que somos bobos, que nos conhecemos há mais de 10 anos pra ter história suficiente pra tanta confusão. Ou que nos conhecemos há um mês no máximo, pra que tanta dúvida quanto ao outro justifique a formação de um cardume deste tamanho. Só que não é uma coisa e nem outra. A gente consegue um auê sendo apenas dois, nós dois. E diga-se de passagem, duas pessoas com pouco mais de um metro e meio de altura querendo ocupar o espaço de um mundo inteiro na vida do outro. Eu acho que é muita ousadia, das duas partes. E, apesar de achar isso, discordo quando você diz que isso acontece por sermos tão iguais. Pra mim, essa é a desculpa perfeita que você enfia no meio pra se eximir de suas falhas e pra perdoar as minhas. É a desculpa que você usa quando os argumentos escapolem. Você é você e eu sou outra conversa. Não somos farinha do mesmo saco. Nossos pensamentos se cruzam mas não andam em paralelo quase nunca. Salvo quando a gente acorda lado a lado. Nesse instante parece que eu sou você. Ou que você se transforma em mim. É tudo tão diferente que fica meio igual. E eu fico besta admirando como é que pode ser possível. A confusão se esvai e sobra todo o entendimento que se é possível entre duas pessoas. Os sorrisos se abrem. Os corpos se confortam. A voz se mostra doce, suave. A vontade de permanecer alí, em você, em mim, é crescente. E depois de tudo, quando eu vou e você fica, volta a ser aquilo que a gente não quer, até o próximo encontro.

 Afinal, quem somos? 

domingo, agosto 18, 2013

Dia de domingo

Quando eu era pequena, domingo era o dia mais triste da semana. Conseguia desbancar até a segunda-feira. É que nas segundas não havia mais o que ser feito pra mudar tanta realidade, já era assunto encerrado, havia aceitado a condição. O domingo era diferente, carregava a culpa ou a saudade do sábado, a saudade de tudo. Domingo chegava e meu corpo era todo saudade. Era a certeza de não poder fazer nada até tarde, o uniforme escolar pendurado no armário e a mochila por fazer em cima da poltrona eram o prólogo indicativo de que o fim da preguiça tava próximo. Um almoço em família. Um filme. Talvez um sorvete ou um livro de matemática a contragosto. Com muita sorte cinema ou boliche. Era difícil encontrar os amigos, eles estariam fazendo a mesma coisa. 



O tempo passou e as coisas mudaram. Domingo saltou do dia mais chato para o preferido. Em dias de chuva, o almoço, filme, talvez sorvete e um livro passaram a ser mais amigos que meus amigos físicos nesse dia. E com todo prazer.
Em dias de sol, domingo virou praticamente sexta-feira. Os companheiros não dão paz. É muita vontade de almoçar junto, de tomar uma cervejinha, de ir à praia, à feira, ao teatro, pedalar, fazer uma trilha, começar a aprender alguma coisa. A surfar, talvez a andar de skate. Vontade de descobrir um cantinho novo nessa cidade tão linda, um boteco mais distante. Ou só a vontade de provar sorvete de tapioca. De ir a uma exposição, de tocar violão ou ficar alí na praça só compartilhando da existência do outro. É muita vontade de se ver. É vida demais que carrega um dia de domingo.

Mas a maior diferença entre meus domingos antigos e atuais é que saudade não tem mais dia certo pra chegar.

sexta-feira, agosto 16, 2013

Uísque


Hoje eu acordei uísque. Acordar uísque vai além de um copo de vidro, gelo e líquido dourado percorrendo o labirinto gelado que aquelas pedras constroem com tanta perfeição. Acordar uísque é mais que o rebolado da mente após a terceira dose. É mais que um possível vexame. É mais que um sorriso vermelho e molhado com gosto de próximo gole. 

Acordar uísque é estado de espírito.

quinta-feira, agosto 15, 2013

O INÍCIO



Me azucrinaram tanto os ouvidos que acabei rendida e fiz uma extensão do blog no Facebook. Por lá, pequenas cápsulas do que tem por aqui. Poemas curtos e o que tiver de menos pessoal (isso existe?) 

Esse foi o texto de abertura da minha página:

Estou nervosa, bem nervosa. Parece que é a primeira vez que escrevo na vida mesmo já tendo o catando vento há sete anos, sem pausas. Mas é que agora é em uma página com nome de página. Isso de 'página' me inibe um pouco. Também tenho a sensação de que o mundo inteiro tá me vendo agora, já olhei de rabo de olho pra porta do quarto, mas não tem ninguém, só a paranoia. É que dá a impressão que dessa vez tem que ficar impecável de tão bonito. Mas eu nunca escrevo pensando em ficar bonito. Eu escrevo porque ou é isso ou eu pulo pela janela. Ou pintarei todas as paredes da casa diariamente. Ou vou chorar cinco piscinas de água salgada por semana. Ou vou beber até esquecer o nome de minha mãe. E do meu pai. Ou vou transar com as pessoas na rua aleatoriamente e em sequência. Vou acabar andando nua, sempre. Ou vou começar a fumar. E eu não quero começar a fumar. 

Então, se não tem jeito, me agarro nas palavras e me salvo um pouco desse negócio doido e doído que é a vida. Cheers!


https://www.facebook.com/catandovento

A seco



Tristeza é um negócio tão triste

que as lágrimas
em demasia
se aglomeram na garganta 
e não conseguem
escorrer

terça-feira, agosto 13, 2013

Presságio

Minhas pálpebras são lábios. Eu sugo enquanto enxergo. Meus cílios, dentes graúdos. Eu mordo enquanto enxergo. A retina é minha língua. Lambendo tudo, tudo que enxerga. Lambo luzes, gostos, formas. Mordo, lambo, chupo, sugo, gozo. E quando meus cílios, dentes, retinas, lábios, pálpebras se fecham, tudo vira sonho. Os olhos se fecham enquanto meu corpo se abre. Se abre todo. Meu corpo se transforma em palanque para as ideias do dia, a noite inteira.

(?)

Uma das coisas mais malucas é a vida ser sua e você não ter domínio sobre o futuro dela.

segunda-feira, agosto 12, 2013

Mesa de bar

Dudu é bonito. Quer dizer, eu acho Dudu bonito. Uma amiga minha também acha. Mas Dudu não é o típico bonitão. Dudu, quando pequeno, era loirinho, cabelo escorridinho e já usava óculos de grau. Bem tampa de garrafa. Dudu era bonitinho, mas era meio esquisitinho. Dudu tem pais maravilhosos, são ótimos os pais dele, parece. Dudu tem umas tatuagens e estatura média. Eu o considero quase alto, mas meus 1m60 não são referência pra isso. Dudu toca em uma banda que eu gosto e temos 14 amigos em comum no facebook, mas só liguei o nome a pessoa nos últimos dias. Antes, Dudu era o menino que eu via por aí e que não tinha nome. Quero dizer: não tinha nome pra mim. E Dudu também era o menino da banda que não tinha rosto, apenas o nome. Quero dizer: não tinha rosto pra mim. Como se fossem duas pessoas diferentes. Agora ele tem nome, rosto e ainda sustentou ser o assunto de praticamente uma noite inteira. E é por isso que sei dessas coisas que escrevi (tirando a parte do bonito, dos óculos, tatuagem, porte médio, amigos em comum e banda). 

Fiquei aqui pensando quantas vezes já devemos ter sido e ainda seremos assunto de mesa de bar dos outros. De amigos ou de quase anônimos. Quantas vezes já devem ter conversado amenidades sobre nós sem que a gente saiba. Já nos desejaram, já falaram mal sem conhecer, já falaram bem sem conhecer. Já falaram. Já imaginaram. Que doideira!

No fim da noite, brindamos mais uma vez: 

"o brinde vai para o quê agora?" 
"ah, vai pro Dudu, já que falamos nele a noite inteira".

Um brinde ao Dudu, então.


domingo, agosto 11, 2013

Memórias inconsoláveis

12 de abril de 1988 e de todos os anos

Não tive escolha. Se pudesse escolher eu teria ido. Você teria ficado. Mas eu era um negocinho tão miúdo e negocinhos miúdos não escolhem, fiquei. Você, com tantos outros 24 anos pela frente, se foi. E me deixou cheia de vazios. Me deixou invisível. Passei a ser o retrato e a significação de um erro, enorme. Pra sua família, que nunca ví. Que nunca me viu. Pra meu pai, que não me enxergou por muitos anos. Hoje tenho um ano a mais que você. Tão estranho. Você, que deveria ter 49 anos e me ensinar tanta coisa dessa vida, continua com 24. E eu aqui, mais velha que a minha mãe e finalmente tomando as rédeas da vida sem culpas e sem tua projeção. Livre de referências. De como serei daqui pra frente. Daqui pra frente eu serei. Apenas serei. E isso é suficiente.

O dia deles




Minha homenagem no dia de hoje vai para a mulher risonha da fotografia. Eu não sei o seu nome e isso me entristece. No retrato, ela amamenta seu filho enquanto me alimenta também. Minha ama de leite. Ao lado da gente é o meu irmão, entendendo pouco o que tava acontecendo. 

Mesmo que eu tenha um pai lindo, vivo e presente, hoje o meu carinho vai para essas outras figuras que dão um pedacinho de sí, mesmo permanecendo no anonimato. Que não possuem dia especial no calendário, não recebem uma gravata, caneta ou uísque por terem feito o papel de outro.

Minha homenagem também vai para as mães que foram e continuam sendo pais. Que criaram por dois. Acordaram à noite sem revezamento. Trabalharam a mais, descansaram de menos. Que parecem mais chatas algumas vezes por terem dado esporro dobrado. Por terem errado dobrado também. Mas que sentem saudade, preocupação e amor elevados à potência.

Pai é mais que o homem responsável por uma trepadinha gostosa resultante do nosso nascimento. É mais que um registro no cartório. Mais que uma mesada curta no fim do mês. Mais que um homem. Mais que um retrato. Mais que um domingo de agosto. Mais, muito mais que três letras.

sábado, agosto 10, 2013

jogar verde

especialidade igoriana. e colam-se em minha boca sorrisos antigos e novos. dilemas antigos e novos.

álcool: especialidade do demônio

discutir relação: não é especialidade minha

minha especialidade: em aberto

na festa cult bacaninha

- léo é mestrando em ciências sociais
- e tu?
- eu? sou desempregando em jornalismo
- <3 
- hehehe

sexta-feira, agosto 09, 2013

Uma das artérias da saudade


Ela me carrega no colo faz tempo, desde o dia em que nasci e sequer sabia da existência dessa ou de qualquer outra palavra, mas sei que senti. E que senti forte. Arrisco que a mais forte de todas, mas não tenho como medir. Depois disso fui percorrendo os caminhos, ora amargos, ora confiantes e pulsantes que esse sentimento traz. Não sei qual é a saudade mais difícil: a eterna por condição, a eterna por opção, aquela que daqui a pouco vai passar ou a que não tem pevisão. Mas andei observando que a saudade, que pulsa no peito quase que diariamente mas que não tem sequer previsão de ser assaltada de tanto beijo e abraço não é fácil. E não é fácil porque simplesmente não é fácil manter a esperança acesa por tempo indeterminado. Porque não é fácil andar na rua já sabendo que o encontro não vai acontecer. Não haver chances ao acaso é um pouco perturbador, é chegar no meio da noite e sentir alguma dor por isso. É brindar à distância, é fazer presente alguém que tá distante. Alguém que provavelmente não vai ficar sabendo disso. Não, não é fácil manter acesa a artéria de um futuro caso pensado, do calculado, do dia tal de não sei quando que uma hora vai chegar. Não é fácil, mas o desafio é justamente esse. Se fosse pra ser fácil a gente seria rico e moraria na praia. Todo mundo junto, com todo o amor do mundo!