Gostaria de, ao menos uma vez na vida, ter entrado no consultório de um psicólogo. Ter sentado em um divã. Ter ouvido ele falar "uhum" "sei" "continue". Para poder embasar um pouco do que quero escrever nesse texto. Gostaria de falar sobre a expressão do psiquiatra,psicólogo,analista, enfim. Gostaria de saber seu tom, seu grau de concentração perante os problemas alheios. Acontece que falar das minhas questões para alguém que não me conhece, não sabe do meu coração e muito menos da minha vida, sempre me pareceu uma coisa fora da realidade, um relação plugada no modo automático que não me anima. Então juntou isso com o fato de sempre ter sido taxada, por familiares e amigos próximos como a "mocinha de coração bom, bem resolvida e sem dramas nos conflitos internos" atrelado ao fato de eu sempre ter concordado, de certa forma, com o rótulo que me postaram desde novinha. Afinal: "se ela passou por isso sem alarde, ela é forte" "impressionante como carlinha nem liga por isso ter acontecido,né?" "carlinha parece rabo de lagartixa, regenera rapidinho", essas e outras frases entravam no meu ouvido diretamente ou através da minha curiosidade na conversa "dos adultos".
Admiro, de coração, quem procura ajuda quando sente necessidade. E, se hoje em dia, depois de crescida, eu sentisse que era a hora, não exitaria. Não apenas por um capricho de poder, finalmente, matar minha vontade de analisar o analista, mas pra de fato tentar aliviar e amansar os monstros que estivessem me atrapalhando, angustiando. Então penso nos momentos mais difíceis que já passei por essa vida carnal e lembro que passei por todos eles sem um divã, pelo menos não um divã declarado, um consultório, um horário marcado. Passei por todos eles comigo, com as pessoas que me traziam confiança,amor e força quando eu pensava não mais ter. Passei por elas, por todas elas, com minhas conversas infinitas comigo mesma. Com as minhas conclusões as vezes preciptadas e outras, frias e calculistas, como precisa ser algumas vezes nessa vida.
Sabe aquele momento em que você fica sozinha e pensa nas coisas mais profundas, e, as vezes, de tão insanas, você fica até sem jeito? Pronto, esse era o meu primeiro passo: ter a coragem de pensar a respeito daquilo. O segundo passo era conseguir falar comigo - em voz alta - sobre o X ou os Ys da questão. Falava, discordava, interrompia, acrescentava. Não importa a ordem, o importante era conseguir falar. Falar sem vergonha do que eu poderia encontrar por trás daquilo tudo. O terceiro passo era o mais difícil: chegar em uma conclusão a respeito daquilo que pensei e depois falei. Daquilo tudo, daquela enxurrada, daquele dilúvio de informação que minha mente e coração se organizaram pra passar para a minha língua. Para a ponta dela. O quarto passo era poesia. Tudo isso se transformava, de algum modo, em poesia. Poesia falada: um monte de palavra tomando forma, tomando gosto.Um monte de frases rimadas. Bonitas. O feio virando poesia. O quinto passo sempre foi o desespero da minha mão e caneta não conseguirem acompanhar a ansiedade desvairada da minha boca em falar todas aquelas coisas,finalmente, organizadas. Na minha mente, alma, corpo e coração.
Essa era a minha terapia e continua sendo.
Quando sinto uma pontadinha no peito, um apertão na garganta ou quando me deparo com algo que posso chamar de problema, recorro aos meus métodos, dessa vez, com outro cenário: Caminho a orla de Copacabana inteira. Vou e volto quantas vezes for preciso até alcançar algo melhor do que o momento em que saí de casa. Ainda bem que vem dado certo, afinal, a vida não teria muita graça se a gente fosse feito boneco de porcelana ou feito me taxavam. Tolinhos, eles mal sabiam que pra eu alcançar a tal serenidade, precisava antes passar por cinco etapas.
Acredito que quem topa procurar ajuda psicológica, deve, uma hora ou outra, questionar se aquela pessoa tá mais preocupada com suas intrigas ou com a ligação que perdeu do marido. Se ela vai te dar alta quando achar que já pode ou se vai te estimular a criar novos conflitos, para que você vicie no divã e sinta a sua falta no simples sofá da sua casa. Se você vai, de fato, resolver seus conflitos com um profissional ou ao menos aliviar toda aquela dor. Se ele vai ser ético. Se ele não tem problemas parecidos com o seu e vai ser deixado levar pela emoção. Ou pela raiva. Se ele não é tão ser humano quanto você. Se as técnicas de te avaliar, aprendidas em uma universidade, são mais elevadas do que a técnica que você, que convive com tudo isso a anos, pode produzir.
Enfim, os questionamentos são muitos e se eles forem levados em consideração na hora da decisão de procurar ou não um analista, a pessoa pode acabar tendo mais uma razão pra discutir ou discordar dele.
Se é pra ir, que seja de mente vazia, sem tantas partículas de condição pra confundir ainda mais.
Um outro questionamento que me faço é se as pessoas mentem quando contam seus dilemas. Se escondem. Se camuflam. Mas em seguida penso que não, afinal, é uma grana alta investida para a sua mente ficar mais tranquila, logo, não faria muito sentido você se auto sabotar nessa empreitada. Porém, quando penso nisso, não entendo o porque de algumas pessoas se auto sabotarem fora do consultório.
Não entendo como algumas pessoas não notam que seus conflitos internos nunca serão resolvidos externamente, com quem não pode ajudar e de maneira hostil. Como algumas pessoas não percebem que tentativa de manipulação e de reverter situações só dão certo com pessoas bobas ou fracas. Que tentar magoar com as armas que pensa ter em mãos não é covardia, é burrice. Pois fica claro a cada passo que o que a pessoa quer é atenção. E pedir atenção dessa maneira, é lamentável. Existem maneiras bonitas e sinceras para tal e não mostrando seus monstros para o outro quando percebe que não há mais o que fazer. E depois tentar escondê-los, amenizá-los. Um mínimo de sensatez, coerência e concordância com os próprios atos e palavras. Pois para o mundo fica muito claro o grau de confusão mental. E se torna muito perigoso se a própria pessoa também não percebe isso.
E entender que loucura não tem limite, mas paciência tem.
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