quinta-feira, fevereiro 09, 2012

Molhado de Suor

O molhado de Suor é o primeiro album solo do Alceu Valença, gravado em 1974 e nada tem a ver com o frevo maluco beleza que corre pelas ladeiras de Olinda e no sangue fervoroso de um passista. O Molhado de Suor é uma danação, uma mistura de coisas que tem um resultado incrível, sentimento puro. Se hoje em dia é comum esbarrar com músicas e bandas no estilo "vários estilos" "free style" nessa época não era assim. Ele mistura guitarra elétrica com bandolim. Rock'n'roll com regional. Batidas fortes, mas com uma sensibilidade monstra.  

As melodias foram feitas em total harmonia com as letras e ainda conta com a participação de Geraldo Azevedo e do Lula Côrtes. Quando escutei pela primeira vez o disco, tive a sensação de já saber de cor as canções, a comunhão da letra com a melodia. E eu senti uma vontade enorme de chorar, como sinto todas as vezes que volto a ouvir o disco que originou o apelido de borboleta, que nomeia a assinatura desse blog. Mas isso tudo não foi a toa, minha relação com esse disco vai além de um link na internet pra baixar músicas, mesmo porque o tenho em CD. 

Certo dia estava entre amigos queridos em um botequinho minusculo que tem em Olinda, mais especificamente nos Quatro Cantos. Era no Cantinho da Dona Darcy, famosa pelo seu mau humor enciclopédico e pelos quiches e cerveja gelada na calçada, sem frescura. Logo alguém saca um violão e começa a tocar músicas variadas e eu, claro, começo a cantar, acompanhando. Os amigos entraram na onda e começaram a cantar também. Uns fazem batuque na mesa, outros na parede, e todos com a batida do coração. Harmonia. Madrugada. Magia. São palavras que podem descrever bem essa noite. 

O moço do violão era Tito Livio, um sujeito muito louco e cheio de idéias malucas. Era cabeludo e bom de copo. Também era bom de violão, e, como se não bastasse, era um bom contador de histórias. Mas eram histórias reais, e, para nossa surpresa, histórias incríveis e que de algum modo, mexeu e acrescentou purpurina no sangue artístico de cada um que tava alí. Ele era parceiro de Alceu Valença em tempos remotos. E também compôs músicas que foram regravadas por Zeca Baleiro (desengano) e algumas para Alceu Valença, como Arreio de Prata. Pronto! Decoramos esse nome pra procurar depois. 

E eis que ele puxa uma música, e, como ninguém a sua volta conhecia, calamos. E, conforme ele ia tocando e cantando, eu ia me encantando. Fiquei em estado de encatamento com a música, aliás, ficamos. Todos. Parecia que a cidade havia silenciado pra deixar ele cantar e tocar.  Quando ele terminou, perguntamos de quem era e ele explicou que essa música tem uma história bacana e que fazia parte do disco "molhado de suor" de Alceu. E a história era a seguinte: Geraldo Azevedo e Alceu fizeram uma aposta, onde os dois fariam uma música com o mesmo nome. Ganharia a aposta quem fizesse mais sucesso com a música. Acho que não preciso falar que Alceu perdeu essa enquanto Geraldo Azevedo bombava com o seu Dia Branco, na voz de Elba Ramalho "nesse dia branco... se branco ele for, esse tanto, esse canto de amor... se você quiser e vier, pro que der e vier, comigo..."

Mas não importava, nada importava. A partir desse instante, Dia Branco se tornou a música mais importante da noite, e, com certeza, de alguns dias após essa noite (na verdade, pra mim, ela continua tendo um valor especial. Sempre que escuto, penso que é uma das minhas músicas. E com o carnaval se aproximando, a vontade de se fantasiar novamente de "doida das lantejoulas" só aumenta.)

Ouvimos o disco e percebemos que ele era uma descoberta, sem dúvidas, "O melhor disco de Alceu" .

Abaixo, a música "Dia Branco" que não ganhou aposta alguma, mas, em compensação, ganhou uma legião de fãs na noite quente de Olinda!

Salve!





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