A memória infantil costuma assimilar esse tipo de comportamento de rejeição e ao mesmo tempo de amizade, como casual, normal: se você está me enchendo, te excluo da brincadeira. Se você pode somar, eu te chamo. E, como maldade é uma palavra que não combina com criança, esse tipo de atitude que oscila, não é chamado de crueldade. Criança não é cruel, criança tá descobrindo o mundo e ainda não tem consciência que tais atitudes infantis, se tratadas como adultas, podem ser consideradas algo, no mínimo, deselegante.
Criança é verdadeira ao ponto de te querer perto apenas quando lhe convém, e, diferente dos adultos, ela não te esconde isso. Ela deixa claro em cada ação. Quando se trata de amizade, querer bem e qualquer laço relacionado ao coração, ela é íntegra e presente. Criança sempre espera do outro o que ela mesmo faz, por saber que esse retorno será 100% recíproco, pois para elas, amigo que é amigo faz e recebe. Diz que fulano é d+ e recebe de volta um +QD+. Escreve uma cartinha já sabendo que receberá uma em troca, no papel de carta mais bonito. Compra o presente de aniversário e recebe outro no seu dia. Dá cola na prova de matemática e recebe na de português. Criança tem a lei da compensação e um contrato de reciprocidade na qual nenhuma delas precisou assinar nada, uma espécie de acordo entre mini cavalheiros.
Eu era uma dessas crianças, acredito que você que está lendo, também. Eu era essa criança até o dia em que meu lanche caiu e ninguém dividiu comigo ou que não fui chamada para o cinema com um grupinho específico pois o carro estava cheio. Minha visão sobre o mundo começou a mudar, mas minha postura sobre ele, não. Continuei dando cola, escrevendo cartinhas, ajudando, temendo pelos outros e me ferrando por não ser cabueta, por exemplo. Á medida que fui crescendo e tomando noção de que por vezes, cada um deveria ser e agir apenas por sí próprio, eu continuava agindo por nós, um conjunto. Cada vez mais. E mais e mais a vida foi, aos poucos, mostrando que o que eu doava de mim, na maioria das vezes não era proporcional ao que recebia de volta, e, com o sentimento de criança, achava isso feio, ruim e injusto.
Eu era uma dessas crianças, acredito que você que está lendo, também. Eu era essa criança até o dia em que meu lanche caiu e ninguém dividiu comigo ou que não fui chamada para o cinema com um grupinho específico pois o carro estava cheio. Minha visão sobre o mundo começou a mudar, mas minha postura sobre ele, não. Continuei dando cola, escrevendo cartinhas, ajudando, temendo pelos outros e me ferrando por não ser cabueta, por exemplo. Á medida que fui crescendo e tomando noção de que por vezes, cada um deveria ser e agir apenas por sí próprio, eu continuava agindo por nós, um conjunto. Cada vez mais. E mais e mais a vida foi, aos poucos, mostrando que o que eu doava de mim, na maioria das vezes não era proporcional ao que recebia de volta, e, com o sentimento de criança, achava isso feio, ruim e injusto.
Desse modo, muitas das crianças que eram crianças feito eu e compartilhavam desse contrato sem assinatura, começaram a se sentir injustiçadas e a única maneira que encontraram para não serem passadas para trás, foi agindo igual. E ao passo que o tempo ia passando e eu ia ajudando e confiando, mais e mais crianças -agora adultas- iam se desiludindo e entrando no mundo calculista em que hoje vivo. E isso virou uma bola de neve na qual as pessoas que continuaram carregando embaixo do braço o contrato inassinável, não conseguiram mais controlar ou ter consciência de quando iriam se decepcionar. E as decepções, juntamente com as consequências, passaram a ser mais graves do que um convite para festinha não efetuado e um gelinho de troco.
O mundo passou a ser mais duro e proporcionalmente mais contraditório. Porque ao mesmo tempo que algumas pessoas continuam acreditando na vida e no coração bonito, a maioria rasgou esse contrato invisível no dia em que desamarraram seu cadarço de propósito e, desse modo, se transformaram em pessoas grandes o suficiente para usarem apenas contratos de papel e caneta bic.
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