quinta-feira, maio 26, 2011

As vezes, morrer é preciso




Morrer. Morrer uma, duas, dez. Não importam as vezes. Morrer sempre que preciso.
Sem vergonha. Sem dor. Tato, ato, dia, instante.

E poder renascer. Renascer, essa é a palavra:

Os dias mais bonitos, as cores mais definidas, os atos mais seguros costumam surgir após cada morte, cada mote. Só aí que notamos sem vestes nos olhos as brutalidade nos atos, as verdades dos fatos. E é também aí que brota qualquer serenidade sincera. Um respirar aliviado. A semente bem plantada. A semente.

Renascer. Renascer uma, duas, dez. Não importam as vezes. Renascer sempre que preciso. Sem vergonha.

Sem mais dor. Sem dor, mais. Sem mais.

Instante
estático
dia
tato
ato




* pôr-do-sol do Sertão não tem igual. A foto foi nas barragens de Itaparica, julho de 2010.

segunda-feira, maio 23, 2011

Um texto sem título. Um texto da cabeça para o coração:

... e por achar que de repente era tarde demais para fazer o que queria, não o fez.
Por não ser dada a frustrações, dez anos mais tarde, passou a fazer aquilo que, dez anos antes, poderia ter começado a fazer,e, hoje, estaria com dez anos de lucro, não fosse o pensamento restrito, bobo e ignorante de pensar ser tarde demais.

Fui restrita, boba e ignorante por um bom período. E, mesmo sem levar a sério esse pensamento ou parar para pensar a respeito, sei que havia um conflito interno e bem inteiro na minha cabeça:
Ballet clássico, voltar ou não voltar, essa era a questão.

Os dias foram passando, o rumo da vida foi mudando, os anos foram passando, e, ainda que vez por outra eu entrasse em contato com a dança de um modo geral, nada podia se comparar com os meus dez anos de ballet clássico sem interrupções, minhas unhas encravadas, meu dedo torto, coque no cabelo, piruetas e saltos no ar com uma leveza inimaginável. Não era possível ouvir meus pés retornando ao chão. Não era possível esbarrar com alguma outra bailarina desse estirpe naquela escola e, menos possível ainda, era encontrar uma platéia pela metade em dias de apresentação. Não preciso de falsa modéstia depois de tanto tempo. Era mesmo bonito de se ver, eu sei que sim, e, justamente por esses motivos, aceitar que retornar significava ser menos do que eu era, parecia duro demais.

*

Hoje à noite, voltei a pé do trabalho e, como de costume, aproveitei os 3km de caminhada pela orla para colocar qualquer idéia deslocada em seu lugar. Essa caminhada é a minha terapia, e, nela, minha mente realiza bem o papel de psicóloga, sempre coloca em xeque alguma questão que nem eu mesma tinha consciência que era importante ou que fazia parte de mim. E foi só hoje que me dei conta que faz exatos dez anos que bailarinei por dez anos seguidos.

Tomei um susto, me senti fazendo aniversário em data errada ao mesmo tempo que me senti em estado de urgência, alarme. Dez anos!!! Dez anos não são dez meses. Foi tempo demais na ativa e um espaço de tempo longo demais para repensar. Por minha sorte, Tempo demais não significa tempo esgotado quando a decisão depende apenas de você e isso traz um tanto assim de alívio. Foi ai que, finalmente, esse conflito interno escapuliu pelos poros e por todos os buracos, fui pega por trás feito assalto: era impossível de escapar.

Escolhi então não fazer mais parte da categoria de gente que se inclui na primeira estrofe do texto: não quero daqui há dez anos, aos 33, perceber que por besteira e por motivos que hoje já não fazem a menor diferença, deixei de viver o que eu queria. E por saber que sou teimosa por demais, iria de todo modo recomeçar,a todo custo, nem que para isso precisasse ser do zero e aos 33, ou 43 ou 53. Não sou mesmo dada a frustrações. Que bom que precisei apenas da primeira década de espaço...

Sim, vou voltar para o ballet. E sim, sei dos meus limites e restrições, sei das dificuldades que vou encontrar, sei, inclusive, da dorzinha que vai me bater ao ver um passo feito com tamanha perfeição e que eu fazia daquele jeitinho alí. Mas vai ser com o coração tão escancarado e feliz e com o corpo aberto para reaprender, que serei livre para fazer aquilo que puder ser feito.

Confio na memória do corpo, no prazer que pequenas atitudes podem nos proporcionar, e, mais ainda, no gosto de um novo desafio. E em se tratando de um desafio antigo, o gosto se torna ainda mais apurado.

Feliz, sim!







terça-feira, maio 17, 2011

Dengo...


é mergulhar em uma piscina de algodão e não esperar que te resgatem ... mas que pulem junto!

Distração...




... é estar atento a tudo, por dentro dos olhos.

picotadinho



... e o envelope verde é agora como se fosse teu coração:
rasgaste ele, ó Deus, que ironia, com as tuas próprias mãos.

domingo, maio 15, 2011

Confusão mental...


... é quando a interrogação vem antes da pergunta.



sábado, maio 14, 2011

O tempo é brisa


Tirar o casaco. Sentir uma réstia de frio, de vento.
Traçar no imaginário. Passear no pensamento.
Em um dia bonito. Respirar fundo.
Na batida da onda.
Na passada do peito: sereno.

Desacelerar. Recuar pra prosseguir mais firme.
Esvaziar e preencher.
Sem pressa. Meta. Seta. Nem sempre reta.

Caminhar.
Pé na areia gelada.
Pequenos prazeres.
Sentar se der vontade.
Observar o casal que observa o horizonte que observa o
infinito que observa o casal que fala outra língua.
Que tem outra idade. Outra vida...

... mas a mesma sensação de que o tempo é brisa.




sexta-feira, maio 13, 2011

Praticando a consciência da felicidade prematura e pós madura


Hoje não tem rima, mas tem prosa. Uma prosa direta de mim pra tu. Assim, feito conversa fiada e afiada em frente de casa de interior.

Sabe aquela sensação que vai invadindo o peito gradativamente, minuto a minuto, nos instantes que antecedem uma felicidade prestes a acontecer?

Pronto, é sobre isso que vim falar hoje.

Essa prévia anda focada na felicidade propriamente dita, naquela que vai te acontecer logo mais. Acontece que essa sensação é tão gostosa e as vezes dura até mais tempo que o próprio tempo da felicidade. E mesmo que esse sentimento exista tão claro dentro da pele, nas entranhas, quase nunca pensamos sobre ela.
Quase nunca tomamos consciência a respeito dessa felicidade prematura. Sentimos. Sentimos muito. Sentimos tantas vezes até mais que a própria felicidade, pode acreditar. Mas não pensamos que sentimos. Sentimos e pronto. Sim, isso é suficiente. Caso contrário, já teríamos mudado nossa postura diante disso há tempos. Mas hoje percebi que tomar consciência a respeito dessa sensação, durante o instante em que ela te toca, tem um gosto novo.

Um gosto de vida na cabeça e coração, não apenas no coração, involuntário.

Parece bobagem, mas perceber isso há tempo e no tempo, alastra ainda mais a alegria...
... e alegria nunca é demais!

Essa foi a maneira que encontrei de, no futuro, não precisar pensar que era feliz e não sabia.

Não.

'-Eu era feliz e tinha essa consciência antes, durante e depois.'

Agora, jájá e depois.

Boa sexta feira treze para todos!


Insônia ...


... são quatro paredes brancas puxando conversa no meio da noite.

quarta-feira, abril 27, 2011

catando o vento


O tempo passa
o dia é hora
a hora guia
a guia ora
a reza é choro
o choro é vida
a vida é gozo
o tempo é brisa


cato o vento, o tempo e o que mais vier: cato, canto e acato.




domingo, abril 24, 2011

amor,humor

O cúmulo da falta de identidade (lê-se de estar na merda):

colocar um perfume seu pra sair cheirosa...
Lembrar dele e sair chorosa.

Diferenças entre o amor (que acabou) adolescente e o adulto:

O adolescente não tem vergonha de chorar.
O adulto tem.

O adolescente acha que nunca vai passar e com um mês já passou.
O adulto tem a certeza que vai passar e nem sempre passa...

O adolescente diz que ama sem nem saber se ama.
O adulto ama calado.

O adolescente tem certeza que sabe de tudo mas não sabe de nada.
O adulto acha que sabe de tudo... e sabe menos ainda!

Por Carla Alencar,
noite de são jorge (23/04/11)


segunda-feira, abril 18, 2011

Fraqueza ...


... franqueza.


Está limpo do vício por mais tempo, aquele que acordou primeiro.
Hoje acordei tarde...


Amanhã, quem sabe?

sábado, abril 16, 2011

Sábado


SOl
por
fora
e
por
dentro


A alegria de estar vivo

uma brecha no tempo,

uma suspensão da realidade


e lembrar de Pena: que, enfim, te resta a vida.

Felicidade é estar em um lugar bonito

ter para quem sorrir

abrir os maiores braços e trancá-los com o maior dos gostos em um abraço pra guardar
.

A
M
A
R

não importa a quem seja.

sábado, abril 09, 2011

Resquícios de carnaval


Ainda sinto o resquício de carnaval nessa cidade

O cheiro azedo de cevada no canto da calçada

A boca molhada de tantos beijos na soledade

A saudade dos blocos impregnadas nas buzinas dos carros

O vestido amarelo da moça na varanda

Observando a chuva, fininha,

Procrastinando pra lavar o rosto dos namorados


Conversa fiada e afiada nos Quatro Cantos

Deixando o sentimentalismo

Guardado para o restante do ano


E agora, abril, que já é o restante do ano

O carnaval continua impregnado nas ruas da cidade

O cheiro de azedo no canto da calçada

A boca molhada

A saudade dos blocos impregnadas nas buzinas

O vestido amarelo, a moça

A chuva procrastinando

Conversa afiada


E o sentimentalismo guardado para o resto do ano

E o sentimentalismo guardado...


... Para o restante do ano ser carnaval.

quinta-feira, abril 07, 2011

la vie


Tenho certeza que te dei o meu sorriso mais bonito.

segunda-feira, abril 04, 2011

Um recado para você


Carla,

Vá ao espelho do banheiro e perceba que lá tem duas lâmpadas. Gostaria que você acendesse a que fica em cima do espelho, aquela que clareia mais e que você acha ótima para se maquiar. Acenda-a e se observe com calma. Quando voltar, quero que me diga o que enxergou.


Volte lá, Carla. Tou esperando. Não adianta tentar me enganar e continuar acendendo a lâmpada azulada, que disfarça, que mente. Seja verdadeira ao menos com você. Acenda a do espelho e me diga o que você enxerga.

Pois é, um roxinho cavado por baixo dos olhos, um tanto de catarro que não escorre e nem vai embora, olhos marinhos, olhos de rio: escorrendo. Uma sobrancelha crescendo na medida que os dias passam. E elas vão continuar crescendo até que você decida fazer. Elas não serão feitas sozinha, como nada na sua vida. Nada vai acontecer por sí só, perceba que até as besteiras acumuladas, que ató os motivos do tal roxinho cavado abaixo dos olhos, não foram feitos sozinho, você contribuiu.

Então agora trate de contribuir também para desfazer, esvaziar e preencher.
Você costumava me falar sobre isso, não lembra?

É preciso esvaziar, esvaziar,esvaziar... e preencher. Sem erro.

Esvazia, Carla! Que o tempo tá passando e o mundo te esperando pra preencher a vida de luz, de amor, de trabalho e de sorrisos. Aquele sorriso largo que você costuma doar. Aquele sorriso nos olhos e o caminhar saltitante! Você é boa nisso, menina. Sempre te dizem,não é? Vai ver que é porque é verdade.

Você precisa entender que no mundo de hoje não é tão normal encontrar pessoas do bem, que te dão sorrisos de presente, um abraço apertado e a mão estendida. E que se você é uma delas e tá aí, se escondendo por trás da lâmpada azulada, vai pegar muito mal.

Curte teu luto e encerra. Curte teu luto bem logo e não longo.
Acaba com o luto e veste a alma de branco, verde, azul e rosa.

Acaba esse luto, acaba agora!

Termina o luto e volta.

Volta que a gente precisa de você.

Com todo o amor,

Anete, Carla e quem mais aparecer.

terça-feira, março 29, 2011

'Tá doendo em algum lugar?'


E, sem receio ou constrangimento em saber se dessa vez eu queria responder tal pergunta, a médica soltou:

'-Tá doendo em algum lugar?'

(Entre dor física e interna, passei uma média de 40 segundos para responder, confusa, desesperada, dejavú esquisito, pedaço de caminho não concluido, me perdi nos segundos e nos fatos. Se tá doendo? Como nunca, senhora. No dia em que me colocou no colo, na cadeira do computador e me socou tantos beijos fossem possíveis em um corpinho desse tamanho. Tá vendo aqui? Aqui,ó... Não, não o tamanho do corpo, mas do buraquinho cavado. Esse foi no dia em que deslembrado dos erros, me acordou brincando e rindo, rindo e brincando com o próprio corpo, no próprio corpo e nesse buraquinho queimado. Queimado pelas velas daquele jantar, daquela massa, daquele molho, daquele vinho. Aqui, não tá vendo a queimadura? Arde, ainda arde. Dói naquele instante dos chocolates criativos e as sobremesas, dos filmes e das caminhadas pelas ruas, qualquer rua, qualquer vento, qualquer praia, qualquer lanche, qualquer peça, qualquer, qualquer coisa. Dói, também, o choque do abraço na noite, no meio da noite,na cama e os pés que se procuravam, se esquentavam, se consolavam: cortados. Os pés estão cortados, você não consegue ver? Olha aqui, bem aqui, moça... Não é possível. Também tem essa roncha dominical, ela foi se formando no acumular de cada domingo de almoços e risos e cervejas geladas e jogos de futebol e piadas e planos e risos e mais risos e fotografias e mais gente e mais alegria. A roncha é apenas uma, mas ela tá dessa cor por conta disso. Se formaram aos domingos,em cada domingo, todos os domingos. ah... e os domingos, você sabe,né...


Mas, se você notar, também dói aqui... e aqui, e acolá. Tá vendo? Não? Como não? Nesse cantinho, nesse pedacinho de pele,e, sobretudo lá. Mas precisaria de um raio X para observar melhor. Como? Você não pode ver? hmmmm, entendo. Veja bem, quem perguntou foi você, estava quietinha na minha.

E, já que você quer saber, dói em todos esses lugares, mas, principalmente, irremediavelmente,tristemente
aqui,

dói aqui quando ele aperta.

E dessa vez ele apertou forte demais,moça.
Você não consegue ver? Que bom, nem eu.)


'-Não, não dói.'

terça-feira, março 22, 2011

pb


... e você vai continuar dormindo no frio, ainda que faça verão na cidade ou que se definam as estações. Hoje, amanhã e daqui muitos anos.
Mantém essa construção de tocas e pullovers internos, vais precisar.

Por sorte, o travesseiro continua sendo o teu aliado,que filtra o feio, tudo isso, todo esse isso que você conquistou: migalhas. Mas é ele quem te ajuda a manter a sanidade dentro dessa vida, dessa tua vida, tão infeliz.

Vida de ilusões e copos descartáveis. Amores infláveis. Promessa e perdão.

E sobre as cores, a aquarela e a tinta amarela, preciso te dizer: preto e branco são cores suficientes para sobreviver e é por isso que te desejo sorte, pois de cor e de norte, você nunca poderá ser.

segunda-feira, fevereiro 28, 2011

Domingo


, e enquanto descobria as miudezas da feira, por entre frios e folhas, pensou -feliz da vida- que não lembrara da última lágrima que entregou aos dias.

quinta-feira, fevereiro 24, 2011