quinta-feira, julho 17, 2014

O perfume suave da memória

Resgatar memórias é um sopro de vento pra trás e ao mesmo tempo pra frente que deixa a gente mole, molinho. Uma confusão com os sentimentos atuais e os de outro tempo. Quando se trata de memória gostosa, com cheirinho e aconchego de infância, a viagem se torna ainda mais longa. E emocionada. Tenho certeza que seja assim com todo mundo que carregua um coração no peito.

Ontem, pude ver nas lágrimas de Gustavo, essa emoção resgatada. Em tato, descrença no que tava vendo, em cheiro, choro e sorrisos. O mais maluco foi chorar junto por algo que não vivi, mas o fato do resgate da lembrança ter sido feito por mim, foi como se eu tivesse, naquele instante, mergulhada naquele pedaço de história que sequer me pertence. Uma fenda no tempo: Gustavo atracado em seu Snoopy que existe há 30 anos. Hoje, sem a blusa de botão branquinha e a bermuda caqui, ambas perdidas no tempo pelas traquinagens daquele garotinho dentuço. Hoje, um Snoopy nu de roupas, mas vestido de muito, muito amor.

À Cristina, meu muito obrigada pelo carinho, ajuda e confiança.


"amarradão' habitando o novo lar

terça-feira, julho 15, 2014

terça-feira, julho 08, 2014

Sinalização



'Ô Carlinha, alí tá dizendo que é proibido ir para o céu, né?!'

Arthur, 3 anos.

segunda-feira, julho 07, 2014

Surpresa:

É quando você não sabe se (ainda) tá bebada, dormindo ou "apenas" muito feliz. E, depois de alguns segundos de confusão mental, descobre que são todas as opções ao mesmo tempo. A última, pelo resto do dia. Dos dias. 

Eu sou mesmo uma garota de sorte. E de muito amor!


<3

terça-feira, julho 01, 2014

Perspectivas

Já me falaram brincando, por mais de uma vez, que eu me contento com pouco. Pra alguns, contentar-se com pouco pode tá diretamente ligado à falta de ambição ou conformismo com aquilo, sem necessidade de semear mais. Pra outros, é alegrar-se com pequenas porções de coisas que dão certo na rotina cansada dos dias. 

Pequenas porções que, somadas umas às outras, transformam nosso dia-a-dia num calendário mais leve de se cumprir. Há a possibilidade do dever ser prazer e só de existir essa possibilidade, mesmo que nem sempre venha a ser concretizada, tudo se torna mais fácil.

Hoje, no Mundial, os tomates, pela primeira vez em quase um ano, estavam em maioria bonitos, sem machucados ou mofos. Tavam lisinhos, nem tão verdes e nem maduros demais. Coloquei 5 na minha sacola sem esforço e fiquei o resto da feira sorrindo de canto de boca e até mesmo naquela fila que parecia não acabar. 

Ganhei o dia.

Agora, seguem as pequenas e também alegres esperanças cotidianas daquele pedaço de mundo que, se levado a sério, arrasa com o humor do cidadão: que o tomate Deborah ou Carmem dê um cadinho de espaço para o italiano e que o limão galego divida sua prateleira com o siciliano, sem traumas.

segunda-feira, junho 30, 2014

Future Me

Exatamente um ano atrás eu escrevi uma carta pra mim, para o futuro, para um ano depois. Essa carta chegou hoje no meu e-mail. É o terceiro ano que faço isso e a cada ano é mais fantástico de ler. Minha conclusão é de que essa conversinha de que um ano passa ligeiro já não cabe mais em mim, ao menos na quantidade de coisas que acontecem e mudam, em mim. E no outro. Agora é hora de escrever a próxima!

http://www.futureme.org/

terça-feira, junho 24, 2014

Cachorros loucos

Bomba rojão dentro do buraco do tijolo, cabeça de nego na garrafa pet, peido de véa direto na brasa da fogueira, aliada por todo o quintal, um traque de massa que seja perdido entre o pó da serragem pra estralar no pé do povo, na testa, no dente. Nada. Nadica de nada na minha sacola de São João - e não de Festa Junina...

sábado, junho 21, 2014

Tropicália

Como pode uma única música dar uma cambalhota na cabeça e te levar a outro lugar, tempo, pessoas? O mais incrível é que acontece sem que a gente tenha controle a respeito. 

Hoje é sábado de manhã de junho de 2014 e, ao colocar Caetano pra embalar minha manhã de arrumações, sou cortada na veia por Tropicália. Parei tudo. Ouvi e cantei inteira, não acreditei no que tava acontecendo. Lá estava eu dentro do 308 voltando do Condado de Cascais pouco depois de ter deixado o papo gostoso com Ana paula no ponto de ônibus em frente ao Porcão. O almoço havia sido macarrão com molho pesto e mais fofocas, a Lê visitando a gente no restaurante só pra que a gente pudesse falar mal do chefe em paz. 

Dentro do ônibus, sentido Flamengo, ele me liga de dentro do Zona Sul pra saber o que falta comprar para o jantar. Tá um trânsito tão imenso, nem tão cedo vou chegar por aquelas bandas, mas não importa, no meu fone de ouvido Caetano canta Tropicália em looping, eu canto tropicália em looping. Decoro ela inteira, rapidíssima, tiradíssima, genialidade em música. E me balanço dentro do ônibus. E vejo a hora do ônibus passar direto naquela curva e mergulhar dentro do mar de São Conrado. Penso que seria uma maneira bonita de se morrer, ao som de Tropicália, no mar. Dá vontade de sair correndo, de gritar, de amar.

É cedo da manhã e preciso pegar o metrô e o ônibus de integração para a Barra da Tijuca. Sento na cadeira (com sorte) e dou o play. Escuto mais algumas pra disfarçar meu atual (e demorado vício):Trem das cores, Podres poderes, Água, Lua e Estrela, Cor Amarela, Tigresa, Odeio, todas as demais da lista que já foram e voltaram e foram vícios e viraram eternos amores. 

Era fim de namoro, fim decretado por decreto, sem dó e nem piedade, com poucas palavras ecoando em um quarto, lágrimas descrentes e muitas bagagens para serem levadas embora dalí: físicas e emocionais. Tavez a manhã mais dífícil da minha juventude. 

Indo encontrar os amigos, Tropicália no fone de ouvido. Tropicália durante os espaçamentos de conversas durante a noite ecoando na cabeça. Noitadas, madrugadas, chegar no trabalho ressacada, um sentimento esquisito, quase culposo mas também aliviante de liberdade. Era preciso. Tropicália, agora, revezava com Água. Pelo momento, pela melodia, pelo vídeo lindo de Caetano cantando tão sereno. Uma serenidade que eu queria pra mim e para o outro algum dia, mas que era impossível de alcançar naquele período de praia, festas, amigos, mar, bicicleta, uísques e decisões. 

A liberdade de Tropicália e o desejo do melhor ao outro de Água precisaram dividir o espaço com Deusa do Amor na voz do filho de Caê. E os sentimentos foram se misturando. E dando espaço pra Água de côco de Marcos Valle, Deixei Recado de Donato e For no One, dos lindos. Minha quadrilha viciante tava formada naquele verão que custou a acabar. 

Hoje, ouvindo apenas essa música, pude perceber que nem eu sabia o quanto essa música havia sido importante nesse período de transição de sentimentos. O mais instigante é sentir, nesse sábado de manhã de 2014, o quanto esse período Tropicália foi importante pra chegar até aqui, hoje, nessa manhã tranquila de inverno, tintas, obra quase concluída em casa, de coração cheio, de novas músicas, conquistas, histórias, sabores, esperanças, projeções e expectativas.

Obrigada Caê por sempre trilhar musicalmente as minhas fases, desde que eu era tão pequenininha.

<3

quinta-feira, junho 19, 2014

Aeroporto

Lugar onde meu coração bate destrambelhadamente rápido de contentamento: chegada. Ou parece que deixou de bater por completo de tão oco: partida.

quarta-feira, junho 18, 2014

Lembrança suave

Era hora de ir embora e, já dentro do carro, a minha pequena baixou a cabeça, em silêncio, enquanto não disfarçava uma gotinha de lágrima se formando por dentro daqueles olhos tão bonitos que ela tem. Papai pergunta: "por que você tá assim, Sofia?" Ela se vira pra mim e deixa a discrição de lado falando "é que eu gosto muito de tu, vou ficar com muita saudade" e me abraça longamente e apertado. Eu, que nunca me aguento, desato a chorar e a tentar disfarçar o impossível. Respiro fundo e, antes de largar do abraço, limpo as lágrimas na palma da mão pra que ela não veja e fique ainda mais triste. É preciso acalantar aquele coraçãozinho, é apenas o que penso, enquanto arthurzinho, alheio, pede seu homem aranha que ficou em casa.

"Logo nos encontramos novamente, você sabe que sempre nos encontramos, não é?"

"Uhum..." (ainda triste)

"De repente Arthurzinho pode comemorar o aniversário dele, em outubro, lá no Rio, ia ser muito legal"

"Ahan!!! ia ser muito legal!!! No parquinho!!" (sorrindo)

"E tu lembra que teu aniversário do ano passado foi lá no Rio, Sofia?"

"É claro que lembro!!! O lanchinho que tu fizesse. E também que eu ganhei um balão da minnie muito lindo da tua amiguinha, num foi??"

"É, foi..."
 

quarta-feira, junho 11, 2014

Arthur e o tempo

"ai amanhã os golfinhos tavam muito lindos, num foi, Carlinha?"

terça-feira, junho 03, 2014

Mapa astral surreal

O dia-a-dia é tranquilo, tudo bem, a rotina easy going, erro muito, aprendo rápido, questões, relações, resoluções, sintonias, enquadramentos, o naturalmente, o deslizar, insights. meu namorado sorri largo e também se comove e emociona com o belo. quando triste, ele deita no meu colo dentro de um abraço e tudo volta a ser conforto, quentinho, suave.  minha paixão é recíproca, meu amor é regado. não tenho dor de amor partido, alfinetado, mal resolvido, mal vivido ou mal amado. minhas saudades são mutuas. meus amigos, que não são muitos mas fundos, estão pelo mundo afora e ao mesmo tempo bem pertinho. minha mãe me chama pra construir junto com ela mas precisa de um puxão, que eu dou com prazer. meu pai diz que tá tudo bem e compara corpo humano com baldes de frutas, acerolas e mangas. meus irmãos crescem longe de mim mas perto no coração. o dinheiro não é muito mas não me falta. tá tudo certo, é tudo água, olho pra fora e gosto da chuva. é tudo Peixes.

Mas quando bate a peste ariana, não carece mais de uma frase pra explicar, 'pedindo licença': minha pomba gira perde feio. 

Áries, querido, não adianta seduzir os demais com seus truques, criatividade, arte, seu sexo, carisma, luz, beleza, espirito livre e títulos de poemas e músicas pra disfarçar esse cão que te carrega. Aceita que, querendo ou não, tem um peixinho nadando no meu Aquário, dentro de mim, tomando espaço. Não adianda teimosia. Um peixe que tá com uma vontade danada de crescer ainda mais, tomar corpo e amadurecer, te ofuscar, que grave, te ofuscar, como nunca quis antes nessa vida astral. 

Último conselho: pra sobreviver, sugiro que conviva bem com ele. 

segunda-feira, junho 02, 2014

Presente doce

Saco cor-de-rosa cheguei
Dedos empoeirados
Pipoca sorteada com uma crosta a mais:

De açúcar
E de amor

quinta-feira, maio 29, 2014

Será?

Será que coração é feito rabo de lagartixa?

terça-feira, maio 27, 2014

Dublin e o mundo, em mim

Hoje cedinho completou um ano que cheguei de Dublin. Um dia que foi absolutamente confuso na minha vida e também na de outras pessoas no ano de 2013. Era muito, muito estranho estar alí de novo. Esse alí que custou a ser aqui novamente. Demorei muito até voltar à cidade do Rio de Janeiro. Por uns 4 ou 5 meses a mais que o tempo de viagem, eu ainda dividia minha vida com Talha, perambulava pelas ruas e Okupas com Brecht, comia raclette no sofá de Vic&Quentin, cruzava Paris - Amsterdam de trem, passeave na tandem com Manni e chorava de emoção dentro do abraço de Sam. 

Meu corpo, tristonho e sem voz, existia perambulando pela cidade junto com minha cabeça e coração: baleados, torturados e destrutivos em um boteco qualquer da Lapa até de manhã cedo, pra ser ainda mais amargo dormir naquelas condições deprimentes de luz invadindo o quarto sem cortina. Me emociono com as pessoas que se mantiveram firmes e amáveis em um período tão dificil pra mim. E agradeço a cada uma delas pelo colo e também pelo respeito do meu tempo out, do Rio, do outro, do meu lugar no mundo e, sobretudo, de meu lugar em mim.

Hoje faz um ano que voltei da Europa mas na verdade faz apenas alguns meses. Dublin, que inicialmente era pra ser figura principal, se tornou a ponte para o mundo e pra tantas descobertas, vivências, amores. E mesmo os momentos de perrengue naquela cidade tão fria somaram pra ter sido esse solavanco para o mundo de fora e de dentro, um despertar. 

Hoje, penso na cidade e me sinto confusa. Um misto de saudade mas também de alívio por não estar mais lá. E também de esperança, pela vontade de voltar um dia, provavelmente pra outra cidade. E voltar sempre que preciso não para ela ou para outra, mas para o sentimento de solavanco que ela me dá em sentido de mundo e suas possibilidades.

E esse sentimento mundano não tem tempo que complete pra passar. Que bom!


maio de 2013 - Dublin ensolarada, um presente de despedida






segunda-feira, maio 26, 2014

Companhia do Gesto


A Cozinheira, o Bebê e a Dona do Restaurante


foto: carla alencar






Com Tania Gollnick, Cecília Ripoll e Ademir de Souza.
Direção: Luís Igreja.
Produção: Ana Carina
Fotos aqui !

Frila - As delicias e as dores

A parte ruim de ser freelancer, além da instabilidade, é que é um parto e um drama a cada fim de projeto bacana. Como terminar um livro ou uma viagem que você gostaria de voltar ao ponto inicial de tão gostoso que foi.

A parte boa, além de somar várias experiências diferentes na vida, é que a gente deixa um coração em cada um desses lugares e pessoas. E leva o coração delas, também.


Manguinhos

quinta-feira, maio 22, 2014

Gustavo:



Sobre quando o belo te silencia e o amor te acalma.

quarta-feira, maio 21, 2014

No teatro:

Pra enlouquecer, é preciso estar muito são. 

No teatro.

Alô, produção! II

- Ué, como você conseguiu isso? E isso? E isso? Isso eles nunca dão, mesmo. E isso a gente nunca nem pede pra não levar um fora.

-É, como você conseguiu?

- ... pedindo. Acho que consegui justamente por não saber que não podia.

Alô, produção!


                                                                                               a todos os parceiros dessa vida de produção

Tem uma gente, maluca, que pensa que produtor é um bicho mais maluco ainda, adivinho e meio mágico. 

E essa gente tá completamente certa.

A gente, o outro

Dificilmente ouviam eu te amo da minha boca ou rabiscada de minha caneta. Dificilmente mesmo.

Atravessei a adolescência ouvindo queixas de amigas e cheguei na juventude deixando um nó na garganta dos namorados que , timidamente, falavam pela primeira vez esperando um "eu também" que fosse no lugar daquele riso confuso que eu dava ou dou no instante em que as coisas ainda não se mostram claras pra mim ou para meu coração. 

Não é birra, vontade de ouvir primeiro ou medo de arriscar, não. Já falei sem ouvir, quando certeza tinha. É respeito à palavra mesmo, que por mais simples que seja, merece todo o cuidado e prudência. Também me ocorre de não falar, não por falta de sentir ou sentir prematuro, mas por uma trava mesmo que dá entre o estômago e a voz. E isso acontece com gente funda no meu peito, gente de amor antigo e ao mesmo tempo novinho em folha em mim. Marina me dizia que sonhava ouvir isso da minha boca, mesmo que já soubesse através de meus carinhos, palavras escritas e ações que seguramente valiam muito mais do que um balaio enorme de eu te amos falados. Ela sabia e eu sabia que ela sabia, mas ainda assim ela queria ouvir. Até que um dia ela me viu falando ao meu irmão e se orgulhou, mandou mensagem no celular e tudo. Depois desse episódio, usei dessa oração com sabedoria. 

É seguro que quem eu não amo, nunca ouviu isso de mim, nem de raspão, por impulso, álcool no sangue ou o famoso "se colar colou" que tanto vemos por ai. Colegas, pessoas que admiro, pessoas inteligentes, pessoas parecidas comigo não são necessariamente amores. Por isso existem a empatia e a alegria de sentir que vivemos num mundo com pessoas bacanas. Amor é outra conversa. E, claro, já me enganei na palavra, não por acaso sou humana. 

Acredito que hoje em dia as coisas estejam mais equilibradas. Não existe mais a trava na minha garganta. Quando a vontade de dizer bate com meus sentimentos, não temo. Apesar de que meus braços, que podem ir até o inferno, se preciso for, continuam a dizer muito mais do que minha voz, fetal. E até mais que minhas palavras, vastas. Mas também não desembesto a usar o verbo por apenas a sensação do instante, do mês, da minha fase de vida ou da lua em sintonia com plutão, não. E confesso que me assustam as pessoas que, por um abraço mais forte e uma convivência maior, já tomam aquilo como amor. Coração é coisa muito séria e é preciso delicadeza e cuidado, sim, pra ser inteiro e todo verdade. 

Engraçado como só agora, no fim desse texto, avalio que o mesmo se dá com minha abertura. Provavelmente você, que agora mesmo lê esse texto, nunca tenha me visto se abrir, chorar, pedir arrego, em casa ou na rua. Do mesmo modo que você, outro você, que também me lê agora mesmo, já me viu pelo avesso, chorando, catarroescorrendo, pedindo colo e ajuda. 

Engraçada a vida, mesmo. Acho graça de quem acha que, por não fazer parte inteira daquela vida e não ter acesso ao que aquele alguem é, por dentro e por fora, tome como verdade que seja "assim" com todos. Ou "assado" Assim, esse assim assado que ela supõe. E as máscaras que a pessoa cria pra completar um inteiro, já que só conhece pedaços.

E é quando me questiono, com um risinho quase diabólido: ô, gente, somos pessoas, temos energias, temos sentimentos, dores, trunfos, alegrias, gozos, dúvidas. Temos a nossa vida e acho que seja justo que ela não seja um dominó de mesa de boteco que todo mundo joga, que todo mundo mexe, tem acesso, suja e, do mesmo modo que tem o poder de derrubar no chão, tem de colocar de volta à mesa. Tá amarrado!

terça-feira, maio 20, 2014

Despir-se

foto: daniel gonzalez


Pra mim, poucas coisas são tão belas quanto um corpo nu. Um corpo despido de ranço, vergonha, pudor, de medo. Um corpo livre, Um corpo que é bonito apenas por ser, existir. Feminino ou masculino, cheio ou fino, plástico, anatômico. Texturas, cores, sabores, curvas, gravidade. Vento infiltrando os buraquinhos dos poros. 

Um corpo nu é muito mais do que um corpo sem roupas.



Manguinhos em Cena

Fazia tempo que eu não saía de casa pra trabalhar cedo, voltar tarde, cansada, com fome mas com o coração transbordante. Saber, a gente sabe, mas é muito bom sentir na pele que ainda há bons motivos pra acreditar e muita área e gente férteis pra compartilhar, ensinar e, principalmente, aprender.

Manguinhos em Cena e Companhia do Gesto, muito obrigada! Hoje foi tudo demais.

teste para novos atores da companhia. foto: fernando alves

sexta-feira, maio 16, 2014

Transito de sexta no Rio:

A sensação de estar no ônibus desde a segunda.

terça-feira, maio 13, 2014

Procissão Nossa Senhora de Fátima:





Ou sobre quando o bairro foi tomado por velas e vozes.

Tá bonito!

Sobre Game of Thrones, séries e vinhos

Nunca tive paciência pra séries. Quando digo isso, quero dizer que nunca tive paciência pra iniciar uma série. Não sei o motivo, acho que preguiça. E quando digo que nunca tive paciência pra iniciar uma série, concluo que, com isso, nunca vi uminha que seja pra contar história.

Acontece que nos últimos tempos, em qualquer local ou grupo de pessoas que eu esteja, existe um suspiro sobre Game of Thrones. Seja Rafa falando que o fulaninho é gato, seja Léo dizendo que o anão é comedor, seja meu facebook cheio disso pela timeline dos outros ou mesmo em um cartaz imenso colado na banca de revista da esquina da minha rua. O negócio tá brabo. Tá dominado, tá tudo dominado. 

Já me contaram o resumo da história e não me senti seduzida o suficiente pra largar meus filmes e dar espaço ao GOT, como é apelidado carinhosamente pelos fãs. Até que um dia, em uma mesa de bar (claro, pois é o local onde surgem as melhores e também as piores ideias), um grupo de amigos se propôs a assistir pela primeira vez o primeiro episódio. Com o agravante de: "vamos assistir juntos?". Vamos. "sexta-feira que vem, com vinho e pan?" "vamos, fechou". No estilo um dá forças ao outro e estímulo. Tudo certo.

A fatídica sexta chegou, as pessoas chegaram, petisquinho na mesa, vinho pra regar a "equipe dos descoloridos" e as outras duas equipes, digo, reinos. 

O resultado é que é óbvio que ninguém se concentrou em série alguma e, pra piorar, ela virou uma grande piada no final de cada episódio, quando um ou outro se arriscava a dar um resumão geral do que aconteceu, entre uma golada e outra. Frases soltas, sem lógica, mas com observações muito pertinentes. De todas, me sobrou apenas uma, pois agorinha mesmo me deparei com uma foto que me fez lembrar e rir a mesma gargalhada do dia. Era pra ser uma coisa séria, mas Ana Paula não parava de rir. E, com isso, não conseguia me deixar continuar falando. E quanto mais eu resenhava, mais ela ria e chorava e ria e chorava. E menos eu entendia os adendos que Calani ou Bruno faziam, alguns "detalhes" que faltavam entre uma frase e outra que eu falava. Enquanto isso, as 5 garrafas de vinho iam embora.

"Esse cara tá imitando Caê na capa daquele disco!"


O resultado é que continuo achando que não nasci pra séries, pra não dizer que achei chata e novelesca pra cacete. Mas que foi muito engraçado dividir esse momento com pessoas que sairam da sessão de 3 episódios com a mesma sensação: "é ruim, mas foi do caralho, bora ver mais um?"

Então tá, até a próxima sessão.

segunda-feira, maio 12, 2014

"Quando" pode ser mais perigoso que "e se..."

Penso que a suposição exaustiva seja uma espécie de doença mental. E que a certeza de um achismo seja o diagnóstico desta doença. 

Por um mundo com menos adivinhação e mais paciência.

Redemoinho


Meu cabelo se moldava escorregadio para o lado esquerdo. Que é o mesmo lado do meu piercing no nariz. Não é franjinha que esconde um olho pra ver a vida pela metade, não. É apenas de lado. Semana passada fui ao salão de beleza "repicar" meus cachos e acertar essa franja e, pela primeira vez na vida "de lado" do meu cabelo, alguém que não conheço, mas com porte de uma tesoura nas mãos e da minha vida capilar naquele instante, me alertou sobre o redemoinho que eu tenho bem na frente. "Se você começar a partir para o outro lado, a franja vai ter um caimento melhor, além de dar um jeito no redemoinho."

Redemoinho? Eu nem sabia que eu tinha isso. Realmente, agora, meu cabelo, além de repicado, tá com um caimento muito melhor na franja, para o lado direito. 

Foi preciso que alguém que nunca me viu na vida, me falasse isso pra eu saber, mudar e melhorar, minimo que fosse, algo banal feito cabelo. Não foi pelo cabelo, foi pela visão do outro, tantas vezes cega em nós.

Por mais gurus e pessoas coringas em nossos caminhos! E coringas não são as que tentam adivinhar e explanar opiniões "seguras" sem conhecimento, apenas por esporte. Esses não são coringas e podem desviar a estrada, que é larga e cabem todos.

terça-feira, maio 06, 2014

Sobre cheiro, risco e acerto

Não tem risco de queimar ou ficar cru pelo timing errado. O cuscuz avisa que tá pronto quando começa a cheirar. Sem risco. 

Bem que as relações humanas podiam seguir o mesmo padrão cuscuz de viver: simples, direto, certeiro e sadio.

sexta-feira, abril 25, 2014

Bruno, Abdon, B1 (apelidade por mim) ou "mermão, deixe de ser chato, doido"


Era uma quinta-feira à noite em Copacabana, mais precisamente na Siqueira Campos, naquele boteco tradicional cheio de comidinhas tão perto de minha casa mas que eu nunca havia estado: O Adega Pérola. Era a minha primeira vez naquele lugar que eu voltaria tantas outras. Era a primeira vez, também, que eu saía com os amigos de trabalho e amigos de amigos do meu novo namorado. Quando cheguei, todos estavam sentados naquela mesa comprida que comporta bem copos, belisquetes e bebuns. Entre uma bicadinha e outra fui sendo apresentada a eles. Pouco tempo depois chega um rapaz tímido, com dread, camiseta lisa e já pedindo um chopp antes mesmo de sentar, na minha frente. "Ele acabou o namoro de seis anos tem pouco tempo e tá meio pra baixo", me alertou Paloma. 

Falava pouco e tinha um olhar tristonho mas muito bem disfarçado entre uma piada e outra de alta classe pra padrões de mesa de bar. E isso tomava a atenção da gente. "Que menino mau humorado mais engraçado", foi o que pensei.  

Meu primeiro pensamento sobre Bruno foi certeiro e bem julgado. 

Depois de um tempo voltamos a nos encontrar no aniversário de Paloma. Era um lugar chique e eu não conhecia ninguém além do meu namorado e um ou outro de vista de outra ocasião. Meu namorado, que deveria ser mais enturmado, parecia tão peixe fora d'água quanto eu naquele local. Eita, o Calil tá ali, vamos para lá. Eita, o Sato também tá ali, ó. Tudo certo, meu parceiro de cachaça e sobrenome. O Sato logo foi embora e o Calil também. 

"Olha alí, não é aquele menino que acabou o namoro há pouco tempo e tava no Adega?"
"É sim, o Bruno, mas pô, não tenho muita intimidade com ele"
"Que besteira, min. Ele parece legal e tá com a roupa mais parecida com a nossa, bora pra lá"
"Bora"

Corta a cena. 

Depois desse dia, quando marcamos o passeio de bicicleta pra Paquetá (mágicamente sem fulerar) e pouco depois selamos a nova amizade dos três que brotava naquela mesa de bar do bar que estávamos descobrindo, do "Zé", nunca mais nos largamos. Vivíamos os três por aí e era como se tivesse sido assim desde antes ou de sempre. Um casal e um amigo pra cima e pra baixo, de bike, a pé, de ônibus. Não tinha isso de segurando vela. Vez por outra você brotava com um amigo, só pra me dar mais trabalho na hora de cozinhar de madrugada, mas eu adorava. Eu adoro.

O casal se separou, os amigos, não. Nem de um lado e nem do outro. Pelo contrário, além de se consolidarem, ainda agregaram os novos colegas e novos grupos que levaram a novos grupos e a novos. Engraçado isso tudo. E também bonito. Éramos três. Somos vários multiplicados, hoje. E um carinho do trio original absurdo.

Bruno é chato. Provavelmente geneticamente chato. Por sorte não se tornou geneticamente gordo, seria muito para ele. Tem uma casca enorme e um escudo firme que envolvem uma carne fina, frágil, como costuma ser com gente de coração grande que tem um medo medonho de perder o controle. Foi assim por um tempo. Sabe-se lá o motivo, se por afinidade, confiança ou reconhecimento no outro, aos poucos essa casca foi se tornando fina e hoje consigo encostar na pele. Muitas vezes sem nem precisar de contato físico. Escuto o que ele tem pra falar com cuidado e atenção, dou valor. E quando eu falo, não tenho mais medo de receber um "isso não é da sua conta", como já ouvi ele falando por ai sem piedade. Ao contrário disso, ele liberou um "pode falar, temos intimidade pra isso". E ouve com cuidado, com atenção. E não é porque sou mais ou melhor, é apenas porque somos amigos e conquistamos isso dia após dia, em cada situação, conversa e até mesmo nas briguinhas. 

Agradeço demais a confiança que você deposita em mim e sou muito grata pela que tenho em você. É valioso isso, eu acho.

A verdade é que eu podia passar laudas e mais laudas escrevendo vários momentos e lembranças massa e viradas que já tivemos nesse mundo e vida carioca, mas acho que o que fica é o que a gente é hoje e também tudo o que tem pra ser vivido, que é muita coisa.

Te desejo tudo o que há de melhor, como desejo a mim e a um irmão. E te desejo também muitos e muitos carnavais, porque parceiro feito tu nas ladeiras de Olinda, tá pra nascer!

Beijos, meu querido! Vida longa. E um sobrinho bem lindinho e ranzinza pra mim (hehe)

quinta-feira, abril 24, 2014

O Sport ganhou ou o Náutico perdeu?

 Não entendo nada de futebol, aliás, nem gosto. mas sempre que um time ganha, eu tenho a impressão que foi quase apenas o outro que perdeu.

quinta-feira, abril 17, 2014

A inspiração que vem da dor

É natural que meus melhores textos venham de alguma dor. Por um coração partido, inconformado, maltratado, cheio de dúvidas ou dívidas. Passeio pelo meu blog e fico imaginando como seria um infográfico sentimental dele, cheio de altos e baixos, como é a vida. Quando engatada com algum problema, que por algumas vezes eu mesma criei, ele chega ao topo do cotovelo machucado, a carne sem pele, exposta, as veias do coração à mostra. 

Quando dor, os dedos escrevem rapidamente um texto, um poema, um foda-se em fonemas cheios de força, de bala engatilhada para o próximo tiro que sempre há de ter. Um texto atrás do outro pra preencher o vazio que aquela situação deixou. Se não tem mais a história (se é que um dia teve) e sobrou apenas sua lembrança, nos resta apenas as palavras como forma de manter tudo vivo, mesmo que já tenha morrido e só a gente não tenha, tristemente, dado conta, de teimoso que somos.

Quando amor, não. Os textos fluem no olhar em parceria com o outro. Surge na cama, entre um alisado e outro. Entre uma respiração mais forte e o gozo libertador. As palavras escorrem no ato, junto com a lágrima. O poema é o dia-a-dia. A mão na mão, o telefonema, o cheiro no pescoço de bom dia, o abraço da noite quando se reencontra, o jantar especial em dia de semana. As palavras, o texto, a prosa e o poema se confundem com a vida em ação, não mais em lembrança. E meus textos surgem em momentos que não há caneta, papel ou um computador pra escrever e depois passa, pra dar espaço a novos textos mentais, sozinha ou em conjunto.

Algumas vezes acontece da inspiração chegar quando tenho todas essas ferramentas em mãos e me sinto contente e com um cadinho de inveja, não de quando triste estou, mas do impulso quase que psicográfico que a tristeza traz.

Confesso, mesmo que egoistamente, que a felicidade tem seu preço alto: a escrita física acaba, algumas vezes, ficando pra depois. (Ao menos é por um bom motivo)

terça-feira, abril 15, 2014

Três meses


O tempo do amor é caduco

Ligeiro quando muito

Lento quando dentro:

É fundo.

segunda-feira, abril 14, 2014

Brasil:

Não Confundir
Chuva
Com frio

quinta-feira, abril 10, 2014

Sobre ser de Recife e morar no Rio:

Quando o Flamengo perde um jogo no dia em que o Sport ganha, minha timelime fica toda vermelha e preta. E eu fico absolutamente confusa.

quarta-feira, abril 09, 2014

(Re)leitura



Quando dou um flecheiro nesses olhinhos miúdos e amedrontados, vinte e tantos anos atrás, te encontro hoje. 

E meu coração dispara. Te encontro tão antigo e novo em mim, em nós. Duas bolas de gude esticadas que vivem me falando. E carrega, logo embaixo, esse narizinho que antes era só um sapinho e hoje criou ponta. Um acutângulo perfeito que daria pra deitar em cima e passar a tarde inteira lendo um bom livro, confortável. Uma ponta linda. 

Escorregando da ponta eu caio nesse bico todo. Um bico que é desamarrado, bem seu. Um bico suave, molinho, gostoso. (Tem vezes que é brabo, mas passa ligeiro com um cheiro). Por que é um bico que não é um bico, mas é, sim, um bico bem bicudo, no banho, na cama, fazendo manha (ou não). Uma risada em forma de bico. Ou um bicudo em forma de sorriso, ainda não sei. E tentando decidir qual das duas coisas, continuo perdida dentro desses olhinhos de menino que você carrega até hoje e que são de tamanha importância pra mim. Que, vez por outra, se escorrem em lágrimas, seja em um filme, música ou por uma alegria no peito. Você, chorando. Com tanta facilidade. "Quem diria". 

E então continuo e vou seguindo te procurando na fotografia e te encontrando fora dela. E tudo, tudo, tudo faz sentido: o post acaba e eu sigo olhando você no retrato. E na vida.


quarta-feira, abril 02, 2014

31 de março de 2014

Há dias venho pensado em você com frequencia. Seus olhos apertados de chinês, seu cheiro antigo e acolhedor desde que sou pequena, seu bolsinho na blusa, mesmo que não guarde nada nele. 

Tava lembrando dos livros que você já me deu de aniversário, o último, com uma dedicatória tão bonita! Você sempre me deu livros, desde os meus sete anos, quando me presenteou com um Ziraldo, um Pedro Bandeira e um livrinho, quase que manual, "de garotas". Esse ano você não vai sondar que livro ou dvd eu quero de presente. E chegar com eles embrulhados pelo papel da Saraiva de Copacabana. 

Ano passado esse ritual também foi suspenso, afinal, eu estava viajando e, no lugar de receber livros, te enviei um postal bem feliz diretamente de Barcelona. O primeiro postal que enviei nas minhas viagens. E você todo contente no telefone dizendo que tinha recebido rapidamente, pois Europa não era Brasil, que demora em tudo. O postal se foi, junto com você, não sei se foi egoismo meu coloca-lo junto à ti em nossa despedida, mas foi a maneira que encontrei de estarmos sempre juntinhos.

Acontece que depois de tanto te pensar, acabei sonhando no início da semana. Um sonho que ultrapassou os limites de realidade habitual, pois, dentro do sonho, eu sabia que estava sonhando. Nos encontrávamos no corredor da minha escola de infância e eu começava a chorar, chorar bastante, pois sabia que te abraçar, alí, seria um presente que eu não teria mais no plano presente. E eu te abracei apertado, tão rápido... e você, com rosto saudável e corpo forte, bem diferente de como te vi pela última vez, ainda em vida, me disse:

- Pára de chorar, menina! Você tá feliz?

(eu apenas balancei a cabeça positivamente)

- Então é isso que importa.

Você concluia, com seu ar de sabedoria de sempre.

Foi muito, muito bom te reencontrar. E ver que você está bem, firme e tranquilo. Quando quiser, pode aparecer.

Um beijo com saudade,

sua neta.

quinta-feira, março 27, 2014

Era noite azul do meu amor



É azul de manhã, em mim é amor
É azul de manhã e em mim, amor

É azul, azul, azul

É azul noturno e matutino

Aqui dentro,

É azul

Sem tempo

quarta-feira, março 26, 2014

Soltos



Tempo de
Catar ventos
E sonhos


Boa Viagem, março de 2014

terça-feira, março 25, 2014

Sobre o não saber ser o mais natural

Quantas respostas 'erradas' já devemos ter dado - das bobas às decisivas - só pela praga falta de ser humano que nos leva a crer que toda pergunta tem que ter resposta, positiva ou negativa? E na lata?

Não sei.

Talvez seja essa, agorinha mesmo, a minha resposta mais sincera, genuina, humana.

quinta-feira, março 20, 2014

'Eu tenho, você não tem!"

Meus amigos tinham seus livros escolares encapados por papel contacte transparente, bem lisinho, sem bolhas, o que determinava a competência e paciência daquele ser que, por detrás daquela pilha de papeis no espiral, existia: a figura materna. Figura óbvia e colada cheia de zelo em cada livrinho daquele com a ajuda de uma régua transparente de 30cm. Ou daquelas transparentes com desenhos coloridos que envolviam um líquido cheio de purpurina, pra distração da criançada. 

Eu não tinha essa régua transparente, com desenhos coloridos e líquido cheio de purpurina pra me distrair. Como também não tinha meus livros encapados por papel contacte, nem eu e nem meus dois irmãos. Eu também não tinha a tesoura do mickey que "eu tenho, você não tem" e nem a botinha da Xuxa com seus cadarços em tons extravagantes que davam às garotas muito mais status do que os sobrenomes que carregavam. E, mais tarde, sequer passava em frente à loja da Chomp ou Gasoline pra carregar em meu corpo aquele panda tão fofinho ou uma etiqueta marrom maior que meu bumbum, no bumbum. Ah, aquela maldita etiqueta esculpida Gasoline. Esta valia muito, muito mais que todo o jeans que a pessoa estava usando. Se duvidar, na discoteca, as meninas olhavam primeiro pra bunda da amiga e depois para o rosto, recém pintado com sombra verde ou azul pra combinar com a blusa que também seria verde ou azul. Uma cafonice que no alto dos 12 anos era sucesso. E isso eu fazia, pois por sorte nenhuma daquelas meninas ao meu redor, minhas amigas, tinham sabedoria da existência de MAC e sei lá mais o quê. Nisso, éramos todas iguais: aquele conjuntinho de sombras coloridas de embalagem preta e um batonzinho e lápis da avon. No máximo da natura. E tava tudo certo.

Nunca me queixei em não ter o papel contacte, a bota, whatever. Meus livros também eram encapados, mas com um plástico transparente que tinha um único objetivo: protejer os livros, sem tanta beleza quanto o contacte, mas com a mesma função. E esse plástico não era comprado na Livraria Modelo, era no centro da cidade do Recife. E eu adorava aqueles passeios com minha mãe.

Minhas roupas eram compradas nas lojas de fábrica do Shopping Outlet ou no centro da cidade e nunca saí mais feia por conta disso. Nunca fui menos paquerada. Talvez estivesse fora da moda, mas isso já aconteceria normalmente, mesmo se minha mãe comprasse nas lojas de marca, nunca tive coragem de usar uma calça corsário, por exemplo. Desde menina eu tinha noção do que era ridículo e também pudera, com dois irmãos mais velhos, não era perdoada em caso de ato falho.

Minha família não tinha e nem nunca teve problema com grana. Pelo contrário, nunca nos faltou nada, nada. Nunca deixei de passear por falta de dinheiro. Ou de comer. Ou de comprar um presente de aniversário pra um amigo. 

Se meus livros não eram enrolados pelo papel contacte e minhas canetas não eram da Livraria Modelo. Se meu tênis não era da Xuxa, minha calça não era da Gasoline e meus pais não foram comigo pra Disney porque é legal dizer aos outros pais e às outras crianças que aos sete eu fui à Disney, foi porque eles tinham outros valores. Outros valores que, logo cedo, foram passados pra gente. Não achávamos nossos amigos seres menores por isso. Mas também não permitíamos que nos olhassem como tal. E sempre convivemos bem, no mesmo grupo, mesmas festas, mesmos programas, mesma amizade. (Algumas, até hoje!)

Não morremos por conta dessa grana economizada com coisas tão bobas. E hoje podemos comprar nas gasolines da vida porque gostamos daquele produto. Do mesmo modo que podemos comprar no centro da cidade, pelo mesmo motivo: porque gostamos daquilo. E não porque, logo cedo, fomos condicionados a achar que o mais caro ou o que todos da nossa mesma classe têm, é o melhor. 

E isso vale para além do guardar-roupa!





quarta-feira, março 19, 2014

Manauara

Pra meu pai, andiroba, copaiba e aroeira curam o mundo.
Farinha, pimenta e banana alimentam.

segunda-feira, março 17, 2014

Saint Patick's 'Day



Hoje a Irlanda tá em festa. 

E hoje é dia de Guiness e chope verde pra matar a saudade!

* como o tempo passa depressa...

segunda-feira, março 10, 2014

Anete



cada vez
que eu vejo
essa foto

é como 
a primeira vez
que eu vejo
essa foto

Bem ditas palavras. Bem ditas?


Houve um tempo, por um bom tempo, onde a vida era um negócio tão aberto que as lágrimas escorriam antes mesmo das palavras. E durante. E depois. Era uma espécie de contentamento em poder apenas ser e compartilhar, o que quer que fosse. Os ouvidos sempre atentos e o coração aberto. Não havia medo e nem medição: nas palavras ou no afeto. Dos dois lados. Você era de longe uma pessoa que era só coração e incapaz de qualquer ato baqueado de falsidade. Até tudo virar não. Mas se fosse um não anunciado, te aplaudia, respeitava e me recolhia. Mas aconteceu de ser um não que não foi anunciado e, não satisfeito, se mostrou o oposto: abraço apertado seguido de acalantos "coronários", "pois quando vem do coração Deus abençoa" e sei lá mais o quê de tanta palavra junta. De tanta palavra vazia. 

A Rainha-Deusa-Mãe das palavras e do amor se engoliu no próprio desato e a vida do próximo virou a coisa mais interessante do mundo. Talvez por uma vida própria vazia. Talvez por puro esporte. Ou pelo desejo de ver um circo tão pequenino tocando fogo. O motivo em sí não me importa, não mais. Mas o não - que não foi anunciado e pelo contrário foi acalantado por palavras bonitas, porém encontradas em dicionário qualquer, veio seguido de palavras feias, também encontradas em dicionário qualquer. A diferença entre os dois conjuntos de palavras, é que um não teve a mesma coragem que o outro. As feias, aquelas que você não conseguiu segurar e nem mesmo medir - mesmo dentro de tantas incertezas no que estava falando - não tiveram coragem de se mostrar pra mim. Não tiveram coragem de se despir. Não passaram de linhas avulsas e destrambelhadas escritas para outra pessoa, não viraram voz. Esses olhos - que em outrora eram amor (?), não tiveram coragem de dizer pra mim. A força foi canalizada apenas para o negativo -  por trás, feito faca nas costas, enquanto as palavras continuaram de afago, amor e afeto. E ainda com direito a fotografia.

Isso foi de longe uma das coisas mais deprimentes que um ser humano pôde me mostrar, em quase 26 anos de vida. A parte divertida de tudo (porque sempre tem) é ver que o mundo dá voltas. E como dá, hoje eu vejo isso sem necessidade de lupa. E o ser que um dia julgou, não se iluda, uma hora ou outra vai cair na própria cilada e ser julgado. Até aprender que julgar é de longe uma das maiores babaquices e armas contra sí mesmo que se possa existir. Um prévio tiro no pé. Aprender isso foi como descarregar um revolver com um pente atolado de balas para o céu, libertá-las. Tem gente, no alto dos 30, 40 anos que ainda não aprendeu. Que bom que aprendi isso aos 25, ganhei uns anos a menos de sofrimento. Mas uma hora todo mundo aprende. O tempo e a maturidade ensinam essas coisas.

2014 começou agora e com a leveza e felicidade de ter por perto apenas gente de coração em comunhão. Algumas vezes é preciso que algo aconteça pra gente ver quem de fato tá junto e quer bem. Pior seria passar a vida inteira se enganando entre sorrisos bombásticos de emoção em cada fotografia - e tão superficiais. Hoje me envergonho dessas fotos que um dia participei, melhores amigos por conveniência. Mas sei que não é assim. Dei tudo de mim e é isso que importa. Cada fase é uma fase e tem coisas e pessoas que apenas cruzam com a gente nessa vida e passam. Do mesmo modo que outras também  virão. E que o importante é ver quem realmente é concreto, os que sempre foram e sempre serão.

É muito fácil ser amigo em mesa de bar e em almocinho em casa. Amigo de bar a gente arruma, tem em cada esquina do Rio de Janeiro, de Recife, da Europa, até.

Alegria na vida é olhar pra trás e perceber que os seus, aqueles seus de sempre, de fé, de doença, de falta de grana e de coração partido são os mesmos que compartilham dos gozos, dos sucessos, do uisque do bom. E eles continuam exatamente no mesmo lugar. E é um lugar que não fica estático e empoeirado, um lugar que não é nem atrás e nem na frente, mas do lado. Do lado lateral, lado a lado e do lado de dentro, como tem que ser.

Em resumo: além de tudo o que me aconteceu de bom e que me vem acontecendo a cada dia, que não quero compartilhar para que o recalque passe bem longe (com direito a funk e tudo) veio de quebra uma peneira gigante e gratuita (mesmo que na pancada) do que e de  quem eu devo ou não levar pra vida. Nem precisei me dar ao trabalho de fazer isso na retrospectiva 2013, a vida mesmo se encarregou me dando esse presente em forma de realidade. Até na hora de bater a danada de algum modo me alisa.  

Na hora, a pancada dói sólida, mas a dor vem seguida de mágoa líquida, que finaliza em formato de alívio gasoso. Um processo chato, lento, que machuca mas que é necessário passar sem pular etapas. E a leveza que invade varrendo o fim desse ciclo não tem nome. É um troço muito bom e que se eu pudesse, eu engarrafava e dava de presente para o mundo todo. Se é impossível uma sustentável leveza do ser, a gente busca o mais próximo que pode. E essa busca é diária.

Axé, 2014! Obrigada por todos os momentos que em pouco mais de dois meses você já me proporcionou! Vemtimbora que tem é muita vida lá fora (e aqui dentro também). Vibrante. E suave.

quarta-feira, fevereiro 19, 2014

Varandinha

'Todas as mulheres são complexas até que você encontre a SUA mulher. Ai tudo se torna simples.'

Calani, Gustavo. 

Rio de Janeiro, 18 de fevereiro de 2014. Rua Almirante Alexandrino, Santa Teresa.

quarta-feira, fevereiro 12, 2014

Quando a certeza prova que é falha

O instante em que, "apesar de", você continua desejando o bem de algumas pessoas, sim. 

Só que bem longe de você.

sexta-feira, fevereiro 07, 2014

Aeroporto de Cegonhas

Trabalho fotografando e filmando bebês. Não, não é aquele trabalho da moda, o "newborn", e que entra um "bom cascalho", como Gustavo costuma falar. Eu trabalho filmando e fotografando o nascimento da criança e o que envolve isso, os entornos mais próximos: o instante anterior, no quarto, lembrancinhas, barrigão, beijinhos. O durante, centro cirúrgico, mãe nervosa, pai nervoso e o logo depois, berçário, família emocionada do outro lado do vidro, bebê chorando, pai chorando, família chorando e eu, claro, chorando. Ou quase isso, quase sempre. É tudo meio poético até deixar de ser. É lírico, é um trabalho bonito e "que pouquíssimas pessoas conseguem fazer", como costumo ouvir. Eu também acho. É bonito e a cada parto, a cada click ou take no baby, meu coração explode e a vontade que dá é de sair abraçando pediatra, pai, mãe, enfermeira, bebê, todo mundo. Mas, à essa explicação, faltou explanar um ratito más sobre o centro cirúrgico não tão poético assim: bisturi elétrico cortando a carne, viva. Cheiro de carne viva sendo queimada. Sangue, muito sangue. Seres estranhos saindo de dentro da barriga e sendo arremessados (exatamente essa palavra) pra uma lixeira enorme. Gente de um lado e de outro enfiando uma espátula dentro da barriga pra suspender o bebê. Ele sai. Amassadinho e melado de útero, ainda quentinho e já reclamando da frieza que é essa vida do lado de fora.
"como é que tu aguenta ver isso sem desmaiar, hein?"
Hoje, sei a resposta: É que, ao ver o primeiro sopro de vida surgir, com um choro forte, de prontidão eu transformei meu estômago em coração. 

Ego infla(ma)do

Há gente com tanta necessidade de ter um cortejo seguindo atrás, que, no fim, acaba virando o próprio bobo da corte. E nem nota.

por Gustavo Calani

segunda-feira, fevereiro 03, 2014

De manhã cedinho


O despertador apontava 6ham quando tocou pela primeira vez anunciando uma tristezinha no meu peito: em meia hora de soneca, o mais tardar e com atrasos 1h de soneca, eu teria que deixar aquela cama. E deixar aquela cama significava muito mais do que encarar a vida lá fora em plena segunda-feira calorenta do Rio de Janeiro: significava te deixar. Te deixar assim, depois do final de semana inteiro dormindo juntos e sem hora pra levantar, naquela lengação tamanha que você sabe que sou mestra.

(não importa a música preferida que você coloque no despertador, você vai passar a odiá-la)

Pés nas pontas pra não te acordar (ainda mais), preparava meu sanduiche enquanto misturava o própolis na água pra te dar. Um beijinho, mais um abracinho, uns cheirinhos, você, entre o sono e a realidade, me falando coisas bonitas. E me abraçando de novo. Beijos, tchau, bom dia, bom trabalho, não perde a hora, melhora logo, não esquece o remédio, beijo, tchau!

Volto à sala e, antes de pegar minha mochila, o sol lá fora me pede algo pra beber. Geladeira, mate gelado, água, mais mate, mais água. Hora de pegar a mochila e partir, já estou atrasada. E, ao chegar na porta, olho de rabo de olho a porta do quarto escorada e meu coração acelerado. Mas eu estou atrasada! Mas meu coração tá pedindo. E volto no quarto, você de ladinho, olhos fechados e tintin com cara de pidão pedindo uma beijoca. Uma beijoca em tintin, outra em você, outra em você, outra em você e teus olhinhos abertos, brilhando.

E um sorriso maior que o metrô que eu provavelmente perdi de pegar na hora e me fez atrasar dez ou quinze minutos. É que o dia pode esperar um pouquinho. O amor, não.

Grandes estranhos

A Mauricio e ao fim de um ciclo

Você não me dói mais, direto assim. 

Não machuca e não catuca. Não sobrou raiva ou rancor. Não sobrou amor de sobra, também. Nem quando você aparece e muito menos quando some. E reaparece pra depois sumir de novo e ficar nesse jogo, agora, tão sozinho, do ir e vir. Você e você mesmo nesta batalha confusa que travou e que foge ao meu poder de entendimento. Desconfio que do seu também.

Você, esse menino dentro de uma pessoa, é uma figura que hoje em dia me diz tão pouco. Não chora e nem faz rir e, ainda assim, quando faz questão de demonstrar sua existência colocando à conta gotas particulas de afeto pra atingir meu coração, você atinge uma parte de nós dois que hoje é só minha e que não morreu. E que não vai morrer, pois não há mais mágoa e, mesmo quando mágoa, nunca me deixou escapar, nem por um segundo, você se virando em dez pra chamar atenção ou não: o desejo infinito de que você esteja e permança bem. 

Hoje, um sentimento unilateral que não tem mais a pretensão de troca. E nem vontade. Apenas (ou não tão apenas assim) o desejo de te saber feliz. Feliz contigo e não por uma coisa de fora, por pouco tempo, como costuma(va) ser: picos altíssimos de alegria e depois tão baixos, abaixo do mais baixo de melancolia. 

Hoje, eu fecho os olhos e, por uns instantes, mentalizo isso. Vez por outra. 

Hoje, não te reconheço mais. Nem ao vivo e nem em uma canção. E não sei se acho isso bom, ruim ou se jogo a responsabilidade de tal feito para a vida. Ou para o tempo. É, acho que para o tempo é conveniente, afinal, todo mundo sempre diz que o tempo isso e aquilo, vai ver é verdade.

Hoje,  não somos mais do que dois grandes estranhos. 

Hoje, pra concluir, sua foto descolou da minha parede, se pendurou na de Raica, não se sustentou e caiu no chão. Você tocando o chão e não mais o piano e seus jazzes inventados. Seu amor inventado. 

Não mais tua mão. 

Não mais.