terça-feira, junho 19, 2012

Sobre ele e o tempo que só serve pra passar

Há quem diga que ele não foi um bom marido, apesar de viril.
Que não foi um bom pai, bom filho e tampouco um bom irmão.


Há quem diga muita coisa.

Que ele errou quando mudou a rota, ainda novo, com um mundo à sua frente.

Que entre o rock, as drogas e o amor, ele escolheu mesmo foi o dinheiro. (e talvez o rock e as drogas).

Que ele foi a decepção de irmão que sempre foi espelho e deixou de ser quando a porta precisava ser trancada, por medo. Quebrando o espelho e, com isso, o olhar de cumplicidade.
Há quem diga que ele não dá valor as coisas importantes da vida ao passo que há quem diga que ele tem um gosto pela vida, como mais ninguém ao  seu redor.


Há quem diga que ele não soube ser amigo. Que não soube ser parceiro. Que egoísmo é a palavra preferida do seu dicionário.

Há quem diga muita coisa.


Pra mim, foi e é o melhor tio. Soube ser tio entre tantos "há quem diga" por aí. Mais tio que os próprios tios de sangue que tenho. Tio de fazer brincadeiras, inventar apelidos e suas variações, de fazer almoços deliciosos com atraso de horas. Mas era alí naquele lugar que me sentia em família, mesmo entre tantas brigas. Criança é inteligente demais pra se apegar a bobagens. Tio de deixar a mim e aos meus irmãos felizes, por saber que ele tava chegando pra mais um churrasco dominical e talvez com um pote de sorvete napolitano embaixo do braço. Ele e seu vozerão cantando Tim Maia sem faltar o show. Ele nunca foi de faltar o show, ele cantava sem vergonha e com uma intimidade que até o Tim devia se chocar. E cantava no microfone, acompanhado de uma batucada e muitas cervejas. Com os braços abertos, braços ernormes e quase sempre em pé. É assim que o vejo: em pé e com um sorriso que compensava toda a sua falta de beleza. Um sorriso maior que os braços de homem magro, alto e que já tinha e ainda teria tantas enfermidades que eu sequer saberia contar.

Há quem diga que ele é forte. Eu diria que isso é unanimidade. Acho que essa palavra nem deve ser a preferida de seu dicionário atualmente (apesar de nem cogitar qual que seja, entre tantas que imagino), mas ele é forte. Não, forte é uma palavra fraca perto do que aquele corpo que já não canta e nem dança, que não sorri e muito menos é viril, é.

Ele é uma palavra de ferro e esse é o texto mais difícil que já me atrevi a escrever.

3 comentários:

Amanda disse...

Que declaração linda, Carlinha.

Eu tenho me dedicado a pensar nos que amam apesar de, sabe? Esse sim, sabem amar!

Gostar do perfeito, do ideal, é muito fácil. Gostar acima de tudo, cheio de vírgulas e exclamações alheias é o verdadeiro desafio. É exponenciar as virtudes do outro mesmo sem estar cego pra os defeitos. Isso é ser nobre. Ah, como eu gostaria que o mundo todo pensasse assim.

Lindo texto, lindo sentimento e sábias palavras!

Beijo, escritora linda!!

Carlinha disse...

Amor é assim. É dar as mãos quando se precisa, independente de.

Beijos, flor! Bom dia!

Carlinha disse...

Há pouco, falo com ele no telefone, engolindo o choro e ele me surpreende com um "Maaaaaala!!! É você? Que saudade! Como você tá?" Com uma voz mais forte do que antes.

E acabou que o papel de animar o telefonema ficou pra ele e não pra mim.

Tem gente que é assim,né?