Ela morava sozinha em um casarão que ficava em um bairro distante da cidade. Eram necessários 3 ônibus pra chegar alí. A casa, de grande porte, era cercada por árvores, barulho de bichos e solidão. Sempre a perguntavam se não morria de medo de ser assaltada, estuprada ou de ver almas. Sempre se surpreendiam quando ela dizia que esse - o momento de chegar em casa - era o mais tranquilo do dia. Isso foi na época em que ela foi apresentada ao silêncio, as cores da noite e aos sentires mais íntimos. Era bonito. Uma beleza triste. Ou uma tristeza bonita, se tristeza chegasse a ser.
Ela sentia tudo, menos medo.
Medo ela deixava pra sentir nos instantes em que precediam sua chegada ao Km 12 da Estrada de Aldeia.
Era esse o caminho de quase 1 quilômetro que ela fazia, a pé, sozinha, por volta de meia noite, por vezes com uma ou outra moto passando rente aos seus longos cabelos, sempre bem presos pra tentar se passar por homem, e seu canivete - espero que afiado. Todos os dias:
E aí fica explicado o motivo pelo qual aprendi a não temer por coisa pouca.
Um comentário:
E tem uma bem sinistra: a do cara que passa de bicicleta por tu e lá na frente ele cai e fica se "batendo" no chão...E uma agonia danada do outro lado do telefone, há quilômetros de distância sem poder fazer quase nada, a não ser torcer. "Será que ele fez isso de propósito? Ou é verdade?"
Beijos.
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