quarta-feira, maio 21, 2014

No teatro:

Pra enlouquecer, é preciso estar muito são. 

No teatro.

Alô, produção! II

- Ué, como você conseguiu isso? E isso? E isso? Isso eles nunca dão, mesmo. E isso a gente nunca nem pede pra não levar um fora.

-É, como você conseguiu?

- ... pedindo. Acho que consegui justamente por não saber que não podia.

Alô, produção!


                                                                                               a todos os parceiros dessa vida de produção

Tem uma gente, maluca, que pensa que produtor é um bicho mais maluco ainda, adivinho e meio mágico. 

E essa gente tá completamente certa.

A gente, o outro

Dificilmente ouviam eu te amo da minha boca ou rabiscada de minha caneta. Dificilmente mesmo.

Atravessei a adolescência ouvindo queixas de amigas e cheguei na juventude deixando um nó na garganta dos namorados que , timidamente, falavam pela primeira vez esperando um "eu também" que fosse no lugar daquele riso confuso que eu dava ou dou no instante em que as coisas ainda não se mostram claras pra mim ou para meu coração. 

Não é birra, vontade de ouvir primeiro ou medo de arriscar, não. Já falei sem ouvir, quando certeza tinha. É respeito à palavra mesmo, que por mais simples que seja, merece todo o cuidado e prudência. Também me ocorre de não falar, não por falta de sentir ou sentir prematuro, mas por uma trava mesmo que dá entre o estômago e a voz. E isso acontece com gente funda no meu peito, gente de amor antigo e ao mesmo tempo novinho em folha em mim. Marina me dizia que sonhava ouvir isso da minha boca, mesmo que já soubesse através de meus carinhos, palavras escritas e ações que seguramente valiam muito mais do que um balaio enorme de eu te amos falados. Ela sabia e eu sabia que ela sabia, mas ainda assim ela queria ouvir. Até que um dia ela me viu falando ao meu irmão e se orgulhou, mandou mensagem no celular e tudo. Depois desse episódio, usei dessa oração com sabedoria. 

É seguro que quem eu não amo, nunca ouviu isso de mim, nem de raspão, por impulso, álcool no sangue ou o famoso "se colar colou" que tanto vemos por ai. Colegas, pessoas que admiro, pessoas inteligentes, pessoas parecidas comigo não são necessariamente amores. Por isso existem a empatia e a alegria de sentir que vivemos num mundo com pessoas bacanas. Amor é outra conversa. E, claro, já me enganei na palavra, não por acaso sou humana. 

Acredito que hoje em dia as coisas estejam mais equilibradas. Não existe mais a trava na minha garganta. Quando a vontade de dizer bate com meus sentimentos, não temo. Apesar de que meus braços, que podem ir até o inferno, se preciso for, continuam a dizer muito mais do que minha voz, fetal. E até mais que minhas palavras, vastas. Mas também não desembesto a usar o verbo por apenas a sensação do instante, do mês, da minha fase de vida ou da lua em sintonia com plutão, não. E confesso que me assustam as pessoas que, por um abraço mais forte e uma convivência maior, já tomam aquilo como amor. Coração é coisa muito séria e é preciso delicadeza e cuidado, sim, pra ser inteiro e todo verdade. 

Engraçado como só agora, no fim desse texto, avalio que o mesmo se dá com minha abertura. Provavelmente você, que agora mesmo lê esse texto, nunca tenha me visto se abrir, chorar, pedir arrego, em casa ou na rua. Do mesmo modo que você, outro você, que também me lê agora mesmo, já me viu pelo avesso, chorando, catarroescorrendo, pedindo colo e ajuda. 

Engraçada a vida, mesmo. Acho graça de quem acha que, por não fazer parte inteira daquela vida e não ter acesso ao que aquele alguem é, por dentro e por fora, tome como verdade que seja "assim" com todos. Ou "assado" Assim, esse assim assado que ela supõe. E as máscaras que a pessoa cria pra completar um inteiro, já que só conhece pedaços.

E é quando me questiono, com um risinho quase diabólido: ô, gente, somos pessoas, temos energias, temos sentimentos, dores, trunfos, alegrias, gozos, dúvidas. Temos a nossa vida e acho que seja justo que ela não seja um dominó de mesa de boteco que todo mundo joga, que todo mundo mexe, tem acesso, suja e, do mesmo modo que tem o poder de derrubar no chão, tem de colocar de volta à mesa. Tá amarrado!

terça-feira, maio 20, 2014

Despir-se

foto: daniel gonzalez


Pra mim, poucas coisas são tão belas quanto um corpo nu. Um corpo despido de ranço, vergonha, pudor, de medo. Um corpo livre, Um corpo que é bonito apenas por ser, existir. Feminino ou masculino, cheio ou fino, plástico, anatômico. Texturas, cores, sabores, curvas, gravidade. Vento infiltrando os buraquinhos dos poros. 

Um corpo nu é muito mais do que um corpo sem roupas.



Manguinhos em Cena

Fazia tempo que eu não saía de casa pra trabalhar cedo, voltar tarde, cansada, com fome mas com o coração transbordante. Saber, a gente sabe, mas é muito bom sentir na pele que ainda há bons motivos pra acreditar e muita área e gente férteis pra compartilhar, ensinar e, principalmente, aprender.

Manguinhos em Cena e Companhia do Gesto, muito obrigada! Hoje foi tudo demais.

teste para novos atores da companhia. foto: fernando alves

sexta-feira, maio 16, 2014

Transito de sexta no Rio:

A sensação de estar no ônibus desde a segunda.

terça-feira, maio 13, 2014

Procissão Nossa Senhora de Fátima:





Ou sobre quando o bairro foi tomado por velas e vozes.

Tá bonito!

Sobre Game of Thrones, séries e vinhos

Nunca tive paciência pra séries. Quando digo isso, quero dizer que nunca tive paciência pra iniciar uma série. Não sei o motivo, acho que preguiça. E quando digo que nunca tive paciência pra iniciar uma série, concluo que, com isso, nunca vi uminha que seja pra contar história.

Acontece que nos últimos tempos, em qualquer local ou grupo de pessoas que eu esteja, existe um suspiro sobre Game of Thrones. Seja Rafa falando que o fulaninho é gato, seja Léo dizendo que o anão é comedor, seja meu facebook cheio disso pela timeline dos outros ou mesmo em um cartaz imenso colado na banca de revista da esquina da minha rua. O negócio tá brabo. Tá dominado, tá tudo dominado. 

Já me contaram o resumo da história e não me senti seduzida o suficiente pra largar meus filmes e dar espaço ao GOT, como é apelidado carinhosamente pelos fãs. Até que um dia, em uma mesa de bar (claro, pois é o local onde surgem as melhores e também as piores ideias), um grupo de amigos se propôs a assistir pela primeira vez o primeiro episódio. Com o agravante de: "vamos assistir juntos?". Vamos. "sexta-feira que vem, com vinho e pan?" "vamos, fechou". No estilo um dá forças ao outro e estímulo. Tudo certo.

A fatídica sexta chegou, as pessoas chegaram, petisquinho na mesa, vinho pra regar a "equipe dos descoloridos" e as outras duas equipes, digo, reinos. 

O resultado é que é óbvio que ninguém se concentrou em série alguma e, pra piorar, ela virou uma grande piada no final de cada episódio, quando um ou outro se arriscava a dar um resumão geral do que aconteceu, entre uma golada e outra. Frases soltas, sem lógica, mas com observações muito pertinentes. De todas, me sobrou apenas uma, pois agorinha mesmo me deparei com uma foto que me fez lembrar e rir a mesma gargalhada do dia. Era pra ser uma coisa séria, mas Ana Paula não parava de rir. E, com isso, não conseguia me deixar continuar falando. E quanto mais eu resenhava, mais ela ria e chorava e ria e chorava. E menos eu entendia os adendos que Calani ou Bruno faziam, alguns "detalhes" que faltavam entre uma frase e outra que eu falava. Enquanto isso, as 5 garrafas de vinho iam embora.

"Esse cara tá imitando Caê na capa daquele disco!"


O resultado é que continuo achando que não nasci pra séries, pra não dizer que achei chata e novelesca pra cacete. Mas que foi muito engraçado dividir esse momento com pessoas que sairam da sessão de 3 episódios com a mesma sensação: "é ruim, mas foi do caralho, bora ver mais um?"

Então tá, até a próxima sessão.

segunda-feira, maio 12, 2014

"Quando" pode ser mais perigoso que "e se..."

Penso que a suposição exaustiva seja uma espécie de doença mental. E que a certeza de um achismo seja o diagnóstico desta doença. 

Por um mundo com menos adivinhação e mais paciência.

Redemoinho


Meu cabelo se moldava escorregadio para o lado esquerdo. Que é o mesmo lado do meu piercing no nariz. Não é franjinha que esconde um olho pra ver a vida pela metade, não. É apenas de lado. Semana passada fui ao salão de beleza "repicar" meus cachos e acertar essa franja e, pela primeira vez na vida "de lado" do meu cabelo, alguém que não conheço, mas com porte de uma tesoura nas mãos e da minha vida capilar naquele instante, me alertou sobre o redemoinho que eu tenho bem na frente. "Se você começar a partir para o outro lado, a franja vai ter um caimento melhor, além de dar um jeito no redemoinho."

Redemoinho? Eu nem sabia que eu tinha isso. Realmente, agora, meu cabelo, além de repicado, tá com um caimento muito melhor na franja, para o lado direito. 

Foi preciso que alguém que nunca me viu na vida, me falasse isso pra eu saber, mudar e melhorar, minimo que fosse, algo banal feito cabelo. Não foi pelo cabelo, foi pela visão do outro, tantas vezes cega em nós.

Por mais gurus e pessoas coringas em nossos caminhos! E coringas não são as que tentam adivinhar e explanar opiniões "seguras" sem conhecimento, apenas por esporte. Esses não são coringas e podem desviar a estrada, que é larga e cabem todos.

terça-feira, maio 06, 2014

Sobre cheiro, risco e acerto

Não tem risco de queimar ou ficar cru pelo timing errado. O cuscuz avisa que tá pronto quando começa a cheirar. Sem risco. 

Bem que as relações humanas podiam seguir o mesmo padrão cuscuz de viver: simples, direto, certeiro e sadio.

sexta-feira, abril 25, 2014

Bruno, Abdon, B1 (apelidade por mim) ou "mermão, deixe de ser chato, doido"


Era uma quinta-feira à noite em Copacabana, mais precisamente na Siqueira Campos, naquele boteco tradicional cheio de comidinhas tão perto de minha casa mas que eu nunca havia estado: O Adega Pérola. Era a minha primeira vez naquele lugar que eu voltaria tantas outras. Era a primeira vez, também, que eu saía com os amigos de trabalho e amigos de amigos do meu novo namorado. Quando cheguei, todos estavam sentados naquela mesa comprida que comporta bem copos, belisquetes e bebuns. Entre uma bicadinha e outra fui sendo apresentada a eles. Pouco tempo depois chega um rapaz tímido, com dread, camiseta lisa e já pedindo um chopp antes mesmo de sentar, na minha frente. "Ele acabou o namoro de seis anos tem pouco tempo e tá meio pra baixo", me alertou Paloma. 

Falava pouco e tinha um olhar tristonho mas muito bem disfarçado entre uma piada e outra de alta classe pra padrões de mesa de bar. E isso tomava a atenção da gente. "Que menino mau humorado mais engraçado", foi o que pensei.  

Meu primeiro pensamento sobre Bruno foi certeiro e bem julgado. 

Depois de um tempo voltamos a nos encontrar no aniversário de Paloma. Era um lugar chique e eu não conhecia ninguém além do meu namorado e um ou outro de vista de outra ocasião. Meu namorado, que deveria ser mais enturmado, parecia tão peixe fora d'água quanto eu naquele local. Eita, o Calil tá ali, vamos para lá. Eita, o Sato também tá ali, ó. Tudo certo, meu parceiro de cachaça e sobrenome. O Sato logo foi embora e o Calil também. 

"Olha alí, não é aquele menino que acabou o namoro há pouco tempo e tava no Adega?"
"É sim, o Bruno, mas pô, não tenho muita intimidade com ele"
"Que besteira, min. Ele parece legal e tá com a roupa mais parecida com a nossa, bora pra lá"
"Bora"

Corta a cena. 

Depois desse dia, quando marcamos o passeio de bicicleta pra Paquetá (mágicamente sem fulerar) e pouco depois selamos a nova amizade dos três que brotava naquela mesa de bar do bar que estávamos descobrindo, do "Zé", nunca mais nos largamos. Vivíamos os três por aí e era como se tivesse sido assim desde antes ou de sempre. Um casal e um amigo pra cima e pra baixo, de bike, a pé, de ônibus. Não tinha isso de segurando vela. Vez por outra você brotava com um amigo, só pra me dar mais trabalho na hora de cozinhar de madrugada, mas eu adorava. Eu adoro.

O casal se separou, os amigos, não. Nem de um lado e nem do outro. Pelo contrário, além de se consolidarem, ainda agregaram os novos colegas e novos grupos que levaram a novos grupos e a novos. Engraçado isso tudo. E também bonito. Éramos três. Somos vários multiplicados, hoje. E um carinho do trio original absurdo.

Bruno é chato. Provavelmente geneticamente chato. Por sorte não se tornou geneticamente gordo, seria muito para ele. Tem uma casca enorme e um escudo firme que envolvem uma carne fina, frágil, como costuma ser com gente de coração grande que tem um medo medonho de perder o controle. Foi assim por um tempo. Sabe-se lá o motivo, se por afinidade, confiança ou reconhecimento no outro, aos poucos essa casca foi se tornando fina e hoje consigo encostar na pele. Muitas vezes sem nem precisar de contato físico. Escuto o que ele tem pra falar com cuidado e atenção, dou valor. E quando eu falo, não tenho mais medo de receber um "isso não é da sua conta", como já ouvi ele falando por ai sem piedade. Ao contrário disso, ele liberou um "pode falar, temos intimidade pra isso". E ouve com cuidado, com atenção. E não é porque sou mais ou melhor, é apenas porque somos amigos e conquistamos isso dia após dia, em cada situação, conversa e até mesmo nas briguinhas. 

Agradeço demais a confiança que você deposita em mim e sou muito grata pela que tenho em você. É valioso isso, eu acho.

A verdade é que eu podia passar laudas e mais laudas escrevendo vários momentos e lembranças massa e viradas que já tivemos nesse mundo e vida carioca, mas acho que o que fica é o que a gente é hoje e também tudo o que tem pra ser vivido, que é muita coisa.

Te desejo tudo o que há de melhor, como desejo a mim e a um irmão. E te desejo também muitos e muitos carnavais, porque parceiro feito tu nas ladeiras de Olinda, tá pra nascer!

Beijos, meu querido! Vida longa. E um sobrinho bem lindinho e ranzinza pra mim (hehe)

quinta-feira, abril 24, 2014

O Sport ganhou ou o Náutico perdeu?

 Não entendo nada de futebol, aliás, nem gosto. mas sempre que um time ganha, eu tenho a impressão que foi quase apenas o outro que perdeu.

quinta-feira, abril 17, 2014

A inspiração que vem da dor

É natural que meus melhores textos venham de alguma dor. Por um coração partido, inconformado, maltratado, cheio de dúvidas ou dívidas. Passeio pelo meu blog e fico imaginando como seria um infográfico sentimental dele, cheio de altos e baixos, como é a vida. Quando engatada com algum problema, que por algumas vezes eu mesma criei, ele chega ao topo do cotovelo machucado, a carne sem pele, exposta, as veias do coração à mostra. 

Quando dor, os dedos escrevem rapidamente um texto, um poema, um foda-se em fonemas cheios de força, de bala engatilhada para o próximo tiro que sempre há de ter. Um texto atrás do outro pra preencher o vazio que aquela situação deixou. Se não tem mais a história (se é que um dia teve) e sobrou apenas sua lembrança, nos resta apenas as palavras como forma de manter tudo vivo, mesmo que já tenha morrido e só a gente não tenha, tristemente, dado conta, de teimoso que somos.

Quando amor, não. Os textos fluem no olhar em parceria com o outro. Surge na cama, entre um alisado e outro. Entre uma respiração mais forte e o gozo libertador. As palavras escorrem no ato, junto com a lágrima. O poema é o dia-a-dia. A mão na mão, o telefonema, o cheiro no pescoço de bom dia, o abraço da noite quando se reencontra, o jantar especial em dia de semana. As palavras, o texto, a prosa e o poema se confundem com a vida em ação, não mais em lembrança. E meus textos surgem em momentos que não há caneta, papel ou um computador pra escrever e depois passa, pra dar espaço a novos textos mentais, sozinha ou em conjunto.

Algumas vezes acontece da inspiração chegar quando tenho todas essas ferramentas em mãos e me sinto contente e com um cadinho de inveja, não de quando triste estou, mas do impulso quase que psicográfico que a tristeza traz.

Confesso, mesmo que egoistamente, que a felicidade tem seu preço alto: a escrita física acaba, algumas vezes, ficando pra depois. (Ao menos é por um bom motivo)

terça-feira, abril 15, 2014

Três meses


O tempo do amor é caduco

Ligeiro quando muito

Lento quando dentro:

É fundo.

segunda-feira, abril 14, 2014

Brasil:

Não Confundir
Chuva
Com frio

quinta-feira, abril 10, 2014

Sobre ser de Recife e morar no Rio:

Quando o Flamengo perde um jogo no dia em que o Sport ganha, minha timelime fica toda vermelha e preta. E eu fico absolutamente confusa.

quarta-feira, abril 09, 2014

(Re)leitura



Quando dou um flecheiro nesses olhinhos miúdos e amedrontados, vinte e tantos anos atrás, te encontro hoje. 

E meu coração dispara. Te encontro tão antigo e novo em mim, em nós. Duas bolas de gude esticadas que vivem me falando. E carrega, logo embaixo, esse narizinho que antes era só um sapinho e hoje criou ponta. Um acutângulo perfeito que daria pra deitar em cima e passar a tarde inteira lendo um bom livro, confortável. Uma ponta linda. 

Escorregando da ponta eu caio nesse bico todo. Um bico que é desamarrado, bem seu. Um bico suave, molinho, gostoso. (Tem vezes que é brabo, mas passa ligeiro com um cheiro). Por que é um bico que não é um bico, mas é, sim, um bico bem bicudo, no banho, na cama, fazendo manha (ou não). Uma risada em forma de bico. Ou um bicudo em forma de sorriso, ainda não sei. E tentando decidir qual das duas coisas, continuo perdida dentro desses olhinhos de menino que você carrega até hoje e que são de tamanha importância pra mim. Que, vez por outra, se escorrem em lágrimas, seja em um filme, música ou por uma alegria no peito. Você, chorando. Com tanta facilidade. "Quem diria". 

E então continuo e vou seguindo te procurando na fotografia e te encontrando fora dela. E tudo, tudo, tudo faz sentido: o post acaba e eu sigo olhando você no retrato. E na vida.


quarta-feira, abril 02, 2014

31 de março de 2014

Há dias venho pensado em você com frequencia. Seus olhos apertados de chinês, seu cheiro antigo e acolhedor desde que sou pequena, seu bolsinho na blusa, mesmo que não guarde nada nele. 

Tava lembrando dos livros que você já me deu de aniversário, o último, com uma dedicatória tão bonita! Você sempre me deu livros, desde os meus sete anos, quando me presenteou com um Ziraldo, um Pedro Bandeira e um livrinho, quase que manual, "de garotas". Esse ano você não vai sondar que livro ou dvd eu quero de presente. E chegar com eles embrulhados pelo papel da Saraiva de Copacabana. 

Ano passado esse ritual também foi suspenso, afinal, eu estava viajando e, no lugar de receber livros, te enviei um postal bem feliz diretamente de Barcelona. O primeiro postal que enviei nas minhas viagens. E você todo contente no telefone dizendo que tinha recebido rapidamente, pois Europa não era Brasil, que demora em tudo. O postal se foi, junto com você, não sei se foi egoismo meu coloca-lo junto à ti em nossa despedida, mas foi a maneira que encontrei de estarmos sempre juntinhos.

Acontece que depois de tanto te pensar, acabei sonhando no início da semana. Um sonho que ultrapassou os limites de realidade habitual, pois, dentro do sonho, eu sabia que estava sonhando. Nos encontrávamos no corredor da minha escola de infância e eu começava a chorar, chorar bastante, pois sabia que te abraçar, alí, seria um presente que eu não teria mais no plano presente. E eu te abracei apertado, tão rápido... e você, com rosto saudável e corpo forte, bem diferente de como te vi pela última vez, ainda em vida, me disse:

- Pára de chorar, menina! Você tá feliz?

(eu apenas balancei a cabeça positivamente)

- Então é isso que importa.

Você concluia, com seu ar de sabedoria de sempre.

Foi muito, muito bom te reencontrar. E ver que você está bem, firme e tranquilo. Quando quiser, pode aparecer.

Um beijo com saudade,

sua neta.