terça-feira, junho 19, 2012

Sobre ele e o tempo que só serve pra passar

Há quem diga que ele não foi um bom marido, apesar de viril.
Que não foi um bom pai, bom filho e tampouco um bom irmão.


Há quem diga muita coisa.

Que ele errou quando mudou a rota, ainda novo, com um mundo à sua frente.

Que entre o rock, as drogas e o amor, ele escolheu mesmo foi o dinheiro. (e talvez o rock e as drogas).

Que ele foi a decepção de irmão que sempre foi espelho e deixou de ser quando a porta precisava ser trancada, por medo. Quebrando o espelho e, com isso, o olhar de cumplicidade.
Há quem diga que ele não dá valor as coisas importantes da vida ao passo que há quem diga que ele tem um gosto pela vida, como mais ninguém ao  seu redor.


Há quem diga que ele não soube ser amigo. Que não soube ser parceiro. Que egoísmo é a palavra preferida do seu dicionário.

Há quem diga muita coisa.


Pra mim, foi e é o melhor tio. Soube ser tio entre tantos "há quem diga" por aí. Mais tio que os próprios tios de sangue que tenho. Tio de fazer brincadeiras, inventar apelidos e suas variações, de fazer almoços deliciosos com atraso de horas. Mas era alí naquele lugar que me sentia em família, mesmo entre tantas brigas. Criança é inteligente demais pra se apegar a bobagens. Tio de deixar a mim e aos meus irmãos felizes, por saber que ele tava chegando pra mais um churrasco dominical e talvez com um pote de sorvete napolitano embaixo do braço. Ele e seu vozerão cantando Tim Maia sem faltar o show. Ele nunca foi de faltar o show, ele cantava sem vergonha e com uma intimidade que até o Tim devia se chocar. E cantava no microfone, acompanhado de uma batucada e muitas cervejas. Com os braços abertos, braços ernormes e quase sempre em pé. É assim que o vejo: em pé e com um sorriso que compensava toda a sua falta de beleza. Um sorriso maior que os braços de homem magro, alto e que já tinha e ainda teria tantas enfermidades que eu sequer saberia contar.

Há quem diga que ele é forte. Eu diria que isso é unanimidade. Acho que essa palavra nem deve ser a preferida de seu dicionário atualmente (apesar de nem cogitar qual que seja, entre tantas que imagino), mas ele é forte. Não, forte é uma palavra fraca perto do que aquele corpo que já não canta e nem dança, que não sorri e muito menos é viril, é.

Ele é uma palavra de ferro e esse é o texto mais difícil que já me atrevi a escrever.

segunda-feira, junho 18, 2012

Inverno astral

Pra mim já é inverno. Não me bastam mais as copas das árvores que balançam ou o chão coberto por folhagens amarelas e vermelhas. Quero gotas a escorrer dos troncos, quero chuva pra molhar meu rosto. Eu quero isso vezes dois. Quero vento vezes dois. Quero frio, brigadeiro de panela, pipoca, filmes, música, comida gostosa e muito vinho, mesmo que eu já tenha. Eu quero uma desculpa besta pra não precisar sair de casa. Quero que o sol durma até mais tarde, que ele durma durante a noite também, para que não tenha sentimento de culpa por estar em casa. Por estar feliz e em casa. Quero simplesmente fazer nada.

quinta-feira, junho 14, 2012

Telefone sem fio

Considero ouvir a conversa dos outros uma falta do que fazer danada e é justamente por isso que o faço com bastante competência quando nada tenho pra fazer.

Não, não venho por meio deste texto assinar meu atestado de curiosa, apesar de ser, mas em se tratando dos assuntos alheios, não é bem uma escolha: quando me ocorre de ouvir, é simplesmente por uma questão de ouvido ou de gente que fala alto demais. O cenário perfeito é ônibus, já que sempre esqueço de comprar a pilha recarregável do negocinho de ouvir música. Nessa semana eu já descobri que tem um restaurante mexicano na Voluntários que é ótimo, precinho camarada: rodízio custa trinta e poucos e um tapas, por exemplo, 9 pratas. Nesse mesmo assunto, pesquei que o da Cobal é um pouco caro e que a Sandra não queria segurar vela da amiga com o namorado e nem forçar uma barra com o amigo do namorado da amiga. Bom, esse final, a partir de "Sandra..." realmente não importa, mas as dicas foram boas.

Ontem também fui vítima de ouvidos que não escolhem o que ouve e presenciei uma briga entre pessoas que o ouvido escuta de menos. Foi na hora do meu almoço. Quando fui pagar, as duas atendentes entraram no maior quebra pau sem o mínimo de elegância de perceberem que além de estarem no seu ambiente de trabalho, tinham também vários trabalhadores e ouvidos que nada tinham com isso.


Em meio a gritos e alfinetadas, uma delas falou:

"Eu vou mimbora pra casa"

"Como é?? você vai dar na minha cara?"


E a briga continuou, paguei e fui embora. Confesso que fiquei curiosa pra saber o fim.

Mas pra mim o melhor e que sempre ativa minha imaginação que transborda de fertilizantes, são as frases passageiras. E o que seriam as frases passageiras? São aquelas que ouvimos quando estamos andando na rua e cruzamos com pessoas conversando. Já ouvi cada coisa! Entre elas, as melhores: "ela é gordinha, mas fode que é uma bele.."  ou ainda "Eu vou acabar com ela pra ficar com as outras duas pra comer..." O resto não deu pra ouvir, a frase foi passageira, mas a pessoa fica imaginando, num fica?

E é quando me pego pensando nas frases passageiras que já ouviram de mim. O mundo deve ter um acervo. Indiscreta que só eu, de cair no chão, literalmente no chão, na rua, de tanto rir...

Eu e essa minha espontaneidade toda.

Mais cuidado. Ou não. Sou a favor da expansão.

terça-feira, junho 12, 2012

Capitalismo selvagem, ôô-ô!

- Pô, nego mete a mão no preço das flores no dia dos namorados. Se importa de receber flor em um outro dia menos previsível?


-Até prefiro, como você sempre faz.


Simples assim.


Zero paciência para mais um dia de capitalismo. Dia dos namorados é em cada acordar e fechar de olhos, juntos.


Mas o fundue em casa (restaurante nãããão), com vinho delícia eu não abro mão :D

E, pra quê esse lero-lero de tantas lojas se a gente pode ser um tanto criativo?

Abaixo, um dos meus presentes de 1 ano, acompanhado de uma pipoqueira em forma de carrinho de pipoca de verdade. Orgulhinho mode on:


Detalhe para as mini pipoquinhas em alto relevo
 e o marcador de página com nossa foto



A primeira das várias páginas do nosso filme,
assistido com pipoca feita no carrinho!


Sobre constrangimento, fome e poeira

Hoje eu tinha pautas para muitos textos e divagações. Hoje é dia dos namorados, poderia falar sobre o café da manhã surpresa ou sobre sexta, que completei 1 ano de namoro em grande estilo... E o final de semana que foi incrível e repleto de comemorações e banhos de chuva em Rio das Ostras. Ou ainda sobre a empolgação de ir pra São Paulo no próximo final de semana. Também tinha um texto para meu avô... mas tudo travou quando precisei fazer uma matéria sobre o recuo do trabalho infantil no Brasil e as pesquisas por imagens deixaram o monitor do meu computador sujo de preto e branco, senti daqui a poeira. O mais esquisito e que me causa até constrangimento é falar em recuo e ao mesmo tempo observar ao meu redor, sem nem mesmo precisar ir mais distante, em lugares esteriótipos que as imagens mostram: lixão, sertão, não! Na esquina da minha casa, em um bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro já basta.


Recuou quanto? quantos por centos? É pra comemorar? E o restante?


É como se cada uma daquelas pessoinhas fossem todos os por centos, todos os 100% s em cada uma e por isso é praticamente uma piada comemorar. Gostaria de ter estudado sociologia ou qualquer coisa dessas que te dão propriedade de falar sobre esses assuntos delicados, desse modo eu poderia encher esse texto de baboseiras e dados, de teorias, opiniões arrogantes e palavras difícies, pra convencer qualquer leitor leigo no assunto, assim como eu, de como as coisas acontecem ou o motivo pelo qual elas não mudam, ou o por que das coisas mais urgentes passarem sempre por um processo tão lento.


Acontece que dentro da minha ignorância, agradeço por não saber de nada disso, afinal, todos os sociólogos que conheço ou pessoas que teriam toda a propriedade do mundo pra escrever uma análise crítica sobre o tema, se pegam em situação de constrangimento tanto quanto eu na situação mais banal, mais comum: Alguém te pedindo dinheiro na rua. E sempre que estou ao lado de uma dessas pessoas, com propriedade ou não no assunto, e depois pergunto se o "certo" é dar ou não o tal do dinheiro, eles me dão um sorriso mais amarelo que o dente do pedinte e falam que não sabem ou que dão pra se sentirem bem ou que não dão por que vão comprar drogas, ou que só dão se a pessoa for mais velha ou se tiver com receita médica.


"Mas gente, uma pessoa com uma receita médica não pode também ser viciado em drogas? e usar esse dinheiro pra isso?"


É, pode... E é quando vem a velha e boa resposta quase que pálida: "mas eu fiz o que a minha consciência mandou, se ela vai fazer outra coisa com o dinheiro, a culpa não é minha".


A culpa nunca é nossa. A culpa é de quem mesmo? Ah, do governo. Outra resposta mais desbotada que a própria fome. E como não sei desenvolver nada bacana sobre a culpa do governo e qualquer coisa que eu venha a  falar acabará sendo tão comum quanto qualquer matéria da veja ou do jornal da banca, encerro esse texto com a reflexão do ato de pedir, do ato de negar, do ato de dar ou de fazer o blasé:  passando direto como se não fosse com você.

sexta-feira, junho 08, 2012

Há um ano...




... a alegria cotidiana de te ter ao meu lado.



quarta-feira, junho 06, 2012

Cartório






‘Eu, fulaninha de tal, portadora da cédula de identidade XXX, e do CPF XXX, venho por meio desta... zzzzzz’

Pois é, gostaria de desvendar os mistérios que giram em torno dos cartórios desse Brasil tão brasileiro. Mas, antes de tudo, gostaria de informar que é óbvio que venho por meio desta e não de outra, caso contrário, não estaria eu (ou você), escrevendo no bendito papel e sim em outro, mas, bem, isso é o que menos importa. O que eu gostaria de entender mesmo é a razão dos cartórios serem sempre tão rabugentos. Falta de dinheiro é que não é, tá pra nascer um comércio mais próspero que esse de carimbar papéis.

Mas é sempre assim: um ventilador grudado no canto do teto para propagar ainda mais o calor que faz dentro daquele espaço pequeno e com aspecto de sujo, de coisa velha, que já passou. Além do suor das pessoas, também esbarramos com o mau humor dos atendentes. Tudo bem que o trabalho não é lá dos mais emocionantes, mas isso também seria desculpa para quase todos os trabalhos do mundo. Cafezinho? Nem pensar. Quadros pendurados na parede, mesmo os mais bregas, também nunca vi. Até as pessoas que vão ao cartório costumam estar bagunçadas, descabeladas e, de antemão, impacientes. Tudo culpa da estética implantada em nossa mente que esse ambiente traz: estética de preguiça e de deixar pra depois ou pra nunca mais. Até arrastamos por alguns dias, mas só não fazemos o que manda a nossa mente, simplesmente descartar esse instante de vida, porque normalmente se vai ao cartório em situações emergenciais.

Outra coisa que também gostaria de entender sobre esse local tão feinho que gente de toda classe social frequenta, é o motivo de taxas tão caras justamente para quem não tem condições. Não conheço nenhum amigo ou alguém de classe social parecida que já tenha pagado para o cartório fazer, escrever a procuração. Normalmente já chegamos com ela escrita apenas para autenticar, pagamos apenas por esse serviço. Mas já vi muita gente humilde pagando caro simplesmente pela ignorância de não saber fazer sozinho o documento ou por não ter acesso à internet (ou por não saber que existe isso na internet), onde existem esses modelos prontos. Já cansei de fazer procuração pra porteiro de prédio e até mesmo para uma senhora que vi em estado quase que de desespero porque tinha que pagar um absurdo para escrever isso que sabemos praticamente decorado, esse bla bla bla batido de ‘Eu, fulaninha de tal, portadora da cédula de identidade XXX, e do CPF XXX, venho por meio desta... zzzzzz’



segunda-feira, junho 04, 2012

Dá saudade

Saudade é cavar na memória e ainda achar tesouros perdidos de uma história já batida.
É fazer e refazer versões para um mesmo fato e perceber que são inesgotáveis as possibilidades e todas felizes só pela beleza de ter o mesmo protagonista. 

Saudade é não ter medo de embarcar em uma viagem sozinha, bancada apenas por você.


Saudade é um choro em desalinho dentro do ônibus, um balãozinho no lado esquerdo do pensamento, uma vozinha tentando falar em seu ouvido e que você ouve, mesmo com todo o barulho que faz na cidade. 

As buzinas, os motores, as pessoas, nada disso: apenas a vozinha em seu ouvido como se fosse cantiga de ninar em plena rua, em plena vida, em pleno dia que custa a passar... por causa de uma saudade daninha e tão difícil de matar.


Das minhas trapalhadas

hoje (enquanto escrevia uma matéria)


Moradores de 15 capitais brasileiras pagaram mais caro por sexta básica no mês de maio.

Isso é a pessoa que, em plena segunda, já sonha com a sexta-feira.

Sábado:

After show

-Por favor, duas cervejas
-Encerramos o bar, senhora.
- (com cara de frustração nos direcionamos para o sofá do "lounge")
-Namorada, tô vendo um monte de gente com cerveja, ó... ó... ó... (apontando).

E então eu levanto e sigo para o bar, dessa vez para o balcão e não para o caixa.

-Olha, não tou entendendo, fui comprar bebida e a moça falou que o bar encerrou, mas estamos vendo um monte de gente bebendo.

-O que a senhorita quer?
-Beber.
-O que? Cerveja, refri, vod...
-Cerveja.

E eis que o rapaz abre uma stella artois e serve dois copos, pra mim e pra meu namorado.

E só então percebemos que não estava mais vendendo antarctica porque na verdade o after show, além da presença dos músicos da banda, contava com stellas liberadas.

Então tá, né?

Matuta!

sexta-feira, junho 01, 2012

Viviane Mosé ou seria Musa?

 

Linda.

 

'Eu queria dizer uma coisa que eu não posso sair dizendo por aí... É que eu tenho medo que as pessoas desequilibrem de si, que elas caiam delas mesmas quando eu disser. Eu descobri que a palavra não sabe o que diz. A palavra delíra, a palavra diz qualquer coisa. A verdade é que a palavra nela mesma, em si própria, não diz nada. Quem diz é o acordo estabelecido entre quem fala e quem ouve.

Quando existe acordo existe comunicação.

Quando esse acordo se quebra ninguém diz mais nada, mesmo usando as mesmas palavras...'

 



Recital no Midrash, 31 de maio de 2012.
 

 

quarta-feira, maio 30, 2012

musical


Entre uma matéria e outra, escuto minhas músicas que variam entre Arctic Monkeys e Cartola, e, em uma dessas, começo eu a cantarolar "diga lá meu coração a alegria de rever essa menina..." E o meu editor simplesmente para tudo, vira pra mim e fala: 'Mêo Deus. Essa desenterrou,viu?' Detalhe que ele tem seus 40 anos e me vem com essa. Ahhh, adoro música de 'velho' mesmo! 

Que posso eu fazer se herdei o bom gosto musical dos meus pais? Desde sempre (Quando digo sempre, é sempre mesmo... desde que nasci), minha casa é o que se pode chamar de casa de Vinicius: de braços e portas abertas para o violão, sempre no comando do meu pai. E a voz, guiada por ele, mamãe e eu, ainda com a voz fina e carregada de uma ingenuidade de criança que quer conhecer mais e mais aquele universo musical. E era assim, sempre. Fosse em churrasco com convidados, fosse à noite, depois do jantar, na varanda da nossa casa em Aldeia. Por vezes o teclado também se fazia presente, como em uma maneira de mostrar que meu pai (que hoje também manja na gaita), era e é um músico de passar o chapéu, ou como dizem "que tira a música com o ouvido". Não precisa de cifra, puro ouvido e intuição. Uma coisa mágica, bem como a música.


O repertório era variado e a música popular brasileira era fio condutor de muitas noites, frias ou não. Cartola, Zé Ramalho, Bezerra da Silva, Gonzaguinha, Alceu, Geraldo Azevedo, Tim Maia, Raul, Elis, Caetano, Gil, Gal, Betânia, Fagner, Tom, Vinicius, Nara, Chico... São alguns nomes que visitavam minha residência.


Anos mais tarde tive o prazer de conhecer por conta própria o jazz, que virou minha paixão. E foi quando em meio a brincadeiras, decidi: me casarei com um homem que toque um instrumento de sopro. 


Dia desses, meu namorado que já ouviu falar nessa história, apareceu com uma gaita e dando seus primeiros sopros com 'felicidade foi embora do meu peito e a saudade...'


A brincadeira fez-se verdade e só fiz conprovar: como é lindo instrumento de sopro, ainda mais quando conduzido por alguém que a gente ama!

terça-feira, maio 29, 2012

Efeito Gil

É engraçado como algumas coisas te tocam e simples palavras podem te levar a uma viagem astral. Música é assim e em se tratando de Gilberto Gil (ou Caetano), comigo, não podia ser diferente. Ontem ele fez um show incrível no Theatro Municipal acompanhado da Orquestra Petrobras Sinfônica, em comemoração aos 50 anos de carreira e 70 de vida. Se eu fui no show? Não. Passei o dia dolorida e murchinha por não ter ido. Quando soube do evento, os ingressos já estavam esgotados. Então agora, após ler os relatos do show no G1, me arrepiei e meus olhos se encheram d'água. Senti no coração a desenvoltura que o jornalista teve em descrever cada canção e por isso digo que foi um show incrível. Claro que faltaram muitas canções e que eu trocaria umas por outras, mas, como o prórpio Gil disse: "Ah, meu filho, são 500 e tantas músicas que precisei espremer num repertório de 20 canções. É uma judiação, né?" E é mesmo.

Agora só me resta esperar o próximo show desse neguinho tão querido! Ou, quem sabe, um dele e Caetano juntos, pra acabar de vez com meu coração.

sexta-feira, maio 25, 2012

Um pouquinho de música... (pra vc, meu amor)



Vem cá cintura fina

Cintura de pilão

Cintura de menina.

Vem cá meu coração



quinta-feira, maio 24, 2012

Coração desmemoriado

Conversando com uma amiga próxima, ela contou das novidades e falou que tava, finalmente, de paquera. Só para dar um parâmetro geral do histórico paquerístico dela, para que fique mais fácil entender o texto, é importante dizer que ela sempre complica demais as coisas e se encaixa com perfeição naquele esquema de quando eu gosto, ele caga em mim, quando eu cago nele, ele gosta. E, com isso, é praticamente um parto quando, dentre essas desventuras, ela consegue simplesmente se entregar no mesmo instante em que se entregam a ela.


Em 6 anos de amizade, só vi isso acontecer plenamente uma vez em sua vida, tirando, claro, os casos de alto mar (mesmo) que duram uma semana efetivamente e vários meses de cicatriz e pensamento distante, entre uma onda e outra. E então quando ela me falou que estava com paquera novo, no primeiro instante eu comemorei! (sim, eu sempre comemoro quando ela fala isso e mesmo que dê merda no final, acho justo que a pessoa aproveite, sorria e sinta o coração bater mais forte, nem que seja por uma semana e mesmo que essa semana alfinete seu coração por muitos e muitos meses e a outra pessoa sequer sáiba disso.)


Após as palminhas involuntárias que dei defronte ao computador, ela soltou o detalhe: "é, ele ACABOU de sair de um relacionamento de 6 anos, mas tá ótimo". Eita, nesse instante eu engoli seco e antes que eu decretasse caixão e vela preta para o caso de minha amiga, ela decidiu piorar a situação com a seguinte sentença, pra mim, muito decisiva "tou até meio bobinha...". Deus, que conselho posso eu dar a ela? Boa sorte? Felicidades? Cautela? Pêsames?


Bom, foi um pouco mais fácil do que isso tudo, afinal, ela acompanhou o início do meu atual relacionamento... Ela estava presente no dia em que nos conhecemos e viu todo o desencadear da minha história de amor e a minha história tinha um capítulo que muito se parece com o que ela vive agora: 6 anos preenchidos por uma outra pessoa. Bom, ao relembrar isso a ela, precisei ser clara e dizer o que ela já sabia, que ele só se entregou de verdade para alguém quase 1 ano  depois da separação. Não por ainda gostar da outra pessoa, nada parecido, mas porque precisava do momento de respiro e curtição do próprio ser que todo mundo necessita.


Então apenas 1 ano depois de muita pegação, bagunças na casa e vida semi-desregrada, ele se entregou, e esse alguém, por sorte e merecimento, fui eu. Ela falou que as vezes ficava um pouco paranóica mas que seguia tranquila na maior parte do tempo, pontos positivo para ela! Que completou o dilema falando que, na verdade, o relacionamento deles já estava mal há um bom tempo.

Mas tem uma coisa  importante que talvez tenha ajudado minha amiga em sua reflexão: Ela  tem mania de diminuição e insegurança. Ela é linda, inteligente, amorosa, carinhosa e tudo ou mais que um bom rapaz pode querer, mas ela tem um bloqueio de sempre achar que até a baranga da esquina é melhor. Ela é assim e pronto, não adianta que digam que ela é a branca de neve misturada com a menina com uma flor de Vinicius de Moraes. Acontece que essa nóia é sem importância, pois o que ela precisa enxergar (e espero que ela enxergue, de coração), é que o que está contra ela não é a ex. A ex pouco importa, eles acabaram. O relacionamento tinha desmoronado fazia tempo. O que pesa, nesse aspecto, não são os lindos cabelos que ela tem ou o corpo esbelto, mas sim o tempo. E quando falo do tempo, não me refiro pontualmente ao tempo em que passaram juntos, mas sim esse tal tempo de respiro e de entendimento sobre tudo o que passou e o que estar por vir.


Antes que eu pensasse que era caso perdido, ela me explicou que estava bem com ele, que ele era muito legal com ela mas que eu não me preocupasse, pois ela não estava apaixonada e dessa vez ela estava bem consciente da situação, pois nas demais vezes, como a própria psicóloga dela fala, ela pula de cabeça em uma piscina sem nem saber se lá dentro tem água... Parece que dessa vez ela tá usando bóia.


Refletindo com mais calma, vi que esse pensamento óbvio de que é difícil iniciar um relacionamento com alguém que acabou de sair de outro nem sempre termina mal, afinal, as pessoas simplesmente se apaixonam e podem alcançar o happy end na boa. Meus pais foram assim, quer dizer, bondade minha falar "happy end",  mas posso garantir que foram anos de casamento. Meu único medo é que acontecesse com ela o que vejo acontecer por aí, pessoas que levam seus fantasmas para o atual relacionamento, pois não viveu seu luto em paz, sozinho. E acabam carregando consigo essa carga. Acho que isso aconteceu com os meus pais apesar dos 20 anos de casamento. Preferi então relembrá-la disso tudo por uma questão de síndrome de coração desmemoriado, que passa pelas coisas na vida, apanha, jura que nunca mais vai passar, que aprendeu e tempos depois está lá, vivendo tudo aquilo novamente, mudando apenas os nomes e endereços. Sem nem ligar se vai sofrer, se vai sorrir, apenas dando saltos (as vezes mortais) dentro da piscina. 


E se quer saber? Pra quê bóia? estamos falando de amor.

terça-feira, maio 22, 2012

Tamborim

após muitas taças de vinho



É difícil demais expressar através de linhas o brilho que habita nos olhos,
nos olhos dele.


O formato que aquele olhinho rasgadinho fica quando sorri,
quando sorri para mim.


E o rosto inteiro se transforma em um misto de ternura e de sorriso com os olhos e lábios. Mais. É como se o corpo inteiro estivesse sorrindo, sorrindo de coração,


do coração dele para o meu.


E eu sorrio de volta, como se todas as coisas que desejo pra ele, pra mim e pra gente se transfigurasse naquele ato tão simples e involuntário de sentir com o coração. E é quando cria-se uma atmosfera singela, ingênua e cheia de um sentimento que, apesar de leve, é consistente a ponto de conseguir cortar como um pão. É vibrante, é cintilante, é azul e é amarelo. É vermelho, arde. É mar, transborda, é mais. É mais que a aquarela. É uma porta aberta, um vaso de planta, uma semente, um quintal, um enxame. É vento frio, uma canção inacabada, pincel, lápis e borracha. São cata-ventos rodando a nossa estrada.


É uma vontade enorme de que aquele instante seja eternizado através do meu olhar que não pretende perder um segundo que seja. O registro quase que impecável e cheio de expressões e impressões. Um registro cheio de amor feito através de dois olhares, dois sorrisos e um coração:  batendo forte.


-


Eu podia ter esperado para escrever esse texto na nossa comemoração de 1 ano de namoro que tá tão próxima, mas ela veio agora e amor não se espera, amor se soma. E, entre uma notícia e outra, entre um instante e outro, não paro de lembrar das surpresas que você me fez essa semana. E é quando mentalizo e agradeço, com todo o meu amor, como é gratificante e feliz te ter ao meu lado, todos os dias.


Amo você, meu amor.


* post novo no http://www.sobreestradasebotecos.blogspot.com



quinta-feira, maio 17, 2012

Sofisma



Em um dia bonito, Jó (mãe da minha irmãzinha de quase 3 anos) fala:


-Sofia, vem cá que mamãe vai te ensinar a brincar de amarelinha!
-Ah, mamãe, eu só quero brincar se for de vermelhinho!

 
(!)

terça-feira, maio 15, 2012

das delícias de guardar no peito

E bem no final do horário de trabalho, com a coluna doendo e pouca inspiração para o trânsito da Barra até a Zona Sul, recebo uma mensagem no celular que vem de longe, bem de longe, e, ao mesmo tempo, bem próxima, de coração pra coração...  E ela diz assim:

'Só queria dizer que eu te amo. Entra ano, sai ano, entra estação, sai estação e o amor continua. Que saudade! Me abraça aí no infinito que eu tou aqui te abraçando!' Maria.


sexta-feira, maio 11, 2012

Das mães

As pessoas costumam falar que mãe não é a que pare mas sim aquela que cria, cuida, dá carinho, afeto, educação e todas essas coisas que um filho precisa ou semeia, independente de ter vindo do seu ventre ou não. Engraçado que apesar de eu me encaixar com perfeição nessa categoria de filho que tem uma mãe que cria sem ter colocado no mundo, eu nunca havia pensado nisso desse modo. Aliás, só estou falando a respeito por conta de uma discussão de trabalho sobre o tema. E foi quando me peguei pensando nisso, no porque não penso nessa máxima.




é que a gente é do samba, sabe?




E imediatamente lembrei do dia em que estávamos eu e minha mãe em um dos vários sambas da vida, e, ao sambarmos juntas, no mesmo compasso, vimos o mundo inteiro parar nas voltas que dávamos entre um passo e outro. Ao mesmo tempo que as pessoas olhavam com alegria a nossa amostração, era como se o resto do mundo tivesse parado, apenas para que a gente pudesse curtir aquele instante. Foi quando a música acabou e eu falei: "é, mãe, tá no sangue!" E um segundo de silêncio foi dado com a continuação da minha frase na boca dela: "Carlinha, que sangue???" Foi quando me acabei em lágrimas pelo tamanho da minha expontaneidade e pelo tamanho da sintonia que temos, tão grandiosa, que por vezes até me esqueço que não tem sangue. No lugar do sangue foi injetado muito, muito amor. E isso explica o motivo pelo qual eu nunca me peguei pensando sobre esse bla bla bla que sempre falam no dia das mães, de mãe que pare, mãe que cria, mãe que abandona, filho que não dá valor e etc. Outro motivo que penso agora, que também justifca esse não pensar, é o fato da minha mãe biológica não ter tido a chance de me criar: ela simplesmente não teve escolha e em sendo assim,  não há necessidade dessa frase ou pensamento quase que amargurado ou com pedaços de mágoa de "mãe é a que cria e não a que bota no mundo".  O mundo, Deus, ou o que quer que o valha, foi generoso demais comigo e me deu a dádiva de duas mães. O mais impressionante é que se papai do céu chegasse e me falasse, baixinho, que eu poderia escolher a mãe que eu quisesse no mundo em recompensa a ele ter levado a minha, eu faria uma descrição rica em detalhes que, no final das contas, me levaria a mãe que tenho. Ele exagerou tanto no meu pedido, que até fisicamente somos parecidas. A coisa mais comum são pessoas que não conhecem nossa história, ficarem impressionadas com o quanto somos semelhantes. E é nesse instante que nos olhamos e damos um riso cúmplice de quem sabe mais do que devia. Do que quem sente acima da palavra mãe ou filha do dicionário.

 

 

Mãe pra mim é mais que esse nome, mãe é a pessoa que eu converso sobre sexo, sobre amizade, sobre problemas, sobre amor, sobre tudo. Sem pudor, sem restrição, sem o balãozinho de pensamento que fala que ela é minha mãe, e, desse modo, alguém que apesar de fazer tudo por mim, não merece saber tudo o que me acontece.





Mãe pra mim é troca, é ser a mãe dela quando preciso, é brigar, questionar, aprender juntas. Cozinhar, passear, sambar, tomar uma, contar piada, levar bronca pelo armário bagunçado, ficar emburrada e depois passar. É perceber que o armário dela tá mais bagunçado que o meu mas que o fato dela ser a minha mãe é o suficiente.







Mãe pra mim é uma melhor amiga que nunca vai te sacanear. Uma pessoa que nunca precisarei pensar duas vezes se o que ela fala é com a intenção de ser o melhor para mim (ainda que não seja). Mãe é a mulher mais linda que já conheci e conheço, e, por sorte, essa mãe é a minha: Ana, meu amor. Tudo pra mim. Feliz teu dia, todos os dias.

segunda-feira, maio 07, 2012

Carta para você/mim/nós







Minha querida,

Eu sabia que uma hora ou outra a vida seria regida por um turbilhão, cheia de detalhes simultâneos. Cheia de acontecimentos, crescimentos, dores e saltos, por dentro e por fora. Eu só não sabia que chegaria assim, sem aviso, sem bilhete,  justo nos meus 24 anos, idade que você sabe tão bem quanto eu que é marco histórico de minha nascença e tua partida. É engraçado como já pensei algumas vezes se essa não seria a continuação de sua vida, seus dias, suas forças. Apesar de saber que você era bem mais gente grande do que eu aos 24 anos, com um casamento, um filho nas mãos e outro na barriga, eu sei que tinhas um mundo inteiro ainda pra conquistar. E é aí, justamente nesse espaço de tempo que entro, cheia de humildade e vontade. Vontade de acertar no caminho! E isso se reflete no meu dia a dia, no meu corpo, na minha cabecinha. Igor ultimamente anda falando de maneiras engraçadas, com ar de impressionado, que estou bonita fora do normal. Acho que devo estar refletindo um pedaço de sua beleza também. Bom, não sei ao certo o que essa fase significa, o que esse emprego novo significa, o que esse amor tão grande dentro de mim significa, o que tantos aprendizados significam, o que discórdias significam,  mas sei que a vida tá passando por mim e eu não estou parada. Estou fazendo por onde cada conquista e analisando com cuidado cada fraqueza, cada dor. E isso vem me fortalecendo, vem me deixando mais próxima de você, da minha mãe Ana e das mulheres de fé, coragem e força que admiro. Abaixo segue algumas linhas escritas por Phillipe. Aliás, seu/meu/nosso nome é sempre motivo de risos, por ser diferente e o do meu irmão também! Não sei onde vocês estavam com a cabeça quando colocaram um "phillipe" antes do Victor, mas tudo bem. Quanto ao meu Anete, carrego com todo orgulho. A carta foi enviada junto com um presente lindo, em uma caixa enorme cheia de borboletas azuis:


'Irmã linda,

Vejo que o passar do tempo só te fez bem. Aquela pequena bailarina se tornou uma mulher. Mulher de verdade, de força, de amor. Pra mim vai ser sempre minha irmãzinha, que apesar do diminutivo, é como se fosse tudo pra mim.

Viver é fácil, difícil é fazer a vida valer a pena, por isso, parabéns! Você está no caminho certo, falo com todo orgulho, que só alguém com o privilégio que tenho por ser seu irmão pode falar.

Muito amor,



Phillipe.' Abril/2012

sexta-feira, maio 04, 2012

Blog sofre queda nas postagens



Querido Catando Vento, sei que ando em falta com você, porém, tenho uma justificativa que considero justa: faz pouquíssimos dias (os mesmos que me ausento daqui) que estou jornalistando sem parar. É notícia que não se acaba, uma danação só! E, veja bem, sou responsável pela editoria de economia, você deve imaginar o quanto isso é tenso pra mim. Logo pra mim! Eu bem queria colocar poesia nos infográficos, nas cotações, nos câmbios, nos juros, mas juro, não dá! É número por demais. É tudo muito duro, muito cidade, muito concreto e instável.  Era hoje e não é mais. Sobe e desce. Sofre recuo. Tem ajuste. Tem perda e correção.

Parece esquisito, mas economia é o mesmo que paixão: efêmera agonia.


E no final, no bem e no mal, tudo vira poesia.