Hoje eu conheci de Oi uma senhora que me fez atentar para o fato de que existem pessoas que estão na Terra apenas pra sofrer. Que entra verão, sai verão e elas não foram refrescar os pés nas águas da Guanabara. E não foram por falta de vontade ou por ocupação demais com coisas da vida, com doenças, com contas e com amarguras que não abandonam o coração. Com um simples olhar e meio dedo de prosa sobre sua história, é possível saber que as noites passam sem estrelas, que as lágrimas são cotidianas e acompanham os movimentos dos passos, dos pés, das mãos e dos lábios que pouco falam, que murmuram por dentro o verão que passou e o o novo dia que chega, que sempre chega com o ranço do fardo rotineiro, o fardo que é viver.
É possível perceber também que muitas delas nem percebem, nem denominam como fardo, apenas aceitam a condição de que a vida é feita apenas para esperar passar, para o instante em que tudo isso termina e o resquício de ar e de tristeza se esvazie pelo tempo e espaço.
Pessoas são feitas de espaços e algumas delas optam pelo espaço de tempo indeterminado. A vida em um espaço só, só de único e de solidão. Aconteceu, tá acontecido, sem chances de retorno. Às vezes por uma perda, por um abuso ou por conta de um amor mal curado tudo vira espaço, indubitavelmente só.
E tendo essa consciência de maneira mais ampla, penso em duas coisas: primeiro fico ainda mais injuriada com pessoas que não têm problemas sérios e agem como se o mundo tivesse se juntado com os sentimentos ficando contra ela e todos os seus passos. E o mundo vira um mau humor que impera junto com o despertador, o dia de chuva e todas as coisas normais da vida: trabalho, estudo, relacionamentos, família.
A segunda coisa que penso é que é preciso agradecer, agradecer sempre pelo alívio que me deram de só colocarem nas minhas costas coisas que posso suportar. Às vezes aparecem uns testes cruéis de sobrevivência, dores aparentemente incuráveis, traumas cheios de band aids. E agradeço mais ainda por passar por todas elas em vários espaços de tempo. Agradeço por me permitir errar em situações diferentes, com vários gostos e então aprender e seguir adiante. Seguir adiante, agradeço por essa possibilidade tão bem usada por mim ao longo dos anos e dos tombos.
Me alegra ser humano de sol, de luz e de otimismo. Me alegra , dentro de todo o meu egoísmo, saber que não sou mais uma Maria de luto pra chorar a morte de seu filho, tantas vezes de um filho que sequer morreu. Me deprimem àqueles que enxergam a chuva apenas como o fim de um passeio pré-programado, que não aceitam erros, que deu tudo errado, um cálculo furado e que dentro de seu próprio cerne, aproveita pra fazer conflito com o que não foi e o que não será, nunca.
Me deprimem aqueles que nunca serão: humanos.
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