quarta-feira, janeiro 20, 2016

O amor é um criador de apelidos

- Depois de amanhã a gente vai se abraçar!!!
- Eba!!! Meus ossinhos morenos! Meu sirizinho na lata! Minha Tereza da praia!

<3

terça-feira, janeiro 19, 2016

Quinta - ou o dia depois de amanhã

Arrisco dizer que depois de amanhã é o dia que mais esperei que chegasse durante quase três anos. 

Não, a razão para isso não é minha chegada em Recife. Sem querer desmerecer o reencontro com a "menina dos olhos do mar", não é por isso. É que duas vezes por ano em média estou por lá matando a saudade dos meus, dos gostos, cheiros, cores, de tudo. 

Dessa vez é diferente, a razão é outra. Faz quase 3 anos que não vejo uma pessoa muito querida e, finalmente, nos abraçaremos em nossa terra natal. Quem diria. Dois recifenses em Barcelona, 20 dias. Três anos depois: dois recifenses em Recife. Imaginamos e falamos tanto sobre esse momento e agora, tão perto, não consigo imaginar e nem sentir nada, nem mesmo euforia ou embrulho no peito. Faz tanto tempo que o tempo fica perdido no ar. A voz fica esquecida. O rosto fica turvo. Sem querer desmerecer esse encontro esperado durante 3 anos, agora sinto-me mais ansiosa pra comer caranguejo e sururu, por exemplo.

Os amigos tentam arrancar de mim um choro, um riso, uma emoção maior, igualzinho como sempre foi quando o assunto era você. E falam que vou chorar quando te encontrar pra ver se eu choro enquanto me falam isso. Ora, óbvio que devo chorar quando te encontrar! (Ou não, vai saber). Apenas não me sinto em rebuliço como previsto por todos. Claro, fácil falar isso agora, ainda distante de tudo. E ao mesmo tempo tão perto de estar próxima. Vai ver entrei em um estado de inércia forçado em relação a isso pra não entrar em erupção. Será?

Hoje trocamos telefone. Você com código 81 e eu, 21. Foi uma sensação engraçada salvar seu número, dessa vez tão curto, e escrever seu nome no meu celular: real demais. Nunca tivemos isso. A gente já deixava amarradinho local e horário de encontro. E se eu atrasasse pra chegar no Macba ou no Pis Joanic, distraída pela cidade como sempre, você já achava que eu tinha encontrado um catalão pelo caminho. E me recebia choramingando: "demorasse muito, po! tava com saudade já, faz mais isso não!" E dava uma risada com rosto todo vermelho. E eu invariavelmente voltava a fazer, fascinada pelos becos de Barça, me perdendo e me achando em cada nova esquina. E você voltava a me desculpar, porque  sabias que era bom demais me ter livre ali, voltando pra você por uma única razão: vontade. E então você vinha com esses braços enormes em minha direção prontos pra me fisgar. E era tão contagiante que a vontade que dava era de saltar pela janela e sair voando! 

Depois nos transformamos em postais. Em e-mails. Em fotografias no flickr. Facebook. Readaptamos nossa energia explosiva para letras. Foi bem duro. No início, skype vez por outra: na hora era mágico, depois era trágico meu estado de calamidade emocional. Cortei. Sem voz e rosto, nos sustentamos através de letras durante esse tempo todo.

Hoje escrevo esse texto pra deixar registrado o que sinto agora e tenho a intenção de me achar sensata demais daqui um tempo quando reler. Ou achar uma grande graça de mim, em ver que tudo virou de cabeça pra baixo novamente em um piscar de olhos - ou de dias -  e meu blog voltar a ser, praticamente, uma grande carta aberta e sem fim para você. 

Pode ser. Só que agora, teimosa que só uma ariana, digo duvido. Meus amigos diriam: vamos ver?

Epílogo

Eu podia seguir com você nesse jeito meio destrambelhado e funcional que criamos de compartilhar afeto. Um mais sincero que o outro. Parceiros no crime. O cuidado com o passo, uma explicação sobre algo que aconteça e que ultrapasse nosso controle, uma mensagem sempre com resposta. O encontro marcado. O namorico no banco de trás do taxi. A noite quente de corpos quentes e de mil lençóis no chão. A noite fria de mil lençóis no corpo e camisa e nó(s) nenhum que desse jeito pra aquecer. A chuva na janela. A música na cama e você por trás do violão: Assim falou Santo Tomaz de Aquino. A moldura sem pintura no teto da sala. A aquarela de presente de natal do eu-frevo por enquanto bem guardada (e com data!) criando coragem pra ser parede. "A magia do dia a dia, que é a mais bonita". As ladeiras de Santa, os sapatos dentro da caixa, o móbile celestial pendurado no teu porta-chave. Os mesmos livrinhos que você me mostra todas as vezes perguntando se já me mostrou antes. As músicas e suas histórias. As histórias. 

Pensei que talvez eu devesse ficar pelo cuscuz com ovo e queijo de coalho que você adorou ou por Cosmos que paramos no primeiro episódio. Ou pela sua tapioca que é uma mistureba maluca e que no fim dá certo e é bom pra burro. 

Acontece que o mundo é tão imensamente grande que lembrei que coração é feito pra voar. Pra inflar. E não pra ficar numa esfera tão limitada da saudade por algo que não foi e ninguém sabe se será. Uma hora essa conta iria bater na minha porta e o pagamento seria altíssimo. Contas que se pagam com o coração. 

Mirei, então, os três maguinhos que a gente mesmo criou. 

"Cansei de vocês". 

Pulei a janela e fui.

domingo, janeiro 17, 2016

Conta gota

Ontem me dei conta de que o filtro conta gotas de sua casa tentando encher a garrafa é a analogia perfeita do afeto, amor ou qualquer coisa que o valha tentando encher seu coração. 

sexta-feira, janeiro 15, 2016

Que seja doce?

Lembro-me de quando era adolescente e carregava uma frase de Caio Fernando Abreu quase que como um mantra. Eu e metade de minha turma: "que seja doce." A gente achava aquilo uma delícia, poético, profético, profundo. Hoje, depois de mais de dez anos, reli essa frase, que fica dentro de um texto que eu também adorava, que reside dentro do livro de crônicas que eu deixava reservado em cima de minha mesa de cabeceira, o Morangos Mofados, e hoje ela não me disse nada. Ou tão pouco. 

Que seja doce? Me perguntei achando tão bobo e superficial. Quase leviano, como se só de doce fizesse a vida. Como se só o doce salvasse, só o doce fosse bonito a ponto da gente desejar ele como um mantra. Hoje é tudo tão diferente, minha língua se atrai pelos salgados, azedos e até amargos. Pelo doce também, apenas não o semeio mais que os demais sabores. É o conjunto de sentires que faz a gente ser o que é, a querer o que queremos, a saber receber o que nos é dado. Não vou desejar o doce se sei que receberei também salgado. 

Que seja real, isso sim!

E fechei o livro deixando guardado ali pedaço de minha vida - que se foi.

quinta-feira, janeiro 14, 2016

Yin Yang

Enquanto um é todo rua
Do sofá o outro vê a chuva
Sinto-me completa
Completamente vazia
Completa(mente) lua

terça-feira, janeiro 05, 2016

Foi dada a largada

Senti que o mar do primeiro mergulho do ano foi um teaser do que será 2016: violento, movimentado, intenso e dando uns bons caixotes por trás enquanto eu driblo tudo pegando um jacaré rumo ao mate e a estampa colorida da canga que reluz embaixo do sol. Merecido sol.

segunda-feira, janeiro 04, 2016

Valencianas

O encontro do erudito com o popular é um troço que vai lá no âmago do meu peito e causa uma inquietude e vontade de desvendar o que, pra mim, não se desvenda, por mais detalhadas que sejam as explicações sobre regras, técnicas, métricas, velocidade, ritmo ou rimas: é feito pra sentir. É música, é alma. 

Valencianas, disco de Alceu em parceria com a Orquestra Ouro Preto, é o exemplo disso. Um belo recorte de seu trabalho adaptado pra um concerto. Sim, Alceu Valença e música clássica, quem diria? Tudo junto e misturado sem deixar de lado a responsabilidade em não perder a essência popular pernambucana, principal característica de sua trajetória musical. Parece muita informação, eu sei, mas não é. É certeiro e sorrateiro.

É suave ao mesmo tempo que é cortante. E tem gosto doce ao passo que é travoso feito a carne de caju que ele tanto canta. Sim, sou suspeita, essa mistura me ganha desde que ouvi Quinteto Armorial pela primeira vez e fiquei atônita por horas tentando entender a imensidão daquilo tudo. 

Quantos mundos cabem naquelas canções? E nessas? Onde estou e pra onde elas me levam a partir de agora? 

Não sei. Só sei que enquanto houver música em mim, a vida segue cheia de esperança!






Lembrete de Recife direto para o coração:

Estar ao lado todos os dias não significa estar próximo.
Próximo é estar dentro.


domingo, janeiro 03, 2016

O primeiro mergulho de chuva

Antes do ano acabar eu já programava o primeiro mergulho de 2016. 

Depois de tantos últimos mergulhos do ano, ficou a promessa daquele que seria o de entrada, o mergulho de cabeça e nado peito, que é como quero embarcar no ano do Macaco de Fogo, um ano que promete fortes emoções. 

Meus planos foram por água abaixo, literalmente. O ano começou mais vagaroso, sem sol e com muitas nuvens. Se por um lado isso me frustrava, também me causava um enorme alívio a não vontade de sair de casa e repor um pouco dessa energia não-solar. E ontem, que seria o dia do mergulho, o Rio nos presenteou com um tempo mais fresco e nublado no lugar de um mar verdinho. 

Eu, que ciceroneava colegas de Recife, me vi fugindo deles lá pelas tantas: mal entrei na festa e já fui-me embora, agoniada que tava com tanta gente, voz, fila, vida. Fui descendo aquelas ladeirinhas rumo casa até que o Bar do Gomes se joga na minha frente me chamando pra uma cervejinha solitária, sentada de boas naquela calçada pra depois descer tranquila. Solitária, quanta pretensão a minha! Foi chegar no balcão e dar de cara com Mauricio, sem chance de desviar o que quer que fosse. Um abraço desnorteado, feliz ano novo! Que coisa esquisita. No meio de tanto turista e nenhum conhecido: logo ele. De algum modo intrigante que não cabe em algoritmo algum: ele. 

Estamos brigados, ou melhor, não o vejo mais como o via, o que torna tudo mais grave que uma briga e, ainda assim, como um milagre de inicio de ano, dividimos a cerveja sem grandes prejuízos, intrigas e sem trocar uma palavra sobre todos os mal entendidos e desgostos dos últimos tempos. Duas pessoas maduras, uma ao lado da outra compartilhando da mesma garrafa e até do mesmo sorriso desconfiado, ainda que uma não faça mais parte da vida do outra. 

Finalmente choveu a chuva prometida. Chuva, muita chuva. Foi a deixa perfeita! Estava na hora de cumprir minha promessa: não tinha banho de mar, é bem verdade, mas tratei de dar um jeito nisso e logo fui pra casa descendo aquelas ladeiras embaixo de uma chuva torrencial, que ensopava o vestido, os cabelos, o corpo inteiro, por dentro e por fora. Chuva daquelas que mistura lágrimas com gotas de céu e ninguém seria capaz de identificar ou julgar. Dei uma volta completa no mundo que é a minha cabeça, em 78 por segundo rotações.

Alma lavada, acho que era mesmo isso. 

As coisas são como devem ser. Não teve banho de mar - ainda - mas teve o banho mais importante do ano: o do perdão ao próximo e, principalmente, a si mesmo.











sábado, janeiro 02, 2016

O sol, o breu e a barba ruiva

No fim do ano conheci um rapaz. Um moço que aos poucos foi mexendo comigo e que, de algum modo, sei que também causei algum rebuliço ali por dentro, talvez, quem sabe, no contar de algumas horas, entre a última música no violão e o despertar de manhã, em uma manhã dessas qualquer sem importância pra ninguém. 

Certa vez, quando vimos necessidade de deixar as coisas um pouco mais claras, ele se abriu comigo, mostrando um lado mais frágil e escuro. Sim, pra deixar as coisas mais claras ele me mostrou a escuridão. Bingo!

Lembro que no momento me senti privilegiada em tomar conhecimento de mais uma face daquele garoto tão obviamente do bem. Ter ciência daquilo não o tornava vulnerável a mim e ao mundo, pelo contrário, engrandecia ainda mais sua existência perante o Universo. Com aquela postura ele não me bloqueava ou afastava, como temia. Ele me protegia, me dava noção geral de tudo e opção de escolha: ele fazia a roda girar sem necessidade de adicionar óleo quando tudo já tivesse travado. O óleo era o próprio verbo.

"Sem o dia, não existe a noite. Sem a noite, o dia não chega." Era o que papai dizia quando a gente queria que o dia durasse pra sempre nos finais de semana porque a gente tinha medo do escuro. "Um não existe sem o outro e essa é a grande beleza da vida." Papai completava com um ar mais filosófico enquanto pra gente, na condição de moleques, era suficiente entender que ainda bem que existia a noite, porque só assim o dia chegaria de novo. Isso a gente entendia. E passamos a ser amigos da noite também. Se ela existe, por que vamos nos ausentar de suas possibilidades? E brincávamos de esconde-esconde, de casinha do terror, monstro da bananeira, contávamos quantos vagalumes passavam por nós, descobríamos a delícia de um banho de piscina noturno e como era muito divertido a contação de história de medo embaixo dos lençóis, onde ninguém podia ver ninguém, apenas ouvir e imaginar. E quando chovia? Quando chovia era melhor ainda. Ficávamos todos ali na varanda olhando os raios no céu, ouvindo os cachorros uivando, os sapos tagarelando, os pingos grossos fazendo um barulho no telhado que nem que eu viva mil anos eu posso esquecer, as infinitas partidas de ping pong e todos nós cantando juntos acompanhados do violão de papai tão afinado. Com o tempo viramos amigos da noite. O jogo virou. Foi preciso até um freio pra que a gente continuasse aproveitando o dia sem perdas e danos. O danado do equilíbrio. Os opostos complementares.

Ter consciência sobre si é um caminho que nem todo mundo busca por medo de se ferir, por medo do desconhecido, de esbarrar com algo que pense não dar conta e acaba escolhendo o trajeto mais fácil. Uma morada embaixo do sol, a ilusão de ter as ideias sempre bem claras. Acontece que sol demais queima. Sol demais dói a retina e no fim vira breu. Um breu forçado. Uma dor adiada e maquiada que vem mais forte. Tudo que vem de supetão causa um solavanco mais intenso e sem direito a negociações. Ora, antes a gente tivesse apertado a mão do breu desde o início e encarado ele não como um inimigo, mas como um aliado. Somos feitos dessas nuanças, ninguém escapa pra sempre dessa condição: somos o que somos. Somos luz e solidão. Yin Yang. Sagrado e mundano. 

Hoje tudo faz sentido. Papai que sabia das coisas. E isso sempre viveu e existiu dentro de mim, principalmente quando sofro e enlouqueço de noite pra clarear e ser lúcida de dia. Eu vivo sabendo que é assim, que eu não preciso morrer, que crescer e se enxergar nua dói mas é importante demais. Curioso é que eu nunca tinha feito a ligação dos ensinamentos literais sobre escuro e claro de minha infância com o escuro e claro emocional. Foi preciso que um rapaz de barba ruiva me atentasse a isso, fosse luz na minha fresta. 

Que transformasse o verbo em óleo pra fazer a roda girar harmonicamente. 



Diogo, o índio urbano do Rio

Conheço Diogo tem pouco menos de uma semana. Nesse meio tempo nos encontramos 3 vezes: Santa Teresa, praia e na festa de ano novo. 

Deixa contar como que foi:

Era um domingo quente, como todos os dias: sol, mar, um Leme cheio de gente e de acontecimentos. Um calor danado, nossas cangas sendo invadidas por um mar sedento. Tudo molhado. Diogo ainda não existia pra mim mas se fazia presente através das conversas. Sempre havia alguém pra mencionar seu nome, contar alguma história e insistir que eu já o conhecia. "Não, não conheço". "Conhece sim", insistiam, mostrando alguma fotografia. "Não, gente. Não conheço mesmo." 

O fim de tarde chegou junto com um nó bem no meio do sossego: uma saudade antecipada de algo que anunciava que não mais seria. Um anuncio tolo feito por mim e pelo meu coração maluco e desregrado. Entrei de volta no portão de casa com a sensação de que o dia não teria mais jeito, talvez fosse melhor que chovesse como previsto. Que chovesse bem forte até lavar tudo, todos, as almas. E eu apenas dormisse estranha e acordasse lúcida e em paz como costuma ser depois de uma noite turbulenta. Mas não choveu. Pelo contrário: Alex mandava mensagem perguntando se me encontraria. Um sorriso se abria junto a uma esperança. E lá fomos nós pra Santa, pra vida, pra rua, para as possibilidades mundanas. De bate e pronto vejo quem eu não queria. Mesmo que soubesse dessa chance, preferia que ela não existisse. Alex ao lado, sorriso largo e firme, me olhava fixo com os olhinhos de samurai travesso. Resguardada e protegida por um olhar, segui em frente. A atmosfera estranha foi-se quebrando pouco a pouco e minha noite, agora com uma energia bem diferente do fim de tarde melancólico, foi salva. Muito por Alex, pela banda, por Mariah, por aquela rodinha marota de conversa, pelas heinekens e a magia de Santa Teresa, verdade, mas sobretudo por uma presença nova e inesperada: Diogo! 

A noite terminou com promessa de praia, que é o único pacto pessoal que tenho maturidade de cumprir no verão. E lá estávamos nós, um dia depois, em Itacoatiara. Um dia cheio de alegria e sorrisos. E mais risos e jacarés e sanduiches e pasteis e barra de proteína com gosto de bosta de cavalo e cangas que dialogam nas cores e fotos e protetor solar e livros e conversas e mais risos e o fininho que ninguém soube apertar e voltou pra casa, humilhado. A casa dos pais de Mariah, as amoras, o disco Transa pela primeira vez sendo chato, o caldo de cana com limão, o transito do cão, a conexão. 

"Como pode alguém que sabidamente está despedaçado por uma separação que ainda não se concluiu estar tão de boas assim?" Era isso que me perguntava e ainda pergunto quando lembro do semblante tranquilo e a energia tão leve que Diogo carrega em si. E a paz de espírito que transmite para o outro. Que transmite para mim que mal o conheço e já admiro tanto.

São raras as vezes que ele fala de Marcelo e quando fala, fala com uma ternura de causar inveja em qualquer membro de fim de namoro mal resolvido que só sabe ser mágoa. E Diogo fala com ternura mesmo quando conta que ficou até quatro e meia da manhã brigando com o danado e por isso dormiu tão pouco e, aparentemente, está acabado pra esse reveillon. Que nada. Foi o mais animado, do início ao fim. Algumas horas parecia que ia dar uma carreira e voar do terraço para o céu e voltar com uma sacola cheia de estrelas pra distribuir pra todo mundo.

Tinha um bocado de gente naquela casa pra estar perto, pra dançar, pra celebrar e no fim das contas a gente sempre terminava juntos, no mesmo riso, na mesma energia. Na casa, na praia pra ver os fogos, no ônibus, na festa. Até na virada, era ele quem estava do meu lado mesmo que a gente não tenha programado se perder de todo mundo. E ele mais uma vez salvou uma noite que poderia ter sido esquisita entre tanta gente estranha naquela praia também estranha, longe dos meus queridos do peito. E não foi. 

Hoje acordei meio desnorteada e ao mesmo tempo aliviada pela sábia escolha do fim de noite: fui embora do nada, sozinha, sem dar tchau pra ninguém. Simplesmente vi a brecha perfeita onde nenhum conhecido poderia me ver pra me convencer a ficar e fui. Senti que minha hora tinha chegado e simplesmente caminhei pra fora daquela coisa toda. Como venho feito tem tempos. Não sei o que aconteceu no fim da noite de Diogo e nem se aquela festa foi boa pra ele. Espero que ele não tenha brigado com Marcelo e nem feito as pazes, pra não complicar ainda mais a situação. Espero que a ressaca tenha sido mais suave que o previsto e que a gente se encontre muito em breve pra rir do outro e da vida. 

Eu aqui, desejando tanta coisa para alguém que conheci tem menos de uma semana e já me ensinou um bocado sobre a vida sem nem ter noção disso, apenas por existir e ser luminoso como é. Posso dizer que nesse fim de ano Diogo despertou o melhor de mim que tava meio esquecido, que é rir da minha própria cara. E de algum modo me inspirou a ver as situações através de um ângulo menos engessado. E eu me sinto muito grata em tê-lo encontrado na vida nos 45 minutos do segundo tempo do ano. 

Que força pode ir contra as boas energias do mundo que se encontram? Essa conexão é divina. Pra mim, esse tipo de coisa é que é Deus.

Um 2016 cheio de vida pra Diogo. E pra todo mundo!





quinta-feira, dezembro 31, 2015

Ano novo, ano velho ou só a vida que segue

O adequado seria fazer uma retrospectiva do ano, como costumo fazer. Só que hoje não é um dia como todos os dias 31 de dezembro, hoje completo 5 anos de Rio de Janeiro e o peso que isso me traz é enorme: uma mão completa de vida, igual criança quando faz cinco anos e, ao perguntarem, lança a mãozona aberta pra frente sem necessidade de voz. 

Cinco anos. Três empregos. Três namoros. Uma viagem de três meses pra fora. Algumas perdas pesadas, outras nem tanto. Pessoas fantásticas, várias. Pessoas uó também. Pessoas de Recife que se tornaram meus irmãos aqui no Rio. Quatro carnavais em Olinda. Petrópolis, Laranjeiras, Copacabana, Tijuca, Santa Teresa, Bairro de Fátima. Uns trabalhos péssimos. Uns trabalhos massa. Umas poucas paixões fortes e demoradas, outras paixonites agudas e ligeiras. A cara quebrada algumas vezes e eu quebrando a cara dos outros tantas outras, assim como é a vida: minha, sua, deles. 

Hoje, 5 anos depois, já não tenho o desespero de ir-me embora do Rio, essa cidade cão que também me encanta, tampouco o desejo de ficar por mais 5 anos, pois tem muito mundo ai pra desbravar. Não sei, nunca se sabe. Ainda existe a Bahia e a vontade romântica de passar um tempo por lá. Tem São Paulo e a vontade mais prática. Hoje em dia, avalie, até Recife voltou a ser uma possibilidade, coisa que há um ano era fora de questão. Como é bom poder mudar de opinião!

O ano novo vem sempre, vamos agora ir até ele também?

Decidi que pra não haver conflito de prioridades, não vou fazer retrospectiva do ano, nem dos últimos 5 anos e nem projetar tantas coisas para o ano que vem cheia de textão. 

Só queria mesmo deixar a reflexão e o cuidado pra que a gente não deposite tanta responsabilidade em uma data, em um rito. Não é o ano que determina o que será bom ou ruim, somos nós. O ano começa um dia depois de hoje e por mais legal que seja pensar que será tudo novo de novo, racionalmente pensando é apenas amanhã: o dia depois de hoje. Não quero com isso diminuir o valor do rito de passagem, da renovação de energias e do tempo fatiado como diz tão sabiamente Drummond. Somos pessoas e pessoas precisam de algo pra crer, pra seguir em frente, pra virar a página, pra recomeçar. Nem que seja uma data que determinamos pra isso. A atenção que falo é apenas em não canalizar em um número nossas responsabilidades, expectativas e necessidades de mudança. Não é justo. Não vale ficar com a bunda no sofá esperando por algo que não tem razão pra vir se você não tá movimentando o Universo pra que isso aconteça. Não vale em meados de novembro ficar chateado mandando o ano ir embora, porque ele foi malvado contigo. 

O ano e o Universo que foram malvados ou a gente que mais uma vez se fez de maluco e esqueceu que o Universo e o ano giram de acordo com o que lançamos nele?

*eu gosto de escrever Universo com letra maiúscula. Grata pela compreensão.




quarta-feira, dezembro 30, 2015

"Carlos, Erasmo", você, eu e o choro retroativo

Sabia que Erasmo Carlos lembraria você e nossas infinitas discussões sobre ele e Roberto, sobre Tim, sobre Ben ser o maior gênio - mais que Tom Zé - sobre Macalé, sobre aquela música que Bethânia fez pra Caetano quando ele voltou de Londres, sobre Gil ser muito mais easy going que Caetano e eu pouco me fuder pra isso porque sou apaixonada por ele mesmo ele falando um bocado de merda vez em quando, sobre Hermeto ser gêmeo de Sivuca, Sobre Revolver ser meu disco preferido dos Beatles só por conta de duas músicas, sobre eu preferir Ringo e vc Paul e ai eu querer mudar de opinião pra preferir Paul também porque ninguém quer ser Ringo, só eu. Sobre eu pirar com Nina e você querer escravizar vocalmente Billie Holliday, sobre Jackson do Pandeiro ser teu novo vício e eu me sentir absolutamente lisonjeada por isso, por Lula e por todos os "meus" que agora são um pouco seus também. Pelas músicas que você cantava com essa voz tão bonita e adestrada que você tem, mesmo sem nunca ter feito aula de canto. Ou de música. Ou de nada do tipo. Pela gira que gira em mim e sempre girou quando você colocava as macumbas que te dei e outras que você achou. Sobre os garimpos naquele galpão empoeirado de Seu Maurício no meio do Centro do Recife e as dicas de ouro que a gente - eu e ele - te dávamos. Sobre vários outros músicos e bandas que você não conhecia e passou a conhecer e mais uma porrada que eu não conhecia e você me apresentou, sobre tudo. Musicalmente falando podemos dizer que tiramos nota 10 Parabéns em nosso relacionamento. Do início ao fim. Com direito a estrelinha no caderno e tudo mais. 

Enfim, por essas e por outras eu sabia que Erasmo me lembraria você, só não poderia supor que me tomaria de assalto como foi, como está sendo agora que dei play no disco "Carlos, Erasmo" e quase perdi o fôlego e desabei em um choro dramático logo no primeiro acorde de "Masculino Feminino". 

É que sempre que ouvi foi ao teu lado, sem motivo concreto pra ficar feliz ou triste, apenas um disco fluido de casa: você na cozinha preparando umas tapas divinas com aioli e eu no quarto editando. Eu gritando alguma coisa pra você e você lá de dentro gritando de volta que não dava pra ouvir. E eu gritando de volta que se não conseguia ouvir, como respondia com coerência? já me estourando de rir, sabendo que tu logo sairia da cozinha com um pedaço de alguma coisa gostosa pra eu experimentar. Porque tu sabia que era pra isso que eu gritava. Porque tu me conhece(ia) e sabe(ia) que aquele cheiro me mata(va). E você voltava pra cozinha e pouco tempo depois gritava de volta alguma coisa. E eu gritava que não dava pra ouvir. E você gritava que se eu não tava ouvindo, como respondia? E eu ia na cozinha porque sabia que você tava gritando porque queria que eu cortasse cebola. Porque tu odeia cortar cebola e sabe que eu acho interessante (algumas vezes) chorar com cebola, porque libera lágrima e coriza dando aquela sensação incômoda e incrível de limpeza, igual tá sendo agora (ainda que sem cebola).  

Mesmo sem decifrar uma palavra que o outro falava em cômodos diferentes, toda aquela cena era amor. Esse entendimento além do verbo. As tapas, a provinha, o gouda com cominho, a cebola cortada, as lágrimas, o vinho, a manteiga sempre no fim, a briga pelo travesseiro melhor: tudo isso era amor. E se agora eu choro, é porque é turva a resposta de onde as coisas começaram a ser não. Quando o aioli perdeu o ponto e ficou super líquido, quando eu parei de te olhar quando acordava, quando você não fez pirocóptero dançando uma música qualquer num domingo de manhã, quando o jogo virou, quando seu ego passou a ser maior que você e onde eu estava que não te puxei por trás pela camisa no primeiro indício e dei um tapão mandando se orientar. Depois já não adiantou mais nada, você já era cego e eu já estava farta. Onde estávamos que não demos jeito nisso desde o princípio? Onde você estava, meu bem? E como deu um jeito de voltar tão depressa, feito mágica, quando eu já não morava mais ali, em você? Por que eu precisei não estar mais presente pra você voltar pra sí e querer a todo custo voltar pra mim? Essas perguntas doem, uma a uma. A consciência de algumas respostas também, inclusive a noção de que nem toda pergunta possui uma resposta. Uma dor tão necessária quanto essa noite e um grande alívio, pois agora essas perguntas já não carecem mais de respostas. Só de um cantinho confortável pra descansarem em paz, sozinhas.

Finalmente botei pra fora tudo aquilo que ficou guardado, esperando a hora de chegar. Não queria sofrer em vão, queria que fosse verdadeiro. E veio. Finalmente veio. Uma tuia de lágrimas seguida de um alívio enorme. Uma noite, a penúltima do ano, um bocado de pensamento desatado dos nós, de nós. Agora sou eu e eu. Agora tudo fez sentido. Não haverá mais apontamento de dedo e nem cabimento pra mensagem descabida. Não vai haver mais mágoas, nem espezinhamento, nem desejos sinceros que você sofra o demônio por ter sido tão imbecil em sua vingança de espera. Por ter se desesperado. Não tem mais culpa. Revivi dois anos em algumas horas e inesperadamente só quero te agradecer: hoje sou uma mulher mais forte, mais firme, mais bonita e iluminada e nunca na vida que tiraria pedacinho do teu mérito nessa longa e árdua construção, porque somos feitos de pessoas e das gentes que passam por nossas vidas, todas elas: obrigada.

Seja feliz, siga em paz e, se não quiser passar por esse processo a qual acabei de passar, pois você já passou por processo demais, me devolva o disco Molhado de Suor, que é todo meu, que é todo eu. Ou escute ele com as janelas bem fechadas, pois sabemos que não haverá chance alguma de sair ileso à sua audição. Avalie bem a situação!

Com amor, ainda que bagunçado e perdido no meio de tudo,

Carlinha.

segunda-feira, dezembro 28, 2015

O medo da gente que a gente tem

A gente tem medo, todo mundo tem. Tem gente que tem medo da morte e pra compensar vive intensamente. Tem gente que não pensa sobre a morte mas treme nas bases quando o assunto é viver. Vive em parcelas, em prestações, com medo de magoar o outro e a si mesmo. Vive cheio de dedos, de melindres. Abraça mas não cheira. Cheira mas não beija. Beija mas não fode. Fode mas não sente. Tá sempre por ali dando um jeito de escapar pela tangente. 

Há, inclusive, a modalidade de não se deixar atingir diretamente por alguém, no máximo pela tristeza que possa causar ao próximo. Ou a alegria. O reflexo do próprio eu que volta trazendo uma nova informação que só existiu porque você existe e faz questão de afirmar isso em alto e bom som, pra não haver dúvidas. Sim, um tanto prepotente e arrogante esse pensamento, mas humano que somos não escapamos de cair na nossa própria ladainha. O perigo é acreditar de fato nisso, pois a que se pensar que esse tipo de medo, o último a qual me referi, tá mais com cara de quem joga para o outro uma fragilidade que é sua, usando esse artifício bobo, falho e raso de que a mágoa ou o prazer será causado, no fim das contas, apenas por nós mesmos. E o complemento tímido de que espera estar errado, porque fica um tanto esquisito não assumir de alguma forma que somos feitos de carne, osso e um bocado coração. Inatingível e inabalável, duas características que o homem não é por mais fantástica que a ideia pareça. Nem insubstituível. Então vamos com calma. 

Agora, conscientes disso, nos damos conta que estamos em um beco sem saída? Aceitamos a condição de viver o outro em sua superfície? Nos jogamos nessa piscina limitada, com pouca água? Vamos embora ao encontro de um mar aberto onde podemos percorrer sem medo de meter a testa nos arrecifes ou que tenha avisos luminosos de Perigo, praia sujeita a ataque de tubarão? Qual seria a solução?

É bem verdade que as pessoas-piscina, quadradas e limitadas coronariamente falando, são menos fascinantes que as pessoas-mar, vastas em sua plenitude, sem formato concreto, pessoas pouco geométricas. Eu sempre fui essa segunda opção e nunca foi importante quantas vezes minha testa tenha partido em mil pedaços. Se quebrava eu tratava de consertar e sair mais forte. Coração quebrado nunca foi uma desculpa ou um dispositivo de defesa pra me fechar no meu mundo que era mar ou rio, pra virar piscina. Nem doce e nem salgada: um negócio artificial e cheio de cloro. 

Parece que tudo ficou resolvido e claro. E que sabemos por onde percorrer. Acontece que, além disso tudo, tem uma confusão medonha no meio. É que tem gente piscina se fazendo de mar. E ai fica um negócio forçado, dá uma preguiça e também vontade de sair correndo pela terra o mais longe que se pode. E tem gente mar se prestando a papel de piscininha infantil que enche com a boca e mal cabe a própria pessoa dentro, tudo por um medo que não se concretiza e nem dissolve. Aquele tal do medo que na verdade é um medinho que faz sombra sempre que a pessoa tá sol demais. 

É essa gente que mais me preocupa: um universo inteiro comprimido em meio metro quadrado de possibilidades.

Pra quem me ensinou a abraçar com o coração

Parte I – Volver

“Aninha” era como você, agora, me chamava na tentativa de acertar o Anette tão diferente da Carlinha que você foi apresentado, cinco anos atrás, em Olinda.

Alegria na vida é poder se retratar e fazer as pazes consigo mesmo e com o outro, ainda que tantos anos depois. Era sobre isso que falávamos. E era impossível não relembrar com um carinho enorme aqueles dias de alegria, música, sorrisos e muito trabalho. Você, na produção da MIMO e eu cuidando do Jarzy Milewski, ao menos em sua ideia. Eu ali, pequenina, sentada na mesa daquele restaurante italiano com tantos gigantes ao redor e era só pra você que eu conseguia olhar, na mesa ao lado. “Qual era o nome mesmo daquele restaurante?” me perguntasse. Eu, você, o universo e a necessidade de nomificar as coisas pra trazer elas mais pra pertinho. “Faz quanto tempo que a gente se conhece, que rolou tudo isso?” “A MIMO é em setembro e essa edição foi em 2010.” “Putz, estamos em setembro de 2015!!! Faz 5 anos!!! Se cavucar mais um pouco a gente descobre que foi no dia de hoje.”  Eu, você, o universo e a necessidade de datar as coisas pra trazer um pouco de noção sobre tudo.

E sorrimos e brindamos com água com gás. É que a ressaca daquela manhã de domingo não me permitia mais cerveja.  Tava um sol de danar. Você ali todo importante me apresentando o Maracanã. E eu ali tentando entender que danado que tava acontecendo. 

Bora se ver de novo!” “Vamos sim!” Fico mais uns 4 dias antes de ir pra Aldeia Velha, te ligo”. Um abraço, outro abraço. Tchau!

Parte II - 5 anos se passaram

O Amazonas era bem longe e a ideia de sua existência, sobretudo em mim, mais distante ainda. Você e os índios, era tudo o que eu sabia através de postagens aleatórias no facebook. E sua voz doce e calma cuidando e trabalhando com essa gente tão de bem, era o restante que eu poderia concluir. E fim. E foi assim por anos. Até que você voltou: para o Rio e pra minha vida. E voltou tão sorrateiro que eu nem percebi, quando me dei conta já estávamos sentados em uma mesa de bar, depois daquele jogo de futebol falido, colocando em dia o assunto da vida inteira.

Nem tudo era índio, nem tudo era só poesia. E eu te ouvia e te ouvia e ficava contente com sua confiança em mim. Eletrorgânico. Trocasse a palavra índio por essa. Eletrorgânico era mais que um festival de cultura, era seu novo respiro e nova chance de inserção no mercado, como você falava quase que como um mantra, querendo acreditar na certeza do sucesso, dessa volta, disso tudo. Mas no fundo dos teus olhos escuros havia um abismo, uma vontade explícita de água doce que ficou naquelas terras distantes: "eu quero voltar pro Amazonas, Aninha. E tô trabalhando pra isso”. [A verdade é que você nunca saiu de lá], pensei. “Aninha, você virou uma mulher incrível! Que privilégio o meu poder estar aqui novamente."  

E sorrimos. E nos beijamos.


Parte III – O estranho entre nós

Depois do beijo tudo passou a ser não. Eu não estava leve, eu estava recém separada, coração em reconstrução. Você me queria leve e me queria farta e me queria por todas as vezes. Sem desculpa e sem demora. Sua necessidade de reconstruir a vida parecia me incluir no pacote. Um pacote que não me cabia. E nem me cabe. Um SMS sem resposta. Você tava entusiasmado pela sorte de ter me reencontrado solteira. O timing era perfeito, era tudo ótimo! Mas não era. “Acho que vou voltar o namoro a qualquer momento”, foi tudo o que consegui dizer, mudando por completo o seu semblante. E você respondeu cheio de sabedoria que da vida nada se sabe e eu, sempre cheia de certezas tantas vezes falidas, tinha a certeza que não estava errada. Que havia sim a chance da volta. E que era uma chance enorme. Bastava eu acordar e falar que o namoro voltaria e lá estaria ele, o namoro, existindo novamente. Era melhor você sair correndo dali, foi o que ficou mais ou menos no ar. Você tentou mais um pouco, tentamos, não tivemos sucesso. Ninguém vive na sombra de fantasmas. Você partiu e não voltou nunca mais mesmo que more no bairro ao lado do meu. Achei justíssimo. Ninguém suporta uma mensagem que não chega. 

E eu, até hoje, nunca acordei e voltei o namoro.


"Da vida nada se sabe."

Já passou da hora de aprender isso.

segunda-feira, dezembro 21, 2015

Espírito Natalino X Espírito de Porco

Até quando o ser humano se propõe a fazer o bem da melhor maneira que pode, ele dá um jeito de ser um completo idiota - mesmo que, algumas vezes, por poucos segundos.

O ser humano idiota a qual me refiro sou eu mesma e posso explicar. Só que antes de tudo, um adendo: é bom que fique claro que esse texto existe por eu ser humana e, assim, cheia de falhas. E não pra querer aparecer ou ganhar alguma vantagem e mostrar como eu sou uma pessoa bacana e desapegada que estou fazendo algo legal, fugindo totalmente à filosofia taoista do fazer o bem sem querer os louros: apenas fazer e pronto. Resolver e pronto. Fazer as coisas de boas, na maciota, na calada da noite. Uma luz aqui e outra acolá e algo foi resolvido sem necessidade de holofotes ao benfeitor. Isso tudo ecoa dentro de mim desde o encontro de terça-feira naquele templo tão aconchegante. É o que venho tentado colocar em prática há algum tempo. 

Esse texto que ainda nem tem corpo é pra mostrar que mesmo com consciência e vontade de ser alguém melhor, a gente ainda é humano demais e desliza. E desliza sem conseguir controlar: quando viu o leite já tá derramado, quando viu perdemos o ponto do bolo, queimou foi tudo e precisamos reiniciar do ponto onde paramos antes de fazer a cagada: com coragem e esforço teremos sucesso! Pois bem, vamos ao caso:

Neste Natal pensei em algo diferente pra celebração do que eu e mamãe estamos acostumadas a fazer há 5 anos. Normalmente oferecemos uma farta de uma ceia pra receber os amigos e agregados "sem família" de Recife que moram aqui, assim como eu. É sempre uma delícia e sempre tem tanta comida que dá pra alimentar talvez o Recife inteiro. Aqui em casa e na de todo mundo que conheço. Dessa vez o espírito foi outro, bateu o insight e a ideia foi lançada: por que não pegamos toda a grana que gastaríamos nessa ceia e fazemos um lote de ceia-quentinha pra distribuir pela Lapa, para as pessoas em condição de rua, na noite de Natal? De bate e pronto mamãe comprou a ideia e não paramos de matutar. "E guardamos duas quentinhas pra gente comer depois" "ou podemos comer nossa quentinha com alguém na rua, caso alguém queira comer com a gente" "e podemos comprar mini coca-cola porque ninguém merece comer peru e farofa sem nada pra beber" "e tem que ter rabanada!" "e tem que ter lacinho vermelho e blá blá blá blá blá." 

Até que hoje fomos no mercado comprar tudo o que precisávamos e, lá pelas tantas, vimos que o carrinho estava cheio. E pesado. E foi quando o espírito de natal começou a se transformar no espirito do espertinho e malandrão e eu lanço a infeliz ideia: "mãe, essa compra deve dar em torno de 200 reais. Não é mais jogo a gente comprar com a moça da rua 20 quentinhas que vai dar esse preço também e a gente não tem trabalho e nem carrega peso até em casa?"

Nessa hora mamãe concordou comigo com um: "é mesmo, né?" e em seguida, uma olhando pra cara da outra, percebemos o quão mínimas somos. Me senti menor, muito menor que minha altura. Por sorte nos consertamos a tempo: "como assim, po? a ideia é a gente cozinhar. É a gente ter o mesmo trabalho que temos quando fazemos pra gente. É depositar o carinho no tempero. É montar e fechar cada quentinha. É colar os lacinhos de fita. É colocar as coquinhas pra gelar e levar no isopor. É fritar a rabanada e embrulhar no papel alumínio. e blá blá blá blá blá."

[Esse é o espirito da coisa] 

Falamos ou pensamos ao mesmo tempo, já não sei.

Fiquei triste comigo e com a gente. E ao mesmo tempo feliz em ver que tropeçamos mas logo tomamos tino e nos orientamos. E assim vamos aprendendo. O demônio escapou no impulso. Demônios, quem não os tem? O controle deles é uma tarefa árdua e diária e vai continuar sendo, não adianta bater de frente.

Sei que vai ter uma hora que a existência deles será muito mais um alerta à minha condição de humana do que um mal que possa ferir a mim e ao próximo. E eu sigo na luta pra assistir do alto do meu coração a chegada desse dia!

Diga: 1 mês!

Daqui a exatamente um mês vou passar um mês em Recife. Me dei conta disso na hora de dormir, ontem, mas sem ninguém por perto que compactuasse com isso e dividisse desta mesma empolgação, eu apenas dormi. Mentira, eu não dormi. Eu cochilei em dolorosas parcelas. Muito pelo calor, é verdade, só que agora vejo que grande responsável pelo meu ir e vir naquela cama cheia de travesseiros, Jake, lençóis e edredons se chama ansiedade. 

Um mês pra um mês, quem diria!!! Teve um tempo em que parecia que ia demorar uma vida e meia – e demorou. Mas agora só falta um mês e nem tou com agonia que passe tão ligeiro – é que quando chega perto demais, dá a impressão que se acaba depressa também. 

Então vamos com calma curtindo essa brisa da espera enquanto meu coração se endoida um bocadinho por aqui pra depois se acalmar por lá (ou endoidecer mais ainda. Coração vagabundo que tenho, vá saber). 

1 mês. 1 mês. 1 mês.

1 mês, porra!

 É o mantra do dia.

sexta-feira, dezembro 18, 2015

Energia que vem de dentro

Ai do nada uma amiga me fala que tá amando minha nova fase, que estou com uma energia ótima e em seguida se conserta, explicando que sempre tive uma energia ótima mas que estou radiante e linda e iluminada. 

Abri um sorrisão por dentro e não consegui pensar em nada diferente do clichê djavaniano: 'dizem que o amor atrai'. E é isso mesmo, com a qualidade de gente de bem que caminha ao meu lado e que carrego do lado de dentro do peito, não tinha razão alguma pra ser diferente.

Isso pra mim é uma oração e toda oração vem seguida de agradecimento, então só me resta agradecer!

2016, pode vir que estou pronta pra tu. E venha sem medo. E venha simbora todo prosa e feliz que é uma boa hora!

Doce criança

"Cabelo de biscoito!", disse a menina toda contente sobre os dreads de Julinho enquanto ninguém entendia o motivo. Logo ela explicou pra nós, adultos demais pra tanta imaginação: "é igualzinho aquele salgadinho Fofura". Sim, ela tinha toda razão!

- Criança é um máximo! (disse a Thay eufórica)
- Criança é um ácido. (precisei completar)