quarta-feira, outubro 14, 2015
Sobre expressões e lugares
Aprendi que o RJ é bastante democrático: se não temos dinheiro pra gastar, ainda podemos gastar onda e pessoas. Justo!
quinta-feira, julho 02, 2015
Ego, estúpido ego
Antigamente as pessoas faziam as coisas e, posteriormente, levavam os louros, se louros tivessem. Hoje invertemos as ordens: primeiro arrotamos pra depois comer.
Por que?
Por que?
terça-feira, junho 23, 2015
Sobre o não São João
É estranho demais hoje ser uma noite comum, uma terça-feira qualquer onde todos dormem sobrios e sem cheiro forte de fumaça entranhado nos cabelos. Noite que não antecede um feriado longo e cheio de peido de véa, rojão e aliada numa sacola prontos pra fazerem zuada por todos os cantos. Hoje não tem cachorro se mijando de medo com tantos fogos no céu. Hoje não tem um céu limpo, limpíssimo e fumacinha saindo da boca enquanto espera o milho assado assar. Hoje não tem quadrilhas enormes, com marcador, pintinhas na cara, dente pintado de preto, rainha do milho, noiva, noivo e galope. Hoje não tem sequer um pé de serra vagabundo tocando na esquina, que dirá em todas as esquinas e arredores. Também não tem barraquinhas enfeitadas com uma infinidade de comidas típicas pelas ruas. Trajes típicos à venda nos sinais de trânsito para os retardatários, também não tem. E nem a dúvida cruel sobre em que festa ir, se fico ou se vou para o interior. Se Aldeia ou se Olinda.
Hoje não tem aquela euforia no peito de tanta alegria que essa noite traz. Hoje é um dia estéril por aqui, esquisito sempre e não tem Luiz Gonzaga tocando no Spotify que dê jeito.
Hoje não tem aquela euforia no peito de tanta alegria que essa noite traz. Hoje é um dia estéril por aqui, esquisito sempre e não tem Luiz Gonzaga tocando no Spotify que dê jeito.
segunda-feira, maio 04, 2015
7h30
é tarefa dificil sair da cama quentinha para o chão frio de manhã tão cedinho.
você ali, com a pele mais lisa e alva do que todo o restante das horas. os lábios entre-abertos, por vezes com pedacinho do dente graúdo às vistas. e meu tapa olhos fazendo o papel de cortina. levanto devagar pra não te acordar mas te dou um cheiro pra você saber de mim. e o cheiro é retribuido como num sonho, vagaroso. penso que é a parte mais dificil do dia, te deixar ali. correr talvez fosse o mais seguro, escapar, mentalizar qualquer outra coisa. mas é justamente quando você, astuto, coloca apenas um olhinho na beira do
você ali, com a pele mais lisa e alva do que todo o restante das horas. os lábios entre-abertos, por vezes com pedacinho do dente graúdo às vistas. e meu tapa olhos fazendo o papel de cortina. levanto devagar pra não te acordar mas te dou um cheiro pra você saber de mim. e o cheiro é retribuido como num sonho, vagaroso. penso que é a parte mais dificil do dia, te deixar ali. correr talvez fosse o mais seguro, escapar, mentalizar qualquer outra coisa. mas é justamente quando você, astuto, coloca apenas um olhinho na beira do
tapa olho. apenas um olhinho pra fora, quase aberto, quase fechado, mirando o restante do meu mundo inteiro e, minguando ali, minha única chance de não me atrasar.
terça-feira, março 31, 2015
No lugar
Arrumar em miudezas meu quarto me dá sempre a impressão de tá arrumando também a vida. Como se a cada parte do cômodo eu colocasse no lugar uma ideia antes vaga, mesmo que, na prática, tudo isso não passe de gavetas, caixas, pedaços de chão e de móveis. E de muitas fotografias.
quinta-feira, fevereiro 26, 2015
Das incongruências nos relacionamentos
Quando o namoro é recente, novinho em folha, com gosto de mistério e paixão a flor da pele, a gente quer se convencer - e pior - convencer ao mundo que apesar de verde ele já é todo maduro, é algo que merece a fé e o respeito de um relacionamento antigo. Sentimos necessidade de antecipar coisas, situações e, avalie, até declarações. O pouco tempo é lembrado, exposto e reafirmado como uma longa trajetória.
Quando o caso é o oposto: um relacionamento antigo, de anos, concreto, cheio de falhas ja decretadas e companheirismos abraçados, um amor talvez seguro (isso existe?), humano e maduro, passamos a sentir necessidade do contrário: convencer a gente - e o pior - a todo o mundo, que apesar de antigo ele é novinho em folha, começou agora, tá cheio de gás e pronto pra mais uma nova etapa. Que o tempo voou.
E quem é que entende a gente?
terça-feira, fevereiro 24, 2015
É tudo tão não concreto
Por muito tempo vivi uma vida bitolada. Não nas cores das roupas ou nas danças ou nos gostos, mas no pensamento - o que torna tudo mais grave. Não sei se por uma criação militar ou se por um senso de justiça que sempre me acompanhou desde pequena, mas o cinza não fazia parte da minha paleta de cor. Era preto ou era branco. Era tudo definitivo demais. E foi assim até quase agora. Os parênteses não entravam na minha cota, as nuanças só serviam na poesia. Na vida real era tudo concreto: as amizades eram para sempre. Os amores eram para sempre. As derrotas eram definitivas, sem chances de retorno. Podia-se, no máximo, renascer em um outro formato, mas uma vez derrotado nunca voltaria pelo mesmo corpo. As vitórias pareciam também eternas.
Ai me pergunto: por onde andei durante todo esse tempo em que acreditei piamente que qualquer ação, na prática, era definitiva? Pior, como consegui viver por tantos anos assim sem perceber que tava errado ou no mínimo esquisito? Quantas coisas devo ter perdido ou ganhado na marra com esse pensamento? É doido pensar isso, mas talvez tenha sido meu pior defeito. Engraçado é que o start pra essa questão surgiu durante esse carnaval e, em tão pouquinhos dias, todas as minhas regras de tantos anos foram quebradas ladeira pós ladeira. E em uma semana eu não me vi mais na outra Carlinha que pegou o avião no Galeão, quase perdendo o voo por conta de um transito infeliz. Que bom que não perdi o voo. Talvez mais por essa questão toda do que pelo próprio frevo.
Gente que não existia mais pra mim "em definitivo" e que foi reencontrada como se nunca tivesse saído dali. Gente que nunca parecia que sairia dali e saiu de mansinho, sambando miudinho. Gente que saiu "pra sempre" e que achei que "pra sempre" doeria. E nem doeu. Fez nem cosquinha, tão esquisito. Gente que tava muito mais linda do que parecia possivel ser. Gente que conheço desde sempre e que a cada carnaval tem um brilho mais forte no olhar. Gente que consegue, de algum modo, chegar ainda mais junto do que conseguiu durante todos esses anos. Gente que não era alheia e se tornou. Gente que era esquisita e se ajeitou. Um carnaval que sempre foi o melhor do mundo e esse ano se tornou algo além disso. Não só pelas ladeiras. Ou pelos metais. Ou pelas purpurinas, mas por todo o entorno e, principalmente, por tudo aqui dentro, mansinho, caminhando, observando, aprendendo e se avaliando, entre um axé e um abraço apertado.
Tomar consciência de que nada nessa vida é definitivo - para o bem ou para o mal - faz com que as possibilidades mundanas se tornem mais suaves, menos dolorosas ou carregadas de culpa. E assim, de algum modo, os caminhos se mostram mais abertos. E tudo parece diferente mesmo estando igualzinho, só por uma questão de consciência.
É já que é tudo tão não concreto que tal, então, deixar em aberto?
Ai me pergunto: por onde andei durante todo esse tempo em que acreditei piamente que qualquer ação, na prática, era definitiva? Pior, como consegui viver por tantos anos assim sem perceber que tava errado ou no mínimo esquisito? Quantas coisas devo ter perdido ou ganhado na marra com esse pensamento? É doido pensar isso, mas talvez tenha sido meu pior defeito. Engraçado é que o start pra essa questão surgiu durante esse carnaval e, em tão pouquinhos dias, todas as minhas regras de tantos anos foram quebradas ladeira pós ladeira. E em uma semana eu não me vi mais na outra Carlinha que pegou o avião no Galeão, quase perdendo o voo por conta de um transito infeliz. Que bom que não perdi o voo. Talvez mais por essa questão toda do que pelo próprio frevo.
Gente que não existia mais pra mim "em definitivo" e que foi reencontrada como se nunca tivesse saído dali. Gente que nunca parecia que sairia dali e saiu de mansinho, sambando miudinho. Gente que saiu "pra sempre" e que achei que "pra sempre" doeria. E nem doeu. Fez nem cosquinha, tão esquisito. Gente que tava muito mais linda do que parecia possivel ser. Gente que conheço desde sempre e que a cada carnaval tem um brilho mais forte no olhar. Gente que consegue, de algum modo, chegar ainda mais junto do que conseguiu durante todos esses anos. Gente que não era alheia e se tornou. Gente que era esquisita e se ajeitou. Um carnaval que sempre foi o melhor do mundo e esse ano se tornou algo além disso. Não só pelas ladeiras. Ou pelos metais. Ou pelas purpurinas, mas por todo o entorno e, principalmente, por tudo aqui dentro, mansinho, caminhando, observando, aprendendo e se avaliando, entre um axé e um abraço apertado.
Tomar consciência de que nada nessa vida é definitivo - para o bem ou para o mal - faz com que as possibilidades mundanas se tornem mais suaves, menos dolorosas ou carregadas de culpa. E assim, de algum modo, os caminhos se mostram mais abertos. E tudo parece diferente mesmo estando igualzinho, só por uma questão de consciência.
É já que é tudo tão não concreto que tal, então, deixar em aberto?
domingo, fevereiro 08, 2015
Vontade de sei lá
Agora, sentada na minha cama, vejo meus pés encostados na pilha de roupas que separei pra levar pra Recife. Ao redor dessa cena, um quarto bagunçado em razão desta missão. Maquiagens, purpurinas, portas do armário abertas. Estou cansada. Passei o dia inteiro descansando e permaneço sentada na cama criando coragem pra finalizar a arrumação. Uma arrumação prazerosa se eu não me lembrasse da semana que vem pela frente, que graças a Deus termina na quarta-feira, mas que irremediavelmente precisarei encarar até que esse dia chegue.
Ai bate um banzo. Uma vontade de sei lá o quê. Sentada na minha cama, tenho preguiça de ir no quarto ao lado buscar a mochila. Queria que tivesse tudo pronto. Queria mesmo era dormir até quarta-feira e acordar no Aeroporto Internacional dos Guararapes com a voz sensual da moça informando que a tripulação tem que se preparar para o pouso. Uma das frases que mais me emociona na vida quando estou indo (e nunca voltando), seja lá pra onde for. Ou mesmo dentro do avião, tremendo de ansiedade naquelas 2h45 que demoram uma vida e meia pra passar, mas que vale cada minuto depois.
Ai bate um banzo. Uma vontade de sei lá o quê. Sentada na minha cama, tenho preguiça de ir no quarto ao lado buscar a mochila. Queria que tivesse tudo pronto. Queria mesmo era dormir até quarta-feira e acordar no Aeroporto Internacional dos Guararapes com a voz sensual da moça informando que a tripulação tem que se preparar para o pouso. Uma das frases que mais me emociona na vida quando estou indo (e nunca voltando), seja lá pra onde for. Ou mesmo dentro do avião, tremendo de ansiedade naquelas 2h45 que demoram uma vida e meia pra passar, mas que vale cada minuto depois.
Sentada na minha cama eu penso em tudo isso e lembro da música do Paulinho. E coloco ela só porque sei que me dá vontade de chorar. Ou de ficar numa preguiça maior do que a que ja me encontro. Essa música é tão bonita, meu deus do céu. Penso em emendar com Frevo número 1 de Betânia mas ai já acho que é demais. Se fizer isso, meu quarto vai permanecer bagunçado e eu vou permanecer aqui. Procurando mais motivos para não me mover até que chegue quarta-feira. To melancolica e to feliz, tão esquisito isso.
" A razão porque mando um sorriso e não corro\ É que andei levando a vida quase morto\ Quero fechar a ferida, quero estancar o sangue\ E sepultar bem longe o que restou na camisa colorida que cobria a minha dor". isso é tão bonito, meu deus. Como não ter vontade de chorar? Que saudade. To numa saudade medonha mas nem sei direito de quê.
Sentada na minha cama - é preciso levantar - é só o que penso agora. Até que chegue a quarta-feira, "tão logo a noite acabe, tão logo este tempo passe, para beijar você..."
segunda-feira, fevereiro 02, 2015
Entre gatos, periquitos, plantei minha alegria
Aconteceu tanta coisa ao mesmo tempo nessa última semana que nem consegui me despedir como gostaria e sofrer um último tchau decente na Tijuquinha que tão bem me acolheu no último ano. Ao contrário disso, sai batida de lá cheia de sono pela manhã, em minha última manhã na Valparaiso. Tive 10 segundos enquanto percorria aquela rua tão agradável pra agradecer e dizer tchau, quase que no automático. E só agora, após essa semana frenética e infinita, que sento no meu sofá e faço uma retrospectiva - e não mais naquele big sofá incrivel e preto que me abraçava toda santa noite de domingo!
Quanto drama da minha parte, eu sei. Jaja estarei novamente esparramada no big sofá preto, em outro endereço, mais perto de mim. E enquanto isso não acontece, disfarço o charme que acho ser a entradinha da vila e a empolgação com a área externa pra eventinhos e reuniões de amigos. Disfarço também a facilidade que será chegar lá de bike ou até mesmo a pé, se der na telha. Disfarço essas coisas porque agora eu to sentindo pela Tijuquinha tão querida. To sentindo por não poder mais perambular pela casa de calcinha e só. Ou sem nada. E deitar no sofá nuinha. E não ter mais o Jorge feliz da vida ao me ver, sabe-se lá por qual motivo, nas tantas e tantas manhãs apressadas atravessando aquela portaria, com aquele banco e aquela parede de azulejos tão bonita. E não ter mais Brad e nem Pitt esparramados no chão e sendo acolhidos por todos que por ali passam. E nem mais o Vera Lanches nas madrugadas sem fim. (Sobre isso, não consido disfarçar a alegria em trocar esse podrão, mesmo sendo o melhor podrão do Rio, pela melhor padaria da madrugada e que fica a 3 minutos a pé da nova casinha!). O Botto não será mais um caminho feito caminhando. E o sushi da feira não acompanhará os domingos de ressaca com a mesma facilidade.
O Largo da segunda-feira com certeza vai deixar muitas saudades acompanhadas de muitas e muitas histórias - boas e ruins, como em qualquer lugar. Mas não sei se pela dor devastadora em minha coluna ou se pela correria dos últimos dias ou se pela esperança de um futuro ainda mais gostoso, não consigo sofrer de verdade essa "perda". Dou uma remoída, tenho umas recaídas, mas não sofro e nem consigo, pelo contrário, semeio e vejo coisas boas chegando junto com a mudança. E, já que mudança é sempre uma boa desculpa pra comemorar, me coloco a postos e já imagino o vinil novo do Clube da Esquina rodando no quintal, enquanto o sonho de ter roupas quaradas se realiza e a cervejinha artesanal, caseira e gelada, enche os copos dos amigos pra um brinde ao novo lar!
terça-feira, janeiro 27, 2015
Um sábado pra não esquecer
Existem algumas maneiras de iniciar esse texto. Enumerar as figuras encontradas neste dia, num raio tão curto de distância, seria uma delas. Mas seria a mais óbvia, a mais quadrada. Então não incluirei todos os personagens pra que esse post não vire um livro, pois foram muitos.
Vou começar, então, do começo. No começo bem feto quando esse dia nem ia existir pra mim, pelo menos não do jeito que foi. E bastou uma decisão pra tudo mudar. Eu estaria em casa, provavelmente vendo um bom filme, curtindo o ar-condicionado e respeitando minha conta bancária magra, mas não foi assim que ocorreu e, por conta disso, lá estava eu e a galera no Coelho, tomando uma caipivodca que nem tava das melhores, olhando para todos os lados em busca de Anne. Loura de cabelos cacheados era a referência que eu tinha, afinal, fazia nove anos que não nos víamos. A irmã da minha irmã. Ela era tão criança, era gordinha e com rosto rosado. E ria do meu inglês fudido enquanto velejávamos num pedaço de oceano distante dentro do Canadá. Quando ela finalmente chegou e a vi, tive que conter as lágrimas: seria muito deselegante chorar em sua frente mas não por causa dela em sí, mas pela emoção a qual fui tomada em ver como ela se tornou uma mulher tão semelhante fisicamente à minha nossa irmã Samantha. A abracei como se abraçasse um pedaço de Sam e de fato era mesmo. Desatei a gastar sua lingua natal, enquanto ela desatava a falar também. Deu certo, nos divertimos e recordamos do dia em que confundi sobremesa com deserto e isso deu o maior rolo! E também da vez em que vi uma foca pela primeira vez na vida (talvez a única), no alto mar e comecei a imitá-la ridiculamente pra dizer que a vi, ja que não sabia como era a palavra. E também quando catávamos todas as berries do quintal e das florestas.
É quando na pausa entre nossas lembranças, surge o primeiro elemento masculino da trama: meu ex, dessa vez sem ser on-line como de costume. Dessa vez sem bermuda quadriculada e todo contente, dizendo com ar de quem foi o único a conhecer Sam, que Anne era tão, tão igual a ela. "Mesmo sorriso e mesmo brilho nos olhos que são muito azuis." O único naquela roda que teria propriedade pra falar isso. Bruno, enciumou discretamente e perguntou onde escondi ela no periodo em que veio ao Brasil. De costas, escuto uma voz e identifico o segundo elemento da roda e da noite: meu quase ex namorado. Em segundos um abraço sem graça e afastado, como sempre é desde a época em que ele decidiu me odiar, como se isso fosse mudar o que eu sou ou o que ele é. Pensei que, meu namorado, meu ex e meu quase ex na mesma roda de amigos era sinal de que ou ia dar merda ou ia ser, no mínimo, interessante. No fim foi mais que isso, foi massa. Fiquei tão feliz que bebi outro Coelho. No show, um puxava assunto, outro fazia uma brincadeira ou queria interagir. O abraço sem graça se tranformou em um cutucão em fração de poucas horas pra contar alguma coisa. Éramos, todos, mais que ex qualquer coisa. E Gustavo era mais que o atual namorado administrando uma situação que poderia ser chata. Fomos mais que pessoas civilizadas compartilhando da mesma alegria. Havia no ar a sensação de que todos se reconheceram ali, se relembraram ao vivo. E que um monte de coisa menor ficou menor ainda diante de todos os sorrisos. De todas aquelas danças e cantorias, diante de tantos amigos em comum saboreando de todas as presenças ao mesmo tempo, sem facções.
Ao menos naquela noite de sábado.
domingo, dezembro 21, 2014
Raio gourmetizador
O problema da onda gourmet não é o gourmet em si. O problema é quem se aproveita disso e continua fazendo exatamente o mesmo sanduiche que fazia antes, só que agora cobrando o triplo pelo uso de palavras como caramelizar, reduzir e flambar.
terça-feira, dezembro 09, 2014
No mesmo taxi
Eu queria ser a Leila Diniz pra ser amiga de todas as pessoas com as quais me relacionei amorosamente. E queria ainda que eles fossem amigos entre sí. Todo mundo, uma grande roda, um churrascão, piscininha e alegria, brindes e mais brindes à vida e aos encontros. Mas a verdade é que a gente sabe que não é assim, que não tem como ser tudo tão puramente leve e bem resolvido entre os ciclos, sobretudo quando se trata de fim. Isso de transformar o fim de uma coisa em início de outra não é tarefa fácil, ainda mais quando não depende só de uma parte, nesse caso, só de mim. Posso dizer que, apesar de não ser a Leila Diniz, meu saldo tá mais pra positivo que pra negativo, se a gente for avaliar que os fins costumam ser cheios de cortes, de porradas. No fim das contas, posso encher a boca pra dizer que um dos meus ex é hoje um dos grandes amigos que carrego no peito. Ok, podem dizer que já que ele hoje em dia é gay é fácil demais mas eu discordo, pois foi um dos finais de relacionamento mais alardados que já fiz parte. Cheio de dramas, de demoras pra se curar, de cartas gigantescas, de posts enormes e cheios de dor em fotolog, de noites sem dormir, de aulas de matemática matadas mesmo estando dentro da sala de aula, no meu mundo particular da dor de cotovelo que aquela djabo de olhos coloridos me deixou. Sem contar com o peso no ego de ter sido a única vez até hoje que acabaram comigo e não o contrário. Os outros, entre esse namoro e o último, nada além de cordialidade. Ou notícias através de postagens em facebook. Sem perda, sem ganho. Não brindamos juntos, mas não há o que se falar de mal.
Hoje em dia namoro alguém que é bastante querido pelo ex que é meu amigo e vice versa. Isso pra mim é uma vitoriazinha. Não dá pra fazer um churrascão mas já vale um espetinho. E meu atual namorado gostaria de ser próximo do meu último ex por uma questão de identificação. Morou na serra, gosta de cerveja, gostava de umas bandas estranhas quando jovenzinho, é do bem, tem coração bom e além de tudo tem alguns amigos em comum, o que atrapalha algumas vezes a logística nos encontros. Ou desencontros de caso pensado - pela outra parte, que não é a minha. Eu queria a todo custo ser amiga dele. Forcei isso durante um bom tempo e depois desisti. Vi que não adiantava isso de chamar pra aniversário, eventos, o que for, mesmo com nossos amigos em comum lá, se ele não se sentia confortável em estar no mesmo ambiente. O tempo passou e esse desconforto, que já não me cabe em mente a necessidade de existir, me parece ter se transformado em uma mania, um hábito. Insisti mais um pouco alegando tudo isso e, apesar dele parecer entender o que falo, não obtive sucesso, ao menos na prática. Mas tem algo bastante curioso que me dei conta nesta semana e que desconstruiu toda essa minha necessidade de ser amiga novamente: eu não deixei de ser. Nunca. Talvez nem por um segundo.
O que me doía era a não presença física. Era ouvir histórias com amigos meus e com ele e que eu queria estar fazendo parte, como foi por um ano e meio ininterruptos. Era uma espécie de ciúme de gente que tinha uma importância bem reduzida à que eu tinha naquela vida continuar fazendo parte e eu não. Não poder rir junto com todo mundo da bermuda quadriculada que eu escolhi achando tá fazendo um bem para o visual e, na verdade, virar um uniforme e motivo de piada. Eu tinha saudade de ser socialmente amiga e não me dava conta de que, a coisa mais importante, continuou intacta mesmo nos momentos de caos. Eu não sei qual o bar preferido dele atualmente ou qual banda está ouvindo com mais frequencia. Não sei se ainda come semanalmente no Lamas e no Luige. Ou se comprou mais e mais e mais miniaturas de android. Se as capas das almofadas são as que escolhi na Lavradio: uma vermelha e uma listrada. E se o relógio de cubo mágico que deixei na separação de bens continua funcionando. Não sei de nada disso e isso, hoje, absolutamente não tem a menor importância. Me dei conta de que, o que de fato mede a importancia da pessoa em nossa vida, que é a confiança, afeto e respeito que temos por ela, nunca falhou ou mudou. Não sentamos mais na mesma mesa de bar, mas quando o negócio aperta, sabemos bem onde encontrar um ombro amigo. E disso não posso reclamar, sempre chegou até mim todas as informações importantes em relação a ele e todas elas vindas diretamente de sua boca ou teclado. Sem que eu precisasse perguntar. Apenas porque ele quis compartilhar. Das lamúrias, dos problemas, das doenças às conquistas. Na época em que namorávamos, ele me alertava vez por outra que a gente tava no mesmo taxi. Quando eu dava a louca, brigava ou quando parecia que disputávamos algo e que aquilo não fazia sentido algum, pois queriamos a mesma coisa, queriamos estar bem. "Estamos no mesmo taxi, não esquece". E é isso. No fim das contas, todas as pessoas que nos importam - perto ou longe - estão no mesmo taxi que o nosso. Essa frase nunca fez tanto sentido. E isso me deu um alívio enorme.
Um viva aos relacionamentos, aos laços, aos encontros e aos aprendizados. E viva também ao tempo que é sempre curandeiro e, do mesmo modo que carrega, também devolve a paz.
Hoje em dia namoro alguém que é bastante querido pelo ex que é meu amigo e vice versa. Isso pra mim é uma vitoriazinha. Não dá pra fazer um churrascão mas já vale um espetinho. E meu atual namorado gostaria de ser próximo do meu último ex por uma questão de identificação. Morou na serra, gosta de cerveja, gostava de umas bandas estranhas quando jovenzinho, é do bem, tem coração bom e além de tudo tem alguns amigos em comum, o que atrapalha algumas vezes a logística nos encontros. Ou desencontros de caso pensado - pela outra parte, que não é a minha. Eu queria a todo custo ser amiga dele. Forcei isso durante um bom tempo e depois desisti. Vi que não adiantava isso de chamar pra aniversário, eventos, o que for, mesmo com nossos amigos em comum lá, se ele não se sentia confortável em estar no mesmo ambiente. O tempo passou e esse desconforto, que já não me cabe em mente a necessidade de existir, me parece ter se transformado em uma mania, um hábito. Insisti mais um pouco alegando tudo isso e, apesar dele parecer entender o que falo, não obtive sucesso, ao menos na prática. Mas tem algo bastante curioso que me dei conta nesta semana e que desconstruiu toda essa minha necessidade de ser amiga novamente: eu não deixei de ser. Nunca. Talvez nem por um segundo.
O que me doía era a não presença física. Era ouvir histórias com amigos meus e com ele e que eu queria estar fazendo parte, como foi por um ano e meio ininterruptos. Era uma espécie de ciúme de gente que tinha uma importância bem reduzida à que eu tinha naquela vida continuar fazendo parte e eu não. Não poder rir junto com todo mundo da bermuda quadriculada que eu escolhi achando tá fazendo um bem para o visual e, na verdade, virar um uniforme e motivo de piada. Eu tinha saudade de ser socialmente amiga e não me dava conta de que, a coisa mais importante, continuou intacta mesmo nos momentos de caos. Eu não sei qual o bar preferido dele atualmente ou qual banda está ouvindo com mais frequencia. Não sei se ainda come semanalmente no Lamas e no Luige. Ou se comprou mais e mais e mais miniaturas de android. Se as capas das almofadas são as que escolhi na Lavradio: uma vermelha e uma listrada. E se o relógio de cubo mágico que deixei na separação de bens continua funcionando. Não sei de nada disso e isso, hoje, absolutamente não tem a menor importância. Me dei conta de que, o que de fato mede a importancia da pessoa em nossa vida, que é a confiança, afeto e respeito que temos por ela, nunca falhou ou mudou. Não sentamos mais na mesma mesa de bar, mas quando o negócio aperta, sabemos bem onde encontrar um ombro amigo. E disso não posso reclamar, sempre chegou até mim todas as informações importantes em relação a ele e todas elas vindas diretamente de sua boca ou teclado. Sem que eu precisasse perguntar. Apenas porque ele quis compartilhar. Das lamúrias, dos problemas, das doenças às conquistas. Na época em que namorávamos, ele me alertava vez por outra que a gente tava no mesmo taxi. Quando eu dava a louca, brigava ou quando parecia que disputávamos algo e que aquilo não fazia sentido algum, pois queriamos a mesma coisa, queriamos estar bem. "Estamos no mesmo taxi, não esquece". E é isso. No fim das contas, todas as pessoas que nos importam - perto ou longe - estão no mesmo taxi que o nosso. Essa frase nunca fez tanto sentido. E isso me deu um alívio enorme.
Um viva aos relacionamentos, aos laços, aos encontros e aos aprendizados. E viva também ao tempo que é sempre curandeiro e, do mesmo modo que carrega, também devolve a paz.
Oxum, dona do ouro
Pode parecer coisa pouca, mas tive um dia redondinho de conclusão de percurso e missão comprida, cumprida, "sem saber o motivo". Um dia cheio de ressaca e tão mega produtivo, com pequenas sementes plantadas pra colher, logo logo, um monte de coisa importante. Lembro que no fim do dia, ainda trabalhando, acabada de cansada mas cheia de boas intenções, pensei sorridente depois de um ocorrido: "meu santo é muito forte mesmo". E ele é. E não era por acaso, não. Hoje foi dia de Oxum. Que é minha mãe e orixá guardiã no candomblé. É quem me guia, junto com Ogum e outros comparsas, mesmo sem eu ver. Também não foi a tôa os mais de 300 giros que dei de madrugada, rodando sequencialmente nos afoxés e ijexás sem titubear, passos marcados e fortes, talvez os mais perfeitos que eu já tenha feito na vida, sem perder o eixo, mesmo com tantas cervejas na cabeça. E tudo faz sentido. Sempre faz. A gente que às vezes custa a perceber.
terça-feira, dezembro 02, 2014
Iansã e Xangô
Quando uma lembrança forte nos pega de assalto é impossível escapar ileso: era noite de natal (25) do ano passado e estávamos em uma estradinha de barro, em Vitória, a caminho da Bahia. Caía uma chuva torrencial, a estrada tava completamente alagada, enlamaçada e escura. Era impossível seguir viagem, na mesma proporção que também era impossível voltar atrás, se proteger em algum lugar seguro; não havia como voltar e nem pra onde voltar no cu de mundo em que estávamos.
A única informação que tinhamos era de que pra frente seria ainda pior e que podia cair alguma ribanceira, como aparecia na TV, e que teriamos que subir uma ladeirinha, que seria impossivel com aquele carro de pequeno porte, etc. Estávamos muito aflitos, Lala segurava meu pé rezando qualquer coisa, enquanto eu usava minhas mãos pra tentar fotografar os raios pela janela e Gustavo disfarçava o medo no volante.
Foi quando Lina, pra distrair nossas mentes inquietas, puxou o assunto 2014 ou dois mil e catarse. Cheia de sabedoria falava que seria um ano conturbado, um ano de acerto de contas, provações, conflitos mas também de muito amor. E que era cedo pra dar mais detalhes, acho que os astros ainda não tinham passado a régua para o que tava por vir. Respiramos fundo, atravessamos a lama, a chuva, os raios, a ladeirinha e ainda chegamos na Bahia, tão felizes. Atravessei também 2014. E as previsões não poderiam ter sido mais acertadas: um ano conturbado, cheio de conflitos, de provações, mas também de muito muito muito amor.
E que venha 2015, pra gente atravessar sem medo de remar na maré forte e também suave que tá por vir.
A única informação que tinhamos era de que pra frente seria ainda pior e que podia cair alguma ribanceira, como aparecia na TV, e que teriamos que subir uma ladeirinha, que seria impossivel com aquele carro de pequeno porte, etc. Estávamos muito aflitos, Lala segurava meu pé rezando qualquer coisa, enquanto eu usava minhas mãos pra tentar fotografar os raios pela janela e Gustavo disfarçava o medo no volante.
Foi quando Lina, pra distrair nossas mentes inquietas, puxou o assunto 2014 ou dois mil e catarse. Cheia de sabedoria falava que seria um ano conturbado, um ano de acerto de contas, provações, conflitos mas também de muito amor. E que era cedo pra dar mais detalhes, acho que os astros ainda não tinham passado a régua para o que tava por vir. Respiramos fundo, atravessamos a lama, a chuva, os raios, a ladeirinha e ainda chegamos na Bahia, tão felizes. Atravessei também 2014. E as previsões não poderiam ter sido mais acertadas: um ano conturbado, cheio de conflitos, de provações, mas também de muito muito muito amor.
E que venha 2015, pra gente atravessar sem medo de remar na maré forte e também suave que tá por vir.
quinta-feira, novembro 27, 2014
Fissura no Cristo II ou sobre ciúme
-oi carlinhaaa, to com a tua saudaaaade, te amo!
- oi, meu amor, também to com saudaade, muita.
- tu tás com MEU pai ai no Rio, é?
- uhum
- e ELE foi no Cristo?
- não, ele só vai no Cristo quando você tá aqui, tá?
- hmmmm. (silêncio). tenho que desligar, tchau.
minutos depois
- carlinha?
- oi, Jó
- sofia tá chorando de dar pena, dizendo que vocês foram no Cristo sem ela.
- mas a gente não foi e eu disse que ninguém foi.
- e tu acha que ela é besta, é? ficou chateada mesmo assim.
maluco como a gente sente ciúme mesmo sem conhecer a palavra.
Fissura no Cristo I
Ambientação da história:
Eu e meu irmão mais velho conversando dentro de um carro, em Fortaleza, na presença da minha irmã mais nova.
Situação: diálogo entre nós dois sobre algo sem salvação, enquanto ela, silenciosamente, prestava atenção em tudinho.
- Ah, menino, mas isso ai nem cristo salva mais.
Ela interrompe:
- Ô carlinha, num falem do cristo não que ele nem tá aqui, o cristo mora no Rio de Janeiro.
Eu e meu irmão mais velho conversando dentro de um carro, em Fortaleza, na presença da minha irmã mais nova.
Situação: diálogo entre nós dois sobre algo sem salvação, enquanto ela, silenciosamente, prestava atenção em tudinho.
- Ah, menino, mas isso ai nem cristo salva mais.
Ela interrompe:
- Ô carlinha, num falem do cristo não que ele nem tá aqui, o cristo mora no Rio de Janeiro.
terça-feira, novembro 18, 2014
Além do céu, além da terra
A Pedro Escobar
Hoje me aconteceu uma coisa curiosa e vou deixar registrada aqui pra que eu lembre sempre e sempre que há muito mais coisas entre o azulzão do céu e a terra do que a gente tem condições de ver. E o sonho certamente é uma dessas coisas.
Um tempo atrás sonhei que um amigo de meu irmão, muito pouco próximo à mim, só de vista, abria uma produtora, ficava muito bem de vida e só trabalhava de óculos escuros (das loucuras que os sonhos proporcionam). Era tipo o super boss do audiovisual e do bolso gordinho por detrás daqueles óculos escuros. Nas duas vezes em que nos encontramos ao vivo, junto ao meu irmão, essa história - única que nos lincava - foi motivo de graça e até piada.
Hoje, ele postou cheio de orgulho sobre a inauguração de sua produtora e, quando veio me contar pois recordou do sonho, viu que a única e última conversa que tivemos inbox foi há exatamente um ano e em horário parecido: eu contando do sonho que tive com ele, da produtora, dos óculos escuros, do bolso gordo. Emudecemos. Como assim?
Sim, há mais coisas por ai do que a gente supõe. E é de óculos escuros que ele vai comemorar esse sonho - meu e dele - realizado.
segunda-feira, novembro 17, 2014
segunda-feira, novembro 10, 2014
Feliz velho novo ano
O cenário da rua já é prólogo certo para o ano que tá por vir: estrelinhas de isopor, árvores de plástico, neve de algodão e números seguidos de % nas vitrines dizendo que já passou da hora de comprar o presente do amigo secreto em Recife e oculto aqui no Rio.
Me peguei olhando uma dessas vitrines em Ipanema, hoje. Como assim JÁ é natal? Até então, pra mim, no máximo era pós eleição ou halloween. No bairro em que vivo o natal ainda não deu as caras e, dentro de mim, até então menos ainda. Fiquei uns bons instantes avaliando, defronte aquela vitrine, como eu ainda tava correndo atrás de 2014 enquanto todo mundo só quer saber do ano que vai chegar, nas vitrines, no cenário da rua e provavel que internamente. Meus amigos estarão todos viajando, em Recife, por ai. Eu não. Eu nem sei. E nem tenho como me preocupar com isso agora. Enquanto todo mundo tá aprontando as malas pra ir para a região dos lagos no recesso do trabalho, pois não aguenta mais o chefe e almeja uma folguinha dele por esses tempos, eu acabei de conhecer minha futura chefe. Minha mala é meu armário organizado aqui no Rio de Janeiro e minha passagem diária é pra perto e no RioCard mesmo. Mas confesso que depois que vi aquelas vitrines, me forcei ao espírito de fim de ano, uma melancolia, esperança ou até mesmo ilusão de que tudo vai mudar, de que tudo vai ser melhor. E vi que estava mais dentro da realidade impossivel, como nunca estive antes. E agradeci por isso, mesmo que tardiamente, pois foi o que esperei do ano, o ano inteiro.
Fiquei confusa se meu ano (re)começou agora, levando comigo tudo de bom que 2014 me trouxe ou se o meu próximo ano chegou antes do de todo mundo. Talvez seja melhor pensar na segunda opção e sortear logo esse amigo oculto afinal, é pra frente que se anda.
Me peguei olhando uma dessas vitrines em Ipanema, hoje. Como assim JÁ é natal? Até então, pra mim, no máximo era pós eleição ou halloween. No bairro em que vivo o natal ainda não deu as caras e, dentro de mim, até então menos ainda. Fiquei uns bons instantes avaliando, defronte aquela vitrine, como eu ainda tava correndo atrás de 2014 enquanto todo mundo só quer saber do ano que vai chegar, nas vitrines, no cenário da rua e provavel que internamente. Meus amigos estarão todos viajando, em Recife, por ai. Eu não. Eu nem sei. E nem tenho como me preocupar com isso agora. Enquanto todo mundo tá aprontando as malas pra ir para a região dos lagos no recesso do trabalho, pois não aguenta mais o chefe e almeja uma folguinha dele por esses tempos, eu acabei de conhecer minha futura chefe. Minha mala é meu armário organizado aqui no Rio de Janeiro e minha passagem diária é pra perto e no RioCard mesmo. Mas confesso que depois que vi aquelas vitrines, me forcei ao espírito de fim de ano, uma melancolia, esperança ou até mesmo ilusão de que tudo vai mudar, de que tudo vai ser melhor. E vi que estava mais dentro da realidade impossivel, como nunca estive antes. E agradeci por isso, mesmo que tardiamente, pois foi o que esperei do ano, o ano inteiro.
Fiquei confusa se meu ano (re)começou agora, levando comigo tudo de bom que 2014 me trouxe ou se o meu próximo ano chegou antes do de todo mundo. Talvez seja melhor pensar na segunda opção e sortear logo esse amigo oculto afinal, é pra frente que se anda.
sábado, novembro 08, 2014
para a maria que não rolou
ela não sentia mais nada. ela sentia uma dor tão profunda que adormecia tudo. por dentro e por fora. o corpo agora era só um corpo. o ar entrava pouco pelos pulmões. ela acabara de desacreditar no ser humano e no coração. não conseguiu a revolta ou mesmo um grito. eram tantas coisas que internalizar foi o melhor remédio. ao menos por enquanto. um amontoado de roupas jogado no chão e uma coletânea de palavras fortes e definitivas. sim, de-fi-ni-ti-vas. se não eram agora são. uma mochila. duas sacolas. eram os seus pertences. e a vergonha no peito. não por ela, mas por aquele moço silencioso que, sentadinho naquela cadeira defronte a porta, lamentava no olhar com a cena que vira. um castelo desmoronado diante de seus olhos. ou a humilhação e constrangimento públicos que tanto tentou disfarçar. ele já viu e viveu muita coisa nessa vida mas algumas, pelo olhar que fez, preferia não acreditar, porque ainda apostava mesmo que timidamente no amor dos homens. e a única coisa que maria carregava na mente, além daquela cena que talvez demore muito tempo pra dissolver do coração e dos olhos, era o desejo de que aquele moço sentado defronte a porta não tenha entendido nada e, dentro de sua ignorância genuina, continue a crer naquilo que maria mais gostava de mostrar a ele através de sorrisos, palavras e lanchinhos da madrugada: no amor dos homens.
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