Me ocorreu que o adiar pra fechar a
mala foi um código que meu coração criou pra mostrar que ainda
falta tempo pra não mais te ver, pra esse hiato, pra morrer de
saudade. E quanto mais próximo fica, mais jogo alguma coisa alí por
cima enquanto penso simultaneamente que é preciso organizar de uma
vez os próximos meses em uma mala grande e outra média. Minha mãe
pergunta com ar de repreensão se não está faltando fazer mais nada
quando eu, ao invés de pegar a mochila, guardar a câmera, organizar
os fios, os cards, o netbook, fico praticando a procrastinação nas
horas e cinicamente respondo que 'não falta mais nada.' E completo
com um 'ao menos nada que eu possa fazer em um domingo à noite,
amanhã vou comprar uns dólares'. O bom desse blog é saber que ela
lê tudo, tudinho e cheia de amor que é, sempre perdoa minha
sinceridade e deve até dar umas boas risadas por saber que me
conhece tanto.
Mas eu também a pego na mentira vez por outra. É uma
espécie de mentira autorizada, que não faz mal se for descoberta,
pelo contrário, foi feita para ser desmascarada com todo o carinho.
Ainda ontem ela disse pra Júlia que tudo que ela tem pra me
escrever, ela escreve direto no meu coração. Menos de duas horas
depois estava me fazendo a declaração de amor mais linda,
cheinha de palavras, lágrimas e amor. Ela fala sim e tem uma voz
linda. A gente se parece sempre e como nunca. Mas na verdade esse
texto não é para ela, é para você.
Pra você que chegou
varrendo tudo, passando pano e desinfetante no meu chão. Que chegou
junto. Nem de baixo e nem de cima, de lado: como tem que ser. Não
deu espaço e tempo pra mais ninguém. Segurou forte na minha mão e
foi simbora ver a vida. Sem temer. Eu lembro que no início acreditei
piamente e até te disse que tudo aquilo era a maneira que você havia arrumado para
tapar qualquer projeto de buraco já existente 'Tá tudo errado, tudo
errado', eu insistia. Só depois me ocorreu que buraco mesmo seria se eu não
ficasse. Buraco e burrice. Fiquei, fico.
Com amor,
Carlinha.
O texto tem jeito de inacabado e foi de caso
pensado. Esse negócio de fim não tá com nada. Ainda tenho muito
pra te falar, e, mais que isso: pra te olhar - na vida.