terça-feira, novembro 23, 2010

A rota mora na noite vazia, encharcada de silêncio teu




ô seu moço, um cadinho de amor, um tantinho de atenção - Pra que eu não me aprume, não me encaderne, não vire bibelô -
Nesses tempos de relógio e pagamento, o amor é preciso, viu?


Senão endoida
Senão engessa
Senão
Se e não

Coração precisa de compasso
Precisa do teu passo
Não caminha só

Só, até caminha
Passeia na esquina
Dobra na contramão
Arrodeia mundo
Bate ponto e solidão

Mas ele não quer, seu moço
Quer não

Porque coisou
Entendeu bem?
Coisou e pimba!
Por que, senhor?
Porque, senhor
Não acerto os porques ortográficos
Mas entendo dos porques sentídotos
E eu também invento palavras, ouviu?
sen-tí-do-tos
Invento os dias
Crio as horas
Estou contigo
Estou agora
Em um parque
Na praia
No quarto
No queixo
Nu
Eixo
No
On
Lábios

Tou com você
Mas se quer saber
Não é festa

Precisa de carinho
Precisa de denguinho
E de uma voz pra amansar
Mas é uma voz bem de mansinho
Pra chegar devagarinho
E eu toda me deitar

E não essa, esbravejada
Toda séria e alternada
Tão danada de danar

Senão tudo cansa, tudo cala
Eu calo
Tu calas
e ele fala
Um calo na voz
Um calo no peito
Calinho que colher quente não dá jeito

Coisa besta, seu moço
O amor é feito de coisa besta, nunca te disseram isso?

Uma letra, um sorriso
Um sinal, um aviso
Qualquer coisa
Que não isso
e ninguém vai derramar

Porque se o amor não é on line
e muito menos off line
É, seu moço, é preciso cuidar

Que o meu querer é feito de doce
É feito de oxe
É feito de hoje

E não do se, do não e talvez

Entende isso, seu moço, entende isso de uma vez

Por que senão fica tudo triste, um borocoxô só
E eu caminho, caminho, caminho nó




sexta-feira, novembro 19, 2010

Por um triz

Tudo e nada é sempre por um triz
Para sempre é sempre por um triz
Por um isso, um aquilo...
Tudo, tudo por um triz

(Eu vivo no centro do triz)
E se triscar muito eu caio,
Só não me pergunte para que lado!

quarta-feira, novembro 17, 2010

Descanso na loucura


Minha boca quer teu beijo. Meu corpo, teu peso. Fogo fátuo, fato, fato... Que se repete, que se renova. Adentra pedaços de pele, de gosto, de cheiro. Me engole por trás, chega na frente, me encontra no meio, corre caminho cruzado, ventila por todos os lados. Corpo invadindo sem permissão. Pensamento vazando, escorrendo, passeando esquinas e lugares do teu corpo, do teu rosto, do teu gesto. Do meu corpo, do meu rosto, do meu gesto. E a gente dança. Dança ao som do acaso. Que nos guia, que nos segue, que nos une.

O que é o tempo? Onde mora o tempo? Quem controla o tempo? Como se chama o tempo? Quanto tempo aproximadamente tem o tempo? Quanto tempo dura o tempo?

O peso de um querer muito. A leveza de um querer mutuo.

Isso me satisfaz.


sábado, novembro 13, 2010

Distraídos venceremos?


Eu tava distraída quando você passou
Eu tava distraída quando você voltou
Eu tava distraída, inclusive, quando você falou
Tava tão distraída que nem ouvi

Alguns cutucões me alertaram
Alguns cutucões me tiraram da distração
distorção

Voltei para o mundo real,
cortando no meio o trecho da música que mais gosto

Olhei

Não deu dois segundos
E Voltei a distrair
Tava tão bom o meu sorriso sozinha...

Você falou que eu tava bonita daquele jeito
E precisei voltar da distração - n o v a m e n t e - pra prestar atenção

'Oi?'
'Eu falei que você está tão bonita desse jeito...'
'Que jeito?'
'Assim, tão nem ai, tão sorrindo, tão distraída...'
'Distraídos venceremos, ja dizia Leminsk'

'Já que a noite é literária, preciso entender a frase de Pessoa que sempre achei massa na teoria, mas tá me confundindo todo: 'Sentir é estar distraído' - Por que eu, sem nenhuma distração, tou sentindo? E tu tão distraída...'

'Pois essa frase que eu nem conhecia, nunca fez tanto sentido...'


E assim, voltei pra minha distração contente da vida, ciente da aprovação do poeta...

.

quinta-feira, novembro 11, 2010

Morenindoidando meu carnaval




A fantasia desbotada
De vermelho e de cetim
Saiu na madrugada
Meio proza, junto à mim
Procurando a safada
Derradeira do amor
Aquela maldita dama
Que um dia me deixou

Essa morena
Que clareia e faz bordado
Que me deixa amassado
E o calor que ela me traz

Ela remexe e se amostra feito um samba
Sai de pileque e fica bamba
Com cachos soltos pelo ar

Eu fico doido, fico môco e avexado
Desviando o passado
Desviando o olhar

Saio de perto, meio torto e embaçado
Pego e deixo ela de lado
Mas não deixo de amar


Texto de 2008

quarta-feira, novembro 10, 2010

Intregação


Poeminha em prosa feito na fila para pegar o verdinho Camaragibe/Macaxeira, na integração da Macaxeira, 2007



O povo é que tem razão
Integração não: Intregação

Uma fila que não tem tamanho
Menino chorando no colo de mãe
Casal se beijando na quina
e na esquina, o ônibus sanfona dando a volta

Começa a avexação do povo que tá na fila
Versus o povo que tá na máfia

Pipocão é 'cequenticentavo'
Pipocão 'é cequenticentavo!'
Mochila nas costas
Gente por todos os lados

Senhor indo pro hospital
meninada pro colegial
E o jornal de um real

Gente apertada, atrasada, apressada
Gente que perde o ponto
pensando na morte da bezerra

Gente


Do calor eu nem comento
a gota de suor escorrendo por dentro
Junto com o ouvido aperriado
da pregação da biblia ao lado

Dentro do ônibus é uma feira só:


É neguinho que pega os bestas
"jujuba é 25 e quatro é um tostão"


Tem ameduim saguado dicascado na mantêga
Sabonete pra rachadura
Gengibre pra garganta
Pomada pra zica também tem

Chá emagrecedor
Caneta multicolor
Cartão brega de amor

Boa taaaarde, pessoal
Vocês estão muito fraquinhos
Boa taaaaaaaarde, pessoal

A animação não é geral
Até que uma voz surge:

40 nego bom é um real
q-u-a-r-e-n-t-a nego bom é um real...


Hora de descer.
..

Obs: Fui caminhando até o trabalho pensando que vivencio algumas horas disso por semana e questionando como funciona com quem vivencia isso todas as horas da semana inteira, nessa intregação. Depois acabei fazendo uma série de reportagens especiais sobre os vendedores ambulantes da integração da Macaxeira.

terça-feira, novembro 09, 2010

Nega


Autoria: Vitor Alencar (meu pai)
Data: 1993

Letra feita provavelmente em situação de cerveja, violão, pandeiro e chucalho durante algum churrasco de todo final de semana que tinha na minha casa. Letras com trocadilho ou putaria reinavam e eu nem me dava conta! Ah, meus 5 anos...

Nega

Deixa de tolice
Quem foi que te disse
Que alguém te libertou?

Nega
Não se ilude não
Queres tirar proveito
Do meu coração

Mas não vai
Ah, não vai não

Eu bem tou vendo esses amigos
Todos cheios de abrigo
Querendo te conquistar

Mas vou logo adiantando
que não vai ter concorrência
Corto três em uma sequência
e ninguém vai nem saber

ô, nega...
Quase me acabo
Só de ver esse teu rabo
Nesse louco balancê... ê ê ê

Nega
Larga do meu pé
Me faz um cafuné
E não dê mole não

Senão eu desconsidero
e te exonero
da minha relação

segunda-feira, novembro 08, 2010

NãoSim

(Não) me olha assim:

Você descobre coisas
Que eu nem sei de mim...

sábado, novembro 06, 2010

Esvaziar é preciso

Sinto de longe o peso no peito, a expressão do rosto, os olhos sem jeito. Queria poder te levar, te elevar, te trazer pra junto do teu mundo, dos teus...

renovar.

Pensei em chegar feito borboleta, voandinha na janela de trás, por entre o cheiro de lençol lavado e te deixar um recado que fala assim:

'Menino, esvazia todo o significado das coisas tão concretas da vida, tá tudo concreto demais, tas virando concreto. Esvazia por um instante, esvazia e preenche. Baixa a guarda, respira fundo, pensa no bem, acredita, confia, faz prece, faz feijão, se alimenta direito, toma bastante água, canta baixinho, se estica no sofá, pensa na vida, pensa em todo o bem que tu alcançou até hoje. Quando escurecer, olha o viaduto pela varanda e as luzes dos carros que não param de passar. Deixa a luz entrar junto com o ventinho. Sente o vento. Acende o incenso, dá dez minutinhos na correria e te procura por dentro. Vais encontrar todo o amor que você conquistou no mundo. E o sorriso vai brotar.'

Com carinho.

domingo, outubro 31, 2010

Como no princípio, o feto: em busca do sim, do não, do gesto.


Morenamente leve o coração abre e fecha, abre e fecha... Em um eterno estado de porta, em um eterno estado de mulher. A busca tranquila por alguma coisa que preencha, que esvazie, que busque junto. Que junto. Em uma sequência de vida que leva a não busca mas ao encontro. De dois. As vezes de mais. Que passa, ora que segue, ora que fica, que finca. Que parte. Que parte no meio, em dois pedaços esfarelados. Em dois pedaços baleados. Em dois pedaços sadios. Em dois pedaços pensativos. Em dois pedaços adultos. Em dois pedaços incansavelmente prontos para serem costurados novamente por dentro do peito, por dentro do meio, por um meio, um meio de. que. hein. como. onde. cadê. o que.
Como no princípio, o feto: em busca do sim. do não. do gesto,

explicou Maria para a psicanalista.

terça-feira, outubro 26, 2010

Insônia é o mal do tempo, para a cura: poesia!


Primavera aqui dentro
Chove lá fora
Cato o vento

Verniz nos teus olhos
Pintado e insano
Desejo contido
Contigo eu chamo

O dia que passa
A hora que chega
O sono perdido
No livro da mesa

Vida que segue
Vida que breve
Leve,
leve,
leve...

Meu santo é forte
Meu santo é forte
Me livre da dor
Me risque do corte


S O R T E

Saravá!


sábado, outubro 23, 2010

Eu tenho fome

Hoje acordei com flashes do meu sonho: a calçada da Boa Vista repleta de gente pedindo dinheiro, pedindo arrego, pedindo esmola, pedindo atenção, pedindo... Acho que foi um pouco do reflexo de ontem, que passei por aquelas ruas... com mormaço, chuva,calor, agonia,gritaria e gente com fome.

Hoje quando levantei, percebi que existia um trecho na minha cabeça. Não é poesia e nem nada, mas ela amanheceu de forma direta, como se já existisse antes. Chegou direitinho,sem insegurança, sem forçar a lembrança, sem palavra faltando e um pouco desconexa, sim. Mas na ponta da língua, como seu eu já tivesse escrito antes:

É tanta gente com fome
Que meus lábios prendem entre os dentes

É tanta gente com fome
Que meus laços pendem

Que meus lábios prendem entre os dentes
Que meus lábios pedem

e soltam

cheios de um sangue qualquer

E isso me fez lembrar um texto que fiz há muito tempo sobre o Centro do Recife com a visão de um menino de rua, já publiquei ele aqui, mas tá valendo rever:


No Centro do Recife

Acordei antes que o sol saisse e queimasse meus olhos quase sem sonhos. Percorri ruas e avenidas cobertas pela neblina de um dia que tava para chegar. Logo as padarias fariam cheiro de pão fresco e meu cheiro não era dos melhores. Já nem sei se meu desejo é comer esse pão ou o galeto que não para de rodar na "televisão de cachorro" (e minha).

Ando pelas ruas e ninguém me vê. Será que sou feio? Acordei mas ninguém me vê. Acordei e o mundo não acordou pra mim...


Já é dia feito, dia claro. Por entre sinais e avenidas meu dia vai correndo, a televisão para cachorro vai rodando, o pão vai saindo e aquela mulher vai chegando. Aquela mulher... Todos os dias ela vem nesse mesmo horário comprar o jornal.
Nunca entendi pra que comprar jornal, um bolo de papel sujo que mais parece jogo de repetição: bala perdida no Rio de janeiro, briga entre gangs, polícia matando gente inocente, homicídio em Casa Amarela, gente morrendo de fome no Coque,o náutico perdendo, show de nação zumbi no Marco zero e o horóscopo que é a mesma coisa todos os dias. Mas eu nem digo, ninguém me ouve mesmo. Aliás, ninguém me vê,né?

É hora do almoço e no Centro da cidade fica uma danação de gente gritando fora dos restaurantes o prato do dia, o pf que custa 5 reais. Eu nem sei se pra esse povo isso é caro ou barato.

Na ponte fica gente vendendo peixe nos saquinhos com água. Tem um menino galeguinho que sempre vai comprar, ele gosta de ver a briga das betas brabas. Tem outro que tira a hora do almoço pra ver o sol e acaba comprando um doce ou um pedaço de queijo manteiga.

Na padaria da Imperatriz sempre parece uma festa, meu sonho é comer aquela pizza de queijo que transborda. Já comi queijo uma vez, no natal passado ganhei uma bola de queijo do reino da senhora do jornal. Fui mordendo e mordendo até chegar na parte de ferro, rasguei minha boca e o gosto azedo do queijo misturou com o amargo do sangue. Nunca levei um corte com tanta felicidade no mundo!! Eu gosto de queijo, acho que gosto. Queijo é uma palavra engraçada,né? Queijo, queijo, queijo, queijo. O bom é que eu posso falar coisa besta que ninguém me escuta mesmo, aliás, ninguém me vê, né?

O sol começa a cair e eu gosto de ver a movimentação da turma saindo do trabalho. É tanta gente que fica ali na parada dos correios. É mulher com menino e sacola, é menina pedindo informação, todo mundo querendo chegar em casa pra comer... Queijo? (acho que diferente de feijão, arroz e macarrão eu só tou lembrando de queijo mesmo... assim.. de coisa diferente, né?)

Ai quando o sol vai simbora, as luzes do Recife começam a acender. Essa é a hora do dia que eu mais gosto. Como são bonitas as lâmpadas amarelas. É diferente daquela que eu vejo naquele prédio bem grande que tem do outro lado da ponte. Ah, falando nas pontes, essa é minha maior diversão. Atravessar todas as pontes contando quantos peixes a turma conseguiu pescar. Tem uns meninos que ficam contando quantos carros preto passam, mas eles só sabem contar até dez... Ai ficam repetindo a sequência dos números e nunca descobrem quem ganhou. Eu prefiro contar quantos patos (nem sei se são patos), aquele bicho branco que voa que nao é pato, ali do outro lado da Aurora fica um bucado, parado, dormindo.

Depois eu me canso. No final do dia minha canela não consegue ser mais fina e minha barriga nem tem graça. Mas eu vou dizer a quem? Ninguém me ouve mesmo, quer dizer... ninguém me vê,né?

O que me resta é dormir

Antes que o sol saia e queime meus olhos quase sem sonhos.

Carla Alencar.

segunda-feira, outubro 18, 2010

Software livre do vírus, do custo, do peso... (do Windows)!


Fazia um tempo que eu ouvia falar sobre o software livre, mas admito que não dava muito cartaz. Achava que era papo de gente cultural/tecnológica/sustentável e que funcionava apenas na teoria. Afinal, se o negócio fosse bom mesmo, a grande maioria já teria aderido e o nosso querido Windows teria ido para o espaço, como foi o caso do meu.


E sim, esse questionamento a respeito da difusão do software livre ainda tá na minha cabeça, vou procurar saber mais sobre isso.


Ontem fui facilmente convencida a fazer um backup e instalá-lo no meu notebook, por várias razões: Livre do vírus, livre de ter que baixar tantos programas (ele contém, pelo menos até agora, tudo o que preciso e não estou tendo dificuldade em mexer em editores de texto e imagem, por exemplo). Os programas possuem nomes diferentes, mas funcionam iguais aos do Windows, a diferença é que você não precisa correr riscos e ficar baixando nada, ele já tá lá. O computador ganhou em velocidade, e, agora, contém um sistema de segurança bacana, onde só é possível navegar passando por alguns testes e senhas, sem contar com o design moderno e limpo, parecido com o do MAC.


Ainda é cedo pra afirmar que sou total adepta ou pagar o maior pau pela liberdade, mas já é notável, mesmo que prematuramente, as mudanças positivas.


Windows, bye bye!

Bruno, thanks!




sábado, outubro 09, 2010

Bota fogo


O que guardei de você
foi aquela coisinha doce que durou tão pouco
como gosto de sete belo depois que já foi engolido junto com água

Não sou movida a mágoas

A lembrança que tenho não dói e nem faz rir
Não faz nada
Ela não é lembrada feito aquelas que acendem
Com um motivo qualquer, tantas vezes inventado,
só para ser lembrado

Não, esse não

Fica dentro de um pedaço nem feio e nem bonito
No cotovelo, talvez nas têmporas

Preciso de uma razão concreta para lembrar
Um motivo bem forte
Como o te ver,do nada, sentado do outro lado da calçada em um buteco de Botafogo
Fumando um cigarro, rindo por entre a fumaça e a áurea da boêmia


Passos tranquilos, seguindo em frente
Sem titubiar, tremer, sem estremecer ou pestanejar
Passar, passou

Como eu queria ter tido vontade de atravessar, te sorrir
e perguntar como anda você

Passar, passou
Tão rápido

Essas palavras foram me guiando até a entrada do supermercado
Precisou de tanto assim para lembrar

E sigo meu caminho até a próxima, quem sabe, forçosa lembrança
Que não faz dor e nem faz rir


Nesse instante em que transcrevo essas palavras de um papel
De um papel escrito entre geléias e copos descartáveis de um supermercado em Botafogo
No dia de ontem
Sinto uma emoção diferente
Sobre uma outra coisa
de olhos firmes
que faz gosto
gosto de filete de vinho no canto da boca

E percebo a falta de luz em todas essas palavras acima

Diante do meu de dentro, agora, transcrito, quem sabe, em outrora.

domingo, setembro 26, 2010

Carlaval astral

Pitombeira, Ribeira, Quatro Cantos... Te vi.
Te vi em quantos rostos diferentes eu pudesse imaginar
Parecia flerte
Cheguei a te quase falar
a te
a ti

Parecia a doida das lantejoulas em seu carlaval astral
astral
astral

prévia

essa prévia
prévia
prévia

não foi erro

de coração,

quinta-feira, setembro 23, 2010

Rio doce

Estranheza? Não

Voz. Respiração. Tum tum. Coração.

Abraço. Imaginário. Aqui. Lá

O bater forte das horas. No peito. Renascer


O sentir por uma invenção

De nome. De dentro. Lá fora

Tou chegando. Vambora

Sim ou não?

sábado, setembro 18, 2010

Quinteira




Ontem eu participei de um brainstorm onde o grupo teria que sugerir nomes para um mega pólo de tecnologia e cultura que vai ser construído aqui em Pernambuco. Como não se trata apenas de tecnologia ou apenas de cultura,o grande desafio era um nome que envolvesse tudo isso, remetendo ao Estado de Pernambuco, sem ser brega ou óbvio. Qualquer idéia era válida para esse primeiro momento, qualquer palavra, pensamento, desenho, qualquer coisa, inclusive as toscas, que, posteriormente, poderiam se unir a outras idéias.

Surgiu de tudo, de palavra que mais parecia pousada de praia até nomes precisos, se o brainstorm tivesse como objetivo decidir o nome de uma produtora. Guisado produções, Cacimba produções...(essas foram algumas de minhas idéias malucas).

Percebi que forçando é difícil e sabia que quando saísse daquele momento,daquela sala branca com cadeiras brancas, computadores brancos, iluminação branca e voltasse pra casa, iria acabar pensando espontaneamente em alguma coisa. Eu tinha a palavra quintal e semente na cabeça. Elas grudaram em mim. Ao contrário do que eu pensava, a idéia não veio, nem em conversa de mesa de bar e nem na mente.

Dormi.

No meio do meu sonho, estava em um quintal,dentro de uma sementeira linda... Era um lugar em que eu nunca estive antes, parecia com a minha Aldeia, mas era menor, o vento era mais seco e empoeirado de dia e parecia ser mais frio a noite, não sei, o sonho foi de dia. Tinha mais chão e menos povoado. Dentro do meu sonho, comecei a escrever um texto sobre o lugar e eu nomeei o texto de quinteira.

Acordei e lembrei disso, fui lembrando aos poucos do sonho... Fiquei tão feliz com esse nome, agora ele grudou em mim. Queria poder nomear alguma coisa com ele.

Por enquanto, nomeio esse texto e a empresa continua sem nome!



Obs: a foto não tem relação com o texto, ela foi tirada na minha Aldeia há duas semanas. Mas achei tão bonita e como não tenho imagem do lugar-astral-imaginário que eu fui...

terça-feira, setembro 14, 2010

Doc_ Eu tenho pressa_ Parte I




Tudo despertou com a história de Neilton, um jovem nascido e criado em uma das comunidades mais pobres do Recife: O Alto José do Pinho. Já tinha ouvido falar que ele era pintor, construía amplificadores de alta potência e que montou sua própria guitarra a partir de sucatas e materiais recicláveis. O mais incrível é que ele é autodidata em tudo o que faz. "Nunca vi impedimento em ter um bom instrumento, se alguém fez a primeira guitarra, por que eu também não poderia fazer? A galera da revista Trip veio aqui e ficou perguntando sobre a guitarra, já não agüento mais falar da guitarra... eu não fiz pra chamar atenção, fiz porque eu queria um instrumento e não tinha dinheiro", disse Neilton.

"Esse cara tem muito o que falar", pensamos. E realmente tem, o depoimento dele daria pra fazer tranquilamente um longa,cheio de detalhes, cuidado e cores. Neilton é de pura sensibilidade. Segundo Hugo Montarroyos, repórter e critico de música do site Recife Rock "Neilton é o Da Vinci da guitarra". E o camarada destrói mesmo, no bom sentido, claro!

Acontece que outras coisas foram chamando atenção e costurando em um lance mais amplo e instigante. Neilton toca na banda Devotos, que coincidentemente está em meio as comemorações de 20 anos de carreira juntamente com Cannibal e Celo.

Cannibal é uma figura conhecida em Recife, e, mesmo os que possivelmente não conheçam sua história, já devem ter ouvido falar alguma coisa a respeito daquele cara de dreads enormes e que, juntamente com Celo, idealizou a ONG e rádio comunitária Alto Falante.

Celo é o batera, e faz com suas baquetas um som pesado, um hardcore de raiz, verdadeiro.

O que nem todo mundo sabe é que eles são mais que meninos que passaram por dificuldades e hoje estão ai, é mais que uma história bonita, eles vão além de uma banda, são agentes sociais dentro de uma comunidade que conseguiu levantar seu nome a partir da música.

Hoje em dia as pessoas têm orgulho de dizer que moram no Alto, coisa que há 15 anos não era possível "Antigamente quando o pessoal tomava um taxi pro Alto, dizia que estava indo pra Casa Amarela, só quando chegavam na entrada do Alto é que avisavam, porque tinham vergonha... hoje em dia todo mundo tem orgulho de dizer que mora lá", fala Hugo Montarroyos.

O Alto saiu das páginas policiais diretamente para o caderno de cultura.

É claro que a marginalização ainda existe e que ninguém vive em contos de fada. Todo trabalho social e toda mudança só é possível a partir de um envolvimento coletivo, mas foram eles a raiz disso tudo, há muitos e muitos anos... Duas décadas para ser mais precisa.

E se os três juntos compõem a banda, por que não um documentário sobre a Devotos?

Então vamo nessa!

Te doy mis ojos





Queria que existisse a palavra inlingue, para que eu pudesse escrever esse texto só de olhos e coração, sem ser com letras, sem ser com a mão, sem ser em português, sem ser itálico ou em negrito. Queria um texto inlingue. Queria esvaziar todo o sentido de tudo que foi aprendido até agora e usar os olhos, apenas os olhos...


Os olhos não falam português, aramaico, japonês ou alemão
Fala só e somente a língua do coração

Seja daqui, acolá, do mato ou asfalto, azul, marrom,verde, amarelo, puxado, apertado, gordo,índio,remelado...Brilhoso, opaco, vermelho, borrado, desconfiado,perdido e achado, inchado,murcho,cheio,intenso,olheira, bonitos,feios...

Todos os olhos são bonitos, até os feios. Há beleza neles, principalmente os que curiosamente parecem tristes por apenas serem feios

Tem beleza ali. A beleza principal que é a de existir

O estrelado de Sofia, a malandragem no de neto, o brilhoso de Victor, o tenso de Marina, o intenso de Luis, o vermelho de Yan, o noturno de Eduardo e até mesmo o canadense de Samantha que pode ate pensar em inglês, Francês ou o escambau

Os olhos da cara, da sala, de Miguel e de Carla

Mussolini, Gandhi, Alá,Jah, Dostoievski, Tolstoi, Huxley, Sheakspeare, o Rosa Guimarães, chicos, Science, Noel, Caetano, Saramago, Tom, Vinicius, Powell,Ella,Louis, Dali, da Vinci, Adão, Eva, Aristóteles, Platão...

Plutão...

Não

Os olhos falam a língua só e somente do coração

Tudo tem olho, tudo teme. Treme. Geme. Volta. Tudo olha.
Atrás, na frente, o ambulante, a serpente, repente de repente, o refrão, a mente, mente, a lente (...)


Indecifrável poesia inacabada...
..
..


.

..

sábado, setembro 11, 2010

Menino...


Aquele primeiro olhar é o que agora me nomeia
E o segundo e o terceiro
E todos aqueles que a gente deu
Os que a gente não deu
Os que a gente ainda pode dar

Confesso que os que a gente não vai dar é o que agora, agorinha mesmo,
com dor no meio do peito, me nomeia
Todos os entres, entre um e outro.


Esse olhar noturno que clareia tudo em mim, clareia tudo aqui
Me vi translúcida
Voltando pra casa com um sorriso de presente no rosto
E no ouvido, essa voz tão doce
Tão certeira
Tão,

menino...

Fez vida
Como há muito não via


Tua calma é o que agora me nomeia
Teus agradecimentos divinos
E o floquinho quente da pele na pele
Ou do abraço que encosta o coração

Me esconder entre teu pescoço
Ser tola dentro do meu pacote de pão amarelo
Amarelo foram esses dias,

Amarelo sol


O teu cheiro, que é um descanso no acaso
É o que agora me nomeia
Uma poesia indecifrada
Disritmia no décimo volume

Ah, o teu cheiro...

O teu beijo é o que agora me nomeia
me nomeia aquele que a gente deu defronte a casa
Tava tão bonito, vento na cara
Alegria do encontro
Paz na alma

Teu sorriso é o que agora me nomeia
Tem cor de cor de cor de cor
De cór
Queria deitar nele e ser levada junto com as palavras



.

Não teve tchau e nem abraço apertado,
Não teve calma e nem cheiro,
Não teve beijo, não teve porta, não teve floquinho
Não teve nada

O destino as vezes nos é gentil
As vezes nos testa
As vezes

O destino é as vezes

Comigo,

Teu gosto de gosto
Tua cor de cor
Teu cheiro de cheiro
Teus olhos fundos
meus olhos marinhos
Agora
marejando nesse Rio de imprevistos

Mas eu gosto de rio

E eu gosto de você



As sinestesias nunca foram tão palpitantes,

menino...

.