domingo, setembro 26, 2010

Carlaval astral

Pitombeira, Ribeira, Quatro Cantos... Te vi.
Te vi em quantos rostos diferentes eu pudesse imaginar
Parecia flerte
Cheguei a te quase falar
a te
a ti

Parecia a doida das lantejoulas em seu carlaval astral
astral
astral

prévia

essa prévia
prévia
prévia

não foi erro

de coração,

quinta-feira, setembro 23, 2010

Rio doce

Estranheza? Não

Voz. Respiração. Tum tum. Coração.

Abraço. Imaginário. Aqui. Lá

O bater forte das horas. No peito. Renascer


O sentir por uma invenção

De nome. De dentro. Lá fora

Tou chegando. Vambora

Sim ou não?

sábado, setembro 18, 2010

Quinteira




Ontem eu participei de um brainstorm onde o grupo teria que sugerir nomes para um mega pólo de tecnologia e cultura que vai ser construído aqui em Pernambuco. Como não se trata apenas de tecnologia ou apenas de cultura,o grande desafio era um nome que envolvesse tudo isso, remetendo ao Estado de Pernambuco, sem ser brega ou óbvio. Qualquer idéia era válida para esse primeiro momento, qualquer palavra, pensamento, desenho, qualquer coisa, inclusive as toscas, que, posteriormente, poderiam se unir a outras idéias.

Surgiu de tudo, de palavra que mais parecia pousada de praia até nomes precisos, se o brainstorm tivesse como objetivo decidir o nome de uma produtora. Guisado produções, Cacimba produções...(essas foram algumas de minhas idéias malucas).

Percebi que forçando é difícil e sabia que quando saísse daquele momento,daquela sala branca com cadeiras brancas, computadores brancos, iluminação branca e voltasse pra casa, iria acabar pensando espontaneamente em alguma coisa. Eu tinha a palavra quintal e semente na cabeça. Elas grudaram em mim. Ao contrário do que eu pensava, a idéia não veio, nem em conversa de mesa de bar e nem na mente.

Dormi.

No meio do meu sonho, estava em um quintal,dentro de uma sementeira linda... Era um lugar em que eu nunca estive antes, parecia com a minha Aldeia, mas era menor, o vento era mais seco e empoeirado de dia e parecia ser mais frio a noite, não sei, o sonho foi de dia. Tinha mais chão e menos povoado. Dentro do meu sonho, comecei a escrever um texto sobre o lugar e eu nomeei o texto de quinteira.

Acordei e lembrei disso, fui lembrando aos poucos do sonho... Fiquei tão feliz com esse nome, agora ele grudou em mim. Queria poder nomear alguma coisa com ele.

Por enquanto, nomeio esse texto e a empresa continua sem nome!



Obs: a foto não tem relação com o texto, ela foi tirada na minha Aldeia há duas semanas. Mas achei tão bonita e como não tenho imagem do lugar-astral-imaginário que eu fui...

terça-feira, setembro 14, 2010

Doc_ Eu tenho pressa_ Parte I




Tudo despertou com a história de Neilton, um jovem nascido e criado em uma das comunidades mais pobres do Recife: O Alto José do Pinho. Já tinha ouvido falar que ele era pintor, construía amplificadores de alta potência e que montou sua própria guitarra a partir de sucatas e materiais recicláveis. O mais incrível é que ele é autodidata em tudo o que faz. "Nunca vi impedimento em ter um bom instrumento, se alguém fez a primeira guitarra, por que eu também não poderia fazer? A galera da revista Trip veio aqui e ficou perguntando sobre a guitarra, já não agüento mais falar da guitarra... eu não fiz pra chamar atenção, fiz porque eu queria um instrumento e não tinha dinheiro", disse Neilton.

"Esse cara tem muito o que falar", pensamos. E realmente tem, o depoimento dele daria pra fazer tranquilamente um longa,cheio de detalhes, cuidado e cores. Neilton é de pura sensibilidade. Segundo Hugo Montarroyos, repórter e critico de música do site Recife Rock "Neilton é o Da Vinci da guitarra". E o camarada destrói mesmo, no bom sentido, claro!

Acontece que outras coisas foram chamando atenção e costurando em um lance mais amplo e instigante. Neilton toca na banda Devotos, que coincidentemente está em meio as comemorações de 20 anos de carreira juntamente com Cannibal e Celo.

Cannibal é uma figura conhecida em Recife, e, mesmo os que possivelmente não conheçam sua história, já devem ter ouvido falar alguma coisa a respeito daquele cara de dreads enormes e que, juntamente com Celo, idealizou a ONG e rádio comunitária Alto Falante.

Celo é o batera, e faz com suas baquetas um som pesado, um hardcore de raiz, verdadeiro.

O que nem todo mundo sabe é que eles são mais que meninos que passaram por dificuldades e hoje estão ai, é mais que uma história bonita, eles vão além de uma banda, são agentes sociais dentro de uma comunidade que conseguiu levantar seu nome a partir da música.

Hoje em dia as pessoas têm orgulho de dizer que moram no Alto, coisa que há 15 anos não era possível "Antigamente quando o pessoal tomava um taxi pro Alto, dizia que estava indo pra Casa Amarela, só quando chegavam na entrada do Alto é que avisavam, porque tinham vergonha... hoje em dia todo mundo tem orgulho de dizer que mora lá", fala Hugo Montarroyos.

O Alto saiu das páginas policiais diretamente para o caderno de cultura.

É claro que a marginalização ainda existe e que ninguém vive em contos de fada. Todo trabalho social e toda mudança só é possível a partir de um envolvimento coletivo, mas foram eles a raiz disso tudo, há muitos e muitos anos... Duas décadas para ser mais precisa.

E se os três juntos compõem a banda, por que não um documentário sobre a Devotos?

Então vamo nessa!

Te doy mis ojos





Queria que existisse a palavra inlingue, para que eu pudesse escrever esse texto só de olhos e coração, sem ser com letras, sem ser com a mão, sem ser em português, sem ser itálico ou em negrito. Queria um texto inlingue. Queria esvaziar todo o sentido de tudo que foi aprendido até agora e usar os olhos, apenas os olhos...


Os olhos não falam português, aramaico, japonês ou alemão
Fala só e somente a língua do coração

Seja daqui, acolá, do mato ou asfalto, azul, marrom,verde, amarelo, puxado, apertado, gordo,índio,remelado...Brilhoso, opaco, vermelho, borrado, desconfiado,perdido e achado, inchado,murcho,cheio,intenso,olheira, bonitos,feios...

Todos os olhos são bonitos, até os feios. Há beleza neles, principalmente os que curiosamente parecem tristes por apenas serem feios

Tem beleza ali. A beleza principal que é a de existir

O estrelado de Sofia, a malandragem no de neto, o brilhoso de Victor, o tenso de Marina, o intenso de Luis, o vermelho de Yan, o noturno de Eduardo e até mesmo o canadense de Samantha que pode ate pensar em inglês, Francês ou o escambau

Os olhos da cara, da sala, de Miguel e de Carla

Mussolini, Gandhi, Alá,Jah, Dostoievski, Tolstoi, Huxley, Sheakspeare, o Rosa Guimarães, chicos, Science, Noel, Caetano, Saramago, Tom, Vinicius, Powell,Ella,Louis, Dali, da Vinci, Adão, Eva, Aristóteles, Platão...

Plutão...

Não

Os olhos falam a língua só e somente do coração

Tudo tem olho, tudo teme. Treme. Geme. Volta. Tudo olha.
Atrás, na frente, o ambulante, a serpente, repente de repente, o refrão, a mente, mente, a lente (...)


Indecifrável poesia inacabada...
..
..


.

..

sábado, setembro 11, 2010

Menino...


Aquele primeiro olhar é o que agora me nomeia
E o segundo e o terceiro
E todos aqueles que a gente deu
Os que a gente não deu
Os que a gente ainda pode dar

Confesso que os que a gente não vai dar é o que agora, agorinha mesmo,
com dor no meio do peito, me nomeia
Todos os entres, entre um e outro.


Esse olhar noturno que clareia tudo em mim, clareia tudo aqui
Me vi translúcida
Voltando pra casa com um sorriso de presente no rosto
E no ouvido, essa voz tão doce
Tão certeira
Tão,

menino...

Fez vida
Como há muito não via


Tua calma é o que agora me nomeia
Teus agradecimentos divinos
E o floquinho quente da pele na pele
Ou do abraço que encosta o coração

Me esconder entre teu pescoço
Ser tola dentro do meu pacote de pão amarelo
Amarelo foram esses dias,

Amarelo sol


O teu cheiro, que é um descanso no acaso
É o que agora me nomeia
Uma poesia indecifrada
Disritmia no décimo volume

Ah, o teu cheiro...

O teu beijo é o que agora me nomeia
me nomeia aquele que a gente deu defronte a casa
Tava tão bonito, vento na cara
Alegria do encontro
Paz na alma

Teu sorriso é o que agora me nomeia
Tem cor de cor de cor de cor
De cór
Queria deitar nele e ser levada junto com as palavras



.

Não teve tchau e nem abraço apertado,
Não teve calma e nem cheiro,
Não teve beijo, não teve porta, não teve floquinho
Não teve nada

O destino as vezes nos é gentil
As vezes nos testa
As vezes

O destino é as vezes

Comigo,

Teu gosto de gosto
Tua cor de cor
Teu cheiro de cheiro
Teus olhos fundos
meus olhos marinhos
Agora
marejando nesse Rio de imprevistos

Mas eu gosto de rio

E eu gosto de você



As sinestesias nunca foram tão palpitantes,

menino...

.

sábado, agosto 07, 2010

Pentearam sem a permissão dos meus olhos


Aquelas flores amarelas caidas estratégicamente na cabeça do fusquinha branco em folha.
Era o que aliviava a paisagem cinza de estacionamento de prédio e onde eu fazia de conta que moro em casa. O senhor de bermuda vermelha penteou, assim, sem a permissão dos meus olhos, como quem faz favor.
Deixando limpo, limpinho. Sem flor, sem amarelo, sem casa, sem nada. Uma branquidão reluzente.

Ele mal sabe que o estacionamento agora, tem cara de estacionamento e só.

terça-feira, agosto 03, 2010

Um texto para te dizer, Marina





Faz uns dias que tento psicografar um pedaço de mim, que é você. Não tou conseguindo apenas juntar fonemas aos teus olhos tremidinhos de tensão e carinho, logo eu,que você tanto admira justamente por (pelo menos) saber usar as palavras com pouco pecado e firmeza, já que vacilo na fala, na lata. Acredito que justamente por isso, a precaução. Não queria decepcionar a quem já usou das minhas orações pouco analisadas na formação da palavra, mas palavras de sensações brotando na ponta dos dedos. Psicografar seria uma maravilha, para que fosse bem preciso os dias, as horas e até os anos. Os olhares e as conversas rotineiras. Os risos, os choros,as brigas e as tréguas, as piadinhas, as caretinhas, o Rio de janeiro e os teus denguinhos... Ah, os teus denguinhos... denguinhos de Mámá.





Queria todas essas coisas vistas por nós em um quadro bonito, a gente sentadinhas no chão com sensações de frango grelhado e o filminho passando com tons pastéis. Um quadro daqueles que cada um entende de uma maneira e a gente provavelmente entenderia igual. cada pedacinho.





Aquilo que é só nosso.





Em nossa homenagem, DISRITMIA tocando no último volume e as duas cantando loucamente.


segunda-feira, agosto 02, 2010

distração

foi indo, foi indo, florindo, fluindo, foi lindo, fingindo,

fugindo,

quarta-feira, julho 28, 2010

"Oh, desculpe!"

* texto de junho/10


Hoje deixei a rima de lado para escrever um pouco sobre o ato de constranger (ou achar que está constrangendo) e o de se sentir constrangido por uma coisa tão besta. É que eu tava andando pelas lojas americanas procurando 'meia invisível', foi quando uma senhora me perguntou se tinha massa de modelar. Eu, já sabendo que ela ia ficar constrangida em achar que eu ficaria constrangida ou ofendida por dizer "eu não trabalho aqui" , resolvi dar uma forcinha, fui no setor de material escolar e vimos juntas que não tinha.

Ela insistiu "querida, será que não tem no estoque?" e eu, de forma descontraida, falei que não trabalhava lá. Acho que piorei foi tudo, ela ficou envergonhada duas vezes, primeiro por eu ter ajudado sem ser funcionária e depois por ter sido insistente, até grossa e só depois ficar sabendo que eu não trabalhava lá e soltou um "oh, desculpe" com rosto vermelho. O tratamento mudou na hora. Era natural que ela pensasse que eu trabalhava lá, afinal, estava usando a mesma farda que todo o shopping, por sinal, uma blusa do Brasil horrível de mal feita.

Depois disso fiquei pensando porque isso sempre acontece. Todo mundo na vida já passou pelos dois lados e ainda assim a sociedade não superou esse ato besta do constrangimento. Fiquei pensando se era por conta de ser uma loja popular... e me perguntei se o mesmo aconteceria se por acaso você fosse confundido por alguém de um cargo mais elevado do que o seu. Se você ficaria 'ofendido' e se a pessoa falaria com tom constrangido "oh, desculpe".

quinta-feira, julho 08, 2010

jogadopeito

acontece que agora me deu vontade de te falar. ouvir tua voz. Telefonar talvez fosse moderno demais para mim, seria desafio e desatino. Não sei se conseguiria. Mas quis, aliás, quero no meu ouvido, todas aquelas palavras, bobas ou não.

As duas horas sentados em um colchão, com trechos de pernas se tocando fingidamente por acaso, como trechos de livro preferido. Que se decora. Eu te decorei. Delicia, deliciosamente.

-Sim, eu quero isso. Não sei ter isso, mas eu quero.

Querer não é suficiente, ter também não.

Não se tem. Não quero. Eu quero. Querer tanto assim. A guerra dos nãos. A guerra das mãos.
Mãos segurando o que escapa...

Me escapa e preenche.

No rosto, o vento frio e azul

me tem.

terça-feira, julho 06, 2010

24 de julho

Talvez ainda seja cedo para achar que faço parte da máxima "me divirto sem beber" mas já consigo tirar proveito disso tudo, o primeiro de todos é a saúde, na verdade, não me sinto mais saudável, mas o tempo vai me mostrar isso, afinal, acabei de sair de uma maratona de viagens e formaturas regadas a tudo menos a água.

Fazia tempo que não passava o mês de julho com cara de férias. Com relação a ressaca, nada melhor que acordar com a cabeça 100% e sem aquele cheiro deprimente de festa que já passou, ainda mais eu que tanto faz beber um gole ou um litro, o cheiro impreguina mais que rimel a prova d'água.

Bom mesmo é acordar pedindo praia e maçã gelada (daquelas que faz creck, prazer em estourar a maçã com a primeira mordida. E não as com textura de areia em bloco). O saldo também melhora ou pelo menos se transforma de ENGOV e BEBIDA para as boas comidas e o dinheiro reservado para as boas comidas, transfere para idas a praia e o dinheiro da praia a gente guarda para alguma viagem que não cabe nesse orçamento ou para alguma surpresa. Adoro surpresas!

Uma boa tatica para quem não é muito de refrigerante que nem eu, é se manter na base da água e do "mais gelo, por favor". O gelo derrete e se transforma em mais água. Um ciclo infinito e vicioso que pode durar a noite inteira e apenas o garçon notar. Essa tatica é bem válida para rodízios que de danadinhos que são, superfaturam no preço de simples refrigerantes que são iguais no Zen ou em Abelardo. Mentira, os R$3 extra de cada lata, são referentes ao gelo e limão, claro!

Por enquanto é isso, quem sabe depois eu não escreva sobre a experiência de estar sóbria entre amigos alto falantes que tenham passado meia hora rindo por conta de algum comentário que só teve graça no mesmo minuto e que, aliás, ainda nem sei se teve mesmo graça. Ou posso fazer uma análise dos detalhes que passam desapercebidos por um corpo e mente em plena ebulição do devaneio e desvairio alcoolico.

Tin tin!

sábado, julho 03, 2010

Rio 21 graus

10:52h

Queria casar com esse clima: friozinho gostoso com sol de praia!

sábado, junho 19, 2010

Sobre você

Moço bonito, eu poderia passar dias a fio escrevendo sobre a malandragem infantil que te cerca. O emaranhado dos teus cabelos e teus olhos de rio, mar-amar. É que também sou boa de memória, sabe? Me arriscaria a discrever o teu beijo que é doce e quente, que é fogo e lento. Fogo lento, queimando por fora e por dentro. Tua cor de sol, teu sol no coração e nas mãos... mãos firmes. Poderia ainda falar sobre a tua voz que pouco lembro do timbre mas sei do tom, um tom cheio de manha e vontades. Vontade de vida, de mundo, de risco.

Eu poderia tranquilamente, sem te conhecer, falar sobre você.

segunda-feira, junho 14, 2010

Último apelo

O não te ver tantos dias causa uma doermência tão burra e acostumada quanto te ver esporádicamente, tentando, em vão, retomar alguma coisa que parou e que para sempre no mesmo ponto. No mesmo ponto, sempre deixamos engatilhado para o depois, mas o depois vira tempo perdido e se esquece do antes. Ficamos feito dois semi conhecidos em dia de natal, dando alguns votos de felicidade e olhares perdidos durante o jantar... Preciso te dizer que a solução é drástica, amigo querido: não mais te ver ou te ver mais (inclusive deixo você escolher), mas te ver médio, te ver festa-de-fim-de-ano, te ver olhando de lado, assim, tão assim... Não dá, você é mais que isso, somos mais que isso, e se não consegue de uma vez por todas entender essas coisas, me dê tchau, assim, um tchau sem pena. De colegas de fim-de-ano você está cheio. E eu estou cheia desse teu chovenãomolha. Com todo o meu amor, ainda que antigo, novinho em folha.

sexta-feira, junho 11, 2010

em todo lugar



Por eles, é um amor que toma de assalto um pedaço imenso do meu cerebelo. Hoje me lembraram que essas coisas que a gente acha que sente no coração, é o cerebelo que a gente não controla. E com esses ai eu não controlo coisa alguma, quanto mais essa palavra feia. Cerebelo dá a impressão de criança que não sabe falar cérebro... né?


*Foto antiga, sofia ainda não tinha cabelo na lateral... mas já era linda, linda!

quarta-feira, junho 02, 2010

anoiteça, amanheça

Foi através dos olhos brilhantes que se enxergaram naquele mundaréu místico e as vezes calculista que se chama mundo. Com cuidado, tateavam o minuto seguinte, o próximo palmo, o segundo passo, como gato jogado em quarto escuro. Tinha cheiro bom, tinha cheiro. Eram quatro olhos, duas direções. E como quatro rios, desaguou no coração de Tarsila. -Já estava na hora, mentalizou. se mentaliza em itálico ou apenas na fala? que importa. Era ela, Joana, quem quebrara o tabú em silêncio e aos bocados liberava pequenas porções de verde escorrendo nas duas. O choque dos verdes. Era demasiado gentil que Tarsila correspondesse com um sorriso, guardanapo escrito ou olhos marejados, marinhos... marinhos e esticados - cheios de uma profundeza curiosa, de um mergulho ao danúbio, viagem pelo caminho-labirinto, falta de ar, se achando, por vezes se perdendo... sendo resgatado pelos grandes olhos de Joana. Os olhos mais gordos, mais verdes, mais amedrontados e cheios de amor. Cheios de um amor que diz vem. Que diz vai. Cheios.

Olhos que se completam, enfim,o amor.

* Eu tenho uma vontade vadia e quase que infantil de colocar as duas no mesmo lado do peito e fazer uma viagem de três dias pelo infinito...

quinta-feira, maio 27, 2010

lua

Noite vazia e silenciosa, musicando os poros. Lua percorrendo rosto,percorrendo pernas,percorrendo música. Som de música e respiração. sem eco. Qualquer pensamento dando um aú na cachola. Tanta coisa. Coisa nenhuma. Gotas de chuva entre sins e nãos. Não chove, não para. Uma paz tão íntima que por um isso é quase triste,

não fosse tão necessária a solidão.

quarta-feira, maio 26, 2010

O meu nome

É verdade, às vezes me sinto atrevida quando perguntam meu nome e eu, na cara limpa digo: Anete. E digo sem medo de parecer nova demais para isso. Quando criança tinha um pouco de vergonha mas não tinha como esconder, na hora da chamada os professores não aliviavam: "Anete Carla?". A carteira de estudante, tabuadas, ditados, homenagens ou qualquer outra coisa pública, sempre me entregavam e meu rosto ficava tímido-quente. De fato, eu era menina demais pra carregar o fardo de ser Anete, assim, tão de repente. É que nem uma bêbê, sem aviso prévio, se chamar Vera ou Carmem, não dá. E bem sei: Anetes, Ivones, Lourdes, Veras, Carmens, Amélias, todas elas, já deveriam nascer com pelo menos 58 anos. Eu ainda não tenho idade e nem vivência pra merecer esse nome. É parecido com moço broto usando barba, não é para todos. O mais engraçado é que sempre me fazem perguntas como uma forma de me testar, pra ver se é esse mesmo o meu nome. Certo dia, chegou um colega perguntando: "Teu nome é de origem judaica? pois a única Anete que conheci na vida tinha sobrenome de judeu e tinha uns 100 anos". Isso aconteceu no mesmo dia em que uma menina me perguntou se eu tinha descendência indiana, pelos traços. Era informação demais pra uma Carla qualquer. Com relação ao indiano, eu saberia responder: minha família era um misto de índios com sírio libaneses e ela possivelmente achou que eu fosse meio indiana por conta de algumas roupas e os olhos "gordos no centro, porém, esticados". Ouvi isso a vida inteira. Pior era um namorado que tive, vez por outra dizia que eu tinha uma beleza excêntrica. Até hoje eu não sei se isso era bom ou ruim. Mas sobre Anete, meu nome, não saberia dizer. Lembrei de uma amiga falando que era o nome de uma flor, mas preferi não arriscar, depois ele perguntava sobre a flor... E respondi um "não sei", dissimulado e verdadeiro. Percebi de imediato o ar de decepção no rosto do garoto. Logo tratei de descobrir um pouco mais sobre meu nome. Anete é de origem francesa, simples assim. Anetes são teimosas, criativas, carinhosas e sinceras. Foi o que disse o texto. Bom, tenho até meus 58 anos pra descobrir mais coisas e poder, finalmente, merecer e envelhecer com Anete, Carla e quem mais aparecer.

segunda-feira, maio 24, 2010

E agora, Budapeste? ou A hora do tchau

O rádio-relógio apontava três horas da manhã. As três horas mais remoidas e rápidas e doídas e esperadas e esquisitas e aquela coisa toda de todo aquele ano que passou. Uma confusão só. 'A gente se preparou para isso, lembra?' Tentei me segurar nessa frase dita tantas vezes como forma de convencimento ou consolo, apesar de sempre ter minhas dúvidas sobre esse preparo todo, tenho a impressão que a gente se preparou para gostar e não pra dar tchau, enfim.

A única vontade naquele momento era de olhar o outro o máximo que pudesse, todos os minutos que ainda faltavam, pra decorar o lugar de cada pintinha, cada fio de cabelo voando pelo rosto. Foi a maneira que escolhemos para matar a saudade, se por ventura viéssemos a sentir. Deitamos de lado, um de frente para o outro. Nossa respiração estava mais baixa, respirávamos o ar do outro, o ar dele entrava pelos meus olhos secando as gotas recém formadas de forma conveniente, afinal, nunca haviamos chorado.

Ele começou a lembrar de histórias e aventuras e conversas -Lembra de quando a gente tava doente e você falou que tamo junto na saúde e na doença? -Lembro, até que Budapeste nos separe. Engraçado, a gente achava graça em tudo. -A gente vivia correndo ou na chuva ou pra pegar o carro. -Você achava estranho meu jeito calmo irritado -E você é muito impulsiva, ainda hoje -E você que parou de tomar coca-cola? Quem diria -E você ainda fala o que não deve quando bebe -Quando bebo coca-cola? -Não,né. -A gente contava tanta mentira. -É, a gente mentia demais. -Ah, então era mentira quando você disse que? -Não, nem tudo. -Era sim. -Não era.

Três e meia da manhã, o relógio disparou. Era estranho pensar que já estava na hora. Mesmo sabendo que ela ia chegar, não tinha como fugir daquele bolo instalado no meio da garganta. Ele ligou para o taxi enquanto eu mentalizava que demorasse a atender ou que não atendesse, mas foi de primeira "teletaxi, Rosana, bom dia", é sempre assim, se fosse na noite de ano novo, no carnaval ou no dia em que eu estava na rua, doente e embaixo de chuva, Rosana não ia atender com toda essa presteza e rapidez. -Puta! Pensei em voz alta. -Rosana filha da Puta, ele respondeu.

Enquanto o taxi não chegava, a gente discutia sobre ir me levar no aeroporto. Eu não queria que ele fosse e ele disse que ia e eu disse que não e ele que sim e que não. E quando vimos, o taxi já estava buzinando, sem o mínimo de piedade ou de consciência a respeito daquele instante mais carregado que arma. O coração ficou pequeno, os dois. Nos olhamos, respirei fundo. -Acho que perdemos esses últimos cinco minutos inventando desculpas ao invés do abraço forte. -Então me abraça. O taxi voltou a buzinar, dessa vez com mais impaciência. Entrei no carro, ele se virou e seguiu pra casa - talvez para o bar, vá saber- em passos lentos. Nos poupamos do adeus por olhar que dói tanto.  Percorri o caminho para o aeroporto pensando que tivemos vários cinco minutos durante todo esse tempo, todo esse ano. Eu sei que ele também pensou isso.

Provavelmente choramos o nosso primeiro choro juntos, separados.