segunda-feira, junho 20, 2016
domingo, junho 19, 2016
Sobre rebuliços e o tempo
Houve um tempo em que tudo parecia concordar.
Eu e você embaixo de uma coberta em Santa Teresa e uma garrafa com água de gengibre do lado da cama pra molhar a boca quando ela tava seca de amor recém feito.
"Você está envolvida demais". Foi o que você disse certo dia pra fugir de você mesmo e de suas emoções. Comprou a própria briga e não arredou o pé sobre uma certeza que só eu poderia ter e não te dei. Dai em diante não aceleramos e nem retornamos. Ficamos alí estacionados por um breve período. Um estado de inércia que mata meu coração ariano, agoniado e pulsante muito mais que qualquer não, que qualquer desistência, que qualquer tiro certeiro. Se é pra ficar parada aqui eu prefiro ir embora. Você não quis que fosse assim mas entendeu. A última coisa que você queria era me magoar. Nisso nós dois concordamos.
Depois veio você de volta quando eu já não estava mais alí. Esperavas pelo mesmo braço, o mesmo olhar, o mesmo carinho, a mesma conexão. Não teve. O braço, o olhar e o carinho não são mais pra você, eles já têm um novo destino, endereço, nome e coração. Foi o que te expliquei quando me cobrasse tudo aquilo que poderia ter sido pra você um dia e não foi porque eu, ora veja, tava envolvida demais.
Se declarasse com a voz trêmula de nervoso. Me desse mil motivos pra retornar. Me pedisse pra reavaliar. Que era outro tempo. Que era outra pessoa. Que era outro Daniel. Que ele, só agora, percebeu o quanto gostava de mim mas tava em outra fase e não se culpa por isso mas que agora tá aberto, disposto a se entregar, a viver sem amarras, a fazer planos e que pensa em mim um bocado.
Me chamasse pra conhecer sua casa no mato como quase um troféu pra mostrar que agora era séria a vontade de construir qualquer coisa. Trouxesse limão siciliano como um bom motivo pra eu ir te encontrar novamente. E eu fui. Tentei. Uma, duas, 4 vezes quem sabe. Eu não tava mais alí. Eu queria muito ser muito sua amiga mas ainda existia tesão no ar. Ainda existia um abraço mais longo. Um carinho na voz. Um apelido. Expliquei tudo de novo quando senti que estávamos em ritmos diferentes. Que você era a eu de outrora mas muito mais maduro e decidido. E envolvido mesmo sem evolução alguma de minha parte. Mesmo eu dizendo na lata que gostava mesmo de outra pessoa. Você acreditou que isso podia mudar com o tempo mas eu não queria que mudasse e isso muda tudo. Preferi que a gente parasse porque a última coisa que eu queria era te magoar. Concordamos e você pediu que sobre isso você se preocupasse e não eu. Que quando tivesse ruim pra você, saberias ir embora. Concordei. E nunca mais te vi, te retornei. Não queria que o quando precisasse chegar.
Nunca brigamos. Em todas as situações mantivemos o carinho e o respeito e a vontade de um dia se ver de novo, sabe-se lá como.
Até quando a gente vai viver sem poder ser muito amigo? Quando estaremos, finalmente, em conexão? Foi o que me perguntei quando me chamasse pra fotografar seu show. Achei o convite perfeito pra essa nova fase que tanto desejo e suponho: eu e você, amigos. Cheguei meio sem jeito depois de duas semanas sem te ver. E tendo te visto pela última vez depois de mais duas semanas desviando. Você tava ali, lindo e suave, como de costume. Com os braços enormes pra um abraço. Me desarmei. Me aliviei. Falou que eu tava muito bonita, perguntou se por acaso eu iria sair depois do show com aquele tom que você faz quando quer saber uma coisa mas pergunta outra pra ver se chega na resposta certa. Você pergunta como vai a minha relação, respondo que muito bem, obrigada e sem entender se aquilo era uma alfinetada. E antes que eu perguntasse qualquer coisa sobre você, pois nem saberia o que perguntar, você se adianta e diz que acha que tá namorando. Devo ter feito uma cara surpresa, tal qual a sua quando contou.
Rimos juntos. Ao mesmo tempo.
É nessa frase que tudo que me perguntei se responde. Ai tá a conexão e o encontro sem desencontro. Você tá feliz e tá bonito por causa disso. Eu to bonita pela mesma razão, para além do macacão e do batom lilás. Estamos bonitos e rindo na mesma risada, no mesmo ritmo, finalmente.
A vida é a arte do encontro embora tenha tanto desencontro pela vida, dizia o poetinha nessa frase clichê e verdadeira. A gente podia ter se desencontrado pra sempre se bobos fôssemos. Mas não somos. E reconhecemos no outro mil e um motivos pra tentar se encontrar mais uma vez e mais uma vez e quantas vezes forem preciso. E eu sou muito contente por a gente ter finalmente se encontrado.
Eu e você embaixo de uma coberta em Santa Teresa e uma garrafa com água de gengibre do lado da cama pra molhar a boca quando ela tava seca de amor recém feito.
"Você está envolvida demais". Foi o que você disse certo dia pra fugir de você mesmo e de suas emoções. Comprou a própria briga e não arredou o pé sobre uma certeza que só eu poderia ter e não te dei. Dai em diante não aceleramos e nem retornamos. Ficamos alí estacionados por um breve período. Um estado de inércia que mata meu coração ariano, agoniado e pulsante muito mais que qualquer não, que qualquer desistência, que qualquer tiro certeiro. Se é pra ficar parada aqui eu prefiro ir embora. Você não quis que fosse assim mas entendeu. A última coisa que você queria era me magoar. Nisso nós dois concordamos.
Depois veio você de volta quando eu já não estava mais alí. Esperavas pelo mesmo braço, o mesmo olhar, o mesmo carinho, a mesma conexão. Não teve. O braço, o olhar e o carinho não são mais pra você, eles já têm um novo destino, endereço, nome e coração. Foi o que te expliquei quando me cobrasse tudo aquilo que poderia ter sido pra você um dia e não foi porque eu, ora veja, tava envolvida demais.
Se declarasse com a voz trêmula de nervoso. Me desse mil motivos pra retornar. Me pedisse pra reavaliar. Que era outro tempo. Que era outra pessoa. Que era outro Daniel. Que ele, só agora, percebeu o quanto gostava de mim mas tava em outra fase e não se culpa por isso mas que agora tá aberto, disposto a se entregar, a viver sem amarras, a fazer planos e que pensa em mim um bocado.
Me chamasse pra conhecer sua casa no mato como quase um troféu pra mostrar que agora era séria a vontade de construir qualquer coisa. Trouxesse limão siciliano como um bom motivo pra eu ir te encontrar novamente. E eu fui. Tentei. Uma, duas, 4 vezes quem sabe. Eu não tava mais alí. Eu queria muito ser muito sua amiga mas ainda existia tesão no ar. Ainda existia um abraço mais longo. Um carinho na voz. Um apelido. Expliquei tudo de novo quando senti que estávamos em ritmos diferentes. Que você era a eu de outrora mas muito mais maduro e decidido. E envolvido mesmo sem evolução alguma de minha parte. Mesmo eu dizendo na lata que gostava mesmo de outra pessoa. Você acreditou que isso podia mudar com o tempo mas eu não queria que mudasse e isso muda tudo. Preferi que a gente parasse porque a última coisa que eu queria era te magoar. Concordamos e você pediu que sobre isso você se preocupasse e não eu. Que quando tivesse ruim pra você, saberias ir embora. Concordei. E nunca mais te vi, te retornei. Não queria que o quando precisasse chegar.
Nunca brigamos. Em todas as situações mantivemos o carinho e o respeito e a vontade de um dia se ver de novo, sabe-se lá como.
Até quando a gente vai viver sem poder ser muito amigo? Quando estaremos, finalmente, em conexão? Foi o que me perguntei quando me chamasse pra fotografar seu show. Achei o convite perfeito pra essa nova fase que tanto desejo e suponho: eu e você, amigos. Cheguei meio sem jeito depois de duas semanas sem te ver. E tendo te visto pela última vez depois de mais duas semanas desviando. Você tava ali, lindo e suave, como de costume. Com os braços enormes pra um abraço. Me desarmei. Me aliviei. Falou que eu tava muito bonita, perguntou se por acaso eu iria sair depois do show com aquele tom que você faz quando quer saber uma coisa mas pergunta outra pra ver se chega na resposta certa. Você pergunta como vai a minha relação, respondo que muito bem, obrigada e sem entender se aquilo era uma alfinetada. E antes que eu perguntasse qualquer coisa sobre você, pois nem saberia o que perguntar, você se adianta e diz que acha que tá namorando. Devo ter feito uma cara surpresa, tal qual a sua quando contou.
Rimos juntos. Ao mesmo tempo.
É nessa frase que tudo que me perguntei se responde. Ai tá a conexão e o encontro sem desencontro. Você tá feliz e tá bonito por causa disso. Eu to bonita pela mesma razão, para além do macacão e do batom lilás. Estamos bonitos e rindo na mesma risada, no mesmo ritmo, finalmente.
A vida é a arte do encontro embora tenha tanto desencontro pela vida, dizia o poetinha nessa frase clichê e verdadeira. A gente podia ter se desencontrado pra sempre se bobos fôssemos. Mas não somos. E reconhecemos no outro mil e um motivos pra tentar se encontrar mais uma vez e mais uma vez e quantas vezes forem preciso. E eu sou muito contente por a gente ter finalmente se encontrado.
terça-feira, junho 07, 2016
Permanências
As vezes você pinta como um pincel. Faz cócegas nos meus pés, cutuca com a ponta da haste meu peito e faz desenho no ar. A gente senta na mesa de sinuca, meus pés flutuam e balançam. Você olha em frente sem mira. Eu miro teu nariz empinado. A gente se encontra não se encontra. É tudo uma ilusão.
Tem vezes que você surge como mão. Pega um balde e joga a tinta no piso. Escorrego e caio de cara. Mergulha os dedos nas cores e joga em mim, me cega com tinta nos olhos. Eu choro de todas as cores. Fazemos uma lambança só.
Tem vezes que hiatos. hiatos. hiatos.
A verdade é que você nunca foi embora.
Tem vezes que você surge como mão. Pega um balde e joga a tinta no piso. Escorrego e caio de cara. Mergulha os dedos nas cores e joga em mim, me cega com tinta nos olhos. Eu choro de todas as cores. Fazemos uma lambança só.
Tem vezes que hiatos. hiatos. hiatos.
A verdade é que você nunca foi embora.
domingo, maio 29, 2016
Terça-feira
A gente costumava se encontrar nas quartas, que era o meinho da semana, o ponto perfeito pra acumular uma saudade e depois ir embora esperando pelo fim de semana que logo chegava. Promoção no cinema, jantar e alguma desculpa pra justificar o encontro, quando na verdade a gente só queria se ver, sem desculpa alguma.
Faz um tempo que as quartas viraram terça-feira. Um dia cheio de motivos. É tanto do motivo que chega explode de energia! Agora o encontro vem acompanhado de frevo. De suor. De ponta de pé e calcanhar. De risadas e estafas físicas. De risos e aprendizados e diversão. Um calor que domina a sala de aula seguido da brisa fresca de Copacabana que deixa a prosa no meio da rua mais agradável. A gente devia marcar uma cerva no fim da aula! Sim! Aqui tá massa mas a gente tem pressa. Quem vai pra onde? Daqui eu vejo e vivo o caminho até o metrô alegre por entusiastas a passistas, todos cansados. A capinha do Super Homem sempre escondida doida pra voar.
Tem Masterchef, tem fome, tem roupa grudando no couro de tanto suor. Tem aquele banho esperto e garoto que deixa o cheiro de sabonete nas tuas mãos. E eu cheiro. Você na cozinha pegando água. Vem logo que vai começar! Tem o sofá onde me dissolvo, toda torta. Tem teu colo e duas mãos pra um cafuné exausto, vagaroso, espaçado. Movo minha cabeça bem rapidinho na tentativa de chamar tua atenção e conseguir algum carinho mais avançado daquele braço cansado de sombrinha que eu mesma causei. Não tenho muito sucesso. Olho ao redor e vejo tua perna. Levanto a blusa e cheiro teu buchinho. Fome. Domino`s! Catuperoni e La Bianca. Ruivo atento e quase mudo. Agora Renata, faladeira igual a gente. Um pouco de coca-cola que ficou na geladeira, um beijo e outro. Sorvete. Os celulares apitando freneticamente no mesmo grupo.
Teu colo de novo.
segunda-feira, maio 23, 2016
terça-feira, maio 03, 2016
Inspiração
Meu mapeando de maio, além de uns sacolejos mais palpáveis que os dos últimos meses, dá também uma alfinetada em uma mente que se acha brilhante tantas vezes, cobrando criatividade. Quede sua criatividade, querido áries? Mais ou menos por ai. Ele, o mapeando, tá redondamente correto. Quede minha criatividade? Onde a enfiei? Virei uma máquina de produzir o que me pedem, sem quase questionar e entregar no prazo solicitado em troca de dinheiro? Sim. É o que me parece. Respondo triste mas não surpresa. Há tempos que venho vivendo assim, quadrada como um cubo nada mágico.
No andar de cima de meu armário tem um papel pardo enorme que comprei há quase 1 ano. A ideia era escrever nele tudo que pretendo fazer, projetos, ideias legais mesmo que soltas, uma palavra de incentivo, possibilidades dentro de minhas competências. Comprei também um pilot preto pra ajudar nesse brainstorm de mim mesma. Em julho completa um ano que ele tá ali, em branco, se eu nada fizer pra mudar isso. Estou quase largando esse texto aqui pra continuar ele lá, já era alguma coisa... mas sinto frio, sinto sede, sinto sono. "Amanhã sem falta eu faço isso". Amanhã sem falta dou continuidade no livro que é base pra o ensaio que quero fazer. Amanhã. Amanhã é sempre a esperança por um ontem muito falido. Amanhã quem sabe.
Volto a questionar: por onde anda minha criatividade, ponto alto da característica de minha pessoa? Nem esse blog estou conseguindo manter. Paixão. É por isso que sou movida, só que da pior maneira. Se estou apaixonada, não costumo escrever grande coisa. Se não estou apaixonada, não consigo nem escrever. É preciso estar apaixonada e com um rombo no peito, fodida, catando os cacos pra brotar e ser belo. Deveria, então, buscar por isso? O fim daquele livro depende do fim de minha alegria? Seria isso uma crise criativa?
quinta-feira, abril 28, 2016
Guerra de cheiro
Ir sem pensar em voltar
Voltar já querendo ir
Querendo com medo de ficar
Ficar com medo de ferir
Ferir se ferir e catucar
parar, respirar e
quinta-feira, abril 07, 2016
O erro
Quando você quer que o outro faça e sinta como você faz e sente e esquece que você é você e o outro é outra conversa. E você ainda fica chateado. E a única coisa que te faria não ficar chateado é o outro fazer o que você faria. E você faz de tudo pra pessoa fazer o que você faria mas ela não faz porque ela é ela e não você. E então você lembra que você é você e o outro é o outro e essa é uma conta que só fecha quando a gente cresce e olha além das próprias vontades.
Eu, definitivamente, ainda to engatinhando.
Essa mania de querer me relacionar sempre comigo.
Eu, definitivamente, ainda to engatinhando.
Essa mania de querer me relacionar sempre comigo.
terça-feira, abril 05, 2016
Abril de 2016
Eu ainda tenho dificuldade em mexer no mac e sempre me pego surpresa, para o bem ou para o mal.
Quando passo fotos da câmera pra ele, por exemplo, um programa que nem conheço e já não gosto abre rapidamente quase me obrigando a importar pra lá enquanto eu só queria abri-las no lightroom.
O Itunes que me faz dar um pulão da cadeira toda vez que começa a tocar sozinho. Ou quando eu falo pra finalizar o programa e tempos depois ele volta a tocar sem que eu faça nada.
Há pouco fui gravar um dvd com músicas, coisa que pensava ser como vencer as olimpíadas, e por isso mesmo sempre adiei o momento e foi ridículo de simples. Depois ainda ejetei o disco e ele continuou tocando a música que tava rolando até o fim. Magias da maçã.
Agora exportei uns vídeos que foram parar num buraco negro com outros vídeos que eu não fazia nem ideia que estavam nesse computador e, entre eles, um em especial que eu tinha certeza que havia se perdido no tempo e espaço. Talvez o vídeo mais bonito que eu já tenha gravado na vida, pelo menos pra mim. Vi aquele quadradinho ali e tomei um susto: de alegria e desconforto. E agora, que devo fazer? Ignorar e guardá-lo em uma pasta pra não mais perder? Ver esse vídeo que foi visto por mim apenas uma vez em 2013? (não consegui mais assistir depois que passei o restante do dia inteiro chorando no chão frio da sala fria em Copacabana).
Sim, foi a minha resposta. Peguei então um copo de água, respirei fundo e dei o play, pronta pra receber a sensação qualquer que o universo e aquele vídeo pudessem me trazer hoje, em abril de 2016. Talvez uma noite inteira chorando no Bairro de Fátima, talvez absolutamente nada ou talvez um texto, como tá acontecendo. Corri o risco, como de costume.
Vi o vídeo e ri junto com ele, de alegria e alívio. Em cada balançar de cabeça, sorriso envergonhado, dancinha de mãos, voz, olhinhos apertados e leveza no ar eu acompanhei junto fazendo a mesma coisa. Sorrindo junto, balançando junto, achando bonitinho.
Quando o vídeo acabou e só me restou clicar no X pra fechar a tela, me dei conta de que te coloquei numa posição inferior depois que voltei de Recife. Que ficou um ranço. Que por mais que eu tenha me esforçado pra não sentir isso, te achei menino e bobo. Posição que não bate com a enormidade que você sempre ocupou desde que peguei o avião de ida pra Barcelona, três anos atrás quase que exatamente.
Teu sorriso livre de toda preocupação me perfurou novamente. E só ai tive a certeza que nossa maior bobagem foi tentar ser o que já fomos, mesmo já sabendo que não havia condições. E forçar o que não se pode é triste, é doloroso e até covarde com a história que escrevemos e que é só nossa, apenas nossa, de mais ninguém.
Fui injusta contigo. Você não foi menino e bobo, ao menos não como eu guardei. Você foi apenas humano e confuso, como somos. Não tenho dúvidas de que esse ranço foi algo mútuo. Os dois querendo algo que não pode e, assim, agindo de maneira estranha. Um corte com faquinha amolada bem no meio do sossego. O relembrar e comparar, se frustrar e não saber o que fazer com isso. Fugir disso. Correr o mais depressa que se pode pra um lugar seguro. O lugar seguro que não sou eu. Eu sou o campo de perigo, a gota de limão que azeda o doce. Algo que precisa ser bem escondido pra não ser lembrado, mencionado, posto em cima da mesa. Isso é o que provavelmente represento agora pra você. E até então você ficou, pra mim, como o óbvio ponto perfeito do bolo que deu errado. Que bom que esse vídeo retornou e que bom que eu ví esse vídeo.
Hoje finalmente minha ficha caiu e deixei sem dor aquela história bonita e "jogo duro de comparar" em 2013, de onde nunca precisaria ter saído. Aquilo foi aquilo, não volta e nem continua. Não quero ser a gota de limão, você não é o ponto errado. Somos mesmo muito mais.
E é essa carinha leve do vídeo que quero continuar carregando de você, não importa em que ano ou mundo a gente esteja, cada um.
Com amor sempre,
Carlinha.
quinta-feira, março 31, 2016
Nu peito
Coração que anda na mão
Escapole antes no chão
Então suspendo, coloco na boca: engulo
Engasga no esôfago
Falo o que falo que não falo e empurro
Coração de volta ao peito
Onde enterrar palavras que morrem na ponta da língua?
Escapole antes no chão
Então suspendo, coloco na boca: engulo
Engasga no esôfago
Falo o que falo que não falo e empurro
Coração de volta ao peito
Onde enterrar palavras que morrem na ponta da língua?
quarta-feira, março 30, 2016
Eita mlk
Uma semaninha só. Eu me aviso. É bom que dá saudade!
Como se precisasse da ausência pra isso. Quando juntos, arianinhos, ela existe no durante. No ato. Encostados pele com pele e já saudade. Abraço, carinho, cheiros: acabei de chegar. Eu tava com saudade... aliás continuo com saudade, menina. Avalie no depois. Oito dias de depois. Um celular morto e triste sem SMS. Lacuna na quarta-feira de toda quarta-feira.
Colchão fofo todos os dias com ciúme do tatame: tão pertinho, tão distante.
Como se precisasse da ausência pra isso. Quando juntos, arianinhos, ela existe no durante. No ato. Encostados pele com pele e já saudade. Abraço, carinho, cheiros: acabei de chegar. Eu tava com saudade... aliás continuo com saudade, menina. Avalie no depois. Oito dias de depois. Um celular morto e triste sem SMS. Lacuna na quarta-feira de toda quarta-feira.
Colchão fofo todos os dias com ciúme do tatame: tão pertinho, tão distante.
quinta-feira, março 24, 2016
quarta-feira, março 16, 2016
Francisco
Francisco vai nascer. Ele já tem
um bocado de apelido carinhoso: Chico, Chicote, Chicória, Chicão e até
Afonsinho (que a mãe não nos escute pra puxar a orelha). Pra mim ele é
Francisco e pronto! Um nome bonito feito esse não carece de outro.
Ainda não conheço seu rosto e não tem
como saber se os olhos serão enormes e famintos como os da mãe. A cor verde é
o que menos importa nesses olhões de mundo, feixe de luz no escuro. Mira e tiro
certeiro. Um dardo lançado bem no centro vermelho. Não dá pra saber e, ainda
assim, não tenho dúvidas de que sim, serão. Aquelas coisas que a gente sabe sem
ver.
Francisco não é o primeiro filho
de amigas próximas mas é como se fosse. Talvez porque agora parece tudo mais
real e palpável que na época de faculdade onde alguém tinha menino e parecia
irresponsabilidade. Ora, mas há pouco
tempo alguns amigos tiveram filhos, programadinhos, casais casados, tudo
conforme a sociedade espera. Ainda assim é como se Francisco fosse o primeiro. Por que? Talvez por ser filho de Amanda. Amanda
que até pouco tempo tinha como preocupação os cabelos vermelhos, o cigarro
encaixado entre os dedos de uma mão e um copo de cerveja ou o que quer que
fosse de mais alcoólico na outra. Um texto coerente, outro nem tanto, um
genial, um emprego bom, a aula de balé, a São Salvador, as confusões.
Francisco não vem de um casal
casado. Francisco não veio esperado e agora a gente só faz isso da vida:
esperar por ele. Francisco não preparou ninguém, muito menos Amanda e agora
nunca a vi tão preparada pra tudo o que vier em todo o tempo que a conheço. Francisco
ainda não tem rosto - pra gente - mas já o enxergamos de sunga na praia dos Carneiros em
um verão desses correndo pra lá e pra cá pedindo picolé. Ele ainda não
completou 1 ano e a gente já dança um frevinho miúdo com ele no Acho é
Pouquinho aos 3. Francisco me faz olhar a janela do ônibus e ter um cadinho de
esperança no mundo mesmo estando tudo errado.
Ele não é o primeiro filho de
amigos próximos mas é o filho de Amanda, uma mulher que vi amadurecer, que tenho vontade de estar perto,
que escuto com os ouvidos bem abertos e admiro de doer. Falo dela e meus olhos brilham, tenho certeza. Falo deles e meu peito infla.Do susto em uma mesa de bar na Tijuca veio a surpresa: hoje não consigo imaginar uma dupla mais forte e esperada do que essa.
sexta-feira, março 11, 2016
Os filhos que não tive
Tereza e Maria, que seriam nossas crias, ficaram no meio do não.
Larali e Laramora, dois sucos e uma história, foram criadas em memórias mas não nasceram em Laranjeiras. E nem vão.
Menina, nossa filha pequenina, bateu asas e ficou.
Larali e Laramora, dois sucos e uma história, foram criadas em memórias mas não nasceram em Laranjeiras. E nem vão.
Menina, nossa filha pequenina, bateu asas e ficou.
Aurora, Maria ou João, no último relacionamento tão sedento, se perdeu em andamento e deu de cara com o chão.
Caetano, um filho apenas meu, ainda não nasceu.
Rua, uma menina do futuro, doida pra ser irmã de Caetano, agora vive em mim.
Estou grávida de uma Rua que nem preciso parir pra ser larga e bonita,
como todas por aqui.
como todas por aqui.
quarta-feira, março 09, 2016
Antes de entrar, espere sair
Elementar.
Vale pra relacionamento, metrô e até sentimento: antes de entrar, espere sair.
Vale pra relacionamento, metrô e até sentimento: antes de entrar, espere sair.
terça-feira, março 08, 2016
Feminino, masculino
- (...) mas esse desodorante é masculino!
- Masculino?
-Sim, cheiro masculino.
- Mas o que é cheiro masculino? Minha mãe usa perfume "masculino" e é mulher.
- É, a minha também.
- Masculino?
-Sim, cheiro masculino.
- Mas o que é cheiro masculino? Minha mãe usa perfume "masculino" e é mulher.
- É, a minha também.
Até domingo eu achava normal separar o cheiro por masculino e feminino. E não só caí nessa como verbalizei tamanha loucura sem achar estranho durante todos esses anos.
Agora sinto-me tola. E aliviada.
Perfume masculino e perfume feminino é tão deprimente quanto o esquema azul e rosa para crianças. Ora, não pode um homem ter cheiro doce, cheirar a flores e frutas? Não pode uma mulher se agradar pelos amadeirados? Se gosto do cheiro no outro, não posso gostar em mim também?
Quem foi o danado que inventou que cheiro tem sexo?
Doido como a gente luta por igualdade e por um monte de coisa e, na entrelinha da rotina, ainda se pega caindo nessas armadilhas impostas desde sempre, grudadas na gente, difíceis de desgarrar.
Me entristece ver que ainda sou machista em deslizes que tantas vezes nem devo perceber ou que custo a sacar e que a estrada é longa, pra mim e pra um bocado de gente. Por outro lado me alegra bastante escolher estar atenta a isso dia a dia. Todos os dias.
A luta pela igualdade é nossa e mais que nunca é preciso estar atento e forte!
Feliz dia pra mulherada que escolheu educar e também reeducar-se. Vamos juntas que assim somos mais fortes!
segunda-feira, março 07, 2016
O cheiro de minha mãe
Quando chego em casa, antes mesmo de colocar o segundo pé pra dentro, brotam duas possibilidades:
1) Reconhecer que mamãe tá presente pelo odor de seu cigarro, que sugere que ela tá quase morrendo no CandyCrush ou toda curva sentada numa cadeira qualquer jogando paciência em um notebook todo lascado pela maresia.
2) Reconhecer que ela não tá em casa pelo cheiro de seu perfume largado no corredor que me transporta pra imagem dela bonita, cacheada, bem sucedida e decidida mirando-se no espelho do meu quarto pra ter certeza que aquela roupa tá a altura de sua energia - solar.
Adoro quando minha mãe não tá em casa!
1) Reconhecer que mamãe tá presente pelo odor de seu cigarro, que sugere que ela tá quase morrendo no CandyCrush ou toda curva sentada numa cadeira qualquer jogando paciência em um notebook todo lascado pela maresia.
2) Reconhecer que ela não tá em casa pelo cheiro de seu perfume largado no corredor que me transporta pra imagem dela bonita, cacheada, bem sucedida e decidida mirando-se no espelho do meu quarto pra ter certeza que aquela roupa tá a altura de sua energia - solar.
Adoro quando minha mãe não tá em casa!
A chicória e o tempo
Eu sou do mato: de mato eu sou, do mato eu vim.
Serei mato sempre e sempre mesmo quando tênis, mesmo quando fumaça de carro e não de madeira queimando. Pra onde eu vou, carrego ele comigo. No jeitinho de falar, de olhar, nos pés calejados e descalços. No chão que eu sento. Nas pernas "sem modos" que se acomodam em cadeiras de restaurante, bancos de praça, poltronas de ônibus, avião e de sala de espera de laboratório médico. Pernas cruzadas, desalinhadas, suspendidas ou soltas por baixo de um vestido fino em uma festa de casamento.
É o meu jeitinho. Acho que vai ser sempre. Mas tem vezes que minha Aldeia fica distante e as memórias vão se perdendo com o passar dos anos, com a urbanização mental que sou exposta diariamente nessa cidade tão grande e tão caos que é o Rio de Janeiro.
Quando penso nisso fico meio muxoxa. Lembro daquela garotinha que andava na estrada de barro pra pegar a kombi e depois mais uns ônibus e muita caminhada com a mochila nas costas que era o mesmo que uma casa. Que não tinha uma escrivaninha pra ler. Ela lia deitada em cima de uma tábua que seu pai encaixou em um pé de caju, lá no alto. Do alto ela lia, alcançava uma fruta doce e travosa e por vezes cochilava ali mesmo naquela madeira que era de sua largura.
Agora, lembrando, me impressiono com o fato de que eu nunca caí lá de cima mesmo quando apagava, algumas vezes, por horas. Só despertava com o cíu-cíu-cíu das cigarras lá para as cinco da tarde, quando era hora de voltar.
~ ~
Em meio a rotina acelerada e doida de cidade grande, o alívio que vez por outra vem: uma memória até então guardada saltando na minha frente.
"Chicória!" Era o que a senhora ao meu lado pedia para o rapaz da feira. Quero dois punhados de chicória. Na hora eu travei a respiração, larguei os saquinhos de cenoura e tomate no tabuleiro e direcionei toda a minha atenção para a chicória que na verdade representava um pedaço de minha infância. Ali, fui transportada para os domingos de peixada.
"Mala, cata umas chicórias pra mim!", meu pai pedia com as mãos sujas de carvão e o peitoral, forte e bronzeado, suando em frente à churrasqueira. E lá ia eu, contente da vida, catar aquela folhinha de beirada crespa que nascia no meio da grama e dava o gosto do domingo. Me soltava no meio do mato e só voltava com as mãos cheias dela.
"Se ninguém plantou, como que ela nasceu aqui?" Eu me perguntava aos 9 anos. Me perguntei novamente agora, aos quase 28.
Domingos e mais domingos me sentindo a salvadora do peixe. Sem chicória o tempero não seria o mesmo. Sem meu minucioso trabalho de procurá-las em meio ao mato, também não. Mas o que me instigava mesmo era ver o orgulho de meu pai que transformava qualquer ato simples em uma grande gincana: missão dada e missão cumprida significavam a mesma coisa.
Sábado peguei a chicória nas mãos mais uma vez e senti Aldeia bem de perto.
O mato que me habita.
quarta-feira, março 02, 2016
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