domingo, dezembro 21, 2014
Raio gourmetizador
O problema da onda gourmet não é o gourmet em si. O problema é quem se aproveita disso e continua fazendo exatamente o mesmo sanduiche que fazia antes, só que agora cobrando o triplo pelo uso de palavras como caramelizar, reduzir e flambar.
terça-feira, dezembro 09, 2014
No mesmo taxi
Eu queria ser a Leila Diniz pra ser amiga de todas as pessoas com as quais me relacionei amorosamente. E queria ainda que eles fossem amigos entre sí. Todo mundo, uma grande roda, um churrascão, piscininha e alegria, brindes e mais brindes à vida e aos encontros. Mas a verdade é que a gente sabe que não é assim, que não tem como ser tudo tão puramente leve e bem resolvido entre os ciclos, sobretudo quando se trata de fim. Isso de transformar o fim de uma coisa em início de outra não é tarefa fácil, ainda mais quando não depende só de uma parte, nesse caso, só de mim. Posso dizer que, apesar de não ser a Leila Diniz, meu saldo tá mais pra positivo que pra negativo, se a gente for avaliar que os fins costumam ser cheios de cortes, de porradas. No fim das contas, posso encher a boca pra dizer que um dos meus ex é hoje um dos grandes amigos que carrego no peito. Ok, podem dizer que já que ele hoje em dia é gay é fácil demais mas eu discordo, pois foi um dos finais de relacionamento mais alardados que já fiz parte. Cheio de dramas, de demoras pra se curar, de cartas gigantescas, de posts enormes e cheios de dor em fotolog, de noites sem dormir, de aulas de matemática matadas mesmo estando dentro da sala de aula, no meu mundo particular da dor de cotovelo que aquela djabo de olhos coloridos me deixou. Sem contar com o peso no ego de ter sido a única vez até hoje que acabaram comigo e não o contrário. Os outros, entre esse namoro e o último, nada além de cordialidade. Ou notícias através de postagens em facebook. Sem perda, sem ganho. Não brindamos juntos, mas não há o que se falar de mal.
Hoje em dia namoro alguém que é bastante querido pelo ex que é meu amigo e vice versa. Isso pra mim é uma vitoriazinha. Não dá pra fazer um churrascão mas já vale um espetinho. E meu atual namorado gostaria de ser próximo do meu último ex por uma questão de identificação. Morou na serra, gosta de cerveja, gostava de umas bandas estranhas quando jovenzinho, é do bem, tem coração bom e além de tudo tem alguns amigos em comum, o que atrapalha algumas vezes a logística nos encontros. Ou desencontros de caso pensado - pela outra parte, que não é a minha. Eu queria a todo custo ser amiga dele. Forcei isso durante um bom tempo e depois desisti. Vi que não adiantava isso de chamar pra aniversário, eventos, o que for, mesmo com nossos amigos em comum lá, se ele não se sentia confortável em estar no mesmo ambiente. O tempo passou e esse desconforto, que já não me cabe em mente a necessidade de existir, me parece ter se transformado em uma mania, um hábito. Insisti mais um pouco alegando tudo isso e, apesar dele parecer entender o que falo, não obtive sucesso, ao menos na prática. Mas tem algo bastante curioso que me dei conta nesta semana e que desconstruiu toda essa minha necessidade de ser amiga novamente: eu não deixei de ser. Nunca. Talvez nem por um segundo.
O que me doía era a não presença física. Era ouvir histórias com amigos meus e com ele e que eu queria estar fazendo parte, como foi por um ano e meio ininterruptos. Era uma espécie de ciúme de gente que tinha uma importância bem reduzida à que eu tinha naquela vida continuar fazendo parte e eu não. Não poder rir junto com todo mundo da bermuda quadriculada que eu escolhi achando tá fazendo um bem para o visual e, na verdade, virar um uniforme e motivo de piada. Eu tinha saudade de ser socialmente amiga e não me dava conta de que, a coisa mais importante, continuou intacta mesmo nos momentos de caos. Eu não sei qual o bar preferido dele atualmente ou qual banda está ouvindo com mais frequencia. Não sei se ainda come semanalmente no Lamas e no Luige. Ou se comprou mais e mais e mais miniaturas de android. Se as capas das almofadas são as que escolhi na Lavradio: uma vermelha e uma listrada. E se o relógio de cubo mágico que deixei na separação de bens continua funcionando. Não sei de nada disso e isso, hoje, absolutamente não tem a menor importância. Me dei conta de que, o que de fato mede a importancia da pessoa em nossa vida, que é a confiança, afeto e respeito que temos por ela, nunca falhou ou mudou. Não sentamos mais na mesma mesa de bar, mas quando o negócio aperta, sabemos bem onde encontrar um ombro amigo. E disso não posso reclamar, sempre chegou até mim todas as informações importantes em relação a ele e todas elas vindas diretamente de sua boca ou teclado. Sem que eu precisasse perguntar. Apenas porque ele quis compartilhar. Das lamúrias, dos problemas, das doenças às conquistas. Na época em que namorávamos, ele me alertava vez por outra que a gente tava no mesmo taxi. Quando eu dava a louca, brigava ou quando parecia que disputávamos algo e que aquilo não fazia sentido algum, pois queriamos a mesma coisa, queriamos estar bem. "Estamos no mesmo taxi, não esquece". E é isso. No fim das contas, todas as pessoas que nos importam - perto ou longe - estão no mesmo taxi que o nosso. Essa frase nunca fez tanto sentido. E isso me deu um alívio enorme.
Um viva aos relacionamentos, aos laços, aos encontros e aos aprendizados. E viva também ao tempo que é sempre curandeiro e, do mesmo modo que carrega, também devolve a paz.
Hoje em dia namoro alguém que é bastante querido pelo ex que é meu amigo e vice versa. Isso pra mim é uma vitoriazinha. Não dá pra fazer um churrascão mas já vale um espetinho. E meu atual namorado gostaria de ser próximo do meu último ex por uma questão de identificação. Morou na serra, gosta de cerveja, gostava de umas bandas estranhas quando jovenzinho, é do bem, tem coração bom e além de tudo tem alguns amigos em comum, o que atrapalha algumas vezes a logística nos encontros. Ou desencontros de caso pensado - pela outra parte, que não é a minha. Eu queria a todo custo ser amiga dele. Forcei isso durante um bom tempo e depois desisti. Vi que não adiantava isso de chamar pra aniversário, eventos, o que for, mesmo com nossos amigos em comum lá, se ele não se sentia confortável em estar no mesmo ambiente. O tempo passou e esse desconforto, que já não me cabe em mente a necessidade de existir, me parece ter se transformado em uma mania, um hábito. Insisti mais um pouco alegando tudo isso e, apesar dele parecer entender o que falo, não obtive sucesso, ao menos na prática. Mas tem algo bastante curioso que me dei conta nesta semana e que desconstruiu toda essa minha necessidade de ser amiga novamente: eu não deixei de ser. Nunca. Talvez nem por um segundo.
O que me doía era a não presença física. Era ouvir histórias com amigos meus e com ele e que eu queria estar fazendo parte, como foi por um ano e meio ininterruptos. Era uma espécie de ciúme de gente que tinha uma importância bem reduzida à que eu tinha naquela vida continuar fazendo parte e eu não. Não poder rir junto com todo mundo da bermuda quadriculada que eu escolhi achando tá fazendo um bem para o visual e, na verdade, virar um uniforme e motivo de piada. Eu tinha saudade de ser socialmente amiga e não me dava conta de que, a coisa mais importante, continuou intacta mesmo nos momentos de caos. Eu não sei qual o bar preferido dele atualmente ou qual banda está ouvindo com mais frequencia. Não sei se ainda come semanalmente no Lamas e no Luige. Ou se comprou mais e mais e mais miniaturas de android. Se as capas das almofadas são as que escolhi na Lavradio: uma vermelha e uma listrada. E se o relógio de cubo mágico que deixei na separação de bens continua funcionando. Não sei de nada disso e isso, hoje, absolutamente não tem a menor importância. Me dei conta de que, o que de fato mede a importancia da pessoa em nossa vida, que é a confiança, afeto e respeito que temos por ela, nunca falhou ou mudou. Não sentamos mais na mesma mesa de bar, mas quando o negócio aperta, sabemos bem onde encontrar um ombro amigo. E disso não posso reclamar, sempre chegou até mim todas as informações importantes em relação a ele e todas elas vindas diretamente de sua boca ou teclado. Sem que eu precisasse perguntar. Apenas porque ele quis compartilhar. Das lamúrias, dos problemas, das doenças às conquistas. Na época em que namorávamos, ele me alertava vez por outra que a gente tava no mesmo taxi. Quando eu dava a louca, brigava ou quando parecia que disputávamos algo e que aquilo não fazia sentido algum, pois queriamos a mesma coisa, queriamos estar bem. "Estamos no mesmo taxi, não esquece". E é isso. No fim das contas, todas as pessoas que nos importam - perto ou longe - estão no mesmo taxi que o nosso. Essa frase nunca fez tanto sentido. E isso me deu um alívio enorme.
Um viva aos relacionamentos, aos laços, aos encontros e aos aprendizados. E viva também ao tempo que é sempre curandeiro e, do mesmo modo que carrega, também devolve a paz.
Oxum, dona do ouro
Pode parecer coisa pouca, mas tive um dia redondinho de conclusão de percurso e missão comprida, cumprida, "sem saber o motivo". Um dia cheio de ressaca e tão mega produtivo, com pequenas sementes plantadas pra colher, logo logo, um monte de coisa importante. Lembro que no fim do dia, ainda trabalhando, acabada de cansada mas cheia de boas intenções, pensei sorridente depois de um ocorrido: "meu santo é muito forte mesmo". E ele é. E não era por acaso, não. Hoje foi dia de Oxum. Que é minha mãe e orixá guardiã no candomblé. É quem me guia, junto com Ogum e outros comparsas, mesmo sem eu ver. Também não foi a tôa os mais de 300 giros que dei de madrugada, rodando sequencialmente nos afoxés e ijexás sem titubear, passos marcados e fortes, talvez os mais perfeitos que eu já tenha feito na vida, sem perder o eixo, mesmo com tantas cervejas na cabeça. E tudo faz sentido. Sempre faz. A gente que às vezes custa a perceber.
terça-feira, dezembro 02, 2014
Iansã e Xangô
Quando uma lembrança forte nos pega de assalto é impossível escapar ileso: era noite de natal (25) do ano passado e estávamos em uma estradinha de barro, em Vitória, a caminho da Bahia. Caía uma chuva torrencial, a estrada tava completamente alagada, enlamaçada e escura. Era impossível seguir viagem, na mesma proporção que também era impossível voltar atrás, se proteger em algum lugar seguro; não havia como voltar e nem pra onde voltar no cu de mundo em que estávamos.
A única informação que tinhamos era de que pra frente seria ainda pior e que podia cair alguma ribanceira, como aparecia na TV, e que teriamos que subir uma ladeirinha, que seria impossivel com aquele carro de pequeno porte, etc. Estávamos muito aflitos, Lala segurava meu pé rezando qualquer coisa, enquanto eu usava minhas mãos pra tentar fotografar os raios pela janela e Gustavo disfarçava o medo no volante.
Foi quando Lina, pra distrair nossas mentes inquietas, puxou o assunto 2014 ou dois mil e catarse. Cheia de sabedoria falava que seria um ano conturbado, um ano de acerto de contas, provações, conflitos mas também de muito amor. E que era cedo pra dar mais detalhes, acho que os astros ainda não tinham passado a régua para o que tava por vir. Respiramos fundo, atravessamos a lama, a chuva, os raios, a ladeirinha e ainda chegamos na Bahia, tão felizes. Atravessei também 2014. E as previsões não poderiam ter sido mais acertadas: um ano conturbado, cheio de conflitos, de provações, mas também de muito muito muito amor.
E que venha 2015, pra gente atravessar sem medo de remar na maré forte e também suave que tá por vir.
A única informação que tinhamos era de que pra frente seria ainda pior e que podia cair alguma ribanceira, como aparecia na TV, e que teriamos que subir uma ladeirinha, que seria impossivel com aquele carro de pequeno porte, etc. Estávamos muito aflitos, Lala segurava meu pé rezando qualquer coisa, enquanto eu usava minhas mãos pra tentar fotografar os raios pela janela e Gustavo disfarçava o medo no volante.
Foi quando Lina, pra distrair nossas mentes inquietas, puxou o assunto 2014 ou dois mil e catarse. Cheia de sabedoria falava que seria um ano conturbado, um ano de acerto de contas, provações, conflitos mas também de muito amor. E que era cedo pra dar mais detalhes, acho que os astros ainda não tinham passado a régua para o que tava por vir. Respiramos fundo, atravessamos a lama, a chuva, os raios, a ladeirinha e ainda chegamos na Bahia, tão felizes. Atravessei também 2014. E as previsões não poderiam ter sido mais acertadas: um ano conturbado, cheio de conflitos, de provações, mas também de muito muito muito amor.
E que venha 2015, pra gente atravessar sem medo de remar na maré forte e também suave que tá por vir.
quinta-feira, novembro 27, 2014
Fissura no Cristo II ou sobre ciúme
-oi carlinhaaa, to com a tua saudaaaade, te amo!
- oi, meu amor, também to com saudaade, muita.
- tu tás com MEU pai ai no Rio, é?
- uhum
- e ELE foi no Cristo?
- não, ele só vai no Cristo quando você tá aqui, tá?
- hmmmm. (silêncio). tenho que desligar, tchau.
minutos depois
- carlinha?
- oi, Jó
- sofia tá chorando de dar pena, dizendo que vocês foram no Cristo sem ela.
- mas a gente não foi e eu disse que ninguém foi.
- e tu acha que ela é besta, é? ficou chateada mesmo assim.
maluco como a gente sente ciúme mesmo sem conhecer a palavra.
Fissura no Cristo I
Ambientação da história:
Eu e meu irmão mais velho conversando dentro de um carro, em Fortaleza, na presença da minha irmã mais nova.
Situação: diálogo entre nós dois sobre algo sem salvação, enquanto ela, silenciosamente, prestava atenção em tudinho.
- Ah, menino, mas isso ai nem cristo salva mais.
Ela interrompe:
- Ô carlinha, num falem do cristo não que ele nem tá aqui, o cristo mora no Rio de Janeiro.
Eu e meu irmão mais velho conversando dentro de um carro, em Fortaleza, na presença da minha irmã mais nova.
Situação: diálogo entre nós dois sobre algo sem salvação, enquanto ela, silenciosamente, prestava atenção em tudinho.
- Ah, menino, mas isso ai nem cristo salva mais.
Ela interrompe:
- Ô carlinha, num falem do cristo não que ele nem tá aqui, o cristo mora no Rio de Janeiro.
terça-feira, novembro 18, 2014
Além do céu, além da terra
A Pedro Escobar
Hoje me aconteceu uma coisa curiosa e vou deixar registrada aqui pra que eu lembre sempre e sempre que há muito mais coisas entre o azulzão do céu e a terra do que a gente tem condições de ver. E o sonho certamente é uma dessas coisas.
Um tempo atrás sonhei que um amigo de meu irmão, muito pouco próximo à mim, só de vista, abria uma produtora, ficava muito bem de vida e só trabalhava de óculos escuros (das loucuras que os sonhos proporcionam). Era tipo o super boss do audiovisual e do bolso gordinho por detrás daqueles óculos escuros. Nas duas vezes em que nos encontramos ao vivo, junto ao meu irmão, essa história - única que nos lincava - foi motivo de graça e até piada.
Hoje, ele postou cheio de orgulho sobre a inauguração de sua produtora e, quando veio me contar pois recordou do sonho, viu que a única e última conversa que tivemos inbox foi há exatamente um ano e em horário parecido: eu contando do sonho que tive com ele, da produtora, dos óculos escuros, do bolso gordo. Emudecemos. Como assim?
Sim, há mais coisas por ai do que a gente supõe. E é de óculos escuros que ele vai comemorar esse sonho - meu e dele - realizado.
segunda-feira, novembro 17, 2014
segunda-feira, novembro 10, 2014
Feliz velho novo ano
O cenário da rua já é prólogo certo para o ano que tá por vir: estrelinhas de isopor, árvores de plástico, neve de algodão e números seguidos de % nas vitrines dizendo que já passou da hora de comprar o presente do amigo secreto em Recife e oculto aqui no Rio.
Me peguei olhando uma dessas vitrines em Ipanema, hoje. Como assim JÁ é natal? Até então, pra mim, no máximo era pós eleição ou halloween. No bairro em que vivo o natal ainda não deu as caras e, dentro de mim, até então menos ainda. Fiquei uns bons instantes avaliando, defronte aquela vitrine, como eu ainda tava correndo atrás de 2014 enquanto todo mundo só quer saber do ano que vai chegar, nas vitrines, no cenário da rua e provavel que internamente. Meus amigos estarão todos viajando, em Recife, por ai. Eu não. Eu nem sei. E nem tenho como me preocupar com isso agora. Enquanto todo mundo tá aprontando as malas pra ir para a região dos lagos no recesso do trabalho, pois não aguenta mais o chefe e almeja uma folguinha dele por esses tempos, eu acabei de conhecer minha futura chefe. Minha mala é meu armário organizado aqui no Rio de Janeiro e minha passagem diária é pra perto e no RioCard mesmo. Mas confesso que depois que vi aquelas vitrines, me forcei ao espírito de fim de ano, uma melancolia, esperança ou até mesmo ilusão de que tudo vai mudar, de que tudo vai ser melhor. E vi que estava mais dentro da realidade impossivel, como nunca estive antes. E agradeci por isso, mesmo que tardiamente, pois foi o que esperei do ano, o ano inteiro.
Fiquei confusa se meu ano (re)começou agora, levando comigo tudo de bom que 2014 me trouxe ou se o meu próximo ano chegou antes do de todo mundo. Talvez seja melhor pensar na segunda opção e sortear logo esse amigo oculto afinal, é pra frente que se anda.
Me peguei olhando uma dessas vitrines em Ipanema, hoje. Como assim JÁ é natal? Até então, pra mim, no máximo era pós eleição ou halloween. No bairro em que vivo o natal ainda não deu as caras e, dentro de mim, até então menos ainda. Fiquei uns bons instantes avaliando, defronte aquela vitrine, como eu ainda tava correndo atrás de 2014 enquanto todo mundo só quer saber do ano que vai chegar, nas vitrines, no cenário da rua e provavel que internamente. Meus amigos estarão todos viajando, em Recife, por ai. Eu não. Eu nem sei. E nem tenho como me preocupar com isso agora. Enquanto todo mundo tá aprontando as malas pra ir para a região dos lagos no recesso do trabalho, pois não aguenta mais o chefe e almeja uma folguinha dele por esses tempos, eu acabei de conhecer minha futura chefe. Minha mala é meu armário organizado aqui no Rio de Janeiro e minha passagem diária é pra perto e no RioCard mesmo. Mas confesso que depois que vi aquelas vitrines, me forcei ao espírito de fim de ano, uma melancolia, esperança ou até mesmo ilusão de que tudo vai mudar, de que tudo vai ser melhor. E vi que estava mais dentro da realidade impossivel, como nunca estive antes. E agradeci por isso, mesmo que tardiamente, pois foi o que esperei do ano, o ano inteiro.
Fiquei confusa se meu ano (re)começou agora, levando comigo tudo de bom que 2014 me trouxe ou se o meu próximo ano chegou antes do de todo mundo. Talvez seja melhor pensar na segunda opção e sortear logo esse amigo oculto afinal, é pra frente que se anda.
sábado, novembro 08, 2014
para a maria que não rolou
ela não sentia mais nada. ela sentia uma dor tão profunda que adormecia tudo. por dentro e por fora. o corpo agora era só um corpo. o ar entrava pouco pelos pulmões. ela acabara de desacreditar no ser humano e no coração. não conseguiu a revolta ou mesmo um grito. eram tantas coisas que internalizar foi o melhor remédio. ao menos por enquanto. um amontoado de roupas jogado no chão e uma coletânea de palavras fortes e definitivas. sim, de-fi-ni-ti-vas. se não eram agora são. uma mochila. duas sacolas. eram os seus pertences. e a vergonha no peito. não por ela, mas por aquele moço silencioso que, sentadinho naquela cadeira defronte a porta, lamentava no olhar com a cena que vira. um castelo desmoronado diante de seus olhos. ou a humilhação e constrangimento públicos que tanto tentou disfarçar. ele já viu e viveu muita coisa nessa vida mas algumas, pelo olhar que fez, preferia não acreditar, porque ainda apostava mesmo que timidamente no amor dos homens. e a única coisa que maria carregava na mente, além daquela cena que talvez demore muito tempo pra dissolver do coração e dos olhos, era o desejo de que aquele moço sentado defronte a porta não tenha entendido nada e, dentro de sua ignorância genuina, continue a crer naquilo que maria mais gostava de mostrar a ele através de sorrisos, palavras e lanchinhos da madrugada: no amor dos homens.
sexta-feira, novembro 07, 2014
quinta-feira, novembro 06, 2014
segunda-feira, novembro 03, 2014
Exercício
Na minha opinião, uma das coisas mais difícies de ser combatida e ao mesmo tempo mais comum entre o humano e sua relação com o mundo e com o próximo é o julgamento. Dai agora dei pra tentar me controlar nisso em qualquer situação: seja com a coleguinha mal vestida que não conheço e passou na minha frente na festa, seja com gente próxima e suas ações. Vou te dizer que é difícil, mas um exercício válido se pensar nas energias negativas que deixamos de expor e economizamos de gastar, para sí e para o outro.
Espero um dia chegar no nível de, além de parar de verbalizar, não ter mais nem em pensamento o julgamento. Será que é possível deixar de ser exercício?
Espero um dia chegar no nível de, além de parar de verbalizar, não ter mais nem em pensamento o julgamento. Será que é possível deixar de ser exercício?
terça-feira, outubro 28, 2014
Sobre romantismo
Da cozinha enxerguei ele esticado na minha cama. O corredor pareceu tão imenso separando nós dois... Larguei o copo d'água na pia, peguei carreira no corredor que nos separava e dei um salto mortal na cama, em cima dele. O osso da minha canela bateu com toda força na madeira da cama, subindo um galo de imediato enquanto ríamos de amor e eu chorava de dor. Riso e choro.
O romantismo às vezes tem um preço alto para quem é destrambelhado.
quinta-feira, outubro 23, 2014
Das felicidades máximas:
quando o "murro em ponta de faca" se transforma em "quando o amor vence".
<3
<3
Sobre o próximo domingo
Quando criança, na condição de borboleta, eu ficava posicionada entre o cordão encarnado e o azul do Pastoril vendo aquela disputa lírica, entre gritos, pandeiros e cantorias. No fim, todos se abraçavam e quem vencia mesmo era a Diana e a alegria.
Domingo é dia de pastoril de gente grande entre encarnados e azuis. E dessa vez não vai sobrar borboleta pra contar história. Salve-se quem puder. Fim.
Domingo é dia de pastoril de gente grande entre encarnados e azuis. E dessa vez não vai sobrar borboleta pra contar história. Salve-se quem puder. Fim.
Das clássicas conversas clássicas
Quem nunca ouviu ou falou algo na diretriz de "você é massa, mas não é você, o problema sou eu", decerto nunca viveu uma aventura desastro-amorosa e, com isso, na minha humilde opinião coronária: tá errado. Tá errado porque é justamente esse diálogo pobre e previsível que nos faz ir em frente e, tempos depois, olhar pra trás e pensar, entre risadas demoníacas, como éramos frouxas, bestas e vulneráveis. Nos preparávamos e sofríamos para o pé na bunda já consciente, onde já se viu uma coisa dessas?
Na hora a gente não sabe se prefere morrer ou matar o(a) infeliz e, na dúvida, a gente se afoga num copo gigante de cerveja que, mesmo gelada, desce rasgando nossas vísceras ferventes, borbulhantes, na busca por dissolver aqueles nós deixados.
Esses nós, minha amiga, costumam demorar pra desatar. Haja tempo e copo de cerveja, de cachaça, de whisky que seja pra colocar cada coração de volta em sua devida caixa. Até lá, muitas lágrimas ainda vão rolar. E sabe-se cristo porque não vais parar de pensar no maldito ser, pelo contrário, pensaras ainda mais, como uma praga. A dor vai se alastrar e só te restará colocar Fagner gemendo deslizes em uma vitrolinha véa. É quando chegamos no inferno de nós mesmos.Escrevemos as mensagens e e-mails mais bizonhos que, espero eu, acabem teus créditos para que não envies. Ou não. De que vale esse diálogo chinfrim sem um dedo na cara apontando em troca pra dar climax ao enredo?
Mas o que a gente não enxerga nesse olho de furacão é que, no fundo, estamos mais próximos da luz do que pensamos. É cafona, mas no fundo do poço tem um trampolim sinistro que nos leva para o alto e avante. E o pior é que a gente sabe, mesmo prometendo morrer no calor da emoção. Não somos tolinhos, já vivemos isso. E vamos acabar vivendo novamente em alguma esquina suculenta e daninha que a gente for dobrar por ai.
Respire e brinque da brincadeira do contente: não fossem esses diálogos do cão, hoje não estaríamos bem. Em uma melhor. De boa na lagoa sentada na mesa do bar, com nosso drinque na mão e um sorriso cínico na cara. Com outro(a) bonitão(ona) do lado ou sozinha, esperando o verão chegar, em paz. Enquanto ele(a), tolinho(a), passa "sem querer", olha, espera o olhar de volta na esperança cegueta de ainda fazer festa e inferno ali e não leva nada em troca, nem mesmo um dedo do meio furioso. Nada, nadica. A troça andou, colega. Só te resta seguir em frente para o diabo que te carregue. E ele há de ser bonzinho.
quarta-feira, outubro 22, 2014
quinta-feira, outubro 16, 2014
Tijuca
Antes de morar no Rio, tirando a Zona Sul de Manoel Carlos, a Tijuca era um dos poucos lugares que eu tinha conhecimento verbalizado. Tudo bem, confesso que por muito tempo pensei que Tijuca e Barra da Tijuca fossem a mesma coisa, até me questionar como a minha mãe, que não teve uma infância lá muito rica, tenha morado na Barra da Tijuca. Só ai ficou tudo esclarecido. Até hoje acho graça dessa confusão que, depois, descobri ser tão comum entre os não cariocas, como também é o dilema entre Aterro e Praia do Flamengo.
Mamãe, apesar de ter nascido no Rio Comprido, foi criada na Gonzaga Bastos e, desse modo, se considera tijucana. Aquela casa, aquela rua, as brincadeiras, as desilusões, o relógio atrasado pra ficar mais tempo na festa, o lustre que meu tio ameaçava tacar uma bola quando as tias não davam alívio às brincadeiras do pobre garoto virado. Os namoricos, o portão e todas aquelas histórias que adoro ouvir e que ela adora contar.
Cheguei no Rio e, além da Zona Sul do Manoel Carlos, tinha a Tijuca em mente mesmo não indo por aquelas bandas logo no início, pois não havia muito o que ser feito por ali.
Até que o circulo começou a fechar e a virar uma mini rodinha, uma ciranda ao mesmo tempo pequena e tão grande de mãos dadas nesse bairro hoje, mais que verbalmente, pessoalmente tão querido por mim.
Amigas de trabalho, amigos da vida, primo, todos moradores desse lugar que saiu do imaginário e fotografia pra virar tato, cheiro. É distante. Foi o que pensei na primeira vez que recordo voltar de metrô da casa de Bruno. É, é distante mas é viável e o metrô deixa pertinho de tudo sem muita demora. Ali, a Tijuca criou corpo e tomei dimensão do quão grande ela parecia ser. Tantas ruas, ruas largas, gente por todos os lados, construções, comércios, um mundo que dava um medinho de desbravar e ainda distante da minha realidade.
Até que conheci Gustavo e, muito antes do carinho virar amor, na época em que uma amizade novinha tava existindo sem preocupações e cheia de afinidades, conheci uma Tijuca descolada, longe daquela imagem antiga que permanecia, ainda, na minha cabeça.
Hoje, o bairro é outro em mim. Além da casa dos colegas recém feitos - hoje amigos - além do estilo descolado de novos jovens-classe-média moradores, o bairro se tornou o coração do Rio de Janeiro. E o Largo da Segunda-Feira, onde meu coração descansa sossegado, também. Tudo faz sentido. As ruas, os ônibus, os trajetos, os mercados, as ruas charmosas que descubro. O hortifruti mais incrível, os bares mais legais, a padaria dos sonhos pertinho de casa, o melhor podrão, os melhores porteiros, as noites mais bonitas.
Hoje, eu, recifense que só ela, sou também um pouco tijucana. Ando arrastando meu chinelo enquando caminho até o banco, ao mercado, ao metrô mais próximo. Dou o endereço ao taxista, que sai naturalmente e na ponta da lingua, mesmo com uns pileques a mais na cabeça. Sei onde comprar um bom queijo, artigos para festas, rodinhas para geladeira ou uma quentinha baratex.
É bem verdade que ainda me pego perdida por lá, mas se for parar pra pensar, ainda me pego perdida por Recife que é a terra onde vivi por quase toda a minha vida. A tijuca continua sendo grande, mas até os tijucanos acham isso. Antagonicamente, hoje, a Tijuca é pertinho pra mim e, o mais importante, não me amedronta mais, deixou de ser palavra pra virar gente grande e madura e, além do que, possui todo o meu amor.
quarta-feira, outubro 01, 2014
Modelo de prova ou Brincadeira do contente
-Olha, por que você não vira modelo de prova? Super acho que rolaria pra você.
- Por que até hoje eu nem sabia que isso existia. rs
E fui o caminho inteiro do Largo do Machado até em casa, animada que só, com minha possível chance de renda fixa e ainda, quem sabe, umas roupinhas descoladas de brinde.
Chego em casa, pego a tabela oficial das medidas das modelos de prova que é dividida entre modelo P e modelo M, pego a fita métrica pra ver em qual me enquadro e praticamente tenho meu pescoço enforcado por ela me informando que já era, baby. E já era nos dois lados da tabela. Eu toda errada: busto maior que o necessário para modelo de prova tamanho M e cintura mais fina que o necessário para o P.
Passado o instante de frustração por não poder concorrer a essas vagas que de$cobri que bombam, vou dormir sabendo que eu não sou o que o povo da moda espera e também que estou pouco me fudendo pra isso mediante a brincadeira do contente mais contente de todas: ver a alegria de Gustavo com minhas medidas despadronizadas para o mundo da moda e, ao mesmo tempo, a favor das mãos e olhos dele. Ai tá valendo, né? Que mané modelo que nada : )
- Por que até hoje eu nem sabia que isso existia. rs
E fui o caminho inteiro do Largo do Machado até em casa, animada que só, com minha possível chance de renda fixa e ainda, quem sabe, umas roupinhas descoladas de brinde.
Chego em casa, pego a tabela oficial das medidas das modelos de prova que é dividida entre modelo P e modelo M, pego a fita métrica pra ver em qual me enquadro e praticamente tenho meu pescoço enforcado por ela me informando que já era, baby. E já era nos dois lados da tabela. Eu toda errada: busto maior que o necessário para modelo de prova tamanho M e cintura mais fina que o necessário para o P.
Passado o instante de frustração por não poder concorrer a essas vagas que de$cobri que bombam, vou dormir sabendo que eu não sou o que o povo da moda espera e também que estou pouco me fudendo pra isso mediante a brincadeira do contente mais contente de todas: ver a alegria de Gustavo com minhas medidas despadronizadas para o mundo da moda e, ao mesmo tempo, a favor das mãos e olhos dele. Ai tá valendo, né? Que mané modelo que nada : )
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