CATANDO VENTO
quinta-feira, outubro 26, 2017
minha vida é igual o escorredor de louças aqui de casa com uma montanha de panela cumbuca concha garfo ralador copo de liquidificador tapaué peneira abridor tudo ali se equilibrando acabou ufa olho pra trás tem um prato sujo esquecido na mesa pqp lavo encaixo ali apreensiva vai cair a porra toda a porra toda vai desmoronando mas não cai segura fica finca pé resistência pura minha louça minha vida
segunda-feira, agosto 28, 2017
Uma viagem sem volta
Hoje pela manhã, quando peguei o 497 rumo à Laranjeiras, algo me dizia que essa seria a viagem mais longa, complexa e importante que fiz até hoje: uma viagem até mim.
Em pouco mais de 40 minutos falei tudo que me afligia e aquela mulher que sequer me conhece, em um ou outro apontamento, jogou de volta na minha cara tudo o que julguei menos importante e, por isso, preferi não pensar. Não tocar. Só deixar alí achando que assim, alí, se resolveria sozinho. Viria a se dissolver com o tempo já que o tempo dissolve tudo. Tolinha.
Por que temos tanto receio em encarar de frente as questões importantes pra nós e preferimos, no lugar disso, ir remediando superfícies, sem alcançar a carne machucada? Enquanto não se trata a carne, a pele vai seguir frágil, sujeita a cortes rasos e profundos com qualquer coisa. É de dentro pra fora. É preciso coragem pra encarar aquilo que move, que azeda, encarar de frente, trabalhar pra resolver, não se envergonhar - e não somente remediar qualquer coisa que apareça em decorrência daquilo. O que é importante pra gente pode soar bobo para os outros e é aí que mora o perigo - pode ser bobo para os outros - nós não somos os outros - não é bobo pra gente e isso precisa ser o suficiente.
Levantei daquela poltrona cheia de almofadas um tanto tonta, aliviada, rindo e chorando de nervosa, cheia de questionamentos e também envergonhada por só ter iniciado esse processo agora. Silenciosamente me pedi desculpas e me desculpei pelo atraso comigo mesma enquanto lia no rosto de uma mulher que nunca vi antes questões que sozinha não fui capaz de avaliar sem vista turva. Foi quando tive certeza do início importante dessa relação: minha e de minha analista.
quarta-feira, março 22, 2017
Eu fuxico, tu fuxicas, eles e elas fuxicam
Bora parar de fingir que todo mundo aqui é viciado em internet mas só entra pra ler notícias, pedir jobs e compartilhar memes.
sexta-feira, março 17, 2017
Ontem eu aprendi que não existe relacionamento aberto ao pé da letra tal qual eu achava que vivia. Dei uma golada dupla na cerveja, parei de respirar por alguns segundos e arregalei bem os olhos pra não perder nada daquele momento.
O relacionamento é fechado. Com liberdade, sim. Sem reprimir desejos externos, sim. Não tem relação com razões contrárias à isso. É fechado por ter fechamento entre os envolvidos, parceria, amor, tesão e aquelas tantas coisas que só quem vive dia a dia sabe e não importa a mais ninguém. Aberto? Ele não é aberto a opiniões e olhares julgadores de fora. Pra você e ele meterem o bedelho e dizerem como é o jeito certo, como é o jeito errado. Jeitinho é coisa muito particular.
Ficar com outras pessoas não é o que define o relacionamento dito como aberto que foi escolhido por dois - ou por mais. Monogamia não é apenas o que pauta um relacionamento dito como fechado. Ou seria triste demais, tão raso. Aberto: pode ficar. Fechado: não pode. Preto no branco.
Esses dias se surpreenderam e acharam que, por terem me visto beijando outro rapaz no meio do carnaval, eu tava em outra, ih, já era! Avaliem: meu relacionamento estaria fadado ao fracasso por conta de uns beijos. E ironicamente foi justo no momento de reencontro em que ele nunca esteve tão conectado e vivo em toda sua existência em pouco mais de um ano. Talvez tenham pensado isso porque sou mulher. Talvez se tivessem visto ele com alguém teriam apenas concluído: é só pegação sem importância, como tantas outras. O machismo nosso de cada dia.
Somos todos mais fundos que essas pequenas convenções sociais e entender isso é seguir adiante avaliando que as escolhas são feitas, os combinados são conversados, a confiança é regada e enquanto o coração tiver gordinho e a cabeça sã, tá tudo bem. É só isso que consigo sentir: tá tudo bem.
Eu gosto quando eu escuto mais do que falo.
O relacionamento é fechado. Com liberdade, sim. Sem reprimir desejos externos, sim. Não tem relação com razões contrárias à isso. É fechado por ter fechamento entre os envolvidos, parceria, amor, tesão e aquelas tantas coisas que só quem vive dia a dia sabe e não importa a mais ninguém. Aberto? Ele não é aberto a opiniões e olhares julgadores de fora. Pra você e ele meterem o bedelho e dizerem como é o jeito certo, como é o jeito errado. Jeitinho é coisa muito particular.
Ficar com outras pessoas não é o que define o relacionamento dito como aberto que foi escolhido por dois - ou por mais. Monogamia não é apenas o que pauta um relacionamento dito como fechado. Ou seria triste demais, tão raso. Aberto: pode ficar. Fechado: não pode. Preto no branco.
Esses dias se surpreenderam e acharam que, por terem me visto beijando outro rapaz no meio do carnaval, eu tava em outra, ih, já era! Avaliem: meu relacionamento estaria fadado ao fracasso por conta de uns beijos. E ironicamente foi justo no momento de reencontro em que ele nunca esteve tão conectado e vivo em toda sua existência em pouco mais de um ano. Talvez tenham pensado isso porque sou mulher. Talvez se tivessem visto ele com alguém teriam apenas concluído: é só pegação sem importância, como tantas outras. O machismo nosso de cada dia.
Somos todos mais fundos que essas pequenas convenções sociais e entender isso é seguir adiante avaliando que as escolhas são feitas, os combinados são conversados, a confiança é regada e enquanto o coração tiver gordinho e a cabeça sã, tá tudo bem. É só isso que consigo sentir: tá tudo bem.
Eu gosto quando eu escuto mais do que falo.
terça-feira, fevereiro 14, 2017
segunda-feira, fevereiro 13, 2017
Bagunça
Ano passado meu quarto tava uma bagunça pré-carnaval. Pra te encontrar na Urca, eu precisava antes arrumar tudo, pois viajaria no outro dia pra Recife. Você me ensinou como fazer isso de maneira ideal: pegue apenas um item e leve ele ao seu local correto. Não pegue vários e vá distribuindo. Precisa ser um por um, até que tudo esteja no lugar.
-Mas e se tiverem cinco livros espalhados, posso pegar todos de uma vez já que é a mesma prateleira?
- Não, um por um. A gente precisa dar atenção a cada coisa pra não se perder.
Segui tua dica. Deu mais trabalho, talvez tenha levado mais tempo que o habitual mas no fim as coisas estavam mais organizadas do que nunca e minha cabeça não ficou confusa durante o processo.
Hoje é pré-carnaval novamente e a bagunça do meu quarto nesse período de fantasias mantém a tradição. Lembrei da tua dica. Peguei um top e fui guardar no armário. Travei na frente da porta e só consegui pensar que essa teoria talvez caiba muito bem pra arrumar as bagunças do lado de dentro. Dando atenção a cada item. Item por item. Um item por vez. Talvez dê mais trabalho, talvez leve mais tempo que o habitual mas no fim as coisas, quem sabe, se organizem e minha cabeça fique menos confusa durante o processo.
A gente aprende com o outro muito mais coisa do que nossa humilde lembrança permite coletar e concluir no imediatismo dos pesos e medidas que temos necessidade de fazer tão logo as coisas acabam de acontecer.
Hoje foi um top que abriu um pouquinho mais a mente. Amanhã pode ser maior.
-Mas e se tiverem cinco livros espalhados, posso pegar todos de uma vez já que é a mesma prateleira?
- Não, um por um. A gente precisa dar atenção a cada coisa pra não se perder.
Segui tua dica. Deu mais trabalho, talvez tenha levado mais tempo que o habitual mas no fim as coisas estavam mais organizadas do que nunca e minha cabeça não ficou confusa durante o processo.
Hoje é pré-carnaval novamente e a bagunça do meu quarto nesse período de fantasias mantém a tradição. Lembrei da tua dica. Peguei um top e fui guardar no armário. Travei na frente da porta e só consegui pensar que essa teoria talvez caiba muito bem pra arrumar as bagunças do lado de dentro. Dando atenção a cada item. Item por item. Um item por vez. Talvez dê mais trabalho, talvez leve mais tempo que o habitual mas no fim as coisas, quem sabe, se organizem e minha cabeça fique menos confusa durante o processo.
A gente aprende com o outro muito mais coisa do que nossa humilde lembrança permite coletar e concluir no imediatismo dos pesos e medidas que temos necessidade de fazer tão logo as coisas acabam de acontecer.
Hoje foi um top que abriu um pouquinho mais a mente. Amanhã pode ser maior.
quarta-feira, novembro 30, 2016
Buraco da Lacraia, uma Tatuagem no peito
* esse é um texto/carta que tá aqui não com o objetivo de todo mundo ler, já que só envolve duas pessoas - mas pra que daqui muitos anos ele continue existindo. *
Há pouco mais de três anos eu entrava naquele buraco que mesmo com trocadilho uó, não esperava que um dia fosse ser tão embaixo, tão fundo. Tão intenso.
Entrei em uma festa, era festa do povo de cinema. Já fui achando que seria blasé, que seria chata, que o povo ia ficar fazendo pose, que eu ia trabalhar bastante pra que aquilo apenas fosse. E eu tava certa. Mas cheia de ficha de cerveja de graça, ainda que Itaipólvora, podia ir todo mundo embora. Meus amigos foram, um a um, eu não. Seus amigos também, um a um, você não. Eu ali cantando Fagner no Karaokê, blusa de zebra laranja e preta. Cabelos bem longos presos para o alto. Uma franjinha tímida. Você ali embaixo, no balcão, provavelmente de blusa preta. O livro com a lista infinita de músicas nas minhas mãos. Brota você.
Há pouco tempo esse dia se tornou muitíssimo importante pra mim e mesmo que ele nunca tenha sido importante até então, acho que lembraria por muito tempo de você me dando mole naquele balcão e eu em um ato de susto com seu quase beijo, me esquivando e perguntando se você tava doido.
Seguimos colegas coniventes daquela noite, afinal, precisava de alguém pra dar cabo de tanta cerveja. E você precisava de uma foto saltando. Um costume, uma tradição, blá blá. Na hora achei bem Q? mas já tinha sacado a câmera, quem sou eu pra julgar?
Dia feito, já era bem de manhã. Um pulo em frente a um caminhão. Foto tirada de primeira. Você mentindo que foi a foto mais foda que já fizeram de você saltando. Eu fingindo que acreditei porque discordar e engatar em mais papo a essa altura seria motivo pra permanecer ainda mais ali naquele buraco que parecia não ter fim. Você na porta com um bico pedindo pelo menos um selinho pra ir embora - isso eu tinha deletado e rolou mesmo! E fico toda toda que você com sua bosta de memória lembre disso.
Tu perguntando meu whatsapp pra eu enviar a foto. Eu dizendo que não tinha whatsapp mesmo sabendo que você ia achar que é mentira mesmo sendo verdade. Eu perguntando se tu tinha facebook que mandaria por lá. Você dando seu facebook enfatizando que era com dois G`s. Eu dizendo que ok, mandaria por lá. Você dizendo que eu não mandaria em tom de desafio. Eu desafiando que mandaria em alguns minutos. Eu te mandando em alguns minutos. Você respondendo horas depois que só agora (já era noite) havia chegado em casa de um after que nunca terminou.
Umas boas semanas seguintes puxando uns assuntos aleatórios. Perguntando qual a boa. Se não ia mais me encontrar por aí. Onde me encontrar por aí. Eu não queria encontrar o playboy pedante que criei baseado em uma vida de buatxis nas redes sociais. E no quase beijo roubado sem meu OK. E naquele corte de cabelo meio sei lá.
Tempos depois o playboy pedante re-reaparece em um janeiro quente e molhado e dá uns sete tapas na imagem rasa e leviana que criei. E também no meu sossego. Ainda bem!
Hoje voltei pela primeira vez no Buraco da Lacraia, depois de todo esse tempo, olhei aquele balcão e veio um turbilhão seguido da pergunta:
Não era playboy, não era pedante, por que caralha não te beijei antes?
<3
Há pouco mais de três anos eu entrava naquele buraco que mesmo com trocadilho uó, não esperava que um dia fosse ser tão embaixo, tão fundo. Tão intenso.
Entrei em uma festa, era festa do povo de cinema. Já fui achando que seria blasé, que seria chata, que o povo ia ficar fazendo pose, que eu ia trabalhar bastante pra que aquilo apenas fosse. E eu tava certa. Mas cheia de ficha de cerveja de graça, ainda que Itaipólvora, podia ir todo mundo embora. Meus amigos foram, um a um, eu não. Seus amigos também, um a um, você não. Eu ali cantando Fagner no Karaokê, blusa de zebra laranja e preta. Cabelos bem longos presos para o alto. Uma franjinha tímida. Você ali embaixo, no balcão, provavelmente de blusa preta. O livro com a lista infinita de músicas nas minhas mãos. Brota você.
Há pouco tempo esse dia se tornou muitíssimo importante pra mim e mesmo que ele nunca tenha sido importante até então, acho que lembraria por muito tempo de você me dando mole naquele balcão e eu em um ato de susto com seu quase beijo, me esquivando e perguntando se você tava doido.
Seguimos colegas coniventes daquela noite, afinal, precisava de alguém pra dar cabo de tanta cerveja. E você precisava de uma foto saltando. Um costume, uma tradição, blá blá. Na hora achei bem Q? mas já tinha sacado a câmera, quem sou eu pra julgar?
Dia feito, já era bem de manhã. Um pulo em frente a um caminhão. Foto tirada de primeira. Você mentindo que foi a foto mais foda que já fizeram de você saltando. Eu fingindo que acreditei porque discordar e engatar em mais papo a essa altura seria motivo pra permanecer ainda mais ali naquele buraco que parecia não ter fim. Você na porta com um bico pedindo pelo menos um selinho pra ir embora - isso eu tinha deletado e rolou mesmo! E fico toda toda que você com sua bosta de memória lembre disso.
Tu perguntando meu whatsapp pra eu enviar a foto. Eu dizendo que não tinha whatsapp mesmo sabendo que você ia achar que é mentira mesmo sendo verdade. Eu perguntando se tu tinha facebook que mandaria por lá. Você dando seu facebook enfatizando que era com dois G`s. Eu dizendo que ok, mandaria por lá. Você dizendo que eu não mandaria em tom de desafio. Eu desafiando que mandaria em alguns minutos. Eu te mandando em alguns minutos. Você respondendo horas depois que só agora (já era noite) havia chegado em casa de um after que nunca terminou.
Umas boas semanas seguintes puxando uns assuntos aleatórios. Perguntando qual a boa. Se não ia mais me encontrar por aí. Onde me encontrar por aí. Eu não queria encontrar o playboy pedante que criei baseado em uma vida de buatxis nas redes sociais. E no quase beijo roubado sem meu OK. E naquele corte de cabelo meio sei lá.
Tempos depois o playboy pedante re-reaparece em um janeiro quente e molhado e dá uns sete tapas na imagem rasa e leviana que criei. E também no meu sossego. Ainda bem!
Hoje voltei pela primeira vez no Buraco da Lacraia, depois de todo esse tempo, olhei aquele balcão e veio um turbilhão seguido da pergunta:
Não era playboy, não era pedante, por que caralha não te beijei antes?
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