segunda-feira, fevereiro 29, 2016

Você

Recorte no tempo ou uma colagem?

terça-feira, fevereiro 23, 2016

Pedacinhos

- Minha panturrilha é linda! É a parte do meu corpo que eu mais gosto. 
- A parte do teu corpo que eu mais gosto é o beijo, pensei.

- É bonita mesmo. Tua perna toda é bonita!

24h e uma vida - Final

O bar fechou. Tudo fechou. 5am. E agora? A gente tem que ir embora, né?

CA-RA-LHO, olhe isso. PQP, bateu. Será que só bateu agora? O que é isso, po?! Que água é essa? Que céu é esse? O que é isso? Bora ali ver de perto? Bora! Ei, bora subir nessas pedras e ver de perto mesmo? Sim! Silêncios. Sorrisos. Fotos. Não sei quanto tempo passou até que a gente decidisse que já tava bom de pedra, que a bunda tava doendo, que bora pra calçada. tirei meu tênis. Fiquei só de meias. Cuidado pra não escorregar! A onda quebrava nas pedras e espirrava na gente uma água gostosa. Vou escorregar não, fica peixe. Vou levantar! Queres ajuda? Segura aqui! E tu se levantava e, em seguida, caída de bunda nas pedras. Eita carai, tas bem? Uma crise de riso respondia que foda-se, to feliz. Sim, tas feliz mas tas preso. A bunda encaixou perfeitamente entre as pedras. E agora? Me dá cá a mão. E cadê força? Quem tem força dentro de uma crise de riso? Levanta, carai. Levantei. 

E agora, tá na hora de ir embora, né? Os ambulantes todos dormindo juntinho de seus isopores. Po, bora dar um relax aqui na calçada. Deitei. Deitasse. Deitamos. Riso e mais riso. Bora cochilar? Não, a gente vai acordar meio dia tostados, vai ser foda. Tá. Bora dar um tempo aqui, tá massa. Tá massa. Bom dia, gente! Falava uma alucinação ou um rapaz fazendo cooper em plena 7h de um domingo de carnaval em Olinda. Bom dia, a gente respondia sem entender. Ei, a gente tá há quase 24h em Olinda, po! Que do caralho! Nunca fiz isso. To compensando todos os anos de carnaval que perdi. Foda. Foda, mas bora nessa? Amanhã ainda tem mais farra. Po, pela hora, talvez valha a pena a gente ficar direto. Será? Po, não sei, a gente vai ficar muito fodido, né? É. A bronca é que a gente quer ver o show de noitão ainda, não vamos aguentar se emendar. E se a gente dormir ali junto dos ambulantes? Po, mas eles vão acordar jaja. E vai tá aquele sol mais foda do que já tá. E a gente tá cheio de lama desde 9h de ontem, po. A gente precisa dormir se quiser aproveitar hoje/amanhã. Então vamo nessa? Vamo! 

Que parede F-O-D-A. Foda. Porra, vou ter que gastar mais um foto dessa câmera. Já tirei 9, po. Ainda tem vários dias. Foda-se, a gente vai ter que fazer essa foto. Vai pra lá, pra tu sair nela! Beleza. Vou subir na janela, tá? Oxe, e tem como? Me dá um help ai que eu subo. Mas não tem onde segurar, porra. Quase não tem onde colocar os pés. Dane-se, dou meu jeito. Só saio nessa foto se for aqui em cima. Eita, tem dois pregos. Vou me sustentar nesses dois pregos. Clica logo! Tá! Ei, vira, po. Pra sair teu rosto. Clica logo carai, vou cair! Foi! Me ajuda a descer. Que cena linda. Tu em cima de uma janela só de meias e essa blusa escrita Carlaum. Espero que essa foto saia. Também!

Vamo nessa? Vamo!

Eita, tas ouvindo essa música? To. Porra, tem gente ouvindo música uma hora dessas? Vou bater na porta. Não, po, dispense. E então empurro a janela como quem não quer nada. E ela se abre. Uma casa, um bar? Que é isso? Querem tomar a saideira aqui? Pergunta um moço que surge na janela. R$5 a heineken. A gente avalia os bolsos: cada um tem 15 reais. E decidimos gastar o dinheiro do taxi em bebida. Po, separa o do busão, pelo menos. Duas cervejas, bate papo, uma luz linda. Vou ter que gastar outra foto desse filme, foda-se. Eu olho aquele canto, ele também. E se a gente dormir ali? Já tá na hora de voltar pra Olinda e a gente ainda nem saiu, po. Cara, a gente tem 5 conto no bolso cada um e estamos sem cartão, o que vamos fazer em Olinda ainda? Verdade. Vamo nessa. Vamo nessa.

Eu, de meias, agora imundas, caminho com os tênis nas mãos enquanto você sugere: se passar um bloco é um sinal - a gente fica. Combinado. Não passou bloco. E nem ônibus. A gente vai ter que caminhar até a pqp. O sol queimava demais as canelas. Só as canelas. Muito as canelas. Que louco! Tá queimando muito, porra! Tá foda. Eita, Cruz Cabugá, é o meu! Te estalei um beijo, não deu tempo para o abraço e pulei dentro do ônibus. Moça, você tá apenas de meias, alertava o motorista com o riso no canto de boca. Eu sei, moço. É que tá doendo demais meu pé. Você passa perto da Aurora, né? Sim, eu te deixo na Rua da Saudade.

Desco do ônibus, olho a placa: Rua da saudade. Rio e choro sozinha. Caminho em direção à Aurora tendo a certeza que sou a pessoa mais sortuda que conheço. Agradeço por tudo. Choro mais um pouco. Dou mais uma risada.

Rua da Saudade, dou um riso sacana. E o carnaval tá só começando!




24h e uma vida - Parte IV


*relatos sobre o sábado de carnaval dividido em fragmentos.



Ladeira da Misericórdia. Te puxo para o degrau: preciso falar com você agora! Gente, olha o arrastão! A gente precisa ir embora daqui agora! Podem ir, a gente vai conversar. Gente, tá vindo um arrastão. Foda-se, a gente vai conversar, podem ir indo, galera. Te puxo para o canto do degrau. Aqui ninguém vai roubar a gente, podemos conversar em paz. 

Encostados, ficamos ali, arrastão passando, o mundo se acabando e nós dois abraçados. Monólogo, lágrimas: uma tuia. Minhas e tuas. Seremos, então, só amigos. Não somos paquerinhas. Somos mais que essa porra toda. Não vamos agir assim, vamos ser como sempre fomos, parceiros e sem frescura, mesmo que em outro formato. Menos do que a gente era não tem condições. Somos muito mais que tudo isso. Sim, sim. Concorda? Concordo, mas não é fácil. Não é, ninguém disse que seria. Então estamos combinados, eu não te beijo mais. Chega. 

Um riso descontrolado: caramba, a gente teve uma DR no meio de um arrastão! Pqp, só podia ser a gente. Só podia. Vamo nessa? Vamo! Cacete, tá vazio aqui. Segura minha mão, bora descer essa ladeira correndo, assim ninguém nos rouba. Sim. Mãos dadas, firmes. 1, 2, 3 e já! Carreira. Riso. Carreira. Não tropeça pelo amor de deus. E agora? Bora pra Siba? Oxe, bora! Será que ainda tá rolando? Bora sacar. Siba, uma roda enorme, a galera animadíssima. Ele gostando sem conhecer, eu me esbaldando e entrando na roda de pogo, pra variar. Ele também. 

O show acaba e começa uma roda de côco com a xêpa carnavalesca. Eu no meio da roda dançando com minha saia imaginária. Que lindo isso! Tu dançando comigo. Que lindo isso! Eita, Beth! Bora entrar na roda? Bora! Que massa, tu aqui! A moça do ganzá foi embora, e agora? Agora eu pego o ganzá e seguimos o baile. E o côco não para. Alguém puxa uma música, depois outra, depois silencia e eu lanço Lia. Todo mundo na roda que agora virou de ciranda. Que lindo isso! Teus olhinhos assistiam a tudo brilhando sem parar. Fim da roda. E agora? Cerveja de garrafa naquele bar. Não pode mais entrar, gente. Ah, por favor, só uminha! Não pode. Puxa, nem comprar no balcão e sair com os copos cheios? Não, só vendemos sentado na mesa. Então deixa a gente entrar, é só uminha. Não. Po, libera ai só pra gente comprar uma, então. Ok. Uma cerveja, por favor! Litrão que dura mais? Sim! Eita, olha uma mesa ali. Ainda tem gente sentado. Senta ai. Sentamos. Eu, você, um litrão e dois sorrisos gigantes estampando aquela mesa. Tu me olha, eu te olho: caralho, eu te amo! Eu também, porra!!!

Barcelona, pis Joanic, eu, você. Sempre é assim. É inesgotável a conversa. E o sentimento. E as lágrimas. Teus olhinhos agora estourando de tão vermelhos. "É que é jogo sujo nossa história, po. É foda, nenhuma dá pra comparar. É difícil pra caralho pra mim, porra", você dizia entre lágrimas e um olhar distante, em 3 anos atrás. E eu do lado, entre um gole e outro, não tendo como não concordar. É foda mesmo. 
É foda, po! 

Um litrão, uma retrospectiva, o amor ali mais visível que osso em fratura exposta. 

Coração exposto. 

24h e uma vida - Parte III

*relatos sobre o sábado de carnaval dividido em fragmentos.



Demorei uns bons segundos pra entender que eu tava no chão. Pé no chão e mente flutuante. O carnaval é mesmo uma beleza! Cada ano mais. Como é bom estar aqui novamente. Aqui, exatamente aqui e desse jeitinho. 

Mangueira descendo a ladeira, um universo verde e rosa e minha vista endoidecida de cores e alegria. Isso podia durar pra sempre. Eu sempre me levando a sério. 

Partiu Acho é Pouco? Sim, não, sim, pera ainda, jájá, só mais um cadinho, não! Bora! Vocês vão? Sim, não, vou se ele for, vou se todo mundo for, bora, pera, não. Fui. Fomos. Cadê o dragão? Tá no Carmo, tá chegando no Carmo, faz tempo que não vejo, já acabou, claro que não, só acaba lá pra onze horas. Bora, apressa o passo! A gente vai pegar esse dragão. Ó ele ali! Eita, bora, bora. Cordão, banda, dragão, alegria. Alegria. Alegria. Aperto, aperta. Garganta, pulmão. Vermelho e amarelo. O vermelho e o amarelo morrendo no Carmo. Rodrigo tá chamando pra ir pra Gravatá ver o show de Jards, bora? Carai, a gente vai viajar a essa hora até Gravatá? Sim, po, Rodrigo passou o dia em casa, não bebeu e vai dirigindo. Vamo nessa? Vamo! Eita, o show já foi, era mais cedo. Bora em Juju, então? Bora! Desce 4 caldinhos de sururu e uma cerveja bem gelada. Sururu médio, cerveja quente. SMS. Ligação. Brecht brotando em juju, ajoelhado do meu lado. Uma alucinação. Um sonho. 

A galera tá ligando! Bora encontrar todo mundo? Bora! Todo mundo junto, todo mundo. Quando o dia parecia ter terminado, ele só tava começando. Bora no Fortim sacar o que tá rolando? Bora! Show médio, pessoas empolgadas. Cerveja, bora comprar uma cerveja ali. Um frevo animado tocou. Atravessei a avenida frevando como se o mundo fosse acabar. Quanto custa a cerveja? Pra você é de graça, estás trabalhando igual a mim, animando com tua dança o carnaval. Puxa, obrigada! Cerveja na mão e amigos orgulhosos. E agora? Casa de Amanda ali no Bonfim pra dar um tempo, bora? Bora! Violão e um bocado de gente cantando. A gente cantando. Fagner, Molejo, Djavan, o que viesse. Bora comprar cerveja? Bora! Um saco enorme de arroz daqueles bem brutos de feira cheio de cerveja e skol beats azul chegando na casa. Eita porra! Que instiga! E ai, galera, bora no Homem da Meia Noite? Sim, não, sim, não. SIM. Bora, tá na hora. Alguém sabe chegar lá? Eu sei! Porra, o gringo vai guiar a gente? Oxe, ele é o mais maloqueiro de todo mundo, minha gente, se enganem com essa carinha não.

Homem da Meia Noite. Um beijo. Uma frustração.Tiro, porrada e bomba. Cadê ele? Que demora danada! Ele vem mesmo? Vem! Ele passa por aqui mesmo? Sim, ele passa por aqui, nos informou uma menina dando toda uma aula sobre o Homem. Lá vem ele. Eita peste. Lá vem ele. Emoção, correria, quero ver de perto. "Só deu tempo de ver o nome Carlaum correndo atrás do homem, tu és muita instiga, Carlinha!" 

O Homem demora que só a passar e quando passa é tão rápido! Já acabou mas já tá tarde pra cacete. Vamo embora? Vamo! 

quinta-feira, fevereiro 18, 2016

24h e uma vida - Parte II

*relatos sobre o sábado de carnaval dividido em fragmentos.


A tatuagem corre pra lá e pra cá. Começa de manhã cedo, palhas enrolando minha cabeça e a pouca noção de tudo que tava por vir. Bom dia! Bom dia! Um riso frouxo sonolento me avaliava e sorria de alegria ao perceber que era sábado de carnaval. Até já! Até! Tas linda!

Um ônibus para o melhor dia do ano. Um ônibus para as ladeiras. Chegamos, nem acredito! Ainda tímida e em frente ao Mosteiro de São Bento, os barris de lama eram pura benção! Queria mergulhar ali como quem mergulha no carnaval. Aperto, aperta, aperto! Prefeitura. Aperto, mais aperto! Bora respirar! Bora comprar um axé! 


Um axé na mão e mil ladeiras na cabeça. Mac. Bowie. Que boniteza, que enormidade! Você ali. Você e a câmera de plástico, eu com o celular. Tchau, até já. A gente se encontra. Os bloquinhos são os mesmos. Sim, a gente se encontra, relaxe. Sim. Tchau, tchau! 

Sobe o MAC, desce o MAC. Encontro Paca que pergunta por Dumbo. Uma crise de riso me invade informando que bateu. 

"Tu tens noção que tem MUITA coisa pra acontecer hoje?" me perguntava Nath cheia de sabedoria. "Sim. A gente tá aqui agora, 11h. Mais tarde a gente corta a cena e pensa em tudo o que aconteceu", eu respondia entre um gole e outro do Axé.


Mangueira. Quanta gente querida. Que alegria desesperada! Purpurina, uma chuva delas. Um saco de um quilo rosa voando pelas mãos de Thales e pelas nossas mentes. Quanta gente querida! Que beleza que é esse bloco. Sim, mas tá parado. Tá morgado. Tá blasé. Ainda custa a sair. Que beleza de bloco! Sim, mas preciso andar, você também? Sim! 


Aperto, aperta. Caipi de Siriguela. Um riso, uma gargalhada, uma crise - mais uma. Um total descontrole, um derramamento. Uma barriga doendo de tanto sorrir. Bora voltar, o bloco já deve tá saindo! Bora ficar aqui em cima dessa calçada alta pra esperar o bloco descer. Bora! Eita, olha Lucas ali! Eita, ele tá vindo aqui! Braços abertos. Braços abertos de volta. Um abraço no ar. Um giro de 360 graus. Meus pés flutuando - literalmente - um beijo giratório. Sou devolvida para o mesmo local, mesma calçada e segue o carnaval.

"Que beijo bonito da porra!!!", é o que todos falam sem parar enquanto ainda me sinto flutuando. "Isso sim é um belo beijo de carnaval!", alguém completa.

24h e uma vida - Parte I

Meu sábado de carnaval não acabou. 

É verdade quando digo isso e vai além das 24h que passei em Olinda. Eu, que até então não tinha tatuagem no corpo, agora tenho uma que cirurgia nenhuma seria capaz de passar por cima mesmo que algum dia eu viesse à loucura e me arrependesse dela. 

Tem uma tatuagem bem bonita grudada em cada pedacinho de mim e quando paro pra avaliar com lupa, a tatuagem gruda mais um cadinho. Ela não tem forma definida, ela é líquida e gasosa e flutua sem parar em cada poro. Entra e sai de mim em cada respiração. Batuca e reverbera em cada batida no peito. Dá um passo a frente cada vez que me desloco. 

Meus pés, pequenos e grosseiros, carregam essa força toda. 
Meu coração, enorme e frágil, também. 

*relatos sobre o sábado de carnaval dividido em fragmentos.

quarta-feira, fevereiro 17, 2016

No ar (texto de 21 de Janeiro de 2016)

Você vai me encontrar no aeroporto. A primeira pessoa do Recife que vou encontrar e logo no aeroporto e logo você. Me surpreendo e em seguida penso que não haveria mesmo motivo pra ser diferente. Só então me dou conta da dimensão de tudo. Que irônico, sempre precisei passar por aeroportos pra te encontrar com uma felicidade de explodir o peito. E depois por eles novamente pra levar comigo e deixar contigo o gosto amargo do “adios”. 

Agora escrevo de dentro do avião e em menos de 1h vou ver esses olhinhos apertadinhos mais uma vez. Eu não acredito. Eu acho que é mentira. É mentira? Me pergunto muito seriamente. Percebi que não desgrudo o sorriso da boca nem por um segundo. Fechei os olhos e deixei o sol de fim de tarde corar meu rosto pela janelinha do avião. E meu sorriso largo continuava lá. Dei um cochilo e, entre a voz sensual da aeromoça no microfone e a cadeira que não acomoda muito bem o corpo, me vi sorrindo novamente. Pagar R$15 reais por um sanduíche sem graça também não me chateou. Ver que estou de blusão e short e sem nenhuma maquiagem e nem pompa pra te rever também não me desanima, sei que estou tão radiante que essa luz ultrapassa qualquer batom. Nada, nada tira meu sorriso da cara. Nem o aviso de que o voo atrasou 1h. Ainda assim o sorriso permaneceu.


Acho que quando a gente se encontrar, se olhar e caminhar em direção ao outro cada passo chegando mais perto, vai ser tanto do sorriso mas tanto do sorriso que o universo inteiro, de alguma forma, vai sorrir junto também.

No ar II

Hoje a lucidez tá me maltratando. Quem dera a embriaguez das madrugadas e do álcool e das pessoas e dele e de todo mundo junto pra esquecer isso que não se esquece: o peito. Saí de Recife mas ainda não cheguei no Rio. Fui enfiada dentro de um avião enorme com destino ao Galeão, mas não cheguei. Eu tava num posto de conveniência com tudo o que eu precisava do meu lado: eu e você. E ao mesmo tempo vazia, porque não havia você e nem eu, ao menos não como eu queria. Mas só em te ter ali, em vista, em cheiro, em gente, já era como se fosse tudo pra mim. Era maior que aquela cerveja Fax litrão. Era maior que os quilômetros que iriam nos separar novamente por tanto tempo mais uma vez e de novo. Não queria largar teu braço dentro daquele taxi. E nem teu abraço fora dele. E nem teus olhinhos miudinhos que me olham lá de cima imensamente. E nem aquela última chance de qualquer coisa que não pode ser. Que nunca vai poder ser. Nunca vai poder ser eu. Nunca vai poder ser você. Essa consciência é uma das coisas mais dolorosas que vive em mim e fica claro a cada encontro. Ao mesmo tempo que fica cada vez mais claro que não tem como não ser você. Que não tem como não ser eu. Ainda que todo mundo fale que quem sabe um dia no futuro, que muita coisa pode acontecer, que isso e aquilo. E quem quer saber desse dia diante do agora gritando e pulsando aqui dentro? 

Agora eu to aqui e você tá ai. Daqui a pouco eu estarei aqui e você lá. Curioso como me dói mais saber que tas tão pertinho do que no frio impossível às minhas mãos. Preferia, dentro de minha agonia e egoísmo, que você já estivesse lá bem longe. Que eu não pudesse te enviar ou receber um SMS sabendo que é uma comunicação territorial possível. Tas aqui do lado e ao mesmo tempo tão distante. Estarás em breve tão distante e ao mesmo tempo, como sempre, tão perto aqui dentro de mim. Que loucura! Como pode ser infinito e crescente algo que não se vê e quase não se tem a chance de nutrir? Quando foi que eu disse que dessa vez seria suave? Já tá liberado rir de mim pra ver se alivia? 

Serei monotemática por algum tempo. Coração e carnaval. E confusa. Não esperem coerência de um texto, se não há coerência no coração de quem vos fala.