sexta-feira, abril 25, 2014

Bruno, Abdon, B1 (apelidade por mim) ou "mermão, deixe de ser chato, doido"


Era uma quinta-feira à noite em Copacabana, mais precisamente na Siqueira Campos, naquele boteco tradicional cheio de comidinhas tão perto de minha casa mas que eu nunca havia estado: O Adega Pérola. Era a minha primeira vez naquele lugar que eu voltaria tantas outras. Era a primeira vez, também, que eu saía com os amigos de trabalho e amigos de amigos do meu novo namorado. Quando cheguei, todos estavam sentados naquela mesa comprida que comporta bem copos, belisquetes e bebuns. Entre uma bicadinha e outra fui sendo apresentada a eles. Pouco tempo depois chega um rapaz tímido, com dread, camiseta lisa e já pedindo um chopp antes mesmo de sentar, na minha frente. "Ele acabou o namoro de seis anos tem pouco tempo e tá meio pra baixo", me alertou Paloma. 

Falava pouco e tinha um olhar tristonho mas muito bem disfarçado entre uma piada e outra de alta classe pra padrões de mesa de bar. E isso tomava a atenção da gente. "Que menino mau humorado mais engraçado", foi o que pensei.  

Meu primeiro pensamento sobre Bruno foi certeiro e bem julgado. 

Depois de um tempo voltamos a nos encontrar no aniversário de Paloma. Era um lugar chique e eu não conhecia ninguém além do meu namorado e um ou outro de vista de outra ocasião. Meu namorado, que deveria ser mais enturmado, parecia tão peixe fora d'água quanto eu naquele local. Eita, o Calil tá ali, vamos para lá. Eita, o Sato também tá ali, ó. Tudo certo, meu parceiro de cachaça e sobrenome. O Sato logo foi embora e o Calil também. 

"Olha alí, não é aquele menino que acabou o namoro há pouco tempo e tava no Adega?"
"É sim, o Bruno, mas pô, não tenho muita intimidade com ele"
"Que besteira, min. Ele parece legal e tá com a roupa mais parecida com a nossa, bora pra lá"
"Bora"

Corta a cena. 

Depois desse dia, quando marcamos o passeio de bicicleta pra Paquetá (mágicamente sem fulerar) e pouco depois selamos a nova amizade dos três que brotava naquela mesa de bar do bar que estávamos descobrindo, do "Zé", nunca mais nos largamos. Vivíamos os três por aí e era como se tivesse sido assim desde antes ou de sempre. Um casal e um amigo pra cima e pra baixo, de bike, a pé, de ônibus. Não tinha isso de segurando vela. Vez por outra você brotava com um amigo, só pra me dar mais trabalho na hora de cozinhar de madrugada, mas eu adorava. Eu adoro.

O casal se separou, os amigos, não. Nem de um lado e nem do outro. Pelo contrário, além de se consolidarem, ainda agregaram os novos colegas e novos grupos que levaram a novos grupos e a novos. Engraçado isso tudo. E também bonito. Éramos três. Somos vários multiplicados, hoje. E um carinho do trio original absurdo.

Bruno é chato. Provavelmente geneticamente chato. Por sorte não se tornou geneticamente gordo, seria muito para ele. Tem uma casca enorme e um escudo firme que envolvem uma carne fina, frágil, como costuma ser com gente de coração grande que tem um medo medonho de perder o controle. Foi assim por um tempo. Sabe-se lá o motivo, se por afinidade, confiança ou reconhecimento no outro, aos poucos essa casca foi se tornando fina e hoje consigo encostar na pele. Muitas vezes sem nem precisar de contato físico. Escuto o que ele tem pra falar com cuidado e atenção, dou valor. E quando eu falo, não tenho mais medo de receber um "isso não é da sua conta", como já ouvi ele falando por ai sem piedade. Ao contrário disso, ele liberou um "pode falar, temos intimidade pra isso". E ouve com cuidado, com atenção. E não é porque sou mais ou melhor, é apenas porque somos amigos e conquistamos isso dia após dia, em cada situação, conversa e até mesmo nas briguinhas. 

Agradeço demais a confiança que você deposita em mim e sou muito grata pela que tenho em você. É valioso isso, eu acho.

A verdade é que eu podia passar laudas e mais laudas escrevendo vários momentos e lembranças massa e viradas que já tivemos nesse mundo e vida carioca, mas acho que o que fica é o que a gente é hoje e também tudo o que tem pra ser vivido, que é muita coisa.

Te desejo tudo o que há de melhor, como desejo a mim e a um irmão. E te desejo também muitos e muitos carnavais, porque parceiro feito tu nas ladeiras de Olinda, tá pra nascer!

Beijos, meu querido! Vida longa. E um sobrinho bem lindinho e ranzinza pra mim (hehe)

quinta-feira, abril 24, 2014

O Sport ganhou ou o Náutico perdeu?

 Não entendo nada de futebol, aliás, nem gosto. mas sempre que um time ganha, eu tenho a impressão que foi quase apenas o outro que perdeu.

quinta-feira, abril 17, 2014

A inspiração que vem da dor

É natural que meus melhores textos venham de alguma dor. Por um coração partido, inconformado, maltratado, cheio de dúvidas ou dívidas. Passeio pelo meu blog e fico imaginando como seria um infográfico sentimental dele, cheio de altos e baixos, como é a vida. Quando engatada com algum problema, que por algumas vezes eu mesma criei, ele chega ao topo do cotovelo machucado, a carne sem pele, exposta, as veias do coração à mostra. 

Quando dor, os dedos escrevem rapidamente um texto, um poema, um foda-se em fonemas cheios de força, de bala engatilhada para o próximo tiro que sempre há de ter. Um texto atrás do outro pra preencher o vazio que aquela situação deixou. Se não tem mais a história (se é que um dia teve) e sobrou apenas sua lembrança, nos resta apenas as palavras como forma de manter tudo vivo, mesmo que já tenha morrido e só a gente não tenha, tristemente, dado conta, de teimoso que somos.

Quando amor, não. Os textos fluem no olhar em parceria com o outro. Surge na cama, entre um alisado e outro. Entre uma respiração mais forte e o gozo libertador. As palavras escorrem no ato, junto com a lágrima. O poema é o dia-a-dia. A mão na mão, o telefonema, o cheiro no pescoço de bom dia, o abraço da noite quando se reencontra, o jantar especial em dia de semana. As palavras, o texto, a prosa e o poema se confundem com a vida em ação, não mais em lembrança. E meus textos surgem em momentos que não há caneta, papel ou um computador pra escrever e depois passa, pra dar espaço a novos textos mentais, sozinha ou em conjunto.

Algumas vezes acontece da inspiração chegar quando tenho todas essas ferramentas em mãos e me sinto contente e com um cadinho de inveja, não de quando triste estou, mas do impulso quase que psicográfico que a tristeza traz.

Confesso, mesmo que egoistamente, que a felicidade tem seu preço alto: a escrita física acaba, algumas vezes, ficando pra depois. (Ao menos é por um bom motivo)

terça-feira, abril 15, 2014

Três meses


O tempo do amor é caduco

Ligeiro quando muito

Lento quando dentro:

É fundo.

segunda-feira, abril 14, 2014

Brasil:

Não Confundir
Chuva
Com frio

quinta-feira, abril 10, 2014

Sobre ser de Recife e morar no Rio:

Quando o Flamengo perde um jogo no dia em que o Sport ganha, minha timelime fica toda vermelha e preta. E eu fico absolutamente confusa.

quarta-feira, abril 09, 2014

(Re)leitura



Quando dou um flecheiro nesses olhinhos miúdos e amedrontados, vinte e tantos anos atrás, te encontro hoje. 

E meu coração dispara. Te encontro tão antigo e novo em mim, em nós. Duas bolas de gude esticadas que vivem me falando. E carrega, logo embaixo, esse narizinho que antes era só um sapinho e hoje criou ponta. Um acutângulo perfeito que daria pra deitar em cima e passar a tarde inteira lendo um bom livro, confortável. Uma ponta linda. 

Escorregando da ponta eu caio nesse bico todo. Um bico que é desamarrado, bem seu. Um bico suave, molinho, gostoso. (Tem vezes que é brabo, mas passa ligeiro com um cheiro). Por que é um bico que não é um bico, mas é, sim, um bico bem bicudo, no banho, na cama, fazendo manha (ou não). Uma risada em forma de bico. Ou um bicudo em forma de sorriso, ainda não sei. E tentando decidir qual das duas coisas, continuo perdida dentro desses olhinhos de menino que você carrega até hoje e que são de tamanha importância pra mim. Que, vez por outra, se escorrem em lágrimas, seja em um filme, música ou por uma alegria no peito. Você, chorando. Com tanta facilidade. "Quem diria". 

E então continuo e vou seguindo te procurando na fotografia e te encontrando fora dela. E tudo, tudo, tudo faz sentido: o post acaba e eu sigo olhando você no retrato. E na vida.


quarta-feira, abril 02, 2014

31 de março de 2014

Há dias venho pensado em você com frequencia. Seus olhos apertados de chinês, seu cheiro antigo e acolhedor desde que sou pequena, seu bolsinho na blusa, mesmo que não guarde nada nele. 

Tava lembrando dos livros que você já me deu de aniversário, o último, com uma dedicatória tão bonita! Você sempre me deu livros, desde os meus sete anos, quando me presenteou com um Ziraldo, um Pedro Bandeira e um livrinho, quase que manual, "de garotas". Esse ano você não vai sondar que livro ou dvd eu quero de presente. E chegar com eles embrulhados pelo papel da Saraiva de Copacabana. 

Ano passado esse ritual também foi suspenso, afinal, eu estava viajando e, no lugar de receber livros, te enviei um postal bem feliz diretamente de Barcelona. O primeiro postal que enviei nas minhas viagens. E você todo contente no telefone dizendo que tinha recebido rapidamente, pois Europa não era Brasil, que demora em tudo. O postal se foi, junto com você, não sei se foi egoismo meu coloca-lo junto à ti em nossa despedida, mas foi a maneira que encontrei de estarmos sempre juntinhos.

Acontece que depois de tanto te pensar, acabei sonhando no início da semana. Um sonho que ultrapassou os limites de realidade habitual, pois, dentro do sonho, eu sabia que estava sonhando. Nos encontrávamos no corredor da minha escola de infância e eu começava a chorar, chorar bastante, pois sabia que te abraçar, alí, seria um presente que eu não teria mais no plano presente. E eu te abracei apertado, tão rápido... e você, com rosto saudável e corpo forte, bem diferente de como te vi pela última vez, ainda em vida, me disse:

- Pára de chorar, menina! Você tá feliz?

(eu apenas balancei a cabeça positivamente)

- Então é isso que importa.

Você concluia, com seu ar de sabedoria de sempre.

Foi muito, muito bom te reencontrar. E ver que você está bem, firme e tranquilo. Quando quiser, pode aparecer.

Um beijo com saudade,

sua neta.